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domingo, 29 de março de 2020

O TEATRO E SUA ORIGEM



     Do ponto de vista histórico e com os elementos que conhecemos na atualidade, poderíamos afirmar que o teatro surgiu na Grécia Clássica, embora pesquisas recentes venham demonstrar que muito antes, os egípcios, os indianos e os chineses já o praticavam. Portanto, não se pode negar que a cultura oriental é muito sedimentada, mas embora o oriente praticasse teatro antes dos gregos, essa prática acontecia primitivamente em forma de rituais religiosos.
     Aqui poderíamos fazer a seguinte indagação: porque ao longo dos anos, os ritos dramáticos religiosos desses povos que antecederam os gregos, durante centenas de anos, não conseguiram avançar, se hibridizar, se reconstruir e se transformar em novas manifestações culturais? Como se pode perceber, a grande maioria desses povos antigos era regida por impérios, cujos imperadores representavam a justiça e os deuses aqui na terra. Cada imperador era onipotente e onipresente e impunha suas leis que eram absolutas e indestrutíveis.
     O Egito com seus faraós é um grande exemplo disso. O povo egípcio seguia cegamente essas leis, e por vários séculos não se insurgiam em relação a elas.  Aceitou essas leis impostas pelo faraó, que ao mesmo tempo era o juiz e o sacerdote de deus. Para Margot Berthold, “Esse paciente apego à tradição sufocou as sementes do drama”. (Margot Berthold, p. 15). A questão é que esses reinos antigos, não abriram espaço para o desenvolvimento de um indivíduo livre, pensante e que tivesse direta participação na vida da comunidade.
     Este fato era impensável para aqueles que reinavam e dominavam seu povo, e se algum cidadão tentasse participar ou opinar contrariamente ao pensamento do rei, seria automaticamente morto por centenas de flechas, pela elite dos arqueiros fiéis ao rei. De acordo com Margot Berthold: “Faltava ao egípcio o impulso da rebelião; não conhecia o conflito entre a vontade do homem e a vontade dos deuses, de onde brota a semente do drama”. (Margot Berthold, p 15).
     Para que o teatro obtivesse novo impulso nessas antigas manifestações religiosas, faltou, estritamente, o que aconteceu na sociedade grega: a democracia. Nesse novo regime, o cidadão teve direito a voz, além do que possuía a abertura política de um confronto pessoal com o Estado de direito.
     É notório que a Grécia antiga tenha herdado esses rituais, entretanto não podemos negar que foi justamente nesse país que os primitivos rituais foram, ao longo dos anos, se transformando, tomando novas formas como festividades e atividades culturais até determinar os cultos teatrais como forma de representação e arte, à qual conhecemos na contemporaneidade.
     Etimologicamente, o termo teatro deriva do latim theatrum e do grego theatron, que dá ao vocábulo o sentido de miradouro, praticamente, lugar de onde se vê, lugar para olhar, detheasthai, “olhar”, mais – tron, sufixo que denota “lugar”. Entendendo-se dessa maneira, que o sentido primitivo da palavra “teatro”, estava relacionado estritamente com a ideia da visão. Esse verbete, que significava o prédio onde são realizados espetáculos, posteriormente se tornou mais amplo e a ter maior alcance, com vários sentidos conotativos, designando peças, produção, preparação de uma peça teatral em geral, entre outros.
     Esse teatro do qual conhecemos na atualidade, originou-se basicamente de três festividades: a) dos mistérios de Delos; b) da louvação às divindades Quintelanas – Elêusis, Demótes e Proserpina; e c) do culto ao Deus Dionísio. Sendo que esta última versão se considera como a mais provável, segundo estudos históricos e antropológicos já realizados.
     Sabe-se que uma vez ao ano, justamente por ocasião das vindimas (colheita de uvas), prestava-se homenagem ao Deus Dionísio; Deus da uva e do vinho; da embriaguez e da fertilidade. Geralmente, nesses cultos sacrificava-se um animal, mais praticamente um bode que, por sua vez, significa tragos em grego, de onde surge etimologicamente a palavra tragédia.
     Comumente ao som de música de flautas, as bacantes dançavam em honra ao deus Dionísio, juntando-se aos sátiros, também dançarinos, que vestidos à caráter, imitavam bodes, que, para a cultura grega desse período significavam os companheiros do deus. Depois de algumas horas, já embriagados, entregavam-se com entusiasmo a esse frenesi, esse culto, a esse verdadeiro espetáculo. Nessas condições, o teatro tem, notadamente, origem religiosa e campestre.
     Com o passar do tempo, o próximo passo foi a organização de procissões, que se tornaram muito mais religiosas do que profanas. Essas procissões tinham caráter comum, onde todos os celebrantes se juntavam tendo à frente jovens que cantavam um hino improvisado, chamado “ditirambo”. E assim, giravam em torno do altar do deus, agradecendo pela colheita da uva e pelo sexo, que significava a fertilidade da vida. Em seguida o coro separou-se do recitador e nesse momento crucial da história do teatro, havia nascido o primeiro ator. Contudo, na procissão já se podia constatar três artes: primeiramente, o canto, depois a dança e em terceiro a atuação e representação. Nesse caso, à frente vinha o corifeu – de onde surge a palavra coro – vestido com pele de bode, e todo o resto do grupo respondia ao ditirambo, atuando como um verdadeiro balé litúrgico, numa fusão do trágico e do cômico.
