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segunda-feira, 30 de outubro de 2023

VIVA O SERVIDOR PÚBLICO

 


     Ontem foi o dia do Servidor Público, é uma data que foi criada na Era Vargas.  O serviço público começou a ser regulamentado e foi posto em funcionamento por meio do decreto-lei nº 1.713, de 28 de outubro de 1939. Em seguida o Presidente Getúlio Vargas decidiu criar uma data para comemorar o dia do funcionalismo público, e foi assim que surgiu o dia do Servidor Público. A criação dessa data foi determinada pelo decreto-lei nº 5.936, em 28 de outubro de 1943. Em artigo único, seu texto determina que: “O dia 28 de outubro será consagrado, em todo o País, ao “Servidor Público”. Interessante é que esta data, apesar de sua importância, não é considerada um feriado nacional, porém é tida como ponto facultativo, quando a União, os estados e municípios todos os anos, sempre a comemoram.  

     Em muitos casos, quem está fora do serviço público, não entende como ele funciona. Por outro lado, geralmente há um olhar diferente em relação ao serviço público, no que diz respeito, de como o servidor deve exercer suas funções. Em várias repartições públicas percebe-se aqueles mais dedicados que outros, visto que cada um traz dentro de suas perspectivas de vida, seus sonhos e seus ideais. Com 38 anos de serviço público dá para perceber esse pensamento, quando da entrada de novos servidores, que trazem um perspectivas deturpadas do seu métier na amplitude pública. Em sua grande maioria, novos servidores públicos vêm com o pensamento de tirar proveito do serviço público, ideia que não combina com os preceitos e com as leis destinadas voltadas para esse tipo de serviço.

     Ao pensar em se candidatar à um concurso público, o futuro servidor, precisa se inteirar de que ninguém faz o que quer e o que pensa nessa área profissional, visto que há regimentos, códigos de ética, resoluções, leis superiores, entre outros tantos documentos que regem este setor, os quais, consequentemente determinam o compromisso, os deveres e direitos dos funcionários públicos. Ou seja, há uma infinidade de leis que regem a vida profissional daquela pessoa que deveria servir e respeitar o público em geral. Se por um lado, em função de sua total dedicação às suas atividades laborais, o servidor pode receber uma Portaria de Elogio, por outro, em função de realizar algo, como por exemplo, macular o nome da instituição, ele também poderá responder a um Processo Administrativo Disciplinar, receber uma Portaria de Advertência e, até ser demitido da instituição pública.

     A própria sociedade em geral, parece que a todo custo, observa o serviço público como algo que não funciona, como uma grande máquina desgastada. Isto não deve ser generalizado, visto que muitas áreas do serviço público no Brasil, já demonstraram resultados excelentes para a população. E, muitas vezes, o setor que mais sofre com essas Fake News, é a própria Universidade e a educação em geral. A educação precisa ser vista como um dos pilares da sociedade, visto que um país sem cientistas é um país sem progresso. Os países mais ricos fomentam e investem pesado em pesquisa, em busca de um futuro melhor, e que também gere renda para o próprio país. É certo que as instituições públicas, sejam elas em nível federal, estadual ou municipal, e inclusive, o servidor público, fazem parte deste grande suporte para o crescimento da sociedade brasileira. Viva o Servidor Público.

domingo, 22 de outubro de 2023

O DITIRAMBO E O MARABAIXO

 


     O culto a Dioniso, deus da uva e do vinho, com seu canto ditirâmbico, remonta há mais de mil anos antes de cristo, nele, havia dança, música, pessoas gritando e cantando e ingeria-se muito vinho. Acontecia em homenagem às vindimas (período da colheita da uva).  Havia ainda o corifeu, que puxava um refrão, enquanto as pessoas respondiam.

     Apesar da distância cronológica, da tecnologia e do mundo contemporâneo, há muita semelhança entre o canto ditirâmbico e o marabaixo. Os praticantes do marabaixo dançam ao som de caixas confeccionadas de madeira; dançam em círculo em torno dos caixeiros, da mesma forma que as pessoas dançavam em círculo a partir de determina música no entorno do deus Dioniso; respondem em coro o “ladrão” tirado pelo cantador, praticamente representando o papel do corifeu (que fazia o mesmo) no antigo culto grego.

