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segunda-feira, 17 de dezembro de 2018

ANDANÇAS EM CARTÃO POSTAL



     Última terça-feira na biblioteca central da Universidade Federal do Amapá, aconteceu a abertura da exposição intitulada “Andanças em Cartão Postal”. Surgiu em função de minhas andanças com a prática teatral, nas décadas de 1970 e 1980 por várias cidades do Brasil.  Época em que celular e WhatsApp eram ficção científica. Naquele período, uma das formas mais difundidas de comunicação entre quem estava em viagem e seus familiares e amigos, era exatamente o envio de notícias em cartão postal.
     O cartão postal era fundamental para esta comunicação entre quem ficava e quem partia em viagem. Geralmente na parte da frente ficava a imagem de algum lugar interessante da cidade e na parte posterior a identificação do local. Havia espaço para se escrever algumas palavras e a colocação do endereço do destinatário. Eu mesmo escrevi vários para minha família.
     Como estudante e artista, eu não tinha oportunidade de comprar qualquer suvenir, no entanto tive a ideia de compra-los como lembrança. Assim, a cada cidade que visitava, sempre fazia questão de comprar um ou dois postais.  Fui criando uma coleção. Dia desses, encontrei no fundo do baú, mais de cem deles. Pensei em jogá-los no lixo, mas, relutei e resolvi socializa-los, expondo-os para um público amplo, principalmente para que os jovens possam ter uma ideia de como funcionava o WhatsApp do passado.
     Professora Doutora Sílvia Marques, curadora desta exposição, escreveu as seguintes palavras: Igualmente a ferramenta de guerra, os postais se tornaram meio de comunicação de massa que funcionou como dispositivo de manutenção do status quo, uma ferramenta de violência simbólica efetivada através da produção de um imaginário que legitimou o predomínio sociocultural da elite sobre o espaço urbano. Deixando claro a quem pertence a cidade, a exposição vem estabelecer diálogos de mão dupla que solapa o pensamento e a visão, para ver a intenção das imagens em favor e ao encontro da vida, a interpretação e intervenções coletiva e particular com espaço das cidades.
     Isso requer pensar não só a superfície impressa dos postais. Mas, mergulhar nas profundezas da cidade em seus deslocamentos de um diálogo temporal do que se desvelam em imagens. Como suporte, os postais abrem possibilidades com diferentes tipos de intervenções do olhar, de percepção, contemplação e compreensão de usos políticos e poéticos na urbe em outras significações.
     Nesse sentido, a exposição nos convoca a perceber as cidades como vias de acesso em seus pertencimentos analíticos de uso e convívio. E nessa dimensão, se aliam ao questionamento: quantas cidades há em mim, em você, em nós? Não podemos negar que transitamos cotidianamente entre ambientes marcados por uma tessitura áspera e, em muitos casos, excludente, os quais revelam a existência de áreas limiares, como becos, vielas, terrenos baldios, cruzamentos, escadarias, praças, entre outros lugares com grande poder simbólico. Para tanto, nessa exposição, os cartões postais, a princípio funcionam em montagens que contraditoriamente ao se revelar público se torna acervo íntimo e é investido na narração memória e invenção do coletivo.
    

segunda-feira, 17 de setembro de 2018

VARINHA DE CONDÃO


VARINHA DE CONDÃO

     Quando se pensa em vara, talvez essa palavra não nos passe nenhum significado tão abrangente. No entanto, é uma palavra que todos sempre ouvem já que é muito utilizada no que diz respeito à jurisprudência.  Resume-se a cada uma das circunscrições judiciais presididas por um juiz de direito: e assim temos: vara da infância, vara da família, vara criminal, vara civil, vara judicial, entre outras. Essas varas representam a área de atuação de determinado juiz. 
     Essa palavra tem origem diversificada e aos poucos foi se se adaptando a várias situações do cotidiano. Do antigo Egito, existem registros mostrando sacerdotes segurando pequenos bastões. Durante vários momentos do registro de grupos humanos, se percebeu que o símbolo da vara se fez presente. Antropólogos acreditam que várias pinturas das cavernas da Idade da Pedra, mostram pessoas portando pequenas varas. Possivelmente representando os líderes desses grupos com suas varas que demonstrava seu poder.
     Moisés usava um grande cajado, sendo que muitos viajantes da época do êxodo, usavam varas para se apoiarem na caminhada nas areias do deserto. Pastores de ovelhas sempre tinham apoio numa vara, usavam o cajado para conduzir e controlar, o que era indispensável para manter seu rebanho unido. Antigamente os porcos eram tocados por uma vara, daí a expressão vara de porcos. Na mitologia grega, Zeus se apoiava num grande cajado com três pontas. Os faraós no Egito antigo não dispensavam um cajado, muitas vezes banhado a ouro.
     Desde muito tempo, magos e mágicos sempre se apoiaram numa vara, da mesma forma que se utiliza o maestro para direcionar sua orquestra sinfônica. Num tempo passado, professores só entravam em sala de aula com o apoio de uma vara. Na atualidade, o Papa se apresenta com um cajado sagrado. Na antiga Grécia a vara se transformou num símbolo da autoridade do juiz. Nessa época, o juiz era eleito pelo povo e devia trazê-la consigo sempre que andava pela Vila ou Cidade. Para cada juiz era determinada uma vara de cores diferentes: o Juiz de fora (vara branca); Juiz ordinário (vara vermelha) e assim por diante.
     Segundo a mitologia, a primeira Varinha Mágica pertencia ao deus Mercúrio, neste caso teria sido um presente do deus Apolo. Era toda confeccionada em ouro. Chamava-se “Caduceu”. Com o apoio dessa varinha, Mercúrio passou a possuir poderes mágicos. Esse deus era um mago e resolveu transformar sua varinha de ouro numa varinha de madeira. De toda forma, a primeira vara que revelou muito destaque apareceu na Odisseia de Homero. A Feiticeira Circe a usava para transformar homens em animais. Possivelmente, a varinha de condão teve origem na varinha de Mercúrio, como também na maga Circe, visto que demonstrava seus poderes a partir da varinha que empunha em suas mãos. Asclépio na Grécia e Esculápio em Roma, também usavam varas para curar enfermos.
     Condão deriva do latim condonare, de com, igual a “junto”, mais donare, “dar, ofertar, presentear”. Possui um atributo especial ou poder sobrenatural que pode exercer influência negativa ou positiva de cunho provavelmente mágica. Pode ser de madeira, marfim, ouro ou cristal.  A Varinha de Condão foi muito difundida a partir da Idade Média com o aparecimento das fadas. Claro, surgiu nas mãos das fadas boas e más, tanto para fazer o bem como o mal.
     Muito difundida na Idade Média, a varinha de condão se tornou bastante conhecida nos dias atuais, principalmente a partir dos contos de fadas. “Cinderela”, “Branca de Neve”, “A Bela Adormecida”, entre outros, são alguns dos clássicos infantis que se utilizam desse objeto de cena para ilustrar o enredo dessas clássicas estórias. Muitos contos de fadas como os citados, contam com a presença de fadas ou bruxas que usam varinhas mágicas.
     Na atualidade, podemos ver a varinha em As Crônicas de Nárnia. Também a encontramos no mundo de fantasia de Harry Potter. Comumente, as varinhas mágicas sempre aparecem em obras de ficção. Afinal, toda fada madrinha deve usar uma varinha com uma estrela mágica na ponta e isso é o que importa.


