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segunda-feira, 17 de dezembro de 2018

ANDANÇAS EM CARTÃO POSTAL



     Última terça-feira na biblioteca central da Universidade Federal do Amapá, aconteceu a abertura da exposição intitulada “Andanças em Cartão Postal”. Surgiu em função de minhas andanças com a prática teatral, nas décadas de 1970 e 1980 por várias cidades do Brasil.  Época em que celular e WhatsApp eram ficção científica. Naquele período, uma das formas mais difundidas de comunicação entre quem estava em viagem e seus familiares e amigos, era exatamente o envio de notícias em cartão postal.
     O cartão postal era fundamental para esta comunicação entre quem ficava e quem partia em viagem. Geralmente na parte da frente ficava a imagem de algum lugar interessante da cidade e na parte posterior a identificação do local. Havia espaço para se escrever algumas palavras e a colocação do endereço do destinatário. Eu mesmo escrevi vários para minha família.
     Como estudante e artista, eu não tinha oportunidade de comprar qualquer suvenir, no entanto tive a ideia de compra-los como lembrança. Assim, a cada cidade que visitava, sempre fazia questão de comprar um ou dois postais.  Fui criando uma coleção. Dia desses, encontrei no fundo do baú, mais de cem deles. Pensei em jogá-los no lixo, mas, relutei e resolvi socializa-los, expondo-os para um público amplo, principalmente para que os jovens possam ter uma ideia de como funcionava o WhatsApp do passado.
     Professora Doutora Sílvia Marques, curadora desta exposição, escreveu as seguintes palavras: Igualmente a ferramenta de guerra, os postais se tornaram meio de comunicação de massa que funcionou como dispositivo de manutenção do status quo, uma ferramenta de violência simbólica efetivada através da produção de um imaginário que legitimou o predomínio sociocultural da elite sobre o espaço urbano. Deixando claro a quem pertence a cidade, a exposição vem estabelecer diálogos de mão dupla que solapa o pensamento e a visão, para ver a intenção das imagens em favor e ao encontro da vida, a interpretação e intervenções coletiva e particular com espaço das cidades.
     Isso requer pensar não só a superfície impressa dos postais. Mas, mergulhar nas profundezas da cidade em seus deslocamentos de um diálogo temporal do que se desvelam em imagens. Como suporte, os postais abrem possibilidades com diferentes tipos de intervenções do olhar, de percepção, contemplação e compreensão de usos políticos e poéticos na urbe em outras significações.
     Nesse sentido, a exposição nos convoca a perceber as cidades como vias de acesso em seus pertencimentos analíticos de uso e convívio. E nessa dimensão, se aliam ao questionamento: quantas cidades há em mim, em você, em nós? Não podemos negar que transitamos cotidianamente entre ambientes marcados por uma tessitura áspera e, em muitos casos, excludente, os quais revelam a existência de áreas limiares, como becos, vielas, terrenos baldios, cruzamentos, escadarias, praças, entre outros lugares com grande poder simbólico. Para tanto, nessa exposição, os cartões postais, a princípio funcionam em montagens que contraditoriamente ao se revelar público se torna acervo íntimo e é investido na narração memória e invenção do coletivo.