Contatos

palhanojp@gmail.com - palhano@unifap.br

segunda-feira, 20 de dezembro de 2021

FELIZ NATAL

 

 

       Apesar de tudo que vem acontecendo no mundo e em nosso país, em consequência do coronavírus, das variantes delta e ômicron, há uma necessidade maior de termos que olhar sempre para o futuro. De qualquer forma, agradecermos pelos que ainda estão conosco, desbravando essa saga do caminhar e do enfrentar as vicissitudes da vida. Não é hora de desanimar! Estamos no final de mais um ano, que foi difícil para todos nós. Mas chegou o momento de refletirmos sobre tudo isso. Claro! Também precisamos comemorar, cada um a seu modo, mesmo ficando em casa.

     O maior desejo de todas as pessoas, é saber da conquista de seus objetivos, de seus desejos, de sua vida. O Natal nos traz muita alegria a cada final de ano. É um ótimo momento de reflexão sobre um pequeno espaço de tempo que passou, ou seja, pelo qual nós passamos com vida, ilesos. Esse tempo refere-se ao espaço de praticamente 365 dias consecutivos, ou seja, um ano.

         Sem esquecer as modificações que aconteceram interiormente em nós mesmos. Às vezes algum problema de saúde, questões profissionais e tantos momentos difíceis que passamos. Mas, também foi um tempo em que nos trouxe muitas alegrias.  Alegria de ter lançado livros, alegria de ver o filho ser aprovado na escola, alegria de estar vivendo momentos felizes com quem se ama.

     O Natal é uma festa comemorada em todo o mundo; quantos de nós está falando a mesma língua? FELIZ NATAL, FELIZ NAVIDADE, JOYEUX NÖEL, MERRY CHRISTMAS, são alguns dos recados mais difundidos neste natal em todo o mundo. E assim vamos nos confraternizando, cada país do seu modo, cada povo de acordo com suas crenças e suas culturas, apesar deste momento de pandemia que ainda perdura.

     Natal significa nascimento, nascimento de Jesus que tanto batalhou para a igualdade do povo do seu tempo e da atualidade. Verdadeiro revolucionário de sua época. E hoje e sempre comemoramos em função deste símbolo de ser humano.

     Todo natal nos traz esperanças de um mundo melhor, de alegria, de união entre os povos. Refletimos sempre para o bem da humanidade. Como é bonito todos juntos com suas famílias, revendo uns aos outros, pessoas que há tempo não mais havíamos visto, tudo isto faz parte do semblante natalino.

     Tempos atrás ficávamos felizes ao receber um cartão de natal pelos correios, mas, hoje os meios tecnológicos como as redes sociais em muito contribuem para uma aproximação das pessoas, mas, ainda deixa um vazio em relação à vida presencial quando você toca e abraça seu amigo ou amiga de tempos antanho. É a vida...! É a vida...! É a vida...! Desejo a todos que conheço e aos que não tive a oportunidade ainda de conhecer, tudo de bom neste natal, muita saúde, paz e que tenhas conquistado seus objetivos neste ano que está terminando. Para todos UM FELIZ NATAL.

 

 

segunda-feira, 13 de dezembro de 2021

CIVILIZAÇÃO GREGA

 


     O povo grego originou-se de vários outros, como: os frígios e os lídios, os persas, entre outros. Foram várias as influências, por exemplo, Cadmo, fundador de Tebas, cidade da Beócia, era filho de Agenor, antigo rei da Fenícia. Cadmo teve como filho Polidoro, que era pai de Lábdaco, a quem o sucedeu Laio, pai de Édipo. Uma das invenções mais importantes da Fenícia, o alfabeto, foi Cadmo que o importou para a Grécia. Ele personifica a influência do oriente na Ática. Para Nietzsche, Dioniso teria sido um deus oriental, de origem estrangeira, trazido tardiamente da região entre a Frígia e a Lídia, para a cultura grega. Do Egito, vieram as 50 filhas de Dánao, ele e suas filhas foram exilados daquele país, para a Grécia, com apoio de Atenas. Dánao se tornou rei de Argos. E, segundo a mitologia grega, Perseu é ancestral dos antigos imperadores da Pérsia; ficou famoso por ter decapitado a Medusa, e fundou a cidade de Micenas.

     Segundo estudos já realizados, em relação à formação de seu povo, a Grécia apresenta cinco período distintos: o primeiro, Período Pré-Homérico, que tem início no século XX até o século XII a.C., quando dá-se início aos primeiros povos que chegaram à região do Peloponeso. Os aqueus foram os primeiros, seguidos dos eólios, jônios e dórios. Esse período se deu sob forte influência, principalmente dos povos Micenas e Cretenses.

     O segundo, considerado como Período Homérico, tem início no século XII e término no século VIII a.C., iniciou com a conquista da região, pelos povos dóricos, tendo em vista que possuíam armas de ferro, que eram as mais resistentes naquele período. Aqui, os gregos já se organizavam em pequenas comunidades. O Período Homérico foi definido especialmente em função de que os épicos “A Ilíada” e “A Odisseia”, por ele escritos, serviram para estudos sobre o povo da época. O terceiro, Período Arcaico, ocorreu entre os séculos VIII e VI a.C. Aqueles grupos antes reunidos em pequenas comunidades começaram a fundar pequenas cidades-Estados. Atenas e Esparta se tornaram as cidades mais respeitadas da época.

     Após vários séculos que se passaram, e com o desenvolvimento dos três períodos anteriores, é que surge o Período Clássico, que se concentrou entre os séculos V e IV a.C. Apesar de ter sido um período bastante conturbado em relação aos conflitos armados internos, nesse pequeno período de duzentos anos, isto não invalidou que a civilização grega conquistasse seu apogeu, quando ascendeu em várias áreas como: pintura em vasos, escultura, arquitetura, filosofia, matemática, geometria, astronomia, política e na constituição do regime democrático, o que, consequentemente fez surgir a arte teatral. Com destaque para Pisístrato, que instituiu os festivais e os concursos entre os poetas trágicos, como também para Péricles, que aprimorou a democracia ateniense. Por sua vez, o Período Clássico foi sucedido pelo Período Helenístico.

    

segunda-feira, 6 de dezembro de 2021

NASCE A TRAGÉDIA

 


      No primitivo ritual dionisíaco, o ditirambo era totalmente improvisado, foi Arion, no século VII a.c., quem o transformou em texto pré-elaborado, cujo roteiro passou a regular tanto as evoluções do coro satírico, como também as intervenções do narrador, que Téspis havia anteriormente transformado em ator. Após Téspis, Frínico divide o coro em duas metades e dar lugar especial aos papéis femininos. Depois disso, Prátinas retira os sátiros da tragédia, criando o drama satírico.

     Até então, a música e a dança predominavam, e com sua devastadora influência, o coro dominava todo o espetáculo trágico. Traçado este caminho, aparece Ésquilo, para desbravar o real sentido da tragédia.  Ele entendeu que o futuro desse gênero teatral, dependia do desenvolvimento do drama, e, para a melhoria dessa situação, criou o segundo ator. Salientando que, antes com forma caracteristicamente lírica, a partir de Ésquilo, o ditirambo se revelará particularmente com um caráter muito mais dramático.

     Mas, é com a criação do terceiro ator, por Sófocles, que se amplia as possibilidades da ação e os efeitos da emoção. No entanto, é em função do coro e desses três personagens, (o protagonista, que é o personagem principal de uma ação; o antagonista, que no drama grego, é o segundo personagem em oposição ao protagonista; e o tritagonista, personagem que desempenhava os terceiros papéis na tragédia grega, o qual era, vamos dizer assim, um personagem de terceira ordem), que, a partir dessa osmose, dessa aglutinação, desse hibridismo e dessa harmonia, a tragédia se estruturou literária e cenicamente. E desse resultado, evoluíram as excelentes obras teatrais da Grécia Clássica.

     Téspis foi o primeiro ator, após ele, surge a primeira geração dos tragediógrafos gregos, que são: Quérilo, Prátinas e Frínico. No século V a.C. despontam: Ésquilo, Sófocles e Eurípedes, os quais, fazem parte da segunda geração de trágicos. São eles quem determinam a concepção em bases definitivas, da estética do drama. Mas, a epopeia foi determinante para que a tragédia se tornasse gênero literário, salientando-se apenas duas diferenças: se por um lado, a epopeia narra, por outro, a tragédia mostra. 

