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segunda-feira, 27 de novembro de 2023

FILOSOFIA E ESTÉTICA

 

 

     Atualmente lecionando a disciplina Estética Teatral no Curso de Licenciatura em Teatro da Universidade Federal do Amapá. Curso do qual sou o mentor, me veio à mente esclarece um pouco sobre o referido tema. E gostaríamos de enfocar alguns filósofos que contribuíram imensamente para o pensamento sobre a estética.

     Pitágoras se apoiava no formalismo tendo o número, a medida e a perfeição geométrica, como ponto de partida. De qualquer forma, Platão também se apoia em Pitágoras em relação ao ser e a estética, indo de encontro à forma moral. Platão não escreveu uma estética propriamente dita, mas, sua metafísica inteira pode ser considerada uma estética. Para ele, o belo é autônomo tanto em sua essência como em seu fim. O belo e o bem se identificam. Para Platão, a realidade não é senão uma cópia perfeita e o importante é que se devem conhecer suas ideias.

     Sócrates tem como ponto de partida o princípio utilitário das coisas. Para ele, tudo o que é belo, é conveniente e útil. Nesse caso, o belo deve ser útil. Até as coisas feias podem ser belas, desde que sejam úteis. Sócrates orienta o belo em função da perfeição. Enquanto Platão tem por base as ideias, Sócrates se apoia na realidade e afirma que o princípio da utilidade domina todas as artes reguladas juridicamente.

     Já Aristipo pensa que o belo deve ser o que é bom. Para os gregos a beleza natural estava muito acima da beleza artística. Hesíodo tinha o conceito de belo centrado na mulher, para ele, a beleza encontrava-se na mulher, no mar e na água. A beleza, antes de tudo era atributo da mulher e do mar. Homero tinha como fonte de beleza a natureza, com uma tendência para o perfeito. A perfeição encontrava-se no belo, o que era belo era perfeito.

     Entre os poetas líricos encontramos três escolas: a primeira são os Líricos eróticos. Para eles, o belo parece identificar-se com o justo e a beleza moral ocupa seu lugar ao lado da beleza corporal. Em relação ao ideal humano, a beleza estava na mulher jovem e encantadora, ou seja, a beleza estava na juventude. Já os Líricos, encontravam a beleza na paisagem e entendiam que a natureza se espiritualiza e se humaniza ao mesmo tempo. E os heroicos enxergavam a beleza e o ideal humano exclusivamente nos heróis.

     Também vamos encontrar nos trágicos gregos algo relativo à beleza. Em suas tragédias, Ésquilo enfoca o homem como débil e submetido às suas necessidades; Sófocles introduz um sentimento novo que é a grandeza do homem, ou seja, o problema trágico do belo se associa ao problema moral. Os primeiros gregos sentiam um ardente amor pela vida e os trágicos, em troca, veem a beleza da morte na renúncia em sacrifício pela vida.

     Aristóteles, por sua vez, reflete que a ideia não tem existência em si e é abstrata para todos nós, e o mais importante é a realidade. Para ele, todas as artes são imitação. Ele vê o belo separado do bem, sendo que o bem aponta para algum fim e o belo é este final. Extrai sua teoria dos trágicos gregos, principalmente Sófocles. Em relação à tragédia grega afirma que o terror e o medo são de natureza egoísta e a piedade é altruísta. A beleza não é outra coisa, senão a perfeição da essência. Entende-se que Platão e Aristóteles, dedicaram sua atenção primordialmente para a política.    

     Na verdade, a tragédia grega é um triunfo sobre o trágico e se compõe de dois elementos: a) o trágico propriamente dito, retrato da perdição humana, e b) o espírito de justiça, de equilíbrio e de medida. E foi baseado nisso que Aristóteles escreveu sua Arte Poética. A tragédia é a luta contra o destino.

 

terça-feira, 21 de novembro de 2023

IGARAPÉ DAS MULHERES

 


     Local místico, centro das atenções de uma comunidade; local de encontro, de alegria, de conversas e de trabalho cotidiano. Recanto preferido onde a criançada fazia e inventava seus próprios brinquedos e brincadeiras. Lugar versátil: piscina, rio, mar, praia, verdadeiro e principal ponto de lazer da comunidade local. Observo que nos tempos idos, o igarapé das mulheres, não significava apenas o que era...! mas, metaforicamente, também se assemelhava a um grande shopping a céu aberto. Ponto e porto de chegada e saída de mercadorias, movimento intenso de barcos, o que ainda acontece na atualidade. O igarapé das mulheres mais parece um centro geológico dotado de magnetismo, tendo em vista que tudo se vê atraído por aquele lugar. Barcos, pessoas, mercadorias, crianças, homens e mulheres. Entretanto, parece-me que a mágica e o intensivo magnetismo existente naquele recanto, atraía mesmo as mulheres lavadeiras de roupa.