     E assim, constitui-se a tragédia: o ator e o coro se respondem cantando mutuamente, e em seguida, o ator fala e o coro canta. Posteriormente o ator dialoga com o corifeu, representante do coro. Vale salientar que nesse momento embrionário da tragédia não havia atos nem intervalos, sendo a mesma, composta de partes dialogadas e partes faladas.
     Aqui, revela-se o verdadeiro espírito da democracia grega, sua gênese, onde os cidadãos tinham o pleno direito de se manifestar e participar ativamente daquela sociedade. Foi basicamente desse hino, dessa primitiva música que, segundo Nietzsche, nasceu o teatro grego. Aqui, indico aos interessados, a leitura do livro “o nascimento da tragédia” do referido autor.
     Para Augusto Boal, teatro era o povo cantando livremente ao ar livre. Naquele momento, foi o povo grego quem criou e ao mesmo tempo se tornou o próprio destinatário do embrionário espetáculo. E foi exatamente desse coro, do contraste entre o espírito Dionisíaco e Apolíneo que nasceram a Tragédia e a Comédia. Etimologicamente, tragédia deriva do grego tragoidia que significa uma peça ou poema com final infeliz. Aparentemente vem de tragos, que quer dizer “bode”, mais oidea, “canção”. Origina-se basicamente do drama satírico, onde os atores se vestiam de sátiros, com suas pernas cabeludas e chifres de bode. Por outro lado, comédia também emana do grego komoidia, sendo um espetáculo divertido, comédia, de komodios, “cantor em festas”, de komos, “festa, farra”, mais oidos, “poeta, cantor”. Num certo momento da história, essa palavra passou a designar “poema narrativo”, em função disso, temos “A Divina Comédia” de Dante Alighieri, o que na verdade não reflete a seriedade da referida obra.
     A tragédia tinha como principais características o terror e a piedade que despertava no público. Era constituída de cinco atos e voltava-se para o resgate da mitologia grega, com seus deuses, heróis e feitos. A comédia era dividida em duas partes com um intervalo. Tratava dos homens comuns e de sua vida cotidiana. A comédia representava o vício, enquanto a tragédia, a virtude.
     Aqui faço uma relação de semelhanças com o Círio de Nazaré, quando todos os anos, no mês de outubro, em Belém do Pará e em várias cidades da região norte, o povo se reúne para louvar a sua santa (deusa) Virgem de Nazaré. Neste caso, com características próprias de uma cultura contemporânea do século XXI. É interessante saber que apesar da distância cronológica, manifestações semelhantes existem entre esses dois fenômenos religiosos, como por exemplo: o vigário tomando o lugar do corifeu, quando fala uma estrofe de uma oração, e o povo responde automaticamente, representando o coro.
     Os três grandes trágicos gregos foram: Ésquilo, Sófocles e Eurípedes. Théspis foi o criador do teatro ambulante, o qual conhecemos hoje como teatro mambembe, mas infelizmente todos os seus textos se perderam. Também foi ele quem inventou as máscaras. Representava seus papéis trágicos, inicialmente pintando o rosto com matéria prima da época, depois cobrindo o rosto com folhas de árvores, em seguida introduziu o uso de verdadeiras máscaras.
     Chegou um momento em que o Estado tomou para si a organização do teatro na antiga Grécia, quando instituiu concursos entre os poetas trágicos - mais conhecidos atualmente como dramaturgos. Isto veio a acontecer principalmente, a partir do tirano Pisístrato que governou Atenas por 19 anos consecutivos até sua morte em 527 a.C., por causa natural.   Durante seu governo instituiu novos festivais como as Grandes e as Pequenas Dionísias. Nesse ínterim, por volta de 534 a.C., as Grandes Dionísias passaram a incluir na sua programação um concurso de tragédias. As Grandes Dionisíacas ou Dionisíacas Urbanas se transformaram no ponto culminante e festivo da vida religiosa, intelectual e artística da cidade estado de Atenas. Os referidos festivais duravam seis dias consecutivos.
     O sentido fundamental dessas comemorações não objetivava somente divertir a população, mas por outro lado, servia também como um meio de propaganda ideológica, visto que na época, segundo (Hauser, 1968), “os tiranos empregam a arte não só como meio de adquirir glória e como instrumento de propaganda, mas também como ópio para aturdir seus súditos”, em consequência, o povo imediatamente acolheu essa forma artística que se disseminou e se tornou milenar no momento atual da história do homem.
     Em função dessas atividades teatrais persistirem até nossos dias, foi que em 1961, o Instituto Internacional do Teatro da UNESCO, órgão das Nações Unida, voltado para a educação, ciência e cultura, resolveram criar uma data dedicada às atividades culturais ligadas à representação, durante o seu IX Congresso Mundial, em Viena, Áustria. Portanto, em função da inauguração do Teatro das Nações, em Paris, França, em 27 de março de 1962, tem sido celebrado o Dia Internacional do Teatro. A data 27 de março, assinala também a inauguração das temporadas internacionais no referido teatro.

