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domingo, 27 de março de 2022

DIA INTERNACIONAL DO TEATRO

 

 

     Hoje, 27 de março, comemora-se o dia internacional do teatro. Em relação a isso, resolvi trazer à tona, esse tema tão importante para nossa cultura, já que temos atualmente no Amapá, vários artistas profissionais do teatro, principalmente, em função da implantação do Curso de Licenciatura em Teatro da UNIFAP, que iniciou sua primeira turma no ano de 2014. Ao todo, são cinco turmas que já concluíram o referido curso, sendo um total aproximado de 250 profissionais da área, levando-se em consideração que os egressos seguem caminhos diferentes: alguns encaminham-se para a carreira acadêmica, enquanto outros decidem pela carreira artística.

     Sobre a questão do teatro propriamente dito, observo que do ponto de vista histórico e com os elementos que conhecemos na atualidade, pode-se afirmar que o teatro surgiu na Grécia Clássica, embora pesquisas recentes venham demonstrar que muito antes, os egípcios, os indianos e os chineses já o praticavam. Portanto, não se pode negar que a cultura oriental é muito sedimentada, mas embora o oriente praticasse teatro antes dos gregos, essa prática acontecia primitivamente em forma de rituais religiosos.

     Todos sabem que o teatro é uma arte exclusivamente coletiva, visto que é resultado da união de várias artes, como: dança, música, canto, fala, movimento, literatura, artes visuais, arquitetura, circo, mímica, pantomima, cinema, entre outras. Todavia, na manifestação teatral, encontramos várias formas de expressão: expressão gestual; expressão verbal; expressão visual; expressão musical e expressão escrita. Mas há uma inquietação essencial, no que diz respeito aos principais elementos que constituíram a base fundamental do teatro grego.

     Em relação a essa questão, fica claro que esse alicerce remoto gira em torno de duas artes distintas: a música e a dança; como também poderia ter sido a fala, levando-se em consideração a atitude de Téspis, quando, pela primeira vez, falou no Culto a Dioniso, em primeira pessoa, a seguinte frase: “- Eu sou Dioniso”. Além de ser considerado o primeiro ator, com esse gesto e esse ato, ele também é considerado como o impulsionador da literatura ocidental. No entanto, há muitas controvérsias...!  Enquanto alguns autores defendem a dança, como princípio fundamental da origem do teatro, outros defendem a música. Sabe-se que muitos povos primitivos já praticavam a dança em suas manifestações comemorativas e religiosas, em seu livro “O Teatro Grego”, António Freire afirma que: “As primeiras sociedades primitivas acreditavam que a dança imitativa influenciava os fatos necessários à sobrevivência através de poderes sobrenaturais, por isso alguns historiadores assinalam a origem do teatro a partir desse ritual.”

     Por outro lado, essas manifestações religiosas aconteciam em círculo, como forma de cultuar os deuses, e tem relação direta com os astros e o movimento do universo. Tendo como ponto de partida de que todos os movimentos dos astros são circulares, os egípcios, por exemplo, dançavam em círculo em torno do altar, e esse fenômeno permanece hodiernamente, até os dias de hoje, como exemplo maior, temos no Brasil, a dança da ciranda e ainda vários cultos afrodescendentes, entre outros.     

     Etimologicamente o termo teatro deriva do latim theatrum e do grego theatron, que dá ao vocábulo o sentido de miradouro, praticamente, lugar de onde se vê, lugar para olhar, de theasthai, “olhar”, mais – tron, sufixo que denota “lugar”. Entendendo-se dessa maneira, que o sentido primitivo da palavra “teatro”, estava relacionado estritamente com a ideia da visão, lugar de contemplação. Esse verbete, que significava o prédio onde são realizados espetáculos, posteriormente, se tornou mais amplo e a ter maior alcance, com vários sentidos conotativos, designando peças, produção, preparação de uma peça teatral em geral, edifício, entre outros.

     Sem embargo, esse teatro do qual conhecemos na atualidade, originou-se basicamente de três festividades gregas, às quais, apresentavam características especificas com seus cultos e seus mistérios: a) dos mistérios de Delos; b) dos mistérios de Elêusis; e c) dos mistérios do culto ao deus Dioniso. Tanto em Delos quanto em Elêusis, sempre havia comemorações e festividades dedicadas a Dioniso. Todavia, acredita-se que, segundo estudos históricos e antropológicos já realizados, o culto ao deus Dioniso, é a mais provável hipótese e o principal vetor do surgimento do teatro. 