     Os três grandes trágicos gregos foram: Ésquilo, Sófocles e Eurípedes. Théspis foi o criador do teatro ambulante, o qual conhecemos hoje como teatro mambembe, mas infelizmente todos os seus textos se perderam. Também foi ele quem inventou as máscaras. Representava seus papéis trágicos, inicialmente pintando o rosto com matéria prima da época, depois cobrindo o rosto com folhas de árvores, em seguida introduziu o uso de verdadeiras máscaras. O período áureo da tragédia, dá-se no século V a.C., quando um novo modelo de homem estava surgindo na Grécia antiga, quando o homem guerreiro estava dando lugar ao homem que buscava garantir sua participação política, no novo sistema de governo, a democracia.

 

segunda-feira, 29 de novembro de 2021

AS EXPRESSÕES

 


     Inicialmente gostaria de começar este debate, refletindo sobre as expressões humanas. Sabemos que todo ser humano possui capacidade de se expressar. Todos possuem e fazem uso, da expressão gestual, verbal, visual, musical e escrita. No entanto, como se deu esse processo? Quais dessas expressões surgiram em primeiro lugar? Ou será que todas apareceram paralelamente? Charles Darwin, disse que a música era anterior à fala. Herbert Spencer, contemporâneo de Charles Darwin, afirmava que não; dizia que a fala havia surgido primeiro. Jean Jacques Rousseau, (filósofo Suíço) afirmava que tanto a fala quanto a música surgiram concomitantemente.

     Apesar do que se pensa em relação a este assunto, é certo que na atualidade, ao observarmos o desenvolvimento de uma criança, percebe-se claramente que a criança recém-nascida utiliza principalmente os gestos e o som, relacionado ao choro. Possivelmente, o homem histórico também tenha passado por esse mesmo processo. Entretanto, eu diria que esse processo deve ter acontecido da seguinte forma: em primeiro lugar os gestos, tendo em vista que isso fica claro ao observarmos a atitude de um bebê; em segundo lugar, a emissão de sons onomatopaicos; em terceiro lugar vem a fala e depois, a escrita propriamente dita.

     A expressão gestual e corporal, ligados à gesticulação foi a primeira forma de expressão. É a primeira relação que a criança tem com sua mãe e com o espaço que a rodeia. Ela passa a responder com gestos, mãos e pés, como também a partir dos sons, com o choro. relacionada à comunicação através do corpo; gestos, dança – e da representação cênica – pantomima, mímica (Artes Cênicas). Acredita-se que a gesticulação foi a primeira forma de expressão e comunicação. Ao que tudo indica, a linguagem dos sinais surgiu antes da linguagem dos sons. Neste caso, o gesto pode ter sido o primeiro elemento da troca de ideias e de compreensão entre dois seres humanos. Essa é conhecida como a fase dos símbolos e sinais.

     Com seu desenvolvimento, essa fase, será sucedida pela Idade da Fala e da Linguagem. Com o aparecimento da forma falada, os gestos foram ficando em segundo plano. A criança passa a se relacionar com sua própria mãe a partir dos sons. Geralmente, quando ela emite o choro, é porque claramente está querendo dizer algo, ou solicitar algo. Portanto, quando quer alguma coisa começa a chorar, fator relacionado à comunicação a partir de ruídos, onomatopeias, e depois a fala propriamente dita.

     Então, desde novinha a criança segue utilizando-se paralelamente, dos gestos e sons, para poder se comunicar com sua mãe. Em seu livro, História Geral do Teatro, Bandeira Duarte afirma que: “O sânscrito conservou, através dos tempos, uma harmonia de sons, uma variedade de articulações, uma riqueza eufônica, que atendem, melhor do que qualquer outra língua, ao movimento natural dos órgãos da voz.

quinta-feira, 25 de novembro de 2021

ODE A ZAIDE SOLEDADE

 


     Professora Zaide era uma pessoa simples, inteligente, compreensiva, batalhadora e que deu grande contribuição à arte e à cultura do Amapá. Entre tantos afazeres, professora Zaide também caminhou pelo teatro. Desde o ano de 1952, que Zaide passou a contribuir com as artes cênicas no Amapá. Como professora, sempre motivava seus alunos com suas aulas de teatro e com a montagem de pequenos dramas, principalmente relativo às datas comemorativas do calendário escolar.

     Em função de ter nascido numa família muito religiosa, professora Zaide viveu seus primeiros momentos no teatro quando representava “As Pastorinhas” na Igreja que pertencia à Paróquia de São José de Queluche em Belém do Pará, quando lá residia. Dramatização que se repetia todos os anos na época do Natal e do dia de Reis. Mesmo no início de sua carreira, a atriz Zaide adolescente de 14 anos sofreu alguns percalços, como ele mesma me contou numa entrevista, em agosto de 2011. Disse-me ela: “- Como eu era muito danada foram pedir para minha avó se eu podia aparecer na peça “As Pastorinhas”, então a Vovó disse que não tinha problema porque era na igreja. Daí, ela foi se informar com o padre qual papel eu iria fazer. Sabe qual era? O satanás. Então Vovó disse: - Deus me livre, não, ela já é muito sapeca. O Padre tentou ajudar dizendo: - Não, minha senhora, não tem problema não, só é uma representação na peça. Foi tanta conversa, até que convenceram a Vovó e eu fui ser o satanás da peça.”

     Efetivamente, professora Zaide Soledade Santos Silva deu continuidade às suas aventuras no teatro desde 1952, passando pelas décadas de 1960, 1970, 1980 e 1990. Notadamente, chegou ao século XXI, firme e forte em plena atividade artística, até sua despedida do plano terrestre. Aos dezesseis anos chegou a Macapá. Sua última participação como atriz se deu, especificamente na novela “Mãe do Rio” produzida pela TV Tucujú – SBT quando foi ao ar no ano de 2006. Durante essas décadas, exerceu várias funções como diretora, atriz, sonoplasta, além de motivar de forma incondicional a nova geração. Maria Borges que contracenou várias vezes com a Professora Zaide nas décadas de 1960 e 1970 era outra atriz muito famosa na época.

     Rizalva Amaral e Honorinha Banhos, foram as grandes incentivadoras para que Zaide continuasse na área das artes, e Zaide obteve dessas duas professoras, o dom de representar. Foi Doninha Banhos, uma das principais incentivadoras da arte de representar para a professora Zaide, visto que também era sua avó. Zaide nos conta que: “A vovó sempre me levava para representar “pastorinhas” e dramatizar pequenos textos lá na sede do Trem, que além do clube propriamente dito lá também funcionava como teatro e cinema.”

     Professora Zaide ministrou aulas em vários municípios do Estado contribuindo com a formação de muitas de nossas crianças. Fez curso de teatro infantil na antiga Escola de Comédia Guanabara quando, na ocasião representou uma bruxa. Participou de curso oferecido pela FUNARTE. Fez parte da Associação do Professores Primários do Amapá – APPA; estudou no IETA e ainda no Núcleo de Ensino de Macapá – NEM que na época pertencia à UFPA, onde obteve seu diploma de graduação. Onde era o antigo NEM, hoje funciona a Universidade Federal do Amapá.

 

segunda-feira, 22 de novembro de 2021

DEUS EX MACHINA

 

                                                  

     Uma das primeiras máquinas criadas e utilizadas no teatro grego foi a conhecida como “ekkyklema”, basicamente, “máquina que roda”. Era um mecanismo que surgia por uma das portas do fundo, avançava até a frente do palco e mostrava abertamente, aos olhos do público, uma nova cena. Também era denominada de “exostra”, derivada de um verbo grego que significa “empurrar para fora”, e era exatamente o que a máquina fazia, empurrava a cena para fora, e cada vez para mais perto do público.

     Em seguida surgiu a “mechane”, literalmente “máquina de voar”; dizem que foi um dos mais importantes mecanismos de ilusão do teatro clássico grego; ela facilitava a descida e a ascensão dos deuses e heróis, além de o fazerem poder pairar no ar. Também era conhecida por “aiorema”, que significa máquina elevatória, e ainda, “geranos”, o mesmo que guindaste. Possivelmente, essas máquinas tenham sido as precursoras do atual urdimento, que facilitam a realização de cenas semelhantes, nos teatros modernos. Em sua História Geral do Teatro, o estudioso Bandeira Duarte, explica que esta máquina: “Consistia em um tronco munido de cabrestante com cabos terminados em gancho, deslizando por uma roldana fixada na ponta do tronco. O corpo do aparelho, segundo tudo indica, devia ficar escondido atrás da “skene” e para tornar os cabos invisíveis, pintavam-nos de preto ou de cinzento”.

