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segunda-feira, 27 de março de 2023

VIVA O TEATRO

 


     Hoje, 27 de março, comemora-se o dia internacional do teatro. Em relação a isso, resolvi trazer à tona, esse tema tão importante para nossa cultura, já que temos atualmente no Amapá, vários artistas profissionais do teatro, principalmente, em função da implantação do Curso de Licenciatura em Teatro da UNIFAP, que iniciou sua primeira turma no ano de 2014. Ao todo, são seis turmas que já concluíram o referido curso, sendo um total aproximado de 280 profissionais da área, levando-se em consideração que os egressos seguem caminhos diferentes: alguns encaminham-se para a carreira acadêmica, enquanto outros decidem pela carreira artística. Vale salientar ainda, nossa Pós-graduação latu senso em “Estudos Teatrais Contemporâneos”.

     Sobre a questão do teatro propriamente dito, observo que do ponto de vista histórico e com os elementos que conhecemos na atualidade, pode-se afirmar que o teatro surgiu na Grécia Clássica, embora pesquisas recentes venham demonstrar que muito antes, os egípcios, os indianos e os chineses já o praticavam. Portanto, não se pode negar que a cultura oriental é muito sedimentada, mas embora o oriente praticasse teatro antes dos gregos, essa prática acontecia primitivamente em forma de rituais religiosos.

     Todos sabem que o teatro é uma arte exclusivamente coletiva, visto que é resultado da união de várias artes, como: dança, música, canto, fala, movimento, literatura, artes visuais, arquitetura, circo, mímica, pantomima, cinema, entre outras. Todavia, na manifestação teatral, encontramos várias formas de expressão: expressão gestual; expressão verbal; expressão visual; expressão musical e expressão escrita. Mas há uma inquietação essencial, no que diz respeito aos principais elementos que constituíram a base fundamental do teatro grego.

     Em relação a essa questão, fica claro que esse alicerce remoto gira em torno de duas artes distintas: a música e a dança; como também poderia ter sido a fala, levando-se em consideração a atitude de Téspis, quando, pela primeira vez, falou no Culto a Dioniso, em primeira pessoa, a seguinte frase: “- Eu sou Dioniso”. Além de ser considerado o primeiro ator, com esse gesto e esse ato, ele também é considerado como o impulsionador da literatura ocidental. No entanto, há muitas controvérsias...!  Enquanto alguns autores defendem a dança, como princípio fundamental da origem do teatro, outros defendem a música. Sabe-se que muitos povos primitivos já praticavam a dança em suas manifestações comemorativas e religiosas, em seu livro “O Teatro Grego”, António Freire afirma que: “As primeiras sociedades primitivas acreditavam que a dança imitativa influenciava os fatos necessários à sobrevivência através de poderes sobrenaturais, por isso alguns historiadores assinalam a origem do teatro a partir desse ritual.”

     Por outro lado, essas manifestações religiosas aconteciam em círculo, como forma de cultuar os deuses, e tem relação direta com os astros e o movimento do universo. Tendo como ponto de partida de que todos os movimentos dos astros são circulares, os egípcios, por exemplo, dançavam em círculo em torno do altar, e esse fenômeno permanece hodiernamente, até os dias de hoje, como exemplo maior, temos no Brasil, a dança da ciranda e ainda vários cultos afrodescendentes, entre outros.     

     Etimologicamente o termo teatro deriva do latim theatrum e do grego theatron, que dá ao vocábulo o sentido de miradouro, praticamente, lugar de onde se vê, lugar para olhar, de theasthai, “olhar”, mais – tron, sufixo que denota “lugar”. Entendendo-se dessa maneira, que o sentido primitivo da palavra “teatro”, estava relacionado estritamente com a ideia da visão, lugar de contemplação. Esse verbete, que significava o prédio onde são realizados espetáculos, posteriormente, se tornou mais amplo e a ter maior alcance, com vários sentidos conotativos, designando peças, produção, preparação de uma peça teatral em geral, edifício, entre outros.

     Sem embargo, esse teatro do qual conhecemos na atualidade, originou-se basicamente de três festividades gregas, às quais, apresentavam características especificas com seus cultos e seus mistérios: a) dos mistérios de Delos; b) dos mistérios de Elêusis; e c) dos mistérios do culto ao deus Dioniso. Tanto em Delos quanto em Elêusis, sempre havia comemorações e festividades dedicadas a Dioniso. Todavia, acredita-se que, segundo estudos históricos e antropológicos já realizados, o culto ao deus Dioniso, é a mais provável hipótese e o principal vetor do surgimento do teatro. 