     Muitas vezes esses “ladrões” transforma-se em desafios improvisados, o que nos remete à Odisseia e propriamente ao cordel, como também aos desafios dos emboladores de coco. Em sua tese de doutorado, intitulada: “Marabaixo, ladrão, gengibirra e rádio – Traduções de linguagens de textos culturais”, defendida em 2012, na Pontífica Universidade Católica de São Paulo, (da qual fui arguidor) Prof. Dr. Rostan Martins afirma que: “Alguns versos de ladrão contam gozações, reprovações ou alguns lapsos cometido por uma autoridade ou pessoa da comunidade, reproduzem cenas hilariantes do cotidiano”. Isso demonstra a versatilidade da dança do marabaixo.

     O improviso é constante no marabaixo, o que também era muito utilizado no canto ditirâmbico, e foi exatamente a partir do improviso de Théspis (considerado o primeiro ator ocidental), quando gritou: “eu sou Dioniso”, que aquele culto iniciou sua transformação cultural revelando numa outra forma de manifestação conhecida por teatro.

     Acredita-se que o círculo é uma das formas mais perfeitas, e independente de área geográfica ou relação temporal/cronológica, sempre aparece em várias latitudes do planeta e nas mais diversificadas comunidades ancestrais, modernas e contemporâneas. Na Grécia clássica, o canto ditirâmbico acontecia em círculo; a ciranda também é em círculo; o coco de roda, o próprio nome já nos sugere sua forma; a maioria dos passos da quadrilha junina é em círculo; evidentemente, que o marabaixo também não poderia ficar de fora dessa regra secular. 

     De uma forma ou de outra, percebe-se que fatores religiosos também se encontram inseridos nessas manifestações, em cada latitude como também em cada seu momento histórico, e que consequentemente, merecem o respeito dos estudiosos, dos catedráticos, do povo e principalmente da própria comunidade em que essas manifestações se revelam. O marabaixo representa o símbolo da cultura amapaense. E foi esta dança que Luiz Gonzaga dançou e gravou: “Eita, seu mano que bom, ai! Que bom de dançar! Eita seu mano que bom, ai!, que bom é o Macapá”, referindo-se à dança do marabaixo.

domingo, 15 de outubro de 2023

ORGULHO DE SER PROFESSOR

 


     Comecei a lecionar por uma necessidade econômica; o ano era 1982, já estava cursando a graduação em Artes na Universidade Federal da Paraíba. Eu acabara de sair de um emprego de escriturário na famosa transportadora Dom Vital. Foi o momento em que tive que morar na casa universitária masculina, como também, sair em busca de uma escola para ministrar aulas de Educação Artística. Passei dois anos lecionando no Instituto Sólon de Lucena, na cidade de João Pessoa. Apesar de não ter tido garantido meus direitos trabalhistas, foi um momento de muita dedicação e aprendizagem.

     Em 1984, já numa escola melhor, pela primeira vez, tive minha carteira assinada como professor de artes, ao trabalhar no Colégio João Paulo II, também um estabelecimento da rede privada. Depois que tive oportunidade de me dedicar aos afazeres da universidade, eu precisava pagar meu vale transporte como também as bandejas no restaurante universitário. Tendo iniciado em 1980, e, levando-se em consideração o atraso que houve no desenvolvimento do meu curso de graduação, só tive condições de finalizá-lo no período de cinco anos. Neste caso, o ano de 1985, foi o grande momento da conclusão do curso e da minha colação de grau. E assim, conclui o Curso de Licenciatura em Educação Artística, com habilitação em Artes Cênicas.

     Como professor, os primeiros seis anos do início da minha carreira, vivenciei na escola da rede privada de ensino. Por isso, trabalhei como professor na rede particular, de 1982 a 1988. Muito me dediquei para estudar para concursos públicos na minha área, assim sendo, em 1986, fui aprovado em segundo lugar num concurso para professor da Prefeitura Municipal de João Pessoa, sendo que, tomei posse em dezembro de 1987. Ainda neste finalzinho do ano tive a honra de ser selecionado para cursar o Mestrado em Serviço Social, ainda na UFPB. De outra parte, me inscrevi em outro concurso público, desta vez, do Governo do Estado da Paraíba, o qual, também fui aprovado em segundo lugar. 