     Levando-se em consideração que este recurso não foi utilizado por Ésquilo, e que, o único caso na dramaturgia de Sófocles, em relação ao uso desse dispositivo foi apenas e tão somente na peça “Filoctetes”, acredita-se que a “mechane” foi inventada, exclusivamente, para atender as peças de Eurípedes, tendo em vista que mais de setenta por cento das montagens desse autor, têm seu desfecho com a interferência e aparição de um “deus ex machina”, ou seja, um deus que desce na máquina. Nenhum outro poeta apoiou-se tanto no “deus ex machina”, do que Eurípedes. Consequentemente, há indícios de que essa “mechane” surgiu pela primeira vez, no espetáculo “Medéia”, em 431 a.C., já que não há nenhuma indicação da utilização desse equipamento em textos anteriores, a não ser, o caso isolado de Sófocles em seu “Filoctetes”.

     Em relação a esse assunto, se faz necessário esclarecer que Eurípedes também é conhecido como “o filósofo do teatro”. Ele tinha dúvidas e já desacreditava da religião politeísta grega tradicional. Em sua obra, a religião se tornou exclusivamente objeto de crítica, e ainda como processo direcional de desenvolvimento da fábula. Faz jus, esclarecer aqui, que o objetivo da utilização da “mechane”, na apresentação de “Filoctetes”, por Sófocles, como religioso e temente que ele era, aos deuses gregos, voltava-se de maneira específica, para a piedade e devoção em relação àquelas divindades. Por conseguinte, esta atitude difere plenamente, do que pretendia Eurípedes, que se tornou um crítico irredutível das divindades politeístas.

 

domingo, 14 de novembro de 2021

A MULHER QUE CASOU 18 VEZES

 


                                                         

          Os antecedentes que despertaram na Consolação Côrte em se dedicar à arte e especificamente ao teatro, foi o fato de que ela, morava no perímetro entre a Rua Raimundo Álvares da Costa e Rua Cândido Mendes, exatamente no centro do polo cultural do Amapá naquele momento. Pertinho da sua casa, estavam localizados: a Rádio Difusora de Macapá; a Oficina de Rádio da Difusora (estúdio de gravação); a Escola Barão do Rio Branco (da qual era aluna) e o Cineteatro Territorial. Além disso, na sua rua participava de grupos de dança, dançava quadrilha e organizava festas de São João, enfeitava a rua e preparava pequenas esquetes para apresentar juntamente com os amigos em dias festivos.

    Nessa época, a Rádio Difusora mantinha um potente estúdio de gravação que se localizava onde hoje funciona o Super Fácil, defronte à Escola Cândido Portinari. Foi o diretor Cláudio Barradas quem começou a repassar técnicas de voz e dicção para que Consolação pudesse participar das radionovelas da RDM. Nessa emissora, participou do programa “Clube do Gurí” e atuou em radionovelas. Interpretou o papel de Dorinha (menina paralítica) participando com esta personagem, do início ao fim da novela “Os Médicos Também Choram”, de Mário Lago. Salienta-se que essas radionovelas eram apresentadas ao vivo.

       Pelo menos, por 20 anos se dedicou à arte teatral em nosso Estado. Na década de 1960, com apenas 12 anos de idade já estava atuando como atriz na peça “Pluft O Fantasminha”, texto de Maria Clara Machado e direção de Cláudio Barradas. Nesse espetáculo, ela representou “Pluft” (personagem principal) e dividiu a cena com Vera Lúcia Santos (Maribel) e Carlos Nilson da Costa (Tio Gerúndio). O referido espetáculo foi promovido pela União de Estudantes Secundaristas do Amapá – UECSA.  

     Na década de 1970, Maria da Consolação Lins Côrte, tornou-se referência como uma das melhores atrizes de sua época e principalmente do Grupo Telhado. Saiu do Laguinho para brilhar em todos os municípios do Amapá como atriz principal do espetáculo “A Mulher que Casou Dezoito Vezes”.

     Isso aconteceu, em função de que Consolação sempre frequentava a igreja de São Benedito e foi lá que surgiu na década de 1970, o Grupo de Teatro Telhado. Nesse momento, comungou com seus colegas: Lineu Gantuss, Osvaldo Simões, Juvenal Canto, Cláudio Lobato, entre outros, e viajou para vários municípios do Estado do Amapá como atriz principal do espetáculo “A Mulher que Casou Dezoito Vezes”. Marizete Ramos dirigiu a referida peça. Ainda no Grupo Telhado, ela participou da peça “Antônio Meu Santo”. Consolação Côrte: a mulher que casou dezoito vezes.

 

 

sexta-feira, 5 de novembro de 2021

A CALMA DO CARMO

 


     Nas Universidades Federais, a carreira acadêmica inicia como professor auxiliar, depois professor assistente; em seguida, professor adjunto; depois professor associado; culminando com o último grau da carreira que é o professor titular. Para chegar a ser professor titular é preciso o candidato ser doutor e ter produção acadêmica. Há dois caminhos para se chegar lá; através de concurso público ou a partir da carreira acadêmica.

     O candidato terá que encaminhar processo com memorial descritivo e comprovação de toda sua produção acadêmica. Os memoriais têm longa tradição Brasil, constituem-se em documentos que expõem trajetórias de professores universitários para fins de concursos ou de progressões ao longo das suas carreiras. No caso específico das universidades federais e da progressão para a classe de Professor Titular a ampliação do acesso a esse nível da carreira é a resultante de uma greve do movimento docente. Entre as concessões ao Estado e as conquistas da categoria, essa greve garantiu que todos os professores que alcançarem o nível de Professor Associado IV possam pleitear essa ascensão na carreira horizontal.

     Os memoriais são escritos na primeira pessoa do singular, da mesma forma que as cartas, as confissões, os diários e as memórias. Esse gênero de escrita de si, expõe as razões do sujeito na sua parcialidade e subjetividade. Trata-se de um gênero que produz certo grau de desconforto entre os pesquisadores acadêmicos, uma vez que, por razões de ofício, esses aprenderam a escrever na terceira pessoa do singular ou na primeira pessoa do plural, na pretensão de produzir os efeitos de imparcialidade e impessoalidade.

     Nesta última segunda feira, dia 25, eu tive a honra de presidir a banca do professor Carmo Antônio que, naquela ocasião, com brilhante apresentação do seu memorial acadêmico, conseguiu lograr sua qualificação de Professor Titular. A banca de avaliação esteve sob responsabilidade dos seguintes arguidores:  além de minha presença como professor da UNIFAP e como presidente da referida comissão, também tivemos a participação dos professores: Profa. Titular Maria Cristina Vidotte Tárrega, da Universidade Federal de Goiás; Prof. Titular Fernando Antônio de Carvalho Dantas – UFG; e Pedro Sérgio dos Santos, também da UFG.

     O Memorial Acadêmico escrito pelo candidato, se revelou mostrando sua trajetória desde seus primeiros contatos com as letras nas escolas de Goiânia, além de toda sua vida dedicada à UNIFAP. Sua persistência e paciência para conseguir realizar seus cursos de pós-graduação, demonstra sua coragem e força para não desistir de seus objetivos. Durante sua jornada, buscou um local tranquilo, e encontrou esse porto seguro aqui no Amapá. Desde as últimas três décadas que vem dedicando, com paciência e sapiência às terras tucujus, e divide seu precioso tempo, entre suas atividades jurídicas e como professor da UNIFAP. Carmo Antônio é um exemplo de cidadão para nossa sociedade, uma pessoa que nos passa tranquilidade, equilíbrio e serenidade, por isso, o título deste artigo: “A Calma do Carmo”.

segunda-feira, 1 de novembro de 2021

MÚSICA OU DANÇA?

 


     Do ponto de vista histórico e com os elementos que conhecemos na atualidade, pode-se afirmar que o teatro surgiu na Grécia Clássica, embora pesquisas recentes venham demonstrar que muito antes, os egípcios, os indianos e os chineses já o praticavam. Portanto, não se pode negar que a cultura oriental é muito sedimentada, mas embora o oriente praticasse teatro antes dos gregos, essa prática acontecia primitivamente em forma de rituais religiosos.