     Em função dessas atividades teatrais persistirem até nossos dias, foi que em 1961, o Instituto Internacional do Teatro da UNESCO, órgão das Nações Unidas, voltado para a educação, ciência e cultura, resolveu criar uma data dedicada às atividades culturais ligadas à representação, durante o seu IX Congresso Mundial, em Viena, Áustria. Portanto, em função da inauguração do Teatro das Nações, em Paris, França, em 27 de março de 1962, tem sido celebrado o Dia Internacional do Teatro. A data 27 de março, assinala também a inauguração das temporadas internacionais no referido teatro.

terça-feira, 22 de março de 2022

PERÍODO CLÁSSICO

 


     Quando se fala da Grécia, muita gente cita o Período Clássico. Primeiro houve o período Pré-Homérico; sendo o segundo, Período Homérico; o terceiro, o Período Arcaico e após, o Período Clássico. O Período Clássico, se concentrou entre os séculos V e IV a.C. Apesar de ter sido um período bastante conturbado em relação aos conflitos armados internos. Nesse pequeno período de duzentos anos, isto não invalidou que a civilização grega conquistasse seu apogeu, quando ascendeu em várias áreas como: pintura em vasos, escultura, arquitetura, filosofia, matemática, geometria, astronomia, política e na constituição do regime democrático, o que, consequentemente fez surgir a arte teatral. Com destaque para Péricles, que aprimorou a democracia ateniense, como também para Pisístrato, que instituiu os festivais e os concursos entre os poetas trágicos. Por sua vez, o Período Clássico foi sucedido pelo Período Helenístico.

     E foi exatamente no Período Clássico, quando as guerras, cavaleiros e heróis deixaram de existir, e quando a sociedade grega implantou a democracia, fator primordial para que pudesse existir o teatro. A grande questão que diverge da Grécia e de países antigos, em relação ao surgimento do teatro, é que enquanto que na China, Índia e Egito havia grandes impérios, onde a primeira e última lei era a voz do Imperador, foi uma época em que, por milênios, o povo não podia ter opinião própria. Já na Grécia, com a democracia, o povo conquistou espaço para poder divergir; dar sua opinião e contribuir ativamente com o desenvolvimento do Estado democrático.

     Imagine-se uma festa tradicional num desses impérios? Por acaso, se alguém interviesse com alguma opinião diferente, automaticamente, a partir da flecha de algum arqueiro, o rei poderia decretar a morte daquele que infringisse a lei convencional imposta. Por outro lado, essas manifestações meramente lúdicas, precisavam de alguma coisa fundamental para chegar ao nível dramático, que era o conflito, ou uma maior complexidade dramática.

     Outra questão, é que essas representações religiosas não respeitavam as três unidades clássicas, espaço, tempo e lugar. Já na Grécia Clássica, em meio às comemorações tradicionais em honra ao deus Dioniso, enquanto as pessoas, seguindo a fala do Corifeu, em coro, davam viva ao deus, lembrando que esse diálogo acontecia em terceira pessoa; um cidadão muito destemido, chamado Téspis, interveio nesse debate. Ele entra repentinamente nesse diálogo e grita em primeira pessoa: - Eu sou Dioniso! Frente a essas relações interpessoais, nesse culto de louvação ao deus, entre músicas e danças, nesse momento glorioso da sociedade grega, Téspis cria de uma só vez, o personagem, o teatro e a dramaturgia.

     Aqui, podemos fazer a seguinte indagação: porque ao longo dos anos, os ritos dramáticos religiosos desses povos que antecederam os gregos, durante centenas de anos, não conseguiram avançar, se hibridizar, se reconstruir e se transformar em novas manifestações culturais? Como se pode perceber, a grande maioria desses povos antigos era regida por impérios, cujos imperadores representavam, pari passu, a justiça e os deuses aqui na terra. Cada imperador era onipotente e onipresente e impunham suas leis que eram absolutas e indestrutíveis. Mas na Grécia foi diferente e esse diferente fez surgir o teatro que hoje é secular.

segunda-feira, 14 de março de 2022

FILOSOFIA E TEATRO

 


     Com influência dos pensamentos do filósofo Schopenhauer, e do músico Richard Wagner, a música transforma-se num pilar fundamental em Nietzsche, que passa a defende-la como o principal vetor do surgimento do teatro. Ele, reconhece que a música é arte propriamente dionisíaca. E vê na tragédia, um substrato musical-dionisíaco. Acredita ainda, que o teatro e especificamente a tragédia, são frutos da relação entre Apolo e Dioniso, observando que, enquanto o apolíneo está ligado ao sonho, o dionisíaco está ligado à ideia da embriaguez. Desta forma, o impulso criador da arte, poderia emergir da imagem do sonho apolíneo, como também do êxtase dionisíaco. Concluindo que a tragédia grega, consequentemente, aflora da relação incipiente, paralela e intrínseca, do princípio ativo entre o mito de Apolo e o mito de Dioniso. Muito anterior a Nietzsche, na sua Poética, capítulo IV, Aristóteles afirmou que a tragédia teve origem nos solistas do ditirambo. Por outro lado, Detraci Regula, em seu livro “Os Mistérios de Ísis: seu Culto e Magia”, entende que: “A arte do drama começou nos templos. Embora nos lembremos, atualmente, de muitos dramaturgos gregos e romanos, esquecemos que os primeiros autores tiravam inspiração dos dramas de mistério representados nos templos em honra aos deuses.  E os templos, por sua vez, tomavam emprestado os antigos dramas da terra de Khem – O Egito – especialmente dos muitos dramas representados para ilustrar a vida, morte e ressureição de Osíris”.