terça-feira, 11 de setembro de 2018

HONORATO JÚNIOR



          Manuel Honorato de Luz Barbosa Júnior é amapaense; filho de Manuel Honorato da Luz Barbosa e Maria Durvalina Pereira Barbosa. É acadêmico do Curso de Artes Visais da Unifap. Iniciou seu desejo de trabalhar com artes ainda criança, visto que já possuía a capacidade de registrar em desenho tudo o que estava em seu entorno.
     Sua vontade de trabalhar com quadrinhos surgiu no dia em que sua mãe o trouxe ao centro da cidade para andar no comércio e passando defronte a uma banca de revista, se encantou com uma revista em quadrinhos, diz ele: “- Eu achei bonito os traços, as cores, a Mônica, o Cebolinha. Mas o que me influenciou bastante mesmo foi a revista de Conan, que apresentava traços totalmente diferente das demais”.
     Para Honorato, o artista necessita sempre de um produtor ou de alguém que patrocine sua obra. Segundo ele: “- Nós realizamos um projeto, investimos em cima desse projeto, acreditamos em nossos projetos, mas no final temos que ter um patrocínio ou então o projeto pode fracassar, aliás, todos os projetos que eu fiz saiu mesmo foi do meu próprio bolso, então na minha concepção a principal dificuldade é o apoio cultural”.
     A família sempre esteve presente para apoiar o desejo de Honorato em querer desenhar, para isso comprava lápis grafite, lápis de cor, papel e revistas em quadrinhos. Já na escola era o mais conhecido da turma. A professora sempre o chamava para fazer algum desenho no quadro, para abrilhantar sua aula. Nas aulas de artes sempre era convocado pelos colegas para desenhar as tarefas escolares.
     Honorato trabalhou em várias áreas: já foi caixa de supermercado; embalador; vendedor; já trabalhou com vime; como auxiliar de contabilidade e como auxiliar de escritório. O certo é que em todos esses afazeres ele sempre percebeu a presença do desenho. Todo o tempo o desenho e as imagens estavam ali, onde ele passasse.
     Em seu trabalho artístico se volta mais especificamente para temas regionais e gosta de registrar o dia a dia do caboclo da Amazônia. Suas atividades artísticas se voltam para as caricaturas; tiras de jornal; ilustração para livros; charges; desenhos diversos e quadrinhos. Seus trabalhos de relevância são: já publicou charges para vários jornais do Amapá. Relativo aos quadrinhos, um trabalho de destaque são as imagens criadas para a revista em quadrinhos “Os Cabuçus” de circulação regional. Assinou as imagens das seguintes revistas: “Os Cabuçus – Edição nº 3; março de 2004”; “Combatendo o Mosquito da Dengue – Secretaria de Saúde do Estado do Amapá”; “Não Deixe a Malária pegar Você – FUNASA” e “APAExonado – APAE – Macapá”.
      Na obra infantil “Pablito e a Libélula”, publicada em 2013, Honorato Júnior foi o autor das Imagens. Também foi meu aluno no Curso de Artes Visuais. É um profissional muito capacitado para o que realiza atualmente em relação a desenhos e caricaturas, no Estado do Amapá.


terça-feira, 28 de agosto de 2018

COMPLEXO DA PRAÇA BARÃO: o point da cidade na década de 1950



     A implantação do Território Federal do Amapá na década de 1940 redimensionou as questões geográficas, políticas, econômicas e culturais de uma das áreas mais setentrionais do Brasil. Em se tratando de questões culturais, isto se dará mais propriamente no final da década de 1940, com a inauguração e implantação de vários setores da cultura como, por exemplo: a inauguração do Cine Teatro Territorial em 22 de julho de 1944; inauguração da Rádio Difusora de Macapá em 23 de julho de 1946; inauguração da Escola Barão do Rio Branco (primeira escola em alvenaria de Macapá), em 13 de setembro de 1946, onde começa a surgir dramatizações de peças por alunos, com apoio de professores. Inauguração do Novo Hotel em 13 de setembro de 1945, e a inauguração da Praça Barão do Rio Branco em 1º de janeiro de 1950.
     Em relação à inauguração da referida praça, o Comandante Cordeiro da Graça dá suas impressões com o artigo “Acreditando no Futuro do Brasil”, o qual consta no livro, “Confiança no Amapá: Impressões sobre o Territótrio”, de Janary Gentil Nunes, que foi publicado em 2012 em sua 2ª edição. No referido artigo, ele relata sobre aquela bela praça de esportes: “Assisti ao ato inaugural da praça “Barão do Rio Branco”. É uma praça pública bonita, larga, onde a juventude tem todos os esportes. Não seria possível desejar coisa melhor nem mais eficiente”.
     Tais fatores foram preponderantes para o desenvolvimento da cultura, da arte, das artes cênicas e especificamente do teatro. Portanto, é em função dessas ações cronológicas e sequenciais do governo Janary Nunes, que se percebe, que por um lado, fez crescer demasiadamente a cultura no Amapá e por outro, fez criar nos jovens um sentimento muito estreito em relação à arte. E é em função desses fatores que, na década de 1950 a produção cultural em relação à montagem de peças teatrais começa a surgir timidamente no âmbito do Ex-Território.
     Nesses termos, Nunes Pereira quando se refere às ações do governo Janary Nunes, em seu artigo “Opinião de Estudiosos: Evolução de um Território”, também publicado na obra “Confiança no Amapá: Impressões sobre o Territótrio”, afirma que: No campo cultural, por exemplo, ele não só atrai artistas e homens de ciência para que influam diretamente na formação da mentalidade do povo, porém procura amparar as tradições, os costumes que são típicos daquele povo, que constituem o seu patrimônio folclórico.
     Foi com a inauguração de vários prédios, tendo sido o primeiro o Cine Teatro Territorial (1944), seguido de: Novo Hotel (1945); Rádio Difusora de Macapá (1946); Escola Barão do Rio Branco (1946); Praça Barão do Rio Branco, (1950), que se consolidou um espaço urbano com vistas de progresso e futuro. A partir do ano de 1950, com a inauguração da Praça Barão do Rio Branco, aquele espaço passou a ter grande importância para a comunidade local, visto que ali se concentrava a cultura, representada pelo Cine Teatro; a comunicação (Rádio Difusora); a educação (Escola Barão); e o lazer (Praça Barão). Foi este espaço urbano que se transformou no principal point da cidade de Macapá entre as décadas de 1940/1950.



segunda-feira, 20 de agosto de 2018

TRAGÉDIA DE MIM



     Este é o título que eu daria ao espetáculo “A Mulher do Fim do Mundo” apresentado no último sábado, dia 11/08, pela Associação Cultural Casa Circo, no salão do SESC/Araxá. O trabalho traz uma série de elementos interessantes no que diz respeito, principalmente à concepção estética em relação ao teatro amapaense. Observo que se trata de um espetáculo que apresenta amplo universo de reflexões sobre o ângulo de juízo que gira em torno de questões culturais, sociais, econômicas, políticas, étnicas e psicológicas no que diz respeito à personagem da mulher em sociedade. Todavia, não me refiro aqui a questões de beleza imposta pelos mass media, que possui esse grande poder de definir e impor o que é belo e o que é feio, para determinada população.  
     Acompanho e conheço a trajetória dos artistas que compõem o referido espetáculo, consequentemente, este fato me deixa mais à vontade para escrever estas palavras e ponderar meus pensamentos: Jones Barsou (encenador); há bastante tempo vem se dedicando a personagens geralmente ligados ao circo, é um palhaço nato. Agora, se aventura com mais intensidade como encenador. Mas, este é sem sombra de dúvida, o métier do artista; o eterno construir/desconstruir/construir.
     Ana Caroline é atriz, bailarina, artista circense, formada em psicologia e atualmente é acadêmica do curso de Letras na UNIFAP. Há quatro anos que vem se dedicando às artes cênicas no Amapá. Marcos Sales é performer. Salientando que Jones Barsou e Marcos Sales são acadêmicos e foram meus alunos no Curso de Licenciatura em Teatro da UNIFAP.
     Com espaço de tempo de aproximadamente 40 minutos, o espetáculo é um monólogo com atuação da Ana Caroline, no qual, está implícita uma partitura coreográfica lógica e ilógica, de ações e movimentos sequenciais. Eu diria... Está muito mais para um monólogo corporal, coreográfico e performático do que dramatúrgico, tendo em vista que sua dinâmica e mutabilidade superam a fala da personagem. De preferência, este fato nos remete ao teatro e seu duplo de Antonin Artaud.
     Enfoca tema relacionado exclusivamente ao modo impositivo e imperativo de como as sociedades, em diversas latitudes, têm visto o gênero feminino ao longo dos séculos. Notadamente, a encenação coloca de forma abstrata (a partir de movimentos corporais) essas injunções, que por sua vez, suscitam no espectador reflexões substanciais sobre o papel da mulher na sociedade contemporânea. Em função das vicissitudes da vida, a própria atriz, de forma idiossincrática e telúrica se insere nesta ambiguidade: por um lado, enquanto mulher (cidadã) e por outro, enquanto personagem (artista).
     A encenação também tem influências das ações físicas elaboradas por Stanislavski; pelo trabalho psicofísico do ator, de Grotowski; pela biomecânica de Meyerhold; pelo teatro dialético de Brecht; pela teoria do Teatro Antropológico de Eugênio Barba e ainda pelo método Laban. Percebo que o espetáculo está no caminho certo, mas que o mesmo ainda precisa ser degustado e aprofundado, pelo grupo, em relação ao ritmo e harmonia. Notadamente, isto se processará com o tempo e com as consequentes apresentações para públicos diversos.
     Ao evidenciar questões sociais sobre a mulher, o trabalho da Casa Circo, me evocou a Júlia Pastrana, nascida no México no século XIX. Era negra e possuía pelos grossos e sedosos por todo corpo; sofria de hipertricose. Era conhecida como a mulher macaco. Em função disso, seu marido a usou para apresentá-la em público, como símia. Inacreditavelmente, Theodore Lent, seu esposo, a explorou até mesmo depois de sua morte, quando resolveu mumificar o corpo de Júlia para continuar exibindo e lucrando financeiramente com o corpo mumificado.
     A Mulher do Fim do Mundo é uma montagem da Associação Cultural Casa Circo. Monólogo com Ana Caroline (interpretação), Jones Barsou (encenação e iluminação) e Marcos Sales (operação de som). Na minha concepção, é um espetáculo que faz emergir nova estética de montagem teatral no cenário do teatro amapaense, visto que traz em seu âmago, discussão, pesquisa e debate sobre o tema enfocado, pré-requisitos essenciais para a montagem de um bom espetáculo. Há muitas probabilidades que, daqui para diante, o mesmo seja transformado em referência para o teatro que será produzido no Amapá.
    O grupo foi selecionado para o Amazônia das Artes/SESC, e neste ano de 2018 já se apresentou em dez municípios da região Norte. É o primeiro espetáculo amapaense que conseguiu ser selecionado para um circuito nacional, e no próximo ano estará participando do Projeto Palco Giratório do SESC, quando se apresentará em várias capitais do país.
     Essa perspectiva de avanço teórico, artístico, prático e técnico do teatro amapaense vem de longe, com minha preocupação da implantação de um curso de Teatro no Amapá, o que aconteceu no ano de 2013. O primeiro experimento surgiu ainda com a turma 2014, e durante os últimos quatro anos do curso sempre houve apresentação de experimentos no final dos semestres. Até então, essa produção se limitava às paredes da universidade. Agora em 2018, após esses quatro anos, o grande público passa a conhecer e ver de perto a influência e contribuição do curso de Teatro da UNIFAP para com a cultura do Amapá. Espero ansioso para presenciar a chegada dos nossos egressos como professores das escolas do nosso Estado. Em relação ao espetáculo “A Mulher do Fim do Mundo”, este eu recomendo.