     Naquele período da minha vida, entre o final do ano de 1987, e início de 1988, realmente, eu tive um Feliz Natal e um Próspero Ano Novo, tendo em vista que, em função das minhas conquistas, tive que deixar o ensino privado e passar para o ensino público,  assumindo aulas na rede municipal e rede estadual de ensino, além de ingressar como aluno efetivo do Curso de Mestrado em Serviço Social. Nessa época, minha vida deu um giro de 360º, e, pensando no meu futuro, tive que dar conta de todos esses afazeres.

      Em 1993, me submeti a mais um concurso para trabalhar no Núcleo Pedagógico Integrado – NPI, da Universidade Federal do Pará. Portanto, outro momento semelhante também veio a acontecer no ano de 1994, quando noutro giro de 360º, fui aprovado em primeiro lugar, sendo que desta vez, assumi minha vaga na UFPA, em fevereiro de 1994. Foi o momento de deixar a velha Paraíba e me instalar em Belém do Pará. Não satisfeito com minha estada no Pará, resolvi me submeter a mais um concurso, desta vez, em setembro de 1993, na recém-fundada Universidade Federal do Amapá (à qual se tornou minha casa preferida), quando também obtive o primeiro lugar. Instituição onde permaneço há quase 30 anos, sendo que, o mais significante de todo o meu trabalho, aqui no Estado do Amapá, foi a implantação do Curso de Licenciatura em Teatro. Por tudo isso, tenho orgulho de ser professor.

domingo, 8 de outubro de 2023

VIVA O CÍRIO

 


     No teatro grego antigo havia a organização de procissões, que se tornaram muito mais religiosas do que profanas. Essas procissões tinham caráter comum, onde todos os celebrantes se juntavam tendo à frente jovens que cantavam um hino improvisado, chamado “ditirambo”, e assim giravam em torno do altar do deus, agradecendo pela colheita da uva e pelo sexo que significava a fertilidade da vida. E foi exatamente desse coro, do contraste entre o espírito Dionisíaco e Apolíneo que nasceram a Tragédia e a Comédia. A tragédia tinha como principais características o terror e a piedade que despertava no público. Era constituída de cinco atos e voltava-se para o resgate da mitologia grega, com seus deuses, heróis e feitos. A comédia era dividida em duas partes com um intervalo. Tratava dos homens comuns e de sua vida cotidiana.

     Em seguida o coro separou-se do recitador, nesse momento crucial da história do teatro havia nascido o primeiro ator. Contudo, na procissão já se podia constatar três artes: o canto, a dança e a atuação. Nesse caso, à frente vinha o “Corifeu” – de onde surge a palavra Coro – vestido com pele de bode. Consequentemente todo o resto do grupo respondia ao ditirambo, atuando como um verdadeiro balé litúrgico, numa fusão do trágico e do cômico. Essa narrativa cantada era sempre feita em terceira pessoa.

     E assim constituiu-se a Tragédia: o ator e o coro se respondem cantando, em seguida o ator fala e o coro canta e posteriormente o ator dialoga com o Corifeu, representante do coro. Vale salientar que nesse momento embrionário da Tragédia não havia atos nem intervalos, sendo a mesma, composta de partes dialogadas e partes faladas.

     Como muitas festividades que se conhece de povos antigos e contemporâneos, o Círio de Nazaré se insere nesse rol em que seu significado faz parte de uma comunidade que se debruça a louvar seu Deus. Neste caso, a Virgem de Nazaré. E passa a agradecer as lutas, conquistas e promessas alcançadas ao longo do tempo que se passou. Inclusive, e principalmente à vida. Agradecemos principalmente por estarmos vivos. E semelhantemente acontece no Círio de Nazaré, quando todos os anos, numa determinada época, o povo se reúne para louvar a sua Santa (Deusa) Virgem de Nazaré. É interessante saber que apesar da distância cronológica, momentos semelhantes existem entre essas duas manifestações religiosas, como por exemplo, o vigário assumindo o lugar do Corifeu, que, quando fala uma estrofe de uma oração, automaticamente o povo responde, representando nessa ocasião, o coro.