     Todos sabem que o teatro é uma arte exclusivamente coletiva, visto que é resultado da união de várias artes, como: dança, música, canto, fala, movimento, literatura, artes visuais, arquitetura, circo, mímica, pantomima, cinema, entre outras. Todavia, na manifestação teatral, encontramos várias formas de expressão: expressão gestual; expressão verbal; expressão visual; expressão musical e expressão escrita. Mas há uma questão essencial, no que diz respeito aos principais elementos que constituíram a base fundamental do teatro grego.

     Em relação a essa questão, fica claro que esse alicerce remoto gira em torno de duas artes distintas: a música e a dança; como também poderia ter sido a fala, levando-se em consideração a atitude de Théspis, considerado o primeiro ator, quando, pela primeira vez, falou no Culto a Dioniso, em primeira pessoa, a seguinte frase: “- Eu sou Dioniso”. Além de ser considerado o primeiro ator, com esse gesto e esse ato, ele também é considerado como o impulsionador da literatura ocidental. No entanto, há muitas controvérsias...!  Enquanto alguns autores defendem a dança, como princípio fundamental da origem do teatro, outros defendem a música. Sabe-se que muitos povos primitivos já praticavam a dança em suas manifestações comemorativas e religiosas, em seu livro “O Teatro Grego”, publicado em 1985, o pesquisador português, Antônio Freire afirma que: “As primeiras sociedades primitivas acreditavam que a dança imitativa influenciava os fatos necessários à sobrevivência através de poderes sobrenaturais, por isso alguns historiadores assinalam a origem do teatro a partir desse ritual.

     Por outro lado, essa forma de cultuar os deuses, em círculo, tem relação direta com os astros e o movimento do universo. Tendo como ponto de partida de que todos os movimentos dos astros são circulares, os egípcios, por exemplo, dançavam em círculo em torno do altar. Por outro lado, com influência dos pensamentos do filósofo Schopenhauer, e do músico Richard Wagner, a música transforma-se num pilar fundamental em Nietzsche, que, em seu livro “O Nascimento da Tragédia”, passa a defende-la como o principal vetor do surgimento do teatro. Ele, reconhece que a música é arte propriamente dionisíaca. E vê na tragédia, um substrato musical-dionisíaco. Acredita ainda, que o teatro e especificamente a tragédia, são frutos da relação entre Apolo e Dioniso, observando que, enquanto o apolíneo está ligado ao sonho, o dionisíaco está ligado à ideia da embriaguez. Desta forma, o impulso criador da arte, poderia emergir da imagem do sonho apolíneo, como também do êxtase dionisíaco. Concluindo que a tragédia grega, consequentemente, aflora da relação incipiente, paralela e intrínseca, do princípio ativo entre o mito de Apolo e o mito de Dioniso. 

 

 

 

                                                                                                     

domingo, 24 de outubro de 2021

MOLIÈRE

 


     Jean Baptiste Poquelin, mais conhecido como Molière nasceu em Paris em 15 de janeiro de 1622 e faleceu em 17 de fevereiro de 1673. Foi dramaturgo, ator e encenador. Ele teve um papel de destaque na dramaturgia francesa, quando era, de certa forma, muito dependente da temática da mitologia grega. Em suas obras, Molière também passou a criticar os costumes da época. Ele era filho de um artesão parisiense. Ficou órfão da mãe quando ainda era criança. Em 1633 entrou na prestigiada escola de Jesuítas do Collège de Clermont, onde completou a sua formação acadêmica em 1639.

     Quando completou 18 anos, seu pai lh passou o título de “Tapissier de Roi” (Tapeceiro ordinário do rei), e o cargo associado de “valet de chambre”, ou seja, criado de quarto. Isto significa dizer que desde cedo teve contato com o rei. Em junho de 1643, juntamente com a sua amante Madeleine Béjart, seu cunhado e sua cunhada, fundou a companhia (trupe) de teatro L’Illustre Théâtre. E já em 1644, apresenta-se em Paris. Nessa época, passa a dirigir a referida companhia, que em 1645 entra em crise. Foi a partir desse momento que ele assumiu o pseudônimo de Molière, inspirado no nome de uma pequena aldeia do sul da França.

     Em Lyon, Madame Duparc, conhecida como La Marquise, juntou-se à companhia. Estabelece-se definitivamente no teatro do Petit-Bourbon, onde, a 18 de novembro de 1659, faz a estreia da peça Les Précieuses ridicules (As preciosas ridículas) uma das suas obras primas que criticava os maneirismos e modos da sociedade em que vivia. Para os mais interessados, há o filme “Marquise”, que trata exatamente sobre o teatro de Molière naquele período.

     Apesar de sua preferência pelo gênero trágico, Molière tornou-se famoso pelas suas farsas, geralmente de um só ato e apresentadas depois de uma tragédia. Algumas dessas farsas eram parcialmente escritas, sendo encenadas ao estilo da “commedia dell’arte”, com improvisação a partir de um canovaccio (esboço muito geral da peça). A “commedia del’arte” teve seu auge na Idade Média, na Itália. Se transformou no período mais importante do teatro de rua, na história do teatro.

     Sganarelle ou le Cocu Imaginaire de 1660, trazia à tona o tema das relações humanas, descrita com um certo grau de pessimismo. Isso tornar-se-ia evidente nas suas obras seguintes e fonte de inspiração de futuros dramaturgos, como por exemplo, Luigi Pirandello. Le Tartuffe (Tartufo) foi encenado em Versailles em 1664, tornando-se no maior escândalo da carreira de Molière. A descrição da hipocrisia geral das classes dominantes e, principalmente do clero, foi considerada ofensiva e imediatamente contestada. Em função de críticas da sociedade, o rei vê-se obrigado a suspender as apresentações desta peça. Em 1666, apresenta Le Misantrophe (O Misantropo), que é considerada uma das obras mais refinadas e com um conteúdo moral mais elevado das peças de Molière.

sábado, 23 de outubro de 2021

TEATRO DO AMAPÁ: AGORA EM LIVRO

 


     Neste ano de 2021, o teatro do Amapá virou história documentada em função da obra de minha autoria “História do Teatro do Amapá: Do Século XVIII à Década de 1940”. Este livro, caro leitor, é resultado de vários anos de pesquisa, leituras, estudos, reflexões, perquirições e escritos. É, sem dúvida, o primeiro livro com a exclusiva preocupação de anunciar e socializar uma história do teatro do Amapá que, por seu turno, se encontrava obscura e em águas profundas. Durante todo esse tempo, me senti como se estivesse verdadeiramente num garimpo. Não obstante, esforço-me para tentar compreender que é essa a minha missão. Renunciei, me privei, abdiquei de tantas outras coisas que poderia ter feito, mas resolvi me dedicar a este assunto que tanto me conforta e que tenho imensa paixão em concebê-lo.

Esta região, denominada há tempos de Cabo Norte, inacreditavelmente nos apresenta manifestações teatrais desde o século XVIII, com a presença de um pequeno teatro de madeira instalado na Vila de São José de Macapá. Somando-se a este fato a dramatização da “Batalha Entre Mouros e Cristãos”, na Vila de Mazagão Velho, que neste ano de 2021 resulta na ducentésima quadragésima quarta apresentação, que sempre é realizada a céu aberto, tendo como atores os próprios moradores da referida vila.

Em relação à inauguração do Cineteatro Territorial na década de 1940, acredito que inicialmente, o mesmo serviu como point das benesses e do welfare state da elite recém-chegada, visto que foi palco de muitos artistas famosos que aqui aportaram em função da política cultural do primeiro governo do Território, que, por sua vez, apoiava em todos os sentidos a chegada desses artistas até a cidade de Macapá. Torna-se fato que famosos artistas como: Rodolfo Mayer, Bibi Ferreira, Procópio Ferreira, Concita Mascarenhas, Fernanda Montenegro, Luiz Gonzaga, Dalva de Oliveira, Trio Iraquitam, entre outros, aqui se apresentaram.

 Essa efervescente movimentação cultural de artistas famosos, ao se apresentarem no Cineteatro Territorial, consequentemente fez motivar e aflorar nos jovens que aqui residiam, estreitas relações com a arte de representar. Situação que refletiu em alguns grupos que começavam a se aglomerar, mas, ainda sem o amadurecimento e a experiência técnica de montagem de espetáculos teatrais. Para suprir essa necessidade, no final da década de 1940, alguns diretores oriundos da cidade de Belém do Pará, aqui chegaram para contribuir com essa emergente produção cultural do nosso Estado.