terça-feira, 14 de agosto de 2018

CAMINHOS DO TEATRO NA EDUCAÇÃO



     Desde as mais remotas épocas, o teatro sempre esteve presente no processo de educação da criança e do adolescente. A educação grega valorizava o teatro, a música, a dança e a literatura. Platão considerava o jogo fundamental na educação.
     Na antiga Grécia a criança era exercitada, durante seus primeiros anos, em jogos educativos, aptos para encaminhá-la a seu aperfeiçoamento como adulta. Esses jogos respeitavam de antemão, os anseios, desejos e instintos dessas crianças. O menino era admitido, desde pequeno como participante de manifestações religiosas e sociais, desenvolvidas em forma de espetáculo. Aristóteles, como Platão, deu grande destaque ao jogo na educação, considerando-o de máxima importância, pois acreditava que educar era preparar para a vida, proporcionando ao mesmo tempo prazer.
     Para os romanos, o teatro era uma imitação que teria um propósito educacional se pudesse ensinar lições morais. Condenado por um determinado período pela igreja, o teatro na Idade Média, através de representações sacras, mistérios, farsas e moralidades, atraía multidões de espectadores, inclusive as crianças. Carlos Magno, coroado rei do Sacro Império Romano, por volta do século IX, fundou escolas e monastérios por toda a Europa. Nesse ínterim, os trabalhos de Aristóteles foram novamente estudados e o teatro adaptou a filosofia aristotélica à fé católica, dando então, aprovação plena à representação, desde que ela fosse recreação pura.
     No final da Idade Média o ensino do teatro propagou-se pelas escolas da Europa, e consequentemente por cinco séculos, as encenações dos mistérios e moralidades propiciaram às massas sua educação. No Renascimento, surgiram numerosas academias, onde os estudiosos das obras clássicas encenavam peças latinas. Rabelais introduziu o teatro e a dança nas escolas inglesas, o estudo dos clássicos e as atividades artísticas, sobretudo as dramáticas, eram consideradas excelentes recursos para o aprendizado da linguagem.
     Mas somente no século XVI e XVII, com São Felipe Neri e os Jesuítas, a interpretação teatral passa a fazer parte dos planos de estudo na escola, atribuindo-se ao teatro precisa e elevada função educativa. Nos séculos XVI, XVII e XVIII, havia toda uma tradição do teatro na escola, na Europa, através da interpretação de dramas latinos, por alunos de diversos colégios, com o objetivo de sensibilizar os jovens à prática religiosa. Observo aqui, as características em relação à atualidade, pois esta era uma forma completamente diferente do teatro que se faz hoje nas escolas, cujo objetivo é a autoexpressão do aluno.
     Famosos dramaturgos da história do teatro iniciaram suas primeiras obras nas escolas, “Corneille”, por exemplo, passou sete anos no Colégio de Rouen, na França. Ali ele compôs diversas peças em latim e montou vários espetáculos dramáticos.Já “Molière”, estudou no Colégio Clermont. “Voltaire” compôs seus primeiros ensaios dramáticos quando ainda estudava nas escolas. Na Itália do século XIX o teatro educativo foi marcado pela preocupação exclusivamente pedagógica. De 1850 a 1910, grandes personalidades ocuparam-se do teatro para criança, colaborando na obra educativa.
     No Brasil, o teatro na escola teve novo impulso a partir da “Escola Nova”, e no limiar do século XXI a maioria das escolas de todo o mundo dedica espaços em seus currículos, especificamente ao teatro, tendo em vista sua importância para o desenvolvimento da personalidade global da criança e do adolescente.

segunda-feira, 6 de agosto de 2018

O BARRACÃO DA PRELAZIA



     Se por um lado, a década de 1940 foi um período da chegada de muitos circos a Macapá, por outro, há referências principalmente sobre o Barracão da Prelazia que era um local com palco, pertencente à Igreja Católica, para comemorações e apresentações teatrais. Localizava-se na parte oeste da Igreja de São José, mais exatamente no formigueiro. Amiraldo Bezerra em seu livro “A Margem Esquerda do Amazonas”, publicado em 2008 relembra sua participação como ator quando subiu ao palco do Barracão da Prelazia, no referido período. Diz ele: “Tínhamos aula de catecismo, educação esportiva, de teatro como “o cordão do papagaio”, exibido durante muito tempo lá nos palcos do barracão, onde o Noventa e Um fazia o papel de Bôbo da Corte e o Palóca (plebeu) apaixonado pela princesa, ouvia calado quando o bôbo dizia: “a princesa com um príncipe já é muito sofredora, imaginem como rainha com esta bomba voadora”. E aí o Palóca explodia. Buuum!!! (era gordinho)”.
     O texto de “O Cordão do Papagaio” nos revela uma trama entre reis, rainhas, bobos, príncipes e princesas, mas se desconhece sua autoria. Muitas peças foram encenadas no Barracão da Prelazia, popularmente conhecido como Barracão dos Padres. Essas apresentações aconteciam em períodos comemorativos como: época junina, comemorações de final de ano, entre outras datas festivas.  A peça “Dona Baratinha” foi apresentada no referido Barracão. O noventa e um de quem fala BEZERRA era o Expedito Cunha Ferro que fazia teatro no barracão dos padres. Professor Guilherme Jarbas, em entrevista a este colunista em 2011, vivenciou esse período e nos contou que: “Os padres tinham o ano todo de encenação de peças, e era através dessas peças que a igreja conseguia reunir a juventude daquela época. Era uma formação a partir do teatro. Havia uma disputa muito grande por parte daqueles que viviam junto à Prelazia para participar das peças teatrais que lá eram apresentadas.”
     No Barracão da Prelazia também foi encenada a peça “O Cordão do Uirapurú”. Amiraldo Bezerra foi ator e se apresentou nesse palco. Mantém-se nessa década, a persistente presença do sexo feminino, desta vez com a dramaturga Aracy de Mont’Alverne. Embora não tenhamos localizado, ela escreveu várias peças infantis para teatro. No ano de 2017, participei na cidade de Belo Horizonte, como arguidor da Banca de Defesa da Dissertação da professora Juliana Lemos, docente do Curso de Teatro da UNIFAP, na qual, a mesma faz um estudo minucioso sobre as mulheres dramaturgas no Amapá. O Barracão da Prelazia encerrou suas atividades quando da inauguração do Cine Teatro João XXIII que também pertencia à Paróquia de Macapá.