     Época remota, em que as mulheres eram totalmente atraídas para aquele espaço sentimental, para lavarem suas roupas e de suas famílias, nas águas daquele inefável igarapé. Berço de uma cultura, área de encontro social, sítio arqueológico, ponto de encontro e de comunicação entre as comunidades ribeirinhas. Apesar de não haver mais mulheres lavando roupas, hoje o igarapé das mulheres continua firme como ponto de chegada e partida daqueles que permanecem perpetuando o ciclo de sua relação com o rio, a água e os ribeirinhos da grandiosa Amazônia. Todo lugar, toda cidade, vivencia seus momentos de ascensão e decadência. Embora, na atualidade, praticamente, o local seja impróprio para banho, de certa forma, continua a servir como porto fluvial, onde pequenos barcos mercantes o utilizam, num vai e vem permanente.

     Esse meigo olhar que exige cuidados ambientais e de preservação, ao longo de décadas, não foi tão bem visto como deveria ter sido, pelos administradores e pela sociedade em geral. Mas, a arte nos salva dessa falha, dessa hamartia. Ela vem e eleva aquele lugar no seu mais sublime grau de grandiosidade estética. E a manutenção da fidelidade e beleza artística, clássica, literária e lírica vamos encontrar nos versos da música “Igarapé das Mulheres” do cantor e compositor Osmar Júnior. Em seus versos, significantes e significados, ao mesmo tempo, estão inseridos e latentes, revelando como num soneto musical, pequenos textos, contextos e pretextos que nos levam definitivamente, a compreender o jeito de ser tucujú. Ele inicia seus versos afirmando, como um verdadeiro filósofo, que o tempo leva tudo, o tempo leva a vida, o que nos remete ao célebre sábio grego Heráclito de Éfeso.

     Utilizando-se de figuras de linguagem, como metáfora e comparação, Osmar Júnior descreve aventuras, em meio às suas alegrias, dúvidas e tristezas, ao enfrentar as vicissitudes da vida, com seu olhar pretérito de criança, para um futuro-mais-que-perfeito...! E continua seu texto revelando pontos extremos e pensamentos opostos, quando relaciona sua alegria ao boiar nas águas, enquanto as margaridas lavadeiras lavavam a dor, assim, fica claro que nessa passagem, satisfação e descontentamento caminham juntos. Em seu texto, quase lamento, o compositor permanece na dúvida existencial, de crescer e se tornar adulto, enfrentar o medo do mundo, com sua esperança perdida. Nesse hiato, seu refúgio para seguir em frente e criar coragem de retirar as pedras do meio do caminho, foi encontrado ao refletir sobre a difícil vida e destemida coragem das mulheres lavadeiras, margaridas, severinas, joanas e marias; enfim...! buscou persistência e resiliência nas despretensiosas deusas do igarapé das mulheres.

 

segunda-feira, 13 de novembro de 2023

CURSO DE TEATRO - 10 ANOS

 

                                                                      

 

     Hoje é um dia muito significativo, tanto para mim, como para os profissionais da área das artes cênicas do Amapá, tendo em vista que há 10 anos, exatamente no dia 12 de novembro de 2013, depois de dois projetos que eu já havia encaminhado à administração da UNIFAP, (um, em 1996 e outro em 2001), o Conselho Superior da Universidade Federal do Amapá, aprovou o terceiro Projeto Político Pedagógico da criação do Curso de Licenciatura em Teatro, tudo isso depois de duas décadas de lutas permanentes. Já em dezembro do mesmo ano, assumi a Coordenação do referido curso. Iniciei apenas com a cara e a coragem. E fui em busca, de espaço físico para a Coordenação, que se instalou em dois pequenos ambientes cedidos pelo Curso de Licenciatura em Artes Visuais. Determinou-se também a sala de aula para receber a primeira turma.

     Na ânsia de ver o curso criado, e para juntarmos nossas forças, resolvi convidar para uma reunião, o Presidente do Conselho Estadual de Cultura do Amapá, quando na ocasião, expressei a necessidade da participação da classe artística neste processo. Em seguida nos reunimos com a classe e ficou definido a realização de um cortejo que sairia do Marco Zero, com destino à sala do Conselho Superior da UNIFAP. Expressei também, a necessidade de que cada grupo de teatro deveria redigir um documento em apoio à criação do Curso de Teatro. No dia da aprovação a classe entregou um calhamaço de papel ao Presidente do Conselho. E, assim, as pessoas de teatro, invadiram o Conselho Superior, juntando-se a essa luta para a implantação do curso. Desta forma, pressionando o Conselho para a aprovação imediata do primeiro Curso Superior de Teatro do Amapá.