 Minha intenção com este estudo, não foi a de me aprofundar ipsis litteris no assunto abordado, até porque não havia como, em função das minhas atividades profissionais que não se resumem apenas à pesquisa, mas à sala de aula, educação, extensão, coordenação, comissões de avaliação e outros afazeres que nos destina a vida acadêmica. O que se encontra na obra, é o embrião do que nos oferece o Estado do Amapá em relação ao desenvolvimento do seu teatro. No entanto, refiro-me a cada parágrafo que aqui foi pesquisado e escrito (o que antes não havia sido concentrado em nenhuma obra). Porém, estou ciente de que todas as páginas desse volume merecem, no futuro, novos estudos, e é isto que venho sempre colocando para meus alunos do Curso de Licenciatura em Teatro da Universidade Federal do Amapá.

 

segunda-feira, 11 de outubro de 2021

VOCÁBULOS DO TEATRO

 


     O teatro surgiu na Grécia antiga há quase três mil anos. Durante toda a história do homem há uma relação intrínseca entre a vida e a arte. Relacionaremos em seguida algumas palavras ligadas ao teatro e suas principais origens:

     A palavra TEATRO vem do Latim theatrum, do Grego theatron, que significava literalmente “lugar para olhar”, de theasthai, “olhar”, mais tron, sufixo que denota “lugar”. O sentido de “lugar onde transcorre a ação” se aplicou também aos feitos militares, daí o nome “teatro de operações” para uma área onde há luta armada.

     ANFITEATRO também vem do Latim amphiteatrum, do Grego amphiteatron, que significa “local de espetáculos duplo, com espectadores dispostos de ambos os lados do palco”, de amphí-, “dos dois lados”, mais theatron, local de onde se vê. Inicialmente os teatros possuíam assentos apenas no lado voltado para o palco, seguindo a arquitetura do teatro grego. Esse tipo de arquitetura surgiu em Roma, em função das lutas dos gladiadores, e dos demais espetáculos, que podiam ser vistos dos dois lados, como é o caso do antigo Coliseu. Os atuais estádios de futebol são hoje os nossos verdadeiros anfiteatros, já que os torcedores podem se situar nos 360 graus do campo.

     O termo COMÉDIA vem do Grego komoidia, “espetáculo divertido, comédia”, de komodios, “cantor em festas”, de komos, “festa, farra”, mais oidos, “poeta, cantor”.  Este termo passou por uma fase em que era usado para designar “poema narrativo”, o que é a razão de o livro “A Divina Comédia”, de Dante Alighieri, ter esse nome. 

     TRAGÉDIA deriva do Grego tragoidia, que significa “peça ou poema com final infeliz”. Aparentemente deriva de tragos, “bode”, mais oidea, “canção”. Ao pé da letra poderíamos dizer “a canção dos bodes”, e isso viria do drama satírico, onde os atores se vestiam de sátiros, com suas pernas cabeludas e chifres de bode. 

     Da mesma forma, DRAMA também deriva do Grego drama, “peça, ação, feito” (especialmente relativo a algum grande feito, fosse positivo ou negativo), vem de drao, “fazer, realizar, representar, lutar”.

     PLATEIA – ao que tudo indica, deriva do Grego platea, que significa “largo e plano”. Inicialmente designava o lugar onde ficavam os músicos e se estendeu depois, em prédios diferentes dos teatros gregos, à parte onde tomam assento os espectadores.

    PALCO – do Italiano palco, “estrado, tablado”, do Lombardo palko, “trave, viga”. Seu sentido se estendeu depois ao de “tablado sustentado por vigas” e mais tarde a “estrado ou palco designado para apresentações artísticas”.

     CENA – do Latim scaena, “palco, cena”, do Grego skena, de mesmo significado, originalmente “tenda, cabana”, relacionado a skia, “sombra”, pela noção de “algo que protege contra o sol”. Para quem trabalha na área do teatro conhece bem os termos acima, interessante é entender a origem dessas palavras, a partir daí passa-se a entender o porquê do uso corrente e atual das mesmas.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

quinta-feira, 23 de setembro de 2021

TEATRO NA CAPITAL NA DÉCADA DE 1950

 

 

     Com a segunda inauguração do Cineteatro Territorial, que aconteceu no ano de 1948, consequentemente, na década de 1950 já havia muitas manifestações artísticas e sociais, naquele tão procurado espaço físico. Foi a partir daquele ano que com nova política cultural do governo territorial, passou a acontecer uma enxurrada de eventos e de artistas conhecidos nacionalmente, que passaram a se apresentar naquele espaço teatral.

     Nesse período, com sua política cultural, o Governador Janary Gentil Nunes fazia questão de trazer para o Território vários artistas reconhecidos nacionalmente. Na ocasião, o governo sempre envidava esforços para trazer atores e atrizes famosos como Procópio Ferreira e Bibi Ferreira, Luiz Gonzaga, Dalva de Oliveira e Trio Iraquitam, entre outros. Todos esses artistas estiveram em Macapá e se apresentaram no Cineteatro Territorial.

     Nessa época, também foi trazido para Macapá pelo Governo do Estado, a famosa peça “As Mãos de Eurídice” de Pedro Bloch com o ator Rodolfo Mayer, que era considerado um dos monstros sagrados do teatro brasileiro. No monólogo “As Mãos de Eurídice”, fez grande sucesso no Brasil e no exterior.

       Em janeiro de 1950, no Cineteatro Territorial em Macapá, acontecia a apresentação de Lucy Silva e suas amiguinhas, que eram crianças artistas amapaenses, como se pode observar na terceira página do Jornal Amapá, Ano 5, número 252, de 7 de janeiro de 1950: Com um programa de variedades, onde se observa o desenvolvimento artístico da criança amapaense, a troupe recebeu bastantes aplausos, podendo-se dizer que, tomando-se em consideração a idade dos pequenos artistas, o espetáculo foi bom.

     A equipe de Lucy e suas amiguinhas, se apresentou no Cineteatro do Trem Esporte Clube que também era um espaço teatral da cidade de Macapá, o que podemos confirmar de acordo com o Jornal Amapá, Ano 5, número 253, de 14 de janeiro de 1950, na coluna “Diversões”: Teve a população do bairro da Fortaleza, domingo último, oportunidade de assistir ao espetáculo de Lucy Silva e suas amiguinhas, que se exibiram no Cine-teatro Trem, na sede do Trem Esporte Clube. Apresentando vários números novos e outros que obtiveram sucesso no espetáculo de estreia, a troupe exibiu-se a contento, sendo bastante aplaudida pela plateia que lotou o teatro.

     Na década de 1950 também passou por Macapá, um ventríloquo que se apresentou com seus bonecos na Sede do Trem Esporte Clube Macapá. O nordestino Pedro Brandão, além de ventríloquo era ilusionista. É a matéria do Jornal Amapá, Ano 5, número 262, de 18 de março de 1950: Brandão deu dois concorridos espetáculos no teatro da sede do Esporte Clube Macapá, nos quais apresentou interessantes números de ventríloquia, exibindo, ainda, trabalhos de ilusionismo, que proporcionaram momentos de grande alegria para a petizada. Entretanto, merece um destaque todo especial a interpretação feita por Brandão de vários motivos do folclore brasileiro, o que alcançou grande sucesso.

   

quarta-feira, 22 de setembro de 2021

CICLOVIAS

 


     Numa cidade, todos deveriam ter o direito de ir e vir. Isto nos remete principalmente à mobilidade urbana. E esse tema não quer dizer apenas os automóveis ou os ônibus urbanos, implica também em ciclovias, para bicicletas e calçadas para pedestres. No início da década de 1990 era impensável a implantação de ciclovias na cidade de Macapá. De qualquer forma, algumas ideias isoladas surgiam aqui e ali, tanto na Câmara dos Vereadores como na Assembleia Legislativa, há notícias de que algum político tentou investir nessa área, mas que, naquela época, tais empreitadas não avançaram.

     Quais grupos se deslocam dentro de uma cidade civilizada? Tem aqueles que trafegam de um lugar para outro em seu próprio automóvel, outra camada da população transita em ônibus coletivo, uma outra parte, com suas motos e motonetas; aqueles que transitam em bicicletas, e ainda aqueles que saem de um lugar para outro, a pé, os quais, conhecemos como pedestres. Claro, cada qual deveria transitar tranquilamente, em seu espaço transitável. Mas, muitas vezes, a realidade é bem diferente. É claro, que todos concordam que os automóveis sempre foram os donos das ruas e dos asfaltos, fato que, por muito tempo deixou de lado os transeuntes que circulam numa cidade, principalmente aqueles que trafegam de bicicleta e os pedestres.