quinta-feira, 2 de agosto de 2018

ADEUS! COMPLEXO CULTURAL DO EQUADOR



     O entorno do marco zero do equador se tornou um dos principais pontos de encontro dos amapaenses como também de turistas que visitam nossa querida cidade. Naquele espaço urbano, em meio à linha do equador, o complexo do marco zero concentra três importantes monumentos: o Marco Zero do Equador; o Sambódromo complementando-se com a Cidade do Samba e o Estádio Milton de Souza Corrêa, conhecido popularmente como Estádio Zerão.
     Todos sabem que megaeventos e grandes shows musicais sempre acontecem no entorno do marco zero do equador. No sambódromo acontece um dos maiores eventos da cidade que é o desfile das escolas de samba no período de carnaval; e para que isso aconteça, torna-se prioritário grande movimentação no entorno daquela área urbana; área mais do que necessária para que cada evento, como o desfile das Escolas de Samba, por exemplo, tenha sucesso.
     Além do desfile de escolas de samba, durante os 365 dias do ano acontecem outros tantos eventos como o desfile das quadrilhas juninas entre vários shows de cantores famosos, tanto amapaenses como músicos conhecidos em todo o Brasil. Ademais os encontros religiosos que sempre escolhem aquela área urbana para louvarem ao senhor. Na Rua Ivaldo Veras também existe a Cidade do Samba que, por sua vez, serve como suporte ao Sambódromo em suas atividades culturais.
     O mês de setembro sempre é bastante movimentado com os desfiles dos dias 07 e 13 deste mês, quando aquela área se reveste de desfiles de escolas estaduais e municipais, exército, bombeiros e polícia militar, entre outras agremiações. Tanto no desfile das escolas de samba como no desfile do dia 07 de setembro a parte de trás do Zerão fica repleta de bandas de música das escolas, todas esperando seu momento para entrar em cena. Neste caso, o barulho é imenso na espera de desfilar no sambódromo.
     Lá também está localizado o Marco Zero do Equador, com várias festividades inserindo aqui as principais que são os Equinócios: equinócio da primavera, em março e equinócio de outono, em setembro. Na maioria dos casos, há danças e exposições, o que transforma aquele ambiente num grande local de encontro das pessoas que aqui habitam. Ainda há os solstícios que não são muito divulgados, mas que acontecem em junho e dezembro.
     Junte-se a tudo isso o Estádio Zerão, querido por todos aqueles que são amantes do futebol. Tudo que se relacione ao futebol acontece no Estádio Zerão, que é o único estádio do Brasil onde uma equipe situa-se no hemisfério Norte e a outra no hemisfério Sul. E o que dizer dos circos que sempre chegam à cidade de Macapá, o melhor espaço para se instalar um deles só poderia ser naquele espaço urbano, como sempre acontece.
     Entrementes...  Ali onde passa a linha do Equador, exatamente atrás do Estádio Zerão está sendo construído o Hospital Universitário. Não seja por isso! Sou completamente de acordo com um Hospital Escola para o Amapá. Mas, o que diria eu nesse caso?  Diria que a construção do Hospital Universitário naquela área determina a crescente desativação de todos os prédios do entorno que se volta para a cultura amapaense. Lembre-se que o desfile das Escolas de Samba saiu da FAB exatamente em respeito ao Hospital Geral de Macapá. Que o hospital universitário seja muito bem vindo e um triste adeus ao complexo Cultural do Equador. Tenho dito.



segunda-feira, 23 de julho de 2018

CURSOS DE TEATRO NO BRASIL




     Na história do Brasil houve várias iniciativas para a utilização do teatro na educação, como também escolas para a formação de atores e atrizes entre outros profissionais do teatro. Inicialmente foram os jesuítas que adotaram o teatro como método de catequização dos índios. Por aproximadamente um século, os jesuítas mantiveram o teatro como metodologia principal em seus monastérios.
     Em meados do século XIX aparece um mecenas do teatro no Brasil que é o ator João Caetano, que com todo o seu trabalho implantou uma escola de teatro. Nesse caso, as disciplinas giravam em torno de: “Da Reta Pronúncia”; “Da Declamação e Esgrima”; e “Da História”. Infelizmente não conseguiu alunos suficientes para que sua escola prosseguisse, por outro lado, também não logrou apoio do governo na época.
     No ano de 1857 cria-se na o Conservatório Dramático na Bahia. O mesmo se voltou muito mais para preocupações com a dramaturgia do que com a encenação propriamente dita. O foco principal era o aperfeiçoamento artístico através dos debates em torno das questões culturais. A atual Escola Martins Pena do Rio de Janeiro surgiu no século XX, em função da antiga Escola Dramática Municipal.
     Em 1937, cria-se o Curso Prático de Teatro. Esse curso se transformará no marco do ensino de teatro no Rio de Janeiro. O mesmo teve apoio do Serviço Nacional de Teatro.  Já em 1953 o referido curso tornou-se o Conservatório Nacional de Teatro. É através da Lei nº 4641 que os cursos de Cenografia e Direção se transformam em cursos superiores. Em 1955 funda-se a Escola de Teatro, Música e Dança da UFBA.
     Na Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Ruggero Jacobi criou o Curso de Arte Dramática e em 1968 também é implantado o Departamento de Teatro da USP, o qual se transformará na Escola de Comunicações e Arte.
     Em 1969 o referido Conservatório passa a fazer parte da FEFIEG, agora como Escola de Teatro. O primeiro bacharelado em Artes Cênicas do Brasil foi aprovado pelo Conselho Federal de Educação em 1974 em função do Simpósio de Ensino e das profissões de Teatro, que aconteceu três anos antes.
     Esses movimentos fizeram surgir cursos de teatro em várias universidades em todo país, como: UFPB; UFRN; UFRJ; UFAL; UnB; UFPE, entre tantas outras. O Curso de Licenciatura em Teatro da Universidade Federal do Amapá foi implantado a partir de uma luta meramente pessoal, onde me debrucei desde que ingressei nesta IFES em 1995. Este curso foi resultado da aprovação do terceiro projeto político pedagógico por mim proposto, em meio a duas décadas de tentativas respectivas. O primeiro projeto foi encaminhado em 1996; o segundo em 2001 e o terceiro em 2012, este último tendo sido aprovado em 12 de novembro de 2013, pelo Conselho Superior da UNIFAP.
  

quinta-feira, 5 de julho de 2018

TEATRO ANTES DOS GREGOS



     Certamente, mesmo antes da Grécia, manifestações cênicas voltadas para culto a vários deuses já existiam em várias latitudes, principalmente no Egito e Antigo Oriente como comprova estudos históricos e arqueológicos. Nas cercanias do mar vermelho o rei deus do Egito era o único legislador e a mais alta autoridade aqui na terra, a ele realizava-se muitas homenagens que eram apresentadas com utilização da música, dança e diálogo dramático. Nesse período, a realeza era o único princípio ordenador das coisas. O Antigo Testamento enfoca essa época de sabedoria e vida luxuosa do Egito.
     Nabucodonosor promovia um festival do Ano Novo, cuja manifestação pouco se sabe. Na Mesopotâmia havia a manifestação do “casamento sagrado” que era um ritual mítico. Detectou-se na dança egípcia de Hator, momentos da utilização de pequenos diálogos. Ainda no Egito estudiosos encontraram em Abidos, vestígios do “Drama, Morte e Paixão de Osíris”. A cidade de Abidos era a Meca dos egípcios.
     Em várias manifestações aos deuses antigos, detectaram-se indícios da presença de mimo, farsas, anões e atores mascarados que divertiam as cortes da época como se fossem verdadeiros bobos da corte no Oriente antigo. Além de Osíris e Isis, também eram cultuados vários outros deuses como Marduk e Mitra.
     Se por um lado, existia o culto aos deuses, por outro, também havia o culto aos mortos, e nessas manifestações funestas, era constante a presença de música e dança, banquetes procissões e oferendas de acordo com achados arqueológicos em catacumbas e tumbas egípcias. Imagens pintadas e esculpidas revelam manifestações aos deuses: Rá, o deus do paraíso e a Osíris, o senhor dos mortos. Osíris era o deus que estava mais próximo do ser humano.
     Em 1882 o egiptólogo Gaston Maspero, em seus estudos revelou o caráter dramático dos textos das pirâmides. De certa forma, havia nessas manifestações apresentação em primeira pessoa que sugeriam enganosamente um suposto diálogo que ainda não foram endossadas por pesquisas recentes. Outra questão fundamental era a presença de um público, situação que só vem a acontecer na democracia grega.
     Uma das questões do novo passo que deu o teatro na Grécia Antiga é o fato de que em Atenas já reinava um processo democrático, o que faltava no povo egípcio que não conhecia o conflito entre a vontade dos homens e a necessidade dos deuses. Quando Théspis fala – eu sou Dionísio – ele foi totalmente revolucionário, o que nunca iria acontecer na cultura egípcia porque seria total desavença em relação ao poder autocrático do Faraó.

