Contatos

palhanojp@gmail.com - palhano@unifap.br

segunda-feira, 25 de setembro de 2023

ESPAÇO CÊNICO

 


     Desde o espaço cênico esférico primitivamente criado pelos gregos para realizarem seus jogos dramáticos e teatrais, em homenagem ao deus Dioniso, ocasião em que não havia nem palco nem plateia, em sua evolução histórica e cenográfica, o teatro passou por diversas transformações. Tanto no âmbito da estrutura do espetáculo como também no que diz respeito à estrutura do edifício teatral. Essas mudanças foram constantes e dialeticamente significativas, tendo em vista as necessidades políticas de cada sociedade em seu período histórico.

     Uma dessas primeiras mudanças, aconteceu ainda na Grécia Clássica, paralelamente à trajetória da própria estrutura cênica. Nesse período primitivo, o teatro grego passou a ser construído entre montanhas, com capacidade para aproximadamente entre cinco e quatorze mil pessoas. Nesse ínterim, o espaço cênico passou de circular para semicircular, cujo cenário era fixo. Fato é que o homem não havia ainda conquistado o domínio do arco, o que vem acontecer já no império romano, proporcionando revolução na arquitetura, sendo um dos maiores exemplos desse período, o Coliseu de Roma, que é símbolo da cultura pagã. Com a ascensão do cristianismo, esse templo passou a ser esquecido.

     Certamente, o teatro romano apresentava uma estrutura semelhante ao da Grécia, mas passou a ser construído sem a necessidade de utilizar montanhas como apoio, porquê? A primeira questão é que a maioria dos teatros foi construída um tanto quanto afastado das cidades, outra questão é que o teatro que se fazia na Grécia Antiga, exigia que os atores ficassem de frente para o público, em função disso, construiu-se um espaço cênico semicircular com os locais de entrada e saída dos personagens.

     Já o modelo de teatro que se fazia na Roma Antiga, não exigia diretamente essa frontalidade com o público, sendo que lá, a arquitetura teatral passou a ser construída em forma circular de onde possibilitava que o público pudesse assistir ao espetáculo de qualquer lugar da arena, e em função disso, surge o anfiteatro, que significa dois lados (ver dos dois lados).  Esse fenômeno se deu em função da nova concepção do espetáculo romano que se resumia em lutas de gladiadores, lutas de homens contra animais, e que não havia a necessidade desses performers estarem totalmente de frente para o público, neste caso, o cenário também era fixo. Este fato acontece atualmente nos estádios de futebol, cujos jogadores, não precisam estarem totalmente de frente para as torcidas. 

     Salienta-se que foi em Roma que ocorreu a primeira possibilidade de se cobrir esse espaço com uma imensa lona. É a partir daí que surge o circo romano. Podemos considerar os jogadores de futebol da atualidade, como verdadeiros gladiadores contemporâneos, cujo coliseu é representado pelo campo de futebol, e o público são as torcidas organizadas. Como os gladiadores antigos, também são vendidos, de possuírem um cotidiano regrado, com exercícios diários, alimentação orientada por profissionais da área, além de precisarem lutar com a bola em campo para ganhar o jogo, sem contar que, quando, vez por outra, a rivalidade é tão grande que jogares de dois times entram em luta corporal, como verdadeiros gladiadores.

terça-feira, 19 de setembro de 2023

INSTALAÇÃO EM MACAPÁ

 


     Logo após a minha posse como professor na Universidade Federal do Amapá, inicialmente me instalei num hotel que ficava na Coaracy Nunes, no bairro central. Passei a procurar algum lugar para morar definitivamente em Macapá, mas não havia perspectivas, principalmente porque não existia prédios para alugar e muito menos algum apartamento para poder financiá-lo. Era um período em que a cidade era praticamente horizontal, sendo que o maior prédio da cidade, parece-me, era a caixa d’água da Santos Dumont, ali no bairro do buritizal, e a grande maioria das moradias eram de madeira. Havia apenas um condomínio de apartamentos na Rua Professor Tostes, acredito que seja o mais antigo condomínio de Macapá.