     Pouco a pouco a cidade de Macapá, vem se adaptando e se adequando às novas exigências das leis de mobilidade urbana. É o que podemos observar o grande salto que foi dado na Zona Norte, mais especificamente na Avenida Tancredo Neves. Transformou-se numa grande avenida, arborizada e iluminada, com ciclovias e calçadas.  Além de passarelas para pedestres em vários pontos. Uma imensa avenida totalmente sinalizada, duplicada e que inicia no posto da polícia rodoviária federal e vem até a ponte Sérgio Arruda. É a principal porta de entrada da cidade de Macapá, principalmente de quem vem da Guiana Francesa.

     Em outro momento, por força de eleições, alguns candidatos resolveram implantar ciclovias, mas pelo que parece, sem nenhum objetivo específico, além da conquista de votos, tendo em vista que essas ciclovias e ciclofaixas foram feitas do dia pra noite. Na atualidade cito aqui a rua Leopoldo Machado que se transformou numa maravilha de avenida, com uma ciclovia que vem do seu início até a Av. Juscelino Kubistchek. Em função dessas atitudes dos nossos representantes, percebe-se que a cidade avançou e muito, ao que diz respeito à mobilidade urbana.

     Do Marco Zero tem início outra ciclovia que vai até a praia do Araxá. Hoje quem necessitar sair de bicicleta do Marco Zero até a Av. Rio Grande do Norte, no Pacoval, vai fazer esse trajeto com muita tranquilidade, em função das ciclovias já estão se conectando umas com as outras. Notadamente que hoje, ainda há a necessidade de muitas calçadas para que os pedestres também possam transitar satisfatoriamente. Ciclistas transitem nas ciclovias e ciclofaixas e evitem acidentes. E viva as ciclovias.   

terça-feira, 21 de setembro de 2021

O CANTO DAS SEREIAS

 


     Todos sabem, conhecem, ou ouviram falar de sereias. Além dos contos contados por minha mãe, também assisti filmes com sereias, mas a primeira vez que me dei conta mesmo, desses seres mitológicos, foi ao ler a Odisseia de Homero. Acontece que após ter vencido a longa guerra de Tróia, Ulisses está de retorno à sua pátria Ítaca, mas, seguindo sua rota, a ilha das sereias era ponto de passagem obrigatório para Ulisses. Esse trajeto era muito temido por todos os marinheiros que por ali passavam. As sereias que ali habitavam, emitiam um canto tão exuberante que atraia e levava à morte todos os marinheiros que por ali navegavam. E isso causava sérios problemas para os navegantes da região. 

     Para evitar a sua morte e de seus companheiros, Ulisses criou uma estratégia, à qual, antes ninguém havia realizado. Ele ordenou que todos os seus marinheiros tapassem os ouvidos com cera de abelha, mas antes disso, também solicitou que o amarrassem no mastro do navio para que ele mesmo, Ulisses, pudesse apreciar o poderoso canto das sereias sem ser encantado, atingido e consequentemente morto. Desta forma, amarrado, não cairia na armadilha de se jogar na água para ir de encontro àquelas divas.

     Como eu era bobo! Eu pensava que sereias só existiam nos mares!? Desde a leitura da Odisseia, que jamais pensei algum dia encontrar alguma sereia encantadora como aquelas do best-seller. Para quem não sabe, as sereias possuem um canto encantador. Dizem que elas também poderão ser encontradas nos rios. Disso eu tive dúvida, até o momento que conheci esse gigantesco rio que passa majestosamente, defronte a cidade de Macapá. Há quem possa dizer que tudo isso é imaginação minha. Se aqui na Amazônia existe o boto cor de rosa, a enguia elétrica, a cobra Sofia, porque não existiria as sereias?

     Imaginação ou não, tenho certeza de que as sereias existem. Talvez não como as da minha mente, ou mesmo as do cinema, e ainda as do livro de Homero, porque hoje, posso dizer assim: - Eu já conheço sereias reais! E é exatamente isso, eu mesmo as defino como sereias reais, embora não pertençam à nenhuma família real, da política ou da história, e eu vos dou esse título honorífico de sereias reais. E nesses dois tempos distantes, imaginação e realidade, busco encontrar essa harmonia e compasso no canto das sereias do Amapá.

     Gostaria de afirmar que, quando eu ouço o canto das sereias do Amapá, eu paro imediatamente, para ouvi-las, aliás, tudo para, em função de seus timbres, ritmos, cadência e compasso. E nesse espaço de tempo, me envolvo deliberadamente, na divisão das mínimas, colcheias, fusas e semifusas. E nesse passo e compasso, ouço o timbre de ouro de cada uma delas. É nessa hora que me reconheço em Ulisses, com uma vontade imensa de mergulhar no rio Amazonas e me deixar levar pelo encanto do canto das sereias do Amapá: Oneide e Patrícia Bastos.

segunda-feira, 13 de setembro de 2021

TEATRO NA REGIÃO DO OIAPOQUE

 

    

     As atividades artísticas em nível de teatro se estenderam até o Oiapoque, que na década de 1950, houve várias representações dramáticas. Estas apresentações eram lideradas pela família Guarany: o ator Ney Guarani e principalmente a atriz Maria de Nazaré, conhecida por Dona Lia. Eles fizeram teatro na escola com as professoras: Nair e Cesalinda. Nesse período, havia dois palcos no município de Oiapoque; um deles fazia parte do edifício dedicado ao cinema da cidade, denominado de Cine Oiapoque; com aspecto medieval, no referido cinema, o público tinha a incumbência de levar seu banco, sua cadeira e inclusive, a comida, para poder se alimentar durante as apresentações naquele cinema; o outro palco funcionava no “Abrigo Caetano da Silva” que pertencia à Paróquia; aqui, o próprio padre era quem ensaiava e encenava as peças. Têm-se notícias de uma dessas apresentações que se intitulava “O sonho da Mulher de Pilatos”.

     Há que se levar em consideração que, enquanto as escolas tratavam de apresentações relativas a datas comemorativas, como, por exemplo: dia dos pais, dia da independência; o teatro no âmbito da igreja tratava de temas religiosos, como a paixão de Cristo. Em “O Sonho da Mulher de Pilatos” havia tudo o que necessitava uma peça de teatro. Em entrevista a nós concedida, Dona Lia nos contou que tinha uma peça em que o padre usava inclusive um projetor de slide para poder complementar o cenário.

     Outro fato interessante é em relação ao que ficou conhecido como a tragédia do Amapá. Sabemos que em 16 de fevereiro de 1950, em função da pororoca, houve um naufrágio no rio Cassiporé, no qual, faleceu o Dr. Lélio Gonçalves da Silva, que na ocasião era Diretor e médico do Posto Misto do Oiapoque. Este fato foi transformado em texto dramatúrgico pelo rádio ator Paulo Roberto; de acordo com o Jornal Amapá, Ano 6, número 269, Macapá, 06 de maio de 1950, onde enfoca que: Inspirado na dedicação e espírito de sacrífico do jovem e pranteado clínico, o conhecido rádio-ator Paulo Roberto, organizou e transmitiu através do seu popular programa <<Obrigado Doutor>>, que a Rádio Nacional irradia todas as terças-feiras, às 20 horas, a peça intitulada << A Tragédia do Amapá>>.     

     O referido programa intitulado “Obrigado Doutor” tinha como patrocínio o Leite de Magnésia da Phillips. Dr. Lélio Silva era médico. O texto foi escrito em sua homenagem pelo rádio ator Paulo Roberto que exercia suas atividades na Rádio Nacional, que na atualidade é conhecida como Rádio Difusora de Macapá. Como este é um dos primeiros textos dramatúrgicos que temos notícia, e que em função desse acontecimento, que se deu no início de 1950, considero este, como o primeiro texto dramatúrgico do Amapá. Embora ainda não tenha sido montado como espetáculo teatral, com certeza, se tornou a radionovela, mais ouvida, naquele período.