     Após a aprovação, pelo Conselho Superior da UNIFAP, da criação do curso de teatro, a classe saiu em grande passeata pelas ruas da instituição, festejando, celebrando a Dioniso, como um verdadeiro canto ditirâmbico. Foi de grande importância essa participação da classe artística e teatral, na luta pela implantação do Curso de Teatro, que nesses dez anos, colocou no mercado de trabalho, profissionais competentes para desenvolveram suas funções na sociedade amapaense. No Curso de Licenciatura em Teatro o(a) aluno(a) desenvolve a prática de lecionar aulas de teatro, como também, interpretar, vivenciando a experiência do fazer teatral, aprofundando-se nas especificidades de sua escolha. A base deste curso está alicerçada nesta formação e complementada pelos fundamentos sócio-político-pedagógico que norteiam a formação pedagógica dos cursos de Licenciatura.

     Foram sete anos ininterruptos, os quais, trabalhei diuturnamente, iniciando-se em 2010, com a retomada, análise e atualização dos dois projetos anteriores. Em seguida, o acompanhamento do processo por todas as instâncias da instituição, sempre respondendo e esclarecendo as dúvidas do relator do referido processo. Após a aprovação, tudo começou do zero; em 19 de dezembro foi publicada minha portaria como Coordenador. Enfaticamente, parti para a organização física da Coordenação do Curso e a preparação para receber a primeira turma, que iniciou no dia 09 de abril de 2014. Esta primeira fase do Curso de Teatro, foi um ciclo que se fechou, primeiro com a contratação de 7 professores em dezembro de 2015, e em seguida, quando em abril do ano de 2017, entreguei definitivamente, a coordenação do curso à nova geração de professores, completando assim, 7 anos  de trabalhos ininterruptos, para que o curso tomasse novo impulso, o que aconteceu com a chegada dos novos professores.

segunda-feira, 6 de novembro de 2023

EXPOFEIRA, ARTE E MÍDIA

 

 

     Depois de quase uma década de esquecimento, e desaparecida por esse longo período, como num passo de mágica, reaparece a 52ª Expofeira do Amapá, com o subtítulo desenvolvimento, cultura e sustentabilidade. Este evento teve início na década de 1940, no Governo Janary Gentil Nunes, quando ainda era Território Federal. Nesta última versão da Feira, pelo que já se percebeu, as atividades artísticas se deram a partir de uma programação extensamente diversificada, distribuídas em 10 palcos que foram espalhados pelo Parque de Exposição de Fazendinha. Ávido e com tanta saudade do referido evento, o público amapaense, não perdeu por esperar, e teve uma participação efetiva, deixando a Expofeira superlotada, praticamente em todos os dez dias das festividades.

     O que se percebeu na prática, foi que a classe artística amapaense foi abraçada e convocada a participar diretamente da Expofeira, o que é digno de se tirar o chapéu, por um lado, para os organizadores do evento, e por outro, para os artistas do Amapá. No entanto, artistas brasileiros conhecidos no território nacional, principalmente da área da música também se apresentaram para abrilhantar e animar o público, no principal e maior palco instalado na Feira de Exposição de Fazendinha. Ficou claro que grande quantidade de artistas do Amapá, teve a oportunidade de abrilhantar com seus respectivos trabalhos artísticos, na Expofeira de Fazendinha. Nada mais justo do que isto, levando-se em consideração que aqui no Amapá há muitos artistas se dedicando à arte em geral; basta um olhar dos gestores da cultura para que isto aconteça em sua plenitude.

     A Expofeira, a arte e a mídia, são necessidades da sociedade amapaense. Não obstante, apesar dos nossos artistas estarem e viverem neste rincão, percebo que infelizmente, não houve, por parte da mídia televisiva, um projeto publicitário que desse popularidade aos artistas locais; faltou um projeto midiático incisivo nesta área. Digo isto, tendo em vista que durante os 10 dias da 52ª Expofeira, acompanhei os jornais televisivos, e, em sua grande maioria, a tendência foi dar publicidade principalmente aos artistas de renome nacional, os quais, se apresentavam exclusivamente no maior palco do evento, na Arena Amazonas. De qualquer forma, sobre os artistas amapaenses, houve divulgação na mídia digital, principalmente em blogs e páginas diversas encontradas nas redes sociais, como também em sites oficiais.      

     Havia 10 palcos com diversificados espetáculos e shows, porém, todas as noites, os jornais televisivos da cidade de Macapá, enfocavam pura e simplesmente o artista conhecido pela mídia nacional, em detrimento do artista local. Dessa forma, induzia o público para que o mesmo se motivasse a olhar apenas para apresentações desses famosos artistas. Além do palco principal havia o Mini Teatro Caboclo, o Palco da Rainha e Diversidade, o Circo do Meio do Mundo, entre outros. Sem pensar que o artista local, está aqui, é da gente, da terrinha, evidencia muita facilidade para que o repórter possa fazer uma ou outra entrevista. Ademais, havia espetáculos e shows para todas as idades e classes sociais. Entretanto no antepenúltimo dia, uma sexta-feira, para não passar em branco, ainda cheguei a assistir num dos jornais televisivos, uma entrevista com o artista plástico Jeriel Luz, artista amapaense, que foi meu aluno do Curso de Artes Visuais. Ainda bem! E viva nossos artistas, verdadeiros guerreiros da arte.