     Minha passagem pelo hotel foi exatamente de 30 dias, visto que eu comprei um pequeno rádio na zona de livre comércio, que na época estava no auge, e passei a ouvir alguns programas e principalmente o “compra e vendas”, que tinha um excelente locutor chamado Jorge Guimarães. Programa muito divertido e que, realmente, funcionava como um classificado sonoro. Foi a partir desse programa que consegui um pequeno recinto na Rua Clodóvio Coelho, no Buritizal, paralela à Rua 13 de setembro, onde passei todo o ano de 1995. Uma das músicas que tocava bastante durante a programação radiofônica, chamava-se “A Novidade” de Gilberto Gil, à qual, ficou gravada na minha mente, e sempre que a ouço, lembro-me daquele período, visto que aquela canção, marca, de forma nostálgica, minha chegada à Macapá.

     Na década de 1990, em sua maioria, as moradias da cidade, eram completamente de madeira. As avenidas eram de mão dupla. Nas ruas Hildemar Maia e Santos Dumont, era difícil ver um prédio de alvenaria. Hoje cada uma tem um fluxo contínuo em relação ao trânsito. Paralela à Clodóvio Coelho, na Rua Primeiro de Maio, funcionava a Feira do Agricultor. Na verdade, todas as mercadorias eram dispostas ali, na rua mesmo. Período que a paróquia do Buritizal ficava de frente para a Hildemar Maia. Quando a Hildemar Maia se tornou mão única, a Igreja nova foi inaugurada na Primeiro de Maio. Na década de 1990, o comércio ainda era muito tímido na Av. 13 de Setembro. Esta avenida cresceu muito ao longo dos anos, com bancos, restaurantes, e lojas as mais diversas. Com seu desenvolvimento, a feira do agricultor passou a ser na Claudomiro de Moraes. Atualmente a Av. 13 de setembro é mão única.

     Na Clodóvio Coelho, morei durante todo o ano de 1995, lá, fiz muitos amigos, os quais, preservo até os dias de hoje. Durante o percurso do ano de 1995, adquiri um terreno no Bairro da Embrapa, com a intenção de me situar mais próximo das minhas atividades profissionais na UNIFAP. Foi lá, que construí uma casa mista, com 30% de alvenaria e 75% de madeira. Toda em madeira de lei, acapu e pau-mulato. Naquela época, era muito comum o trânsito de madeira e o movimento no canal das pedrinhas, como também em outros canais da cidade de Macapá, visto que ainda não havia a preocupação com o meio ambiente. Após esses trinta anos, e, em função das leis de proteção ao meio ambiente, o sentido agora é o oposto, hoje Macapá tem mais prédios de alvenaria e pouquíssimos de madeira. E assim, segue a vida...!

domingo, 10 de setembro de 2023

RESISTÊNCIA E TEATRO

 


     O teatro que vinha sendo realizado no Brasil até o ano de 1964, do século passado, passa a enfrentar uma das piores crises de sua história, juntamente com toda a população do país. Especificamente, a arte teatral é esmagada em todas as suas instâncias: artistas são presos, massacrados, torturados e exilados, em função da ordem, do progresso e do respeito ao sistema que se instalara a partir de 31 de março daquele ano. Na ocasião, teatros foram incendiados e artistas acusados de participarem de guerrilhas.

     Tudo começou quando o prédio da União Nacional de Estudantes -UNE, foi incendiado já no dia 1º de abril, destruindo um auditório que estava sendo transformado naquela época, numa moderna sala de espetáculos. O que seria o futuro teatro, ficou resumido a um monte de escombros. Nas suas chamas morria também o Centro Popular de Cultura - CPC, que foi imediatamente colocado, como a própria UNE, fora da lei.             Em 1965, Dias Gomes, com “O Berço do Herói”, teve a honra de ser censurado pelo próprio governador do então, Estado da Guanabara, Sr. Carlos Lacerda, poucas horas antes da estreia. No início de junho, o diretor-geral do Departamento de Polícia Federal, General Riograndino Kruel, mandava tirar de cartaz “Opinião” e “Liberdade, Liberdade”.

     A classe teatral reagiu, artistas e intelectuais redigiram telegrama de protesto, enviado ao Presidente Castelo Branco. A resposta foi imediata. O Presidente telefonou à atriz Tônia Carrero negando ter determinado medidas restritivas à liberdade de expressão, prometendo apurar as interdições das duas peças. No mesmo dia, Riograndino Kruel desmentia a proibição de “Opinião” e “Liberdade, Liberdade”.  