terça-feira, 5 de junho de 2018

PESQUISAR TEATRO É UMA NECESSIDADE



     Pouco se conhece sobre o Teatro no Amapá; em se falando de dramaturgia as informações se tornam ainda muito mais escassas.  Se faz necessário saber, que a primeira obra que trata sobre o teatro no Amapá, é de minha autoria e foi publicada no ano de 2011 com o título “Artes Cênicas no Amapá – Teoria, Textos e Palcos”. Surgiu a partir de vários artigos que escrevo em jornal local. Esta obra, enfoca os espaços teatrais; produtores teatrais; análise crítica de espetáculos apresentados no Estado; novela amapaense; arte circense e humor. É resultado de estudos do Grupo de Pesquisa em Artes Cênicas e do Núcleo Amazônico de Estudos das Artes Cênicas da Universidade Federal do Amapá - UNIFAP.
     Prosseguindo com pesquisas voltadas para o teatro no Amapá, foi publicado em 2013 a obra “Teatro no Amapá: Artistas e Seu Tempo”, também de minha autoria, que foi resultado de realização de entrevistas com artistas de teatro que haviam montado espetáculos nas décadas de 60, 70 e 80, e que na atualidade não havia nenhum registro sobre seus trabalhos voltados para o teatro no Amapá.
     Do que se tem notícia, a primeira obra sobre dramaturgia amapaense foi publicada em 2012, intitulada “Cênico em Contextos: peças teatrais” do ator e diretor de teatro Daniel de Rocha, na intenção de socializar seus textos e consequentemente sua dramaturgia. Na ocasião, ele publicou sete textos de sua autoria. A segunda obra que também trata do referido tema, intitula-se “Dramaturgia Amapaense”, de minha autoria (publicada em 2015) também resultado de pesquisa realizada pelo Grupo de Pesquisa em Artes Cênicas e Núcleo Amazônico de Estudos das Artes Cênicas da UNIFAP.
     De fato, há um vazio documental tanto em relação à história do teatro no Amapá, como também ao que diz respeito à sua dramaturgia. Por outro lado, à medida que se vai pesquisando, vai-se revelando o vigor de um teatro que necessita urgentemente ser registrado e se tornar patente em nossas bibliotecas. Aliás, a realidade de nossas bibliotecas públicas e particulares carecem de material que informe à comunidade em geral; ao pesquisador e às pessoas de teatro sobre tema tão específico.
     O que se apresenta aqui são dados esparsos que fui localizando e analisando ao longo dos anos. Na atualidade, o que se encontra em nível bibliográfico são abordagens isoladas. No entanto, há evidências de ter havido desde o século XVIII, grande número de atividades teatrais, que não se restringiu apenas à capital, Macapá, mas principalmente em função da representação da luta dos “Mouros e Cristãos” na Vila de Mazagão Velho, cujas primeiras apresentações aconteceram no ano de 1777.
     Todavia, entende-se que apesar desses registros e evidências, os monumentos e notícias na literatura corrente encontram-se muito dispersos, necessitando urgentemente serem catalogados antes que a incúria do tempo destrua o que resta dessas provas monumentais e documentais. O que venho realizando como pesquisador é trazer à tona uma compreensão geral e um álbum geral do que se tem realizado nas artes cênicas no Amapá.  


segunda-feira, 28 de maio de 2018

ELEIÇÃO NA UNIFAP



     No ano de 1995, quando aqui cheguei para assumir a função de professor do antigo Curso de Educação Artística da Universidade Federal do Amapá, me deparei com uma universidade completamente embrionária com apenas 9 cursos de graduação, 60 professores, (entre efetivos e cedidos do quadro do Ex-território) e aproximadamente 2.500 alunos. Naquela época, tudo estava praticamente começando.
     Era a época do reitorado de Antonio Gomes de Oliveira. Antes dele, assumiram a reitoria: Professora Maria Alves, (que foi a primeira reitora), e Professora Laíses do Amparo Braga. Todos eles assumiram como Pró-Tempore. Nesse momento histórico e embrionário da UNIFAP, era inviável se pensar em eleição. Um período que poderíamos definir como o de “Procura-se um Reitor para as UNIFAP”, visto que praticamente não havia quem quisesse assumir uma instituição que estava em seu início.
     Assim se deu nos anos seguintes com outros professores que passaram a assumir os encargos da Universidade Federal do Amapá. Ainda Pró-tempore, em outubro de 1997 assume a reitoria da UNIFAP o Professor João Renôr Ferreira de Carvalho, quando criou a fundação da Unifap – Fundap e iniciou os trabalhos de informatização com a construção do prédio do Núcleo de Informática. Entre 1997 a 1999 começa a sair os primeiros professores para realizar pós-doutorado: eu sigo para Havana – Cuba; Professor Ricardo Ângelo para a Espanha; Professor José Maria para Brasília e Professor José Alberto Tostes também para Havana – Cuba.
    Proveniente da Delegacia do MEC, Professor Paulo Fernandes Batista Guerra, assume em 1999, como último Reitor Pró-Tempore da nossa instituição. Período muito difícil da UNIFAP em que praticamente não havia funcionários. Na ocasião, Paulo Guerra trouxe todos os funcionários do MEC para assumirem suas atividades na UNIFAP (muitos ainda continuam prestando serviço à UNIFAP).
     Em função do crescente desenvolvimento da UNIFAP e ainda levando-se em consideração o momento histórico, esse período de professores pró-tempores encerra exatamente com a realização da primeira eleição direta para Reitor, que de fato aconteceu com a entrada do Professor João Brazão da Silva Neto, em junho de 2002.
     A segunda eleição direta para Reitor da UNIFAP se deu no ano de 2006, quando assumiu a Reitoria o Professor Doutor José Carlos Tavares, o qual foi reeleito no ano de 2010. No ano de 2014, também a partir de eleição direta para Reitor, assumiu a Professora Doutora Eliane Superti.
     Atualmente a UNIFAP está em processo de eleição para a Reitoria, sendo esta a quinta eleição direta para Reitor da Instituição. Neste momento se inscreveram quatro chapas: Chapa 10 -  Emerson Augusto Castilho Martins, tendo Rosivaldo Gomes como vice; Chapa 20 – Aldenor Benjamim dos Santos (reitor) e Benedito Rostan Costa Martins (vice); Chapa – 30 Júlio César Sá de Oliveira (reitor), e Simone de Almeida Delphim Leal (vice); Chapa – 40 – Piedade Lino Videira (reitora) e Lúcio André Viana Dias (vice). A eleição ocorrerá dia 06 de junho e que haja maciça participação da comunidade universitária nas urnas.