     Em função dessas atividades teatrais persistirem até nossos dias, foi que em 1961, o Instituto Internacional do Teatro da UNESCO, órgão das Nações Unidas, voltado para a educação, ciência e cultura, resolveu criar uma data dedicada às atividades culturais ligadas à representação, durante o seu IX Congresso Mundial, em Viena, Áustria. Portanto, em função da inauguração do Teatro das Nações, em Paris, França, em 27 de março de 1962, tem sido celebrado o Dia Internacional do Teatro. A data 27 de março, assinala também a inauguração das temporadas internacionais no referido teatro.

segunda-feira, 20 de março de 2023

NÍSIA FLORESTA

 


     Dionísia Gonçalves Pinto, conhecida como Nísia Floresta Brasileira Augusta, ou mais especificamente como Nísia Floresta, foi escritora, poetisa e fundou a primeira escola voltada para a educação feminista no Brasil. Nasceu no Rio Grande do Norte, em 12 de outubro de 1810, na antiga cidade de Papary, que hoje leva o seu nome, e faleceu no dia 24 de abril de 1885, na cidade de Rouen, França. Como mulher de sua época, foi protagonista nas letras, no jornalismo e nos movimentos sociais. Ela viveu em diferentes estados da federação, e é considerada a primeira feminista brasileira.

     Nísia Floresta escreveu aproximadamente quatorze obras e defendeu os direitos das mulheres, dos índios e dos escravos, como também fez parte das campanhas abolicionista e republicana. Ela influenciou as mulheres de sua época, principalmente após a fundação do “Colégio Augusto”, que se situava na Rua Direita, 163, no Rio de Janeiro. A referida escola passou a ensinar gramática, escrita e leitura do português, francês e italiano, ciências sociais e naturais, matemática, música e dança, especificamente às meninas moças daquela época.

      Em 18 de fevereiro de 1852, o pequeno povoado desmembrou-se de São José de Mipibu, tornando-se município, denominado de Vila Imperial de Papary. Em função do reconhecimento da escritora ilustre, tanto em território brasileiro como também no exterior, em 1948, a antiga cidade litorânea de Papary, no Estado do Rio Grande do Norte, em sua homenagem, adotou seu nome e passou a se chamar cidade de Nísia Floresta, embora jamais a estação de trem tenha alterado o antigo nome.

     Segundo o município, seu pseudônimo, Nísia Floresta, remete-nos ao final do seu nome Dionísia; e Floresta, origina-se do lugar em que ela nasceu, que se chamava Sítio Floresta. Por outro lado, trarei algumas reflexões em relação ao seu nome artístico, relacionando-o aqui, com o mito do deus do teatro. Em função da ira de Hera, Dionísio foi levado para ser criado no Vale do Nisa. Como o nome Zeus também podia ser escrito Dios, logo, o nome do filho de Zeus passou a ser conhecido como o Zeus de Nisa, o Zeus Nísio, ou apenas Dios, mais Nisio, igual a Dionísio. Nisa era uma montanha da Beócia, localizada na região central da Grécia, onde Dionísio foi criado. Lá também havia os Campos Elísios, ou seja, o paraíso grego.      

     Como a escritora em tela, se chamava Dionísia e era uma pessoa culta, letrada e erudita, talvez ela não tivesse apenas se ligado ao final do seu nome, Nísia, ou mesmo ao Sítio Floresta, lugar em que ela nasceu, para criar seu nome artístico, Nísia Floresta. Acredito que, por ser uma pessoa instruída, ela tinha pleno conhecimento da mitologia grega e consequentemente, do deus do vinho, Dionísio, como ainda, do Vale do Nisa, que também era uma Floresta. Lembrando que Dionísia é feminino de Dionísio. Nesse caso, podemos culminar com a seguinte conclusão: Nísia de Dionísia, e Floresta, do Sítio Floresta; como também poderia ser, Nísia do Vale de Nisa, onde viveu Dionísio, e ainda, Floresta, da qual, se compõe o próprio espaço geográfico do Vale do Nisa. De qualquer forma, já que a cidade é Nísia Floresta; a Floresta é de Nísia.

segunda-feira, 13 de março de 2023

TEATRO ROMÂNTICO

 


     Com o fim do teatro jesuítico na colônia, algumas isoladas casas de espetáculos vão surgir ainda no século XVIII, como o teatro do Padre Ventura no Rio de Janeiro, onde apresenta-se comédias entremeadas de canções, de Antônio José da Silva, nascido no Brasil, mas que passou quase toda sua vida morando em Portugal. É quando surge um dos primeiros autores brasileiro, Cláudio Manoel da Costa, com o espetáculo “O Parnaso Obsequioso”. Vila Rica inaugura sua Casa de Ópera em 1770, cujo prédio, atualmente é conhecido como Teatro Municipal de Ouro Preto e, considerado um dos mais antigos em funcionamento das Américas.

      Este, foi um período em que muitas companhias com seus espetáculos eram trazidas de Portugal e Espanha. Neste século, o que se via no Brasil eram espetáculos de companhias portuguesas, com elencos portugueses e temas portugueses. Muitos desses artistas ficaram extremamente famosos em território brasileiro. Com a falta de artistas do local, houve essa grande febre de artistas vindos de além-mar. É com a chegada do Príncipe Regente em 1808, que o teatro terá novos rumos no Brasil, visto que em 1810, será inaugurado o Real Teatro de São João, no Rio de Janeiro. Edifício onde, as companhias portuguesas também dividiam espaço com a primeira companhia brasileira, do empresário e ator, João Caetano.