     Os jovens responsáveis pela evolução da linguagem cênica que tomaria corpo a partir de 1966, sentiram-se inconformados e impotentes diante do sistema repressivo que controlava cada vez mais radicalmente a vida do país, riscando do mapa qualquer noção de consulta popular. Com influências da revolução cultural que se preparava, praticamente em todo o Ocidente, os espetáculos que iam surgindo a partir de então, já apresentavam algumas reformulações, por exemplo: o palco italiano, virtual espaço único e imutável há três séculos, é parcialmente abandonado em favor de vários tipos de espaços livres como: rua, arena, praças, associações, etc., em que atores e públicos coexistiam sem fronteiras físicas.

     Por outro lado, em agosto de 1966, agentes do DOPS invadiam o “Teatro Jovem”, no Rio de Janeiro, impedindo a realização de um debate sobre a obra de Berthold Brecht, ao qual, aliás, estavam incumbidos de prendê-lo. Receberam a explicação de que o Sr. Brecht estava morto há dez anos. A somatória dos fatos ocorridos em 1966, fez com que os artistas e intelectuais deixassem de lado a caneta e a máquina de escrever. Foi assim que trezentas pessoas abriram o ano de 1967, num ato público na Associação Brasileira de Imprensa – ABI, no lançamento da “Semana de Protesto à Censura”. Já os jornais do dia 23 de outubro deste mesmo ano, traziam declaração do General Façanha, então diretor do departamento de polícia federal, chamando Tônia Carrero de “Vagabunda”. Apesar de tudo, o teatro resiste até hoje.

terça-feira, 5 de setembro de 2023

CAUSA E EFEITO

 


     A Universidade Federal do Amapá é uma das mais novas instituições de ensino superior do país, com apenas 33 anos de fundação. Em relação às demais, realmente é uma instituição muito jovem. Ela só existe por conta do maior conflito armado, que se conhece, que foi a Segunda Guerra mundial.

Mas, qual sua principal origem?

     Desde a década de 1940, a reivindicação de estudantes secundaristas do Amapá, que se refletiu por várias décadas, que, para conquistarem um curso superior, tinham que se deslocar para a cidade de Belém do Pará, e isso gerava grande transtorno tanto para suas famílias quanto para eles próprios.

Sim, mas por que ela tem apenas 33 anos?

     Porque em função desses fatos, e diante deste caso, políticos do Estado do Amapá, em paralelo à luta dos estudantes do lugar, se reuniram e reivindicaram junto ao governo brasileiro, a imediata fundação de uma universidade para o Amapá. Sendo que sua instalação aconteceu no ano de 1990.

Certo, mas isso aconteceu porquê?

     Porque antes da fundação da UNIFAP, no lugar geográfico onde ela funciona nos dias de hoje, já havia o Núcleo de Educação de Macapá, conhecido como antigo NEM, que fazia parte do projeto de extensão e expansão da Universidade Federal do Pará.

Tudo bem, até agora entendi, mas como eles conseguiram tal conquista?

     Principalmente, em função da aprovação da Constituição de 1988, que transformou essas terras, em novo Estado da Federação.

Mas, por que essas terras se transformaram num Estado da Federação?

     Exatamente porque antes de ser um Estado do país, essas terras pertenciam ao Território Federal do Amapá.

Ainda outra pergunta: por que essas terras que pertencem hoje ao Estado do Amapá, antes, faziam parte do Território Federal do Amapá.

     Porque, em função da Segunda Guerra Mundial, para se precaver de invasões estrangeiras, o governo brasileiro determinou que essa faixa de terra seria área de defesa nacional, transformando-a em território federal.

Qual a conclusão disso tudo?

     Por dezenas de anos, essas terras do Amapá faziam parte do Estado do Pará, que por sua vez, sempre as tinha como terras irresolutas, rechaçadas e abandonadas. No auge da Segunda Guerra Mundial, e por força superior do Governo Federal, em 13 de setembro de 1943, foram transformadas em Território Federal. Por outro lado, desde a década de 1940 que estudantes secundaristas amapaenses já lutavam por uma universidade. Contudo, por força da aprovação da Constituição de 1988, essas terras tucujus, passaram a ser um Estado da Nação, período em que já havia o antigo NEM. Todavia, em função da luta de vários políticos do Amapá, no ano de 1990 a UNIFAP foi implantada de fato e de direito.

     Aqui encerro este debate, observando que, de acordo com o parágrafo inicial: conclui-se que a Universidade Federal do Amapá só existe por conta desse grande conflito do século XX, que foi a Segunda Guerra Mundial. Segue meu recado final: esteja sempre atento e não esqueça de perguntar o porquê dos fatos, tudo é causa e efeito.

 

Prof. Dr. Romualdo R. PALHANO.