terça-feira, 22 de maio de 2018

MESTRE E POETA



     Manoel Bispo Corrêa nasceu em Belém do Pará em 15 de fevereiro d e1945, filho de Paulo Roberto Corrêa e Maria Bispo Corrêa. Por uma necessidade de sua família chegou a Macapá ainda criança. Aqui estudou em vários colégios, entre eles Alexandre Vaz Tavares; Azevedo Costa e Colégio Amapaense. Fez parte do Coral da Escola Walquíria Lima. Escreveu e pintou suas primeiras obras já aos dezesseis anos de idade. Na ânsia de aproveitar seus estudos, conseguiu se matricular na Escola de Belas Artes no Rio de Janeiro.
     É um artista plástico conhecido e reconhecido no Amapá. Além de se dedicar à pintura é poeta, professor, compositor, contista e escritor. Em 2006 lançou a obra de poesias intitulada “Intátil”. Em 2010 participou da “Coletânea de Poetas, Contistas e Cronistas do Meio do Mundo”. Há várias décadas que reside em Macapá, em função disso se considera cidadão amapaense e se dedica  inteiramente a esta terra.
     Quando ainda criança, Manoel Bispo teve influências de vários setores, inicialmente foram as figuras coloridas que chamaram sua atenção. Em seguida, vieram as imagens das capas de revistas como também gravuras de calendário. Ao longo de sua trajetória artística ele foi se envolvendo aos poucos com essas imagens. Passou também a observar e estudar diversas fotografias e quadros de artistas famosos. Toda essa experiência o envolveu para que voltasse seus olhares para a arte como artista plástico, com temas voltados para a Amazônia com influências surrealistas.
     Como poeta busca aprimorar sua arte a cada passo. É um persistente pesquisador da palavra. Para o escritor Paulo Tarso “seus poemas são escritos numa linguagem que primam pela objetividade e as imagens demonstram seu conhecimento da música e das artes plásticas”. Acrescente-se a isso os inumeráveis exercícios artísticos até chegar ao trabalho estético que conseguiu concretizar ao longo de sua carreira com uma vasta obra.
     Nosso artista confessa que não enfrentou muitas dificuldades em trilhar na área das artes visuais mas, enfoca que em sua época não havia lojas especializada na cidade de Macapá, observando que era necessário solicitá-las em outras cidades como, por exemplo, Belém do Pará. “Hoje existem vários revendedores dos mais diversificados fabricantes de tintas, pincéis, telas e solventes entre outros materiais. Seu trabalho mais significativo foi a tela “Espécie de Compulsão”. Do artista Manoel Bispo, uma frase para os iniciantes: “- A eles apenas o estímulo que energiza a alma daqueles que escolhem a arte para viver”.

quarta-feira, 16 de maio de 2018

ORIGEM DAS PALAVRAS NO TEATRO




     O teatro surgiu na Grécia antiga há quase três mil anos. Durante toda a história do homem há uma relação intrínseca entre a vida e a arte. Relacionaremos em seguida algumas palavras ligadas ao teatro e suas principais origens:
     A palavra TEATRO vem do Latim theatrum, do Grego theatron, que significava literalmente “lugar para olhar”, de theasthai, “olhar”, mais tron, sufixo que denota “lugar”. O sentido de “lugar onde transcorre a ação” se aplicou também aos feitos militares, daí o nome “teatro de operações” para uma área onde há luta armada.
     ANFITEATRO também vem do Latim amphiteatrum, do Grego amphiteatron, que significa “local de espetáculos duplo, com espectadores dispostos de ambos os lados do palco”, de amphí-, “dos dois lados”, mais theatron, local de onde se vê. Inicialmente os teatros possuíam assentos apenas no lado voltado para o palco, seguindo a arquitetura do teatro grego. É ainda o caso da maioria ou todos os nossos teatros atuais. Os atuais estádios de futebol são hoje os nossos verdadeiros anfiteatros.
     O termo COMÉDIA vem do Grego komoidia, “espetáculo divertido, comédia”, de komodios, “cantor em festas”, de komos, “festa, farra”, mais oidos, “poeta, cantor”.  Este termo passou por uma fase em que era usado para designar “poema narrativo”, o que é a razão de o livro “A Divina Comédia”, de Dante Alighieri, ter esse nome. 
     TRAGÉDIA deriva do Grego tragoidia, que significa “peça ou poema com final infeliz”. Aparentemente deriva de tragos, “bode”, mais oidea, “canção”. Ao pé da letra poderíamos dizer “a canção dos bodes”, e isso viria do drama satírico, onde os atores se vestiam de sátiros, com suas pernas cabeludas e chifres de bode. 
     Da mesma forma, DRAMA também deriva do Grego drama, “peça, ação, feito” (especialmente relativo a algum grande feito, fosse positivo ou negativo), vem de drao, “fazer, realizar, representar, lutar”.
     PLATEIA – ao que tudo indica, deriva do Grego platea, que significa “largo e plano”. Inicialmente designava o lugar onde ficavam os músicos e se estendeu depois, em prédios diferentes dos teatros gregos, à parte onde tomam assento os espectadores.
    PALCO – do Italiano palco, “estrado, tablado”, do Lombardo palko, “trave, viga”. Seu sentido se estendeu depois ao de “tablado sustentado por vigas” e mais tarde a “estrado ou palco designado para apresentações artísticas”.
     CENA – do Latim scaena, “palco, cena”, do Grego skena, de mesmo significado, originalmente “tenda, cabana”, relacionado a skia, “sombra”, pela noção de “algo que protege contra o sol”.
     Para quem trabalha na área do teatro conhece bem os termos acima, o mais interessante é entender a origem dessas palavras para a partir daí entender o porquê do uso corrente e atual das mesmas.

domingo, 6 de maio de 2018

NOSSA MACAPÁ



     Fui convidado para ministrar uma palestra na Universidade de Framingham – Estado de Massachusetts – EUA  e em novembro passado participei da Feira Cultural e Científica Brasil Estados Unidos, na qual falei sobre a cultura amapaense e o que de melhor há no Amapá. Produzi um vídeo de 6 minutos com belas imagens do Amapá. Parte do texto que serviu de base para o vídeo, vai a seguir:  
     A Fortaleza de São José de Macapá, fundada em 1758, é uma das principais edificações militares existentes no Brasil e um dos mais importantes monumentos do século XVIII. Erguida com o propósito de defender a Amazônia, em especial diante da perspectiva de uma invasão francesa (os franceses já haviam ocupado o território da Guiana), ocupa uma extensa área na margem esquerda da foz do rio Amazonas, na capital do Amapá. O marco arquitetônico e histórico é hoje um dos principais pontos turísticos de Macapá. Na Amazônia tudo acontece conforme a maré, e é exatamente na maré vazante que acontecem os campeonatos, conhecidos popularmente como futelama, muito apreciados pelos aficionados pelo futebol.
     O Marco Zero é um monumento localizado na cidade de Macapá para marcar a passagem exata do sol sobre a Linha do Equador. É constituído de uma edificação de 30 metros de altura dotada de um círculo na parte superior, através do qual é possível visualizar o Equinócio aos menos duas vezes ao ano. Entre 20 e 21 de março e também entre 22 e 23 de setembro. Nesse dia, o sol alinha-se perfeitamente no círculo do monumento e projeta um raio de luz sobre a linha imaginária do Equador. Tornou-se um dos mais importantes pontos turísticos da capital do meio do mundo.
     A cidade de Macapá possui vários outros pontos turísticos como o sambódromo, o trapiche Eliézer Levi e o balneário do Curiaú que é muito frequentado, principalmente no período do verão. Possui ainda a praia de fazendinha, lugar de muitos banhistas. A cidade tem o privilégio de situar-se à margem esquerda do rio Amazonas, um dos rios mais extensos do mundo, com 6.992,06 km de comprimento, contando com mais de mil afluentes. Sendo que alguns deles, como o Madeira, o Negro e o Japurá, estão entre os 10 maiores rios do planeta.
     Nossa cidade conta ainda com o “Museu Sacaca” (museu a céu aberto), que é uma instituição científica, subordinada ao Instituto de Pesquisas Científicas e Tecnológicas do Estado do Amapá (IEPA), órgão público responsável por fomentar e divulgar a produção científica e tecnológica local. Inaugurado em 1997, o museu tem por objetivo promover ações museológicas de pesquisa, preservação e comunicação, abrangendo o saber científico e o saber popular dos povos amazônicos.
     Uma das expressões mais importantes que também é símbolo da cultura amapaense é a da dança do Marabaixo. É considerada uma tradição popular e secular. É uma dança de origem africana, provavelmente trazida pelos negros que chegaram ao Estado do Amapá no século XVIII. Em louvor ao Divino Espírito Santo e à Santíssima Trindade, essa manifestação se destaca pela união de canto, dança, música, gastronomia e fé. Estende-se ao longo de 61 dias, entre o sábado de aleluia e o domingo pós Corpus Christi. A festa atrai, todos os anos, milhares de pessoas para os bairros do Laguinho e Favela.
     Macapá, a capital do meio do mundo vos espera de braços abertos. Muito obrigado.


