Venho enfrentando a pandemia do
coronavírus com bastante paciência. Confesso que, como a maioria das pessoas,
logo no início tive grande impacto para enfrentar a nova forma cotidiana que
nos foi imposta pela pandemia. Minha sensação, foi a mesma de um animal quando
cai numa armadilha, não há tempo nem para pensar. Quando você menos espera, já
está perdido no labirinto. É como se estivesse perdido numa grande floresta,
desnorteado em águas marinhas, ou até mesmo, desaparecido no tempo e no espaço.
Todos hão de acreditar que tudo aconteceu
muito rápido, de repente as escolas cerraram suas portas, o comércio parou, as
lojas deixaram de ter movimento, carros deixaram de trafegar, as pessoas
deixaram de trabalhar e tudo parou. Tudo parou em função de um microscópico e
invisível vírus. O pior de tudo é que o melhor remédio foi o isolamento social.
Sim! Todos precisaram se isolar de todos. Dessa forma, a sociedade juntamente
com o capitalismo, sucumbiram.
A indicação das autoridades de saúde foi a
necessidade desse sombrio isolamento, visto que não havia nenhum outro remédio
para combater a pandemia. E, como afirmou Raul Seixas, em sua música, realmente
chegamos ao dia em que a terra parou. E parou mesmo! Tanto é que todos os
países foram obrigados a fechar suas portas, e mesmo assim muita gente faleceu
em função do perigoso vírus.
Como eu havia dito, no início fiquei um
tanto quanto atordoado e desesperado, sem saber onde colocar os pés. No
primeiro mês, fiquei completamente aéreo, olhando para o ocaso, sem saber que
caminho seguir. Parafraseando aqui, o cantor Erasmo Carlos, fiquei literalmente
sentado à beira do caminho, sem poder mais ficar sempre a esperar. Cheguei até
a pensar que tudo isso seria uma grande brincadeira, mas com o tempo comecei a
acreditar realmente que tudo era muito sério. Minha geração nunca tinha passado
por momentos semelhantes. Minha mãe, que já completou seus 90 anos, nunca
vivenciou um período como o que estamos vivendo na atualidade.
Foi então que, como muitas pessoas, decidi
seguir minha vida. Na obrigação de ficar em casa, até porque sou do grupo de
risco, além de realizar algumas questões profissionais remotamente, me voltei
exclusivamente para ler e escrever. Sendo que até o presente momento, escrevi
duas obras e li uma série delas. Devorei como uma traça, as quase 800 páginas
de “A Divina Comédia” de Dante Alighieri. O autor cria um enredo de sua
experiência no inferno, no purgatório e no céu. É um clássico que indico sua
leitura para todos que buscam um bom livro. Outro de muito valor, foi ter
conhecido e relido a história de Dom Quixote de La Mancha, de Miguel de
Cervantes, com mais de mil páginas. Essas duas leituras foram concluídas entre
10 a 12 dias. Em Dom Quixote, Cervantes enfoca a relação entre dois principais
personagens, onde os mesmos ganham notoriedade, profundidade e complexidade,
sendo um louco lúcido e um bobo sábio. Estou convicto que a leitura e a escrita
são precipuamente, meu principal bálsamo para o enfrentamento do isolamento
social em detrimento da covid19.