Última terça-feira na biblioteca central
da Universidade Federal do Amapá, aconteceu a abertura da exposição intitulada
“Andanças em Cartão Postal”. Surgiu em função de minhas andanças com a prática
teatral, nas décadas de 1970 e 1980 por várias cidades do Brasil. Época em que celular e WhatsApp eram ficção
científica. Naquele período, uma das formas mais difundidas de comunicação
entre quem estava em viagem e seus familiares e amigos, era exatamente o envio
de notícias em cartão postal.
O cartão postal era fundamental para esta
comunicação entre quem ficava e quem partia em viagem. Geralmente na parte da
frente ficava a imagem de algum lugar interessante da cidade e na parte
posterior a identificação do local. Havia espaço para se escrever algumas
palavras e a colocação do endereço do destinatário. Eu mesmo escrevi vários
para minha família.
Como estudante e artista, eu não tinha
oportunidade de comprar qualquer suvenir, no entanto tive a ideia de compra-los
como lembrança. Assim, a cada cidade que visitava, sempre fazia questão de
comprar um ou dois postais. Fui criando
uma coleção. Dia desses, encontrei no fundo do baú, mais de cem deles. Pensei
em jogá-los no lixo, mas, relutei e resolvi socializa-los, expondo-os para um
público amplo, principalmente para que os jovens possam ter uma ideia de como
funcionava o WhatsApp do passado.
Professora Doutora Sílvia Marques, curadora desta exposição, escreveu as
seguintes palavras: Igualmente a ferramenta de guerra, os postais se tornaram
meio de comunicação de massa que funcionou como dispositivo de manutenção
do status quo, uma ferramenta de violência simbólica efetivada
através da produção de um imaginário que legitimou o predomínio sociocultural
da elite sobre o espaço urbano. Deixando claro a quem pertence a cidade, a
exposição vem estabelecer diálogos de mão dupla que solapa o pensamento e a
visão, para ver a intenção das imagens em favor e ao encontro da vida, a
interpretação e intervenções coletiva e particular com espaço das cidades.
Isso requer pensar não só a superfície impressa dos postais. Mas,
mergulhar nas profundezas da cidade em seus deslocamentos de um diálogo
temporal do que se desvelam em imagens. Como suporte, os postais abrem
possibilidades com diferentes tipos de intervenções do olhar, de percepção,
contemplação e compreensão de usos políticos e poéticos na urbe em outras
significações.
Nesse sentido, a exposição nos convoca a perceber as cidades como vias
de acesso em seus pertencimentos analíticos de uso e convívio. E nessa dimensão,
se aliam ao questionamento: quantas cidades há em mim, em você, em nós? Não
podemos negar que transitamos cotidianamente entre ambientes marcados por uma
tessitura áspera e, em muitos casos, excludente, os quais revelam a existência
de áreas limiares, como becos, vielas, terrenos baldios, cruzamentos,
escadarias, praças, entre outros lugares com grande poder simbólico. Para
tanto, nessa exposição, os cartões postais, a princípio funcionam em montagens
que contraditoriamente ao se revelar público se torna acervo íntimo e é
investido na narração memória e invenção do coletivo.