 

segunda-feira, 6 de setembro de 2021

ENCENADORES AMAPAENSES

 

 

     O primeiro grupo teatral que vai surgir na década de 1970, já em 1975, é o Grupo Teatral Telhado. O referido Grupo, participou ativamente das oficinas do Mobral e do SESC/AP.  Depois de ter montado a peça, “Bonequinho de Pano”, estreou, em 30 de julho de 1976, seu clássico e mais reconhecido espetáculo, “A Mulher Que Casou 18 Vezes”. Após a montagem da peça “O Mano Caburé”, em 1982 o Grupo Telhado encerra suas atividades artísticas. Embora o Telhado tenha quebrado paradigmas e tenha sido protagonista no que se define a montagens de espetáculos com criação e direção coletiva, infelizmente, não conseguiu avançar para a figura do diretor propriamente dito. Todavia, considero o Grupo Telhado como o precursor do teatro genuinamente amapaense.

     O segundo grupo teatral, surgiu ainda no finalzinho da década, em 1979, com a apresentação da peça “Uma Cruz Para Jesus”. O referido grupo, também participou das oficinas do Mobral e do SESC/AP, tendo à frente o ator e diretor Amadeu Lobato. Apesar de ter iniciado nessa época, a Companhia de Teatro de Arena – CIATA, foi fundada em 2005, após 16 anos de atividades ininterruptas. Este ano de 2021, completa 42 anos de apresentação de seu clássico espetáculo. Reconheço esta companhia como a maior Escola Informal de Iniciação Teatral do Amapá, tendo em vista que, grande maioria dos artistas de teatro do Amapá, tem tido sua primeira experiência neste espetáculo. Em detrimento do Grupo Telhado não ter dado prosseguimento aos seus trabalhos teatrais, consequentemente, mesmo se dedicando a temas religiosos, Amadeu Lobato se tornou o primeiro diretor amapaense de teatro.

     Outro Grupo que também surgiu a partir das oficinas do Mobral e do SESC/AP, e que foi fundado em 1983, foi o Grupo Teatral Língua de Trapo, liderado por Disney Silva. Apesar de ter montado vários espetáculos, se tornou reconhecido pelo público, a partir da estreia em 1990, do seu clássico espetáculo “Bar Caboclo”. Consta que até a presente data, este foi o único grupo amador do Amapá, que conseguiu conquistar seu próprio público e lotar o Teatro das Bacabeiras. Está com 38 anos de atividades e 30 anos da peça “Bar Caboclo”. Disney Silva entra na lista como o segundo diretor de teatro amapaense.

     Criada pelo diretor Daniel de Rocha e atriz Tina Araújo, janeiro de 1987, é o ano de fundação da Companhia de Teatro Marco Zero. Essa companhia se torna um caso à parte, levando-se em consideração que seus fundadores são imigrantes oriundos da Bahia, que chegaram a Macapá e instalaram um movimento artístico, comunitário e social. Foi a única companhia que conseguiu construir seu próprio edifício teatral, conhecido como Teatro Marco Zero, inaugurado em 2010, em estilo italiano, com capacidade para 100 lugares, no bairro Perpétuo Socorro. O considero como o grupo precursor do teatro comunitário, voltado para a comunidade do bairro Perpétuo Socorro. Dessa forma, Daniel de Rocha, se torna o terceiro diretor de teatro do Amapá. Nos dias de hoje, esses artistas estão em plena atividade no cenário do Amapá.

    

 

SANTIAGO JÚNIOR

 

 

          Reginaldo Pereira Santiago Júnior, mais conhecido nos meios teatrais como Santiago Júnior, é Arte Educador, ator e diretor teatral. Natural do Rio de Janeiro, fez teatro no Recife, onde morou por um tempo. Vem contribuindo com o teatro do Amapá, desde o ano de 2006. Em determinados momentos, se dedica do teatro na educação e outros períodos, ao teatro como produção cultural.

     Em Macapá, Santiago Júnior resolveu a estudar as lendas do Amapá. Além de ser Arte- Educador, ele identificou alguns problemas ao que diz respeito à identidade do povo amapaense, e foi com essa preocupação que ele resolveu procurar o que de melhor poderia ser montado dentro da escola, e decidiu por trabalhar as lendas do Amapá, principalmente a lenda da Bacaba.

     Mas, depois de certo período, resolve se voltar para a produção cultural e profissionalizar seu grupo de teatro, com o espetáculo “Lenda da Bacaba”, o qual, participou em 2008, do Macapá Verão. Em 2006 e 2007, e venceu dois festivais estudantis, na Feira de Intercâmbio Cultural, promovida pela SEED.  Montou ainda, os espetáculos “A Saga do Monstro Apaixonado”, e “A Cachorra Funckeira”, passando nessa fase para o texto autoral.

     Em 2007, retorna na Aldeia SESC, com o espetáculo “Halloplay”, onde faz referências ao halloween, onde se baseia inclusive no funk e hip-hop. Santiago Júnior também é um desses diretores que abre espaços para novos atores, para as pessoas que estão iniciando ou desejam iniciar seus trabalhos nas artes cênicas. Um verdadeiro trabalho de inclusão, como o caso de seu Antenor que já é um senhor, mas, obteve espaço para trabalhar com teatro sob a coordenação de Santiago Júnior.

     Em 2014, com a Companhia Viva de Teatro, onde atuou como protagonista do espetáculo “As “Máscaras de São Tiago”, ganhou o prêmio Mirian Muniz de Teatro, pela Fundação Nacional de Artes – FUNARTE. Nesse espetáculo, ele interpretou o mestre Elizardo. A referida peça, enfocava a história da festa, da travessia do povo pelo Atlântico, da Mazagão marroquina até Lisboa, de Lisboa a Belém e de Belém até Macapá. Ainda nesse mesmo ano, seu espetáculo “Sem Risos”, participou do Macapá Verão.

          Com o Movimento Cênico Artheatrum, Santiago monta “A Barca do Céu”, aqui, ele teve a experiência de ser ator, interpretando o Diabo, e paralelamente, dirigir o próprio espetáculo. Também atuou na peça “Uma Cruz para Jesus”, interpretando Judas e ainda um Profeta que era um homem do povo. Seus trabalhos mais significativos transcendem alguns Estados do Brasil, por exemplo, em Pernambuco coordenou o “Camarote da Acessibilidade”, trabalho relacionado a portares de necessidades especiais, quando representaram uma peça naquele camarote, dentro da programação do São João de Caruaru.

     Santiago Júnior é uma pessoa há muito tempo dedicada ao teatro aqui em Macapá. Seus espetáculos já foram apresentados no SESC/AP, no Centro Cultural Franco Amapaense, entre outros espaços teatrais. Ao longo dos anos tem incentivado muitos jovens, adultos e senhores a participarem de suas montagens. Motiva e recebe de braços abertos qualquer iniciante que deseja ter uma experiência com teatro.  

 

 

 

 

 

terça-feira, 31 de agosto de 2021

ANDRÉA LOPES

 

 

     Inicialmente conhecida como Déia Lopes, ela começou a fazer teatro ainda jovenzinha com apenas 15 anos de idade. Suas primeiras experiências com o teatro aconteceram ainda na escola. Em seguida entrou num grupo de teatro e participou da peça “Do Lado de Lá”, sob a direção da Professora Claudete Machado. Também fez teatro com Sávio Silva, e ainda, Celso Dias. Era um espetáculo que falava das lendas, mais especialmente da lenda do boto. Este trabalho foi de fundamental importância na sua formação como atriz e pessoa do teatro.

     Depois dessa experiência, ela se torna componente do Grupo Marco Zero e passa a trabalhar com Daniel de Rocha e Tina Araújo.  Um dos espetáculos montados com o Grupo Marco Zero, em que ela participou ativamente, foi “A Menina e o Vento”, de autoria de Maria Clara Machado, onde assumiu o personagem “Adelaide”.  Ainda no Grupo Marco Zero, participou como atriz da peça de rua “A Viúva e o Buraco Negro”, este era um espetáculo político onde se criticava o prefeito da época, que era Azevedo Costa, em função dos muitos buracos que já existiam nas ruas de Macapá. Já no movimento organizado de teatro, ela foi uma das fundadoras da FATA – Federação de Teatro do Amapá. Nessa associação cultural, dedicou seu trabalho em busca de melhoras para as questões políticas e culturais do Estado do Amapá.