     Tendo-se, segundo Nietzsche, a música como a base fundamental do teatro, se faz necessário enfocar aqui, que mesmo antes do aparecimento do deus Dioniso, na Grécia Clássica, a música e o canto eram o sustentáculo da gênese dos mistérios de Osíris, no Egito, como explica o estudioso Jean Houston, em sua obra, “A Paixão de Ísis e Osíris: a união de duas almas: “Ninfas e outros seres sobrenaturais acompanham Osíris em sua jornada, enchendo o ar de música e cantos. A música e os cantos, além do ensinamento persuasivo e sensato, fazem com que os povos sejam rapidamente civilizados”.

     Não só nos ritos de Osíris, também vamos encontrar manifestações musicais em outras deidades, como por exemplo, Hator. Sobre essa deusa, ainda nos fala Houston: “Uma vez por ano a deusa Hator, de Denderah, navegava entre nuvens de incenso e uma multidão de cantores, dançarinos e sacerdotisas até o Templo de Hórus, em Edfu”.

     Por outro lado, também vamos encontrar vestígios da música, nas dramatizações ritualísticas e religiosas na China e no Japão. Pela sua tradição, na China, a acrobacia se desenvolveu pari passu com a música, enquanto que no Japão, em relação aos seus teatros primitivos como o bugaku e o gigaku, segundo Margot Berthold : “A música era a ponte entre o bugaku e o gigaku primitivo - a música instrumental da corte conhecida como gagaku que era intimamente aparentada com a música chinesa do período Tang. O nome bugaku, “dança e música”, dá uma ideia de seu caráter”.

 

segunda-feira, 7 de março de 2022

CARNAVAL DA PANDEMIA

 


     Último final de semana foi dedicado ao carnaval, que posso assim dizer: carnaval da pandemia. Segundo ano que, via de regra, em função da covid19, vem sendo cancelado. No entanto, percebe-se na prática, como também nas mídias digitais, a quantidade de pessoas que se deslocaram de suas residências para aproveitarem o espichado final de semana. Apesar pelo momento que passamos, é certo que aglomerações aconteceram entre as pessoas, na praia, em locais abertos e também fechados.

     O carnaval é um momento dionisíaco no Brasil, mais conhecido e divulgado em nosso país. É o período momesco, em que todo prefeito entrega a responsabilidade e a administração da sua cidade ao Rei Momo, o que, em muitos casos, não aconteceu neste ano. Quando normalmente, o Rei Momo se torna o responsável pela cidade.  e quem ditará as regras é o povo. É um dos momentos mais profundos da democracia e da liberdade de expressão numa sociedade cheia de tramoias, desonestidades, mentiras, estelionatários e atitudes espúrias. 

     É um momento de transe, onde o povo pode jogar e desaguar suas mágoas e sua eterna vontade de continuar sobrevivendo frente às vicissitudes impostas pela sociedade moderna. Fase em que o pensamento dionisíaco lidera todas as expectativas. É um tempo, onde tudo passa a ser verdadeiro, embora pareça ficção. Carnaval vem de “carro navalis”, ou “carro naval”, que era uma espécie de carro que saía pelas ruas do Antigo Egito, em homenagem aos deuses Ísis e Osíris. Era uma espécie de carro alegórico, com uma espécie de navio montado na sua estrutura. Nas festividades ao deus grego Dioniso, também havia desfile desse tipo de carro. Carros semelhantes também participaram da festa em homenagem à aclamação da rainha Maria I, de Lisboa, no ano de 1777, em Mazagão Velho.

     Há vários anos que não acontece o desfile de Samba no Sambódromo, e há dois anos que o carnaval foi totalmente cancelado, em função da covid19. No Amapá, uma das mais significativas resistência e que se mantêm presente todos os anos nas ruas de Macapá, é o “Bloco A Banda” que sai todas as terças-feiras de carnaval. Claro que este ano, a pandemia continua a inviabilizar todas essas manifestações culturais. Mas, “A Banda” é o verdadeiro representante dos saltimbancos, da população menos abastarda, do povo propriamente dito. É a nossa verdadeira Commedia dell’Arte.

     O carnaval de rua de Macapá merece ser olhado pelos órgãos de cultura do município.  Sem dúvida, já é tradição o trajeto em que a Banda desfila na terça-feira gorda. Portanto, se faz necessário que os órgãos de cultura do município se reúnam para determinar, implantar e organizar por completo, nosso carnaval de rua. Além da Banda que sai na terça-feira, bastava determinar o mesmo itinerário, com uma vasta programação para o domingo, que poderia ser para o desfile de pequenos blocos; à tarde, desfile da bateria das escolas de samba arrastando a população para as ruas; na segunda feira, desfile de pequenos blocos pela manhã e à tarde promoveria o desfile de grandes blocos que antes se apresentavam no sambódromo; na terça feira pela manhã iniciaria a concentração para a saída da banda à tarde. Este se tornaria o grande carnaval de rua da cidade de Macapá.