terça-feira, 1 de maio de 2018

MUITO OBRIGADO, MACAPÁ



     No último dia 20 de abril (sexta feira) recebi o título honorífico de Cidadão Macapaense das mãos do Vereador Marcelo Dias, na Câmara Municipal de Macapá. Esta cerimônia em muito me honra em função de todo o meu trabalho em prol da cidade de Macapá e do Estado do Amapá. Aqui cheguei em 1994, para realizar concurso público para a recém-implantada Universidade Federal do Amapá. Aprovado em primeiro lugar no referido concurso, retornei no dia 02 de janeiro de 1995 para assumir a função de professor desta instituição. Portanto há 23 anos que venho me dedicando a este rincão.
     Quando aqui aportei, já vim com a intenção de implantar o Curso de Licenciatura em Teatro. O primeiro momento referente a este objetivo foi o fato de ter ministrado ainda em 1995 a primeira oficina de teatro da UNIFAP. Tenho a honra de ter ministrado aula para a turma pioneira do antigo curso de Educação Artística. Nesse período, também assumi a Coordenação do referido Curso. Portanto, desde 1995 que estou na Universidade Federal do Amapá, e atualmente sou Professor Associado IV. Ainda em 1995 ministrei a primeira oficina de teatro da UNIFAP.
     Já em 1996 encaminhei o primeiro projeto para implantação do Curso de Licenciatura em Teatro, como também dei início ao projeto de extensão com “Curso de Teatro de Bonecos para Capacitação de Professores”. Em função desse trabalho ministrei dez cursos para dez comunidades diferentes, capacitando um total de 300 professores e percorrendo um total de quase quatro mil quilômetros, no Estado do Amapá. O referido projeto iniciado em 1996 se estendeu até o ano de 1998 a pedido de alguns municípios. Essa experiência resultou na publicação da obra: “Teatro de Bonecos: Uma Alternativa para o Ensino Fundamental na Amazônia” que foi lançada em 2001.
     Em 1997 publiquei a livro “A Estrela e a Rã”, hoje considerado a primeira obra de literatura infantil do Amapá. Nesse mesmo ano escrevi artigo para o Jornal do Dia e assumi o Departamento de Pesquisa. Em 1998 aconteceu o lançamento da segunda edição de “A Estrela e a Rã”; e continuei a escrever artigos na “Coluna Inteligente” do Jornal do Dia. Em 1999 iniciei meu curso de doutoramento. Em 2001 lancei a obra infantil “Brincando com Linhas”. Ainda neste ano encaminhei o segundo projeto para implantação do Curso de Licenciatura em Teatro. Escrevi para o Jornal Diário do Amapá, como também para o Jornal O Liberal/Macapá. Fiz parte da Comissão Julgadora do Festival de Teatro do Amapá.
     Em 2004 conclui o Curso de Doutoramento e retornei para continuar no Amapá, sendo fiel à querida terra que me adotou profissionalmente. Nesse ano, passei a escrever para o Jornal A Gazeta - Suplemento Cenários. Coordenei o Polo Universitário do Amapá, na cidade de Amapá. Fui um dos primeiros professores que entrou em contato com prefeitos para a implantação de campus no interior do Estado. Assumi a Pró-Reitoria de Graduação. Em 2006 fui homenageado “Os Melhores de 2005”, pelo Governo do Amapá. Extingue-se o Curso de Educação Artística e passei a lecionar no Curso de Artes Visuais. Em 2009 sigo para realizar curso de Pós-Doutorado e retorno mais uma vez à Macapá para continuar desenvolvendo meus afazeres profissionais e acadêmicos.
     Continuo publicando livros como: “Entre Parénthesis” – 2010; “Artes Cênicas no Amapá” – 2011, sendo esta a primeira obra que aborda sobre artes cênicas Amapá; “A Ovelha Malhada” – 2011; “O Pato e o Lago” e “Entre Pai & Filhos - 2012; “Pablito e a Libélula”, “Arque com Arte: cultura, arte e educação no Amapá”, “Teatro no Amapá: Artistas e Seu Tempo,” “A China é Aqui” e “Curso de Teatro no Amapá: Concepções e Proposições para o Ensino Superior” em 2013; “Entre Irmãos”, “Aventuras Poéticas”, em 2014 e “Dramaturgia Amapaense” em 2015.
     No ano de 2010, retorno à insistência da implantação do Curso de Licenciatura em Teatro e retomo a escrita de um novo Plano Político Pedagógico para o Curso. Finalmente, em 12 de novembro de 2013 o Projeto do Curso de Licenciatura em Teatro á aprovado pelo Conselho Universitário da UNIFAP. A partir desse momento, assumi a Coordenação do Curso de Teatro para programar os encaminhamentos necessários concernentes à implantação física do curso, como locais de funcionamento da Coordenação e salas de aula, etc. Sinto-me honrado em saber que neste ano de 2018, no dia 18 de abril houve a coleção de grau da primeira turma do Curso de Licenciatura em Teatro da UNIFAP. Nesta oportunidade o Curso de Teatro coloca à disposição da sociedade amapaense e do mercado de trabalho a primeira turma Licenciada em Teatro do Estado do Amapá.
     Este é um breve resumo da minha dedicação à cidade de Macapá e ao Estado do Amapá. Aqui cheguei, aqui fiquei, amo esta cidade. Há vinte e três anos que meu compromisso profissional é com o Estado do Amapá. Por isso, agradeço com o coração pleno de alegria e satisfação por ter aportado no Cabo Norte. Muito obrigado, Macapá.

segunda-feira, 23 de abril de 2018

TURMA PIONEIRA DO CURSO DE TEATRO DA UNIFAP COLA GRAU



     Minha preocupação para a implantação de um Curso de Licenciatura Plena em Teatro no Amapá remete ao ano de 1995, quando aqui cheguei para assumir a função de professor da Universidade Federal do Amapá, admitido por concurso público realizado em novembro de 1994. Aliás, mesmo antes de fincar raízes neste espaço geográfico brasileiro eu já havia pensado na perspectiva e projetado a implantação do referido curso.
     Estudei as possibilidades e em 1996 encaminhei projeto de implantação das habilitações de Teatro e Música ao Colegiado do Curso de Educação Artística. O referido projeto também passou por uma comissão de implantação de novos cursos. Infelizmente nem o Colegiado, muito menos a referida comissão entendeu como prioridade a implantação daquelas habilitações. Se naquele período as habilitações de Teatro e Música tivessem sido implantadas, consequentemente com a Lei de Diretrizes e Bases da Educação 9.394/96 daquele mesmo ano, as mesmas teriam sido transformadas em dois cursos distintos: Curso de Licenciatura Plena em Teatro e Curso de Licenciatura Plena em Música.
     Se assim o fosse, concretamente de lá para cá teríamos colocado no mercado de trabalho pelo menos dezoito turmas de profissionais da área do teatro e da área da música respectivamente, para suprir a necessidade premente das escolas de ensino fundamental e médio do Estado do Amapá. Por outro lado, teríamos sido também a primeira universidade e o primeiro Estado da região Norte a implantar seu Curso de Licenciatura Plena em Teatro.
     Com a implantação da disciplina Educação Artística que surgiu com a Lei 5.692/1971 que transformou o professor de arte num profissional polivalente.  Também em função da luta dos Arte-Educadores, principalmente durante a década de 1980 do século XX para reverter este quadro foi que na década de 1990 com a Lei 9.394/96 a arte tornou-se obrigatória no ensino fundamental e médio. Diferente de sua antecessora, a Lei 9.394/96 também definiu que o estudante deveria vivenciar pelo menos quatro linguagens distintas da arte na sala de aula: Artes Visuais, Teatro, Dança e Educação Musical.
     A persistência é um dos sentidos da vida que nos faz permanecer na luta. Foi preciso duas décadas para que o Curso de Teatro fosse aprovado. Neste sentido, em 12 de novembro de 2013, o mesmo passou pelo Conselho Superior da UNIFAP por unanimidade.
     No início de 2014 estávamos recebendo a primeira turma do Curso de Licenciatura em Teatro e este ano essa turma pioneira colou grau na última quarta-feira, dia 18. A concretização deste trabalho determina que a partir deste ano de 2018, o Estado do Amapá terá à disposição da sociedade o primeiro grupo de professores licenciados em teatro e capacitados para assumirem suas atividades pedagógicas nas escolas do nosso Estado.