     Influenciado pelo teatro francês, o Romantismo no Brasil, tem início na primeira metade do século XVIII, e surge em contraposição à enxurrada de companhias e atores europeus e principalmente portugueses, que invadiam nossas casas de espetáculos. Por outro lado, é no Romantismo que vai surgir um teatro com características nacionais, quando começa a se preocupar e enfocar temas relacionados com nosso país. A partir de então, começa a surgir os primeiros dramaturgos brasileiros, os quais, em sua maioria romancistas literários, passam também, a escrever para teatro. É quando surge Martins Pena, com seus espetáculos: “O Juiz de Paz na Roça”, “Um Sertanejo na Corte”, “A Família e a Festa na Roça”, entre outros. Suas comédias criticam, com muito humor, a sociedade da época.

     Outro autor ligado ao Romantismo é o maranhense Gonçalves Dias, ele foi poeta, jornalista e dramaturgo, escreveu o texto teatral “Leonor de Mendonça”, que é considerado um dos primeiros textos do teatro brasileiro. Enfoca um triângulo amoroso, que envolve os seguintes personagens: Leonor de Mendonça – Duquesa de Bragança; D. Jaime – Duque de Bragança, e Antônio Alcoforado. O texto nos permite fazer reflexões sobre o teatro romântico no Brasil e a evolução das conquistas femininas ao longo do tempo.

     O poeta Castro Alves também deu sua contribuição para o teatro brasileiro com a peça, “Gonzaga” ou “A Revolução de Minas”, ele expressou em sua obra muitos problemas sociais que havia no Brasil de sua época. “A Torre em Concurso”, é uma comédia do também romancista Joaquim Manoel de Macedo. Ele foi professor, jornalista e dramaturgo. José de Alencar também entra nesse rol, e vem engrandecer o repertório nacional com “O Demônio Familiar”, que trata dos costumes da sociedade, principalmente o casamento por dinheiro.

segunda-feira, 6 de março de 2023

DE GAZZETTA À GAZETA

 

 

   Minha primeira poesia foi grafada aos quinze anos de idade, daí em diante, nunca parei de escrever e, já publiquei 28 livros. Quando na década de 1980, me tornei universitário, passei a produzir textos sobre os espetáculos de teatro, e mesmo que não tivesse algum meio para publicá-los, eu os entregava aos diretores de cada peça que eu havia assistido, para que eles pudessem debater com elenco e grupo, sobre seu próprio trabalho, a partir da visão de alguém do público.

     Ainda na universidade, meus professores ficaram sabendo que eu sempre escrevia quando assistia algum espetáculo teatral. Havia um educador que tinha uma coluna semanal num jornal da cidade de João Pessoa. Dado momento, ele desistiu de continuar com seus artigos, e me perguntou se eu gostaria de assumi-la, aceitei imediatamente tal proposta. Comecei escrevendo semanalmente para o “Jornal O Combate”, desde então, não parei mais. Como universitário, eu tive a honra de assumir uma coluna semanal e consegui, na época, manter  por vários anos, esse espaço no jornal.

     A partir de 1995, já em Macapá, passei a escrever, inicialmente, para o Jornal do Dia. como na época não havia internet, era uma maratona, eu tinha que escrever no computador, passar o artigo para um disco, conhecido por disquete, me dirigir pessoalmente à redação do jornal, para que o jornalista pudesse copiar do disquete para seu computador. Aqui, já contribui com vários jornais, como: Jornal do Dia, o Liberal-Macapá, Diário do Amapá, e A Gazeta de Macapá, no qual venho assumindo a coluna “Arque Com Arte”, desde o ano de 2006. Aproveitando essas elucubrações, resolvi homenagear este diário eletrônico, com algumas reflexões sobre sua origem.

     Na verdade, a palavra Gazeta designava originalmente, o tesouro do rei da Pérsia. Mas, ficou mais difundida na cidade de Veneza – Itália. Vem de gazzetta, de gazza, que era uma moeda italiana do século XVI. Tal moeda era cunhada em Veneza e proibida em Florença. Ainda no século XVI, a palavra gazeta, se tornou apelido de jornal, visto que uma gazzetta era o preço que se cobrava na cidade de Veneza, ao pedestre que quisesse dar uma lida no jornal, sem compra-lo. Também há quem diga que o próprio exemplar do jornal, custava uma gazzetta, que era a moeda do lugar.

 

     Portanto, gazzetta tornou-se apelido de jornal, durante início e meados do século XVI. Essa palavra se proliferou por vários países, na Inglaterra foi fundado em 1700, o The Oxford Gazette, que depois se tornou London Gazette. Esse verbete também passou a estampar o principal jornal público de um governo, o que atualmente é conhecido por Diário Oficial. Com o passar do tempo, vários outros países também criaram seus jornais: em 1699, o Edinburgh Gazette, na Escócia; o Dublin Gazette em 1705, na Irlanda; O Gazeta de Notícias, em 1879, no Rio de Janeiro - Brasil; O Belfast Gazette em 1921, na Irlanda do Norte, entre outros. Atualmente temos representações do Jornal A Gazeta em vários Estados da Federação. É em função de tudo isso, que também temos aqui, nosso jornal “A Gazeta de Macapá”. Parabéns à nossa Gazeta.