     Depois de passar pela FATA, se tornou ativista cultural, se dedicando plenamente ao movimento cultural do Amapá. Participou da luta pela criação do Conselho de Cultura. Andréa trabalhou em vários espetáculos como: “Do Lado de Lá”, “Castelo Misterioso”, “Bar Caboclo”. Por outro lado, criou uma dupla de palhaças com o ator Roberto Prata, este último é considerado a primeira pessoa do sexo masculino a criar uma palhaça no Amapá. O Castelo Misterioso, tratava-se de um espetáculo infantil, no qual, se trabalhava as questões de higiene com as crianças. Era um espetáculo muito dinâmico, mas de cunho pedagógico.

      Também participou do espetáculo “Meu Dentinho”, produzido pelo SESC/AP, que se voltava para a higienização dental da criança. Ao longo do tempo este espetáculo foi tomando novas formas, até que um dia começou a ser apresentado em vários outros locais, e não só apenas dentro dos muros do SESC. Mas a peça em que Andréa ficou mais reconhecida como atriz foi o espetáculo “Bar Caboclo”, montagem do Grupo Língua de Trapo. Além do papel de Maria Batalhão, nesse espetáculo nossa atriz, também representou o papel de Maria Chicona.  Sendo uma das primeiras atrizes do Bar Caboclo, onde passou grande temporada, Andréa resolve então, deixar o grupo e seguir sua carreira artística. E foi participar como atriz do trabalho que se tornou sua paixão, seu trabalho mais gratificante. 

     Nessa nova fase ela participou da peça “Hiléia Desvairada”, cujo texto é de Herbert Emanuel, e direção de Nildes. Andréa Lopes, ainda passou por vários grupos e montagens como, o grupo desclassificáveis, onde assumiu a assistência de direção do espetáculo “Curupira um ser Inesquecível”. Também passou pelo grupo “Boca Miúda”. Atualmente Andréa Lopes é técnica em enfermagem, e apesar de ser uma profissional da área da saúde, continua contribuindo nos bastidores teatrais, além de também trabalhar com declamação de poesias e contação de histórias para crianças.

quarta-feira, 25 de agosto de 2021

TEATRO GENUINAMENTE AMAPAENSE

 

     O período que inicia em 1944, com a inauguração do Cineteatro Territorial, e vai até o ano de 1975, com o surgimento do grupo Telhado, o teatro do Amapá percorre três fases específicas: a primeira, inicia em 22 de julho de 1944, (período que se estende por 15 anos), com a inauguração do Cineteatro Territorial, o que gerou na sociedade e principalmente nos jovens amapaenses, grande motivação em relação à arte e essencialmente à produção cultural. Entendo que, com a decorrente passagem de vários artistas conhecidos em nível de Brasil, como: Procópio Ferreira, Bibi Ferreira, Rodolfo Mayer, Fernanda Montenegro, entre outros artistas desse quilate, que se apresentaram no Cineteatro Territorial, notadamente, este fato fomentou nos jovens amapaenses um gosto pela arte de representar.

     A segunda fase, tem seu marco em 1959 com a montagem do espetáculo “Pluft o Fantasminha”. Também defino este, como um momento crucial para o teatro no Amapá. Passados 15 anos de prestígio do Cineteatro Territorial, consequentemente surgiria, no Amapá, uma nova geração de jovens com potencial não só para testemunhar, mas, sobretudo para produzir teatro. Período em que nasciam os novos produtores da cena amapaense. Malgrado a eficácia dos artistas do torrão tucujú, ainda havia algo que se fazia necessário importar da cidade de Belém do Pará, alguém que tivesse condições de dirigir espetáculos teatrais. Apesar desse longo período, era raro encontrar em Macapá quem tivesse considerável qualificação para dirigir um espetáculo teatral.    

     Contudo, nossos atores careciam de alguém que dirigisse seus espetáculos. Sendo assim, esta segunda fase, foi a da importação de diretores de teatro, em sua maioria, provenientes da cidade de Belém do Pará, para dirigirem espetáculos teatrais em Macapá. Em relação a isso, Cláudio Barradas esteve em Macapá com a missão exclusiva de ser o encenador da peça “Pluft, o Fantasminha”. O elenco era composto por Consolação Lins Côrte (como Pluft); Vera Lúcia Santos (Maribel) e Carlos Nilson da Costa (Tio Gerúndio), ainda havia quatro marinheiros e um capitão. Em suma, são doze personagens que fazem parte desta peça. O espetáculo foi promovido pela União de Estudantes Secundaristas do Amapá – UECSA. Desse modo, considero “Pluft, o Fantasminha”, de Maria Clara Machado, montada em 1959, como a fronteira inicial das produções teatrais com atores especificamente amapaenses.

     A terceira e última fase, tem origem na década de 1970, mais precisamente em 1976 com o advento do Grupo Telhado. Desde a chegada de Cláudio Barradas em 1959, para dirigir o espetáculo “Pluft, o Fantasminha” que o teatro amapaense buscou sustentáculo em diretores paraenses. Essa temporada, que inicia em 1959 com o diretor Cláudio Barradas e que se estende por 17 anos consecutivos, vai alcançar seu limite máximo no ano de 1976, com a montagem do espetáculo “A Mulher que Casou 18 Vezes”, pelo Grupo Telhado, tendo como diretora a atriz paraense Marizete Ramos. Sem embargo, entendo que este ciclo se encerra com a presença peculiar da diretora Marizete e Luiz Otávio Barata, que foram praticamente, os últimos encenadores de teatro em Macapá, procedentes de Belém, que no referido período, contribuíram demasiadamente com o teatro do Amapá.  Vale ressaltar, que entre 1959 a 1976, afora Cláudio Barradas, Luís Otávio Barata e Marizete Ramos, vários outros diretores oriundos do Pará estiveram nas terras tucujús, auxiliando espetáculos com artistas do lugar.

 

domingo, 22 de agosto de 2021

TEATRO DOS ESCOTEIROS

 

                                        

Na década de 1940 havia uma grande tradição na educação dos jovens, os grupos de escoteiros eram famosos naquele período. Nessa época, em todo o território nacional, era frequente a presença de escoteiros, que em muito ajudava na educação da juventude. Desse modo, na maioria das festividades que havia em Macapá, sempre estava presente o grupo de escoteiros de Belém do Pará. Uma dessas notícias encontra-se no Jornal Amapá, Ano I, nº 26, p. 3, Macapá, de 15 de setembro de 1945. OS ESCOTEIROS PARAENSES EM MACAPÁ - VISITA OFICIAL AO GOVERNADOR – HOMENAGEM À MEMÓRIA DE D. IRACEMA NUNES – PROVAS ATLÉTICAS E ESPORTIVAS. O <<SHOW>> NO CINE-TEATRO DE MACAPÁ - À noite, houve a representação teatral dos escoteiros. O Cine-Teatro Macapá estava repleto. O primeiro esquete levado á cena foi << Patriotismo>>, dedicado ao chefe do governo do Território, no qual dois escoteiros recriminavam o gesto de peraltas que haviam desrespeitado um herói da guerra do Paraguay, que depois de reportar á batalha de Itororó: em seguida, < Idealismo>, em homenagem ao sr. Paulo Armando; < Três Tampinhas Pretensiosos>, focalizando a história de meninos transviados que o escotismo transforma e integra em seu seio, em homenagem aos escolares, e < Bandeira da Pátria>, entrecho cívico de notavel repercussão, dedicado ás professores desta cidade.

Consequentemente, fatos como estes, gerou, nos jovens que aqui moravam, a necessidade da criação de um grupo de escoteiros, e em função disso foi criado “Associação de Escoteiros Veiga Cabral”, cuja sede localizava-se na Rua Eliézer Levy. É o que se pode confirmar, em função do Jornal Amapá, Ano I, nº 27, Macapá, de 22 de setembro de 1945. Com o surgimento da Associação dos Escoteiros Veiga Cabral, foram lançadas nesta cidade as bases do grande movimento educativo, que notável influência exerce entre as camadas da juventude patrícia.

     Como se pode observar, várias camadas da sociedade amapaense, contribuíram para o desenvolvimento das nossas atividades teatrais. A começar pela comunidade de Mazagão Velho com sua apresentação da batalha entre Mouros e Cristãos, em seguida com os trabalhos de Padre Júlio Maria Lombaerd, depois com o Cineteatro Territorial, e ainda com o Barracão da Prelazia, os trablhos de Honorinha Banhos com suas atividades culturais na sede do Trem Desportivo Clube, somando-se às representações dramáticas que eram levadas ao público pelo Grupo de Escoteiros Veiga Cabral.