quarta-feira, 18 de abril de 2018

CINE TEATRO TERRITORIAL - Símbolo da Cultura Amapaense



     A implantação do Território Federal do Amapá na década de 1940 redimensionou as questões geográficas, políticas, econômicas e culturais de uma das áreas mais setentrionais do Brasil. Em se tratando de questões culturais, isto se dará mais propriamente no final da década de 1940, com a inauguração e implantação de vários setores da cultura como, por exemplo, a inauguração do Cine Teatro Territorial em julho de 1944; inauguração da Rádio Difusora de Macapá em 23 de julho de 1946; inauguração da Escola Barão do Rio Branco (primeira escola em alvenaria de Macapá), em 13 de setembro de 1946, onde começa a surgir dramatizações de peças por alunos, com apoio de professores, e a inauguração da Praça Barão do Rio Branco em 1º de janeiro de 1950. Em relação à inauguração da referida praça, o Comandante Cordeiro da Graça, em seu artigo “Acreditando no Futuro do Brasil”, que consta no livro “Confiança no Amapá: Impressões sobre o Território” de Janary Nunes, cuja 2ª edição foi publicada em 2012, dá suas impressões quando relata sobre a bela praça de esportes: Assisti ao ato inaugural da praça “Barão do Rio Branco”. É uma praça pública bonita, larga, onde a juventude tem todos os esportes. Não seria possível desejar coisa melhor nem mais eficiente.
      Tais fatores foram preponderantes para o desenvolvimento da cultura, da arte, das artes cênicas e especificamente do teatro amapaense. Portanto, seguiremos um raciocínio cronológico dessas ações do governo Janary Nunes, que, por um lado, fez crescer demasiadamente a cultura no Amapá e por outro, fez criar nos jovens um sentimento muito estreito em relação à arte. E é em função desses fatores que, na década de 1950 a produção cultural em relação à montagem de peças teatrais começa a surgir timidamente no âmbito do Ex-Território. Nesses termos, Nunes Pereira, que também tem artigo na obra acima citada, quando se refere às ações do governo Janary Nunes, afirma que: No campo cultural, por exemplo, ele não só atrai artistas e homens de ciência para que influam diretamente na formação da mentalidade do povo, porém procura amparar as tradições, os costumes que são típicos daquele povo, que constituem o seu patrimônio folclórico.
     O Cine Teatro Territorial, foi sem dúvida um dos primeiros edifícios construídos na administração do Capitão Janary Nunes. Em função de que não havia construções adequadas para reunir uma equipe, esse prédio foi erigido inicialmente para ser o Centro de Convenções do Governo, levando-se em consideração que só havia um lugar considerável para tal atividade que era o antigo prédio da Intendência, que depois se transformou no museu Joaquim Caetano. Sendo assim, o prédio do Cine Teatro Territorial se transformou no principal espaço para que os administradores pudessem se reunir com tranquilidade com a equipe do novo governo, para dar andamento ao projeto de transformação política do Território recém-instalado.


segunda-feira, 9 de abril de 2018

BÉLGICA




     Em fevereiro passado estive em Bruxelas-Bélgica com o objetivo de ministrar uma oficina de teatro do oprimido. Fui convidado para ministrar esse workshop pela Associação Arte N’ativa. Sempre que vou para qualquer lugar do mundo, levo comigo as melhores lembranças e falo com as pessoas de tudo de melhor que tem o nosso Amapá, há vinte e três anos que faço isso. Tenho orgulho de ter podido contribuir com este pedaço de Brasil.
     Augusto Boal é um dos mestres do teatro brasileiro, seu método e sua estética, conhecido como “teatro do oprimido” na atualidade vem sendo estudado em mais de cem países do mundo. Sua teoria com bases marxistas, surgiu em função da luta de classes no Brasil, principalmente em função do regime militar que vigorou por vinte e quatro anos em nosso país.
     Ele é o fundador do teatro do oprimido, método que cria laços estreitos entre o teatro e a ação social. Esse método é conhecido em várias partes do mundo. Sua estética, transforma o teatro em instrumento de emancipação política. Esta teoria surgiu a partir de suas experiências no teatro de Arena de São Paulo entre 1956 a 1970, quando lá trabalhou com vários artistas que hoje são conhecidos em nosso país.
     O workshop que ministrei foi muito bem proveitoso, tendo em vista que tínhamos tanto brasileiros como belgas participando do mesmo. Em função de ser uma estética que pode ser realizada por atores, não atores e pessoas comuns, o curso foi muito procurado pelos cidadãos do próprio local.
     A cidade de Bruxelas tem um ar bucólico, romântico e conota muita nostalgia. É uma cidade medieval visto que suas construções e principalmente igrejas antigas remontam ao século XVI. Em função do período de inverno, tudo estava muito cinzento. Aliás, os prédios, as ruas, o tempo e as pessoas parecem uma pintura monocromática de algum pintor famoso. As cores vivas quase não existem. Todos andam agasalhados com roupas cinzas ou pretas para poderem enfrentar o frio.
     Estive lá num dos últimos rigorosos invernos, o termômetro chegava a seis graus abaixo de zero, o frio era intenso. Tudo praticamente congelado, inclusive os rios e lagos, que estavam em sua maior parte, congelados. Uma das coisas que me chamou atenção foi o uso cotidiano da bicicleta. Lá, todo mundo tem uma bicicleta, e de todos os tipos: para uma, duas ou três pessoas; bicicletas para levar o bebê entre outras. O interessante é que esse trânsito de bike, convive harmoniosamente com os outros veículos. Ciclovias tem para todos os lugares. Bonito ver um monte de ciclistas esperarem o sinal verde abrir para poder seguir viagem. Algo que não existe no Brasil. Por outro lado, o transporte coletivo, tanto ônibus quanto o trem, sempre passam na hora exata em cada ponto, estação ou parada. Mesmo com todo o frio, todos se deslocam e o tráfego de bicicleta é intenso.


terça-feira, 27 de março de 2018

DIA INTERNACIONAL DO TEATRO




     Do ponto de vista histórico e com os elementos que conhecemos na atualidade, poderíamos afirmar que o teatro surgiu na Grécia Clássica, embora pesquisas recentes venham demonstrar que muito antes, os egípcios, os indianos e os chineses já o praticavam. Portanto, não se pode negar que a cultura oriental é muito sedimentada, mas embora o oriente praticasse teatro antes dos gregos, essa prática acontecia primitivamente em forma de rituais religiosos.
     É notório que a Grécia antiga tenha herdado esses rituais, entretanto não podemos negar que foi justamente nesse país que os primitivos rituais foram, ao longo dos anos se transformando, tomando novas formas como festividades e atividades culturais até determinar os cultos teatrais como forma de representação e arte, à qual conhecemos hoje.
     Esse teatro do qual conhecemos na atualidade, originou-se basicamente de três festividades: a) dos mistérios de Delos; b) da louvação às divindades Quintelanas – Elêusis, Demótes e Proserpina;e c) do culto ao Deus Dionísio. Sendo que esta última versão considera-se como a mais provável, segundo estudos históricos e antropológicos já realizados.
     Sabe-se que uma vez ao ano, justamente por ocasião das vindimas (colheita de uvas), prestava-se homenagem ao Deus Dionísio; Deus da uva e do vinho; da embriaguez e da fertilidade. Geralmente, nesses cultos sacrificava-se um animal, mais praticamente um bode que, por sua vez, significa tragos em grego, de onde surge etimologicamente a palavra tragédia.
     Comumente ao som de música de flautas, as bacantes dançavam em honra ao Deus Dionísio, juntando-se aos sátiros, também dançarinos, que vestidos a caráter imitavam bodes, que para a cultura grega desse período significavam os companheiros do Deus. Depois de algumas horas, já embriagados, entregava-se com entusiasmo a esse frenesi, esse culto, a esse verdadeiro espetáculo. Nessas condições, o teatro tem, notadamente,  origem religiosa e campestre.
     Com o passar do tempo, o próximo passo foi a organização de procissões, que se tornaram muito mais religiosas do que profanas. Essas procissões tinham caráter comum, onde todos os celebrantes se juntavam tendo à frente jovens que cantavam um hino improvisado, chamado “ditirambo”, e assim giravam em torno do altar do Deus, agradecendo pela colheita da uva e pelo sexo que significava a fertilidade da vida. E foi exatamente desse coro, do contraste entre o espírito Dionisíaco e Apolíneo que nasceram a Tragédia e a Comédia. A tragédia tinha como principais características o terror e a piedade que despertava no público. Era constituída de cinco atos e voltava-se para o resgate da mitologia grega, com seus deuses, heróis e feitos. A comédia era dividida em duas partes com um intervalo. Tratava dos homens comuns e de sua vida cotidiana.
     Em função de essas atividades teatrais persistirem até nossos dias foi que em 1961, o Instituto Internacional do Teatro da UNESCO, órgão das Nações Unida, voltado para a educação, ciência e cultura, resolveram criar uma data dedicada às atividades culturais ligadas à representação, durante o seu IX Congresso Mundial, em Viena, Áustria. Portanto, em função da inauguração do Teatro das Nações, em Paris, França, em 27 de março de 1962, tem sido celebrado o Dia Internacional do Teatro. A data 27 de março, assinala também a inauguração das temporadas internacionais no referido teatro.