      Manifestações como estas, denota a declaração antropológica de que pertencemos àquele ou a este grupo ou comunidade. É nessa grande homenagem à nossa Senhora de Nazaré que uma multidão vai às ruas para agradecer à Santa ou para lhe ofertar promessas, muitas vezes em troca do sonho de galgar uma casa própria. E é nessa relação de fé e de caridade, que muitas vezes esses sonhos se realizam. Nesse caso, cria-se um elo muito forte, denso e emotivo em relação à imagem da Santa Virgem de Nazaré, que traz não só paz, mas que também serve como terapia e cura para muita gente. Com os atropelos da sociedade contemporânea que, na ânsia de enriquecer de qualquer forma, impõe cotidianamente na cabeça das pessoas a necessidade do consumo desenfreado. E esse não é o caminho. Portanto, apelar para a Virgem de Nazaré é uma boa causa e faz bem à saúde e à alma.   

 

 

segunda-feira, 2 de outubro de 2023

BRIOSA GUARDA TERRITORIAL

 


          No último dia 21 de setembro do ano em curso, participei como contemplador do lançamento da obra intitulada “Memória da Briosa Guarda Territorial do Amapá”, notável e importante livro assinado pelos seguintes autores: Profa. Dra. Verônica Xavier Luna; Profa. Dra. Elke Daniela Rocha Nunes e discente, Bruno Markus dos Santos de Sá, que foi fruto de emenda parlamentar do Deputado Federal Camilo Capiberibe. O lançamento aconteceu com o auditório lotado de pessoas, que de uma forma ou de outra, possuíam relações com a guarda territorial. O referido evento aconteceu no Quartel da Polícia Militar do Amapá, situado na Rua Jovino Dinoá. Com a presença de várias autoridades, banda de música da Polícia Militar e populares, o evento foi muito prestigiado, principalmente por resgatar os antepassados dos órgãos de segurança do nosso Estado. Além de fazer um resgate histórico, a obra traz memórias biográficas de 86 guardas que pertenciam àquela corporação. Vale ressaltar que, fazendo parte dessa programação, já no dia 20, houve exposição de grande parte de materiais e bens pertencentes à Guarda Territorial, que aconteceu no Centro de Arqueologia da UNIFAP, o qual, teve grande receptividade do público presente.

     A referida publicação foi prefaciada pelo ilustre Prof. Dr. Marcelino da Costa Alves Junior, que está literalmente ligado ao tema, visto que seu saudoso pai, Marcelino da Costa Alves, mais conhecido como Inspetor Marcelino, também fazia parte da Briosa Guarda Territorial. Sobre o mérito da documentação e resgate da Guarda Territorial, em seu prefácio, Prof. Dr. Marcelino nos esclarece que: “Reverenciar a Guarda Territorial do Amapá implica necessariamente revisitar o contexto histórico de sua criação e permanência até a década de 70 do passado século. Suas atividades pioneiras remontam aos trabalhos de limpeza e restauração da velha e abandonada Fortaleza de São José de Macapá nos tempos de Janary Gentil Nunes, na década de 40 do século anterior. Suscitar a importância da Guarda Territorial para a história do Amapá significa também alçar uma gama patrimonial de cunho oficial e popular. O mais importante deles é a “tombada” Fortaleza de São José de Macapá, que por algum tempo, serviu de abrigo à Guarda Territorial no contexto da criação do Território Federal do Amapá.”

     Este resgate histórico da Guarda Territorial do Amapá, é resultado de uma profunda pesquisa realizada, que tem à frente a Professora Doutora Verônica Xavier Luna, que também é diretora do Centro de Memória, Documentação Histórica e Arquivo – CEMEDHARQ. Este Centro de Memória tem origem nas atividades de um grupo de pesquisa em memória e arquivo, do curso de História da Universidade Federal do Amapá – UNIFAP. Segundo sua idealizadora e Coordenadora, Prof. Dra. Verônica Luna, “após uma série de articulações e conversas, em 2017, o Centro surge vinculado à Reitoria da UNIFAP”. Portanto, o CEMEDHARQ possui organização autônoma e orçamento próprio, mas, depende de financiamento externo para subsidiar suas pesquisas. Notadamente, revela-se num Centro de Pesquisa que tem como finalidade a gestão, a guarda e a conservação de documentação física (escrita), oral (memórias) e acervos pessoais, entre outros tipos de registros, de acordo com a necessidade de cada pesquisa que venha a ser realizada.