Referências Bibliográficas
ARAÚJO, Hilton Carlos de. Artes Cênicas: introdução à interpretação teatral. Rio de Janeiro, AGIR, 1986.
BERTHOLD, Margot. História Mundial do Teatro. 5ª ed. São Paulo: Perspectiva, 2011.
BOAL, Augusto. Teatro do Oprimido. Rio de Janeiro. Civilização Brasileira, 1983.
HAUSER, Arnold. Historia Social de la literatura y el arte. Cuba. Instituto Cubano del Libro, 1968.

terça-feira, 24 de março de 2020

DIA INTERNACIONAL DO TEATRO




     Próxima sexta-feira (27), será comemorado o dia internacional do teatro.  E aqui observo os dois principais textos que surgiram na Grécia Clássica: Tragédia e Comédia. A tragédia tinha como principais características o terror e a piedade que despertava no público. Era constituída de cinco atos e voltava-se para o resgate da mitologia grega, com seus deuses, heróis e feitos. A comédia era dividida em duas partes com um intervalo. Tratava dos homens comuns e de sua vida cotidiana. A comédia representava o vício, enquanto a tragédia, a virtude.   
          Os três grandes trágicos gregos foram: Ésquilo, Sófocles e Eurípedes. Théspis foi o criador do teatro ambulante, o qual conhecemos hoje como teatro mambembe, mas infelizmente todos os seus textos se perderam. Também foi ele quem inventou as máscaras. Representava seus papéis trágicos, inicialmente pintando o rosto com matéria prima da época, depois cobrindo o rosto com folhas de árvores, em seguida introduziu o uso de verdadeiras máscaras.
     Chegou um momento em que o Estado tomou para si a organização do teatro na antiga Grécia, quando instituiu concursos entre os poetas trágicos -  mais conhecidos atualmente como dramaturgos. Isto veio a acontecer principalmente, a partir do tirano Pisístrato que governou Atenas por 19 anos consecutivos até sua morte em 527 a.C., por causa natural.   Durante seu governo instituiu novos festivais como as Grandes e as Pequenas Dionísias. Nesse ínterim, por volta de 534 a.C., as Grandes Dionísias passaram a incluir na sua programação um concurso de tragédias. As Grandes Dionisíacas ou Dionisíacas Urbanas se transformaram no ponto culminante e festivo da vida religiosa, intelectual e artística da cidade estado de Atenas. Os referidos festivais duravam seis dias consecutivos.
     O sentido fundamental dessas comemorações não objetivava somente divertir a população, mas por outro lado, servia também como um meio de propaganda ideológica, visto que na época, segundo Arnold Hauser, em seu livro História Social da Literatura e da Arte, “os tiranos empregam a arte não só como meio de adquirir glória e como instrumento de propaganda, mas também como ópio para aturdir seus súditos”, em consequência, o povo imediatamente acolheu essa forma artística que se disseminou e se tornou milenar no momento atual da história do homem.
     Em função dessas atividades teatrais persistirem até nossos dias, foi que em 1961, o Instituto Internacional do Teatro da UNESCO, órgão das Nações Unida, voltado para a educação, ciência e cultura, resolveram criar uma data dedicada às atividades culturais ligadas à representação, durante o seu IX Congresso Mundial, em Viena, Áustria. Portanto, em função da inauguração do Teatro das Nações, em Paris, França, em 27 de março de 1962, tem sido celebrado o Dia Internacional do Teatro. A data 27 de março, assinala também a inauguração das temporadas internacionais no referido teatro.


DIONÍSIO E O TEATRO




     Etimologicamente o termo teatro deriva do latim theatrum e do grego theatron, que dá ao vocábulo o sentido de miradouro, praticamente, lugar de onde se vê, lugar para olhar, detheasthai, “olhar”, mais – tron, sufixo que denota “lugar”. Entendendo-se dessa maneira, que o sentido primitivo da palavra “teatro”, estava relacionado estritamente com a ideia da visão. Esse verbete, que significava o prédio onde são realizados espetáculos, posteriormente se tornou mais amplo e a ter maior alcance, com vários sentidos conotativos, designando peças, produção, preparação de uma peça teatral em geral, entre outros.
     Esse teatro do qual conhecemos na atualidade, originou-se basicamente de três festividades: a) dos mistérios de Delos; b) da louvação às divindades Quintelanas – Elêusis, Demótes e Proserpina; e c) do culto ao Deus Dionísio. Sendo que esta última versão se considera como a mais provável, segundo estudos históricos e antropológicos já realizados.
     Sabe-se que uma vez ao ano, justamente por ocasião das vindimas (colheita de uvas), prestava-se homenagem ao Deus Dionísio; Deus da uva e do vinho; da embriaguez e da fertilidade. Geralmente, nesses cultos sacrificava-se um animal, mais praticamente um bode que, por sua vez, significa tragos em grego, de onde surge etimologicamente a palavra tragédia.
     Comumente ao som de música de flautas, as bacantes dançavam em honra ao Deus Dionísio, juntando-se aos sátiros, também dançarinos, que vestidos à caráter, imitavam bodes, que, para a cultura grega desse período significavam os companheiros do Deus. Depois de algumas horas, já embriagados, entregava-se com entusiasmo a esse frenesi, esse culto, a esse verdadeiro espetáculo. Nessas condições, o teatro tem, notadamente, origem religiosa e campestre.
     Com o passar do tempo, o próximo passo foi a organização de procissões, que se tornaram muito mais religiosas do que profanas. Essas procissões tinham caráter comum, onde todos os celebrantes se juntavam tendo à frente jovens que cantavam um hino improvisado, chamado “ditirambo”. E assim, giravam em torno do altar do Deus, agradecendo pela colheita da uva e pelo sexo, que significava a fertilidade da vida. Em seguida o coro separou-se do recitador e nesse momento crucial da história do teatro, havia nascido o primeiro ator. Contudo, na procissão já se podia constatar três artes: primeiramente, o canto, depois a dança e em terceiro a atuação e representação. Nesse caso, à frente vinha o corifeu – de onde surge a palavra coro – vestido com pele de bode, e todo o resto do grupo respondia ao ditirambo, atuando como um verdadeiro balé litúrgico, numa fusão do trágico e do cômico.

sexta-feira, 13 de março de 2020

O TEATRO E SUA ORIGEM



     Em função de que no mês de março se comemora o dia internacional do teatro, durante este mês, dedicarei esta coluna a esta arte milenar. Do ponto de vista histórico e com os elementos que conhecemos na atualidade, poderíamos afirmar que o teatro surgiu na Grécia Clássica, embora pesquisas recentes venham demonstrar que muito antes, os egípcios, os indianos e os chineses já o praticavam. Portanto, não se pode negar que a cultura oriental é muito sedimentada, mas, embora o oriente praticasse teatro antes dos gregos, essa prática acontecia primitivamente em forma de rituais religiosos.
     Aqui poderíamos fazer a seguinte indagação: porque ao longo dos anos, os ritos dramáticos religiosos desses povos que antecederam os gregos, durante centenas de anos, não conseguiram avançar, se hibridizar, se reconstruir e se transformar em novas manifestações culturais? Como se pode perceber, a grande maioria desses povos antigos era regida por impérios, cujos imperadores representavam a justiça e os deuses aqui na terra. Cada imperador era onipotente e onipresente e impunham suas leis que eram absolutas e indestrutíveis.
     O Egito com seus faraós é um grande exemplo disso. O povo egípcio seguia cegamente essas leis, e por vários séculos não se insurgiam em relação a elas.  Aceitou essas leis impostas pelo faraó, que ao mesmo tempo era o juiz e o sacerdote de deus. Em seu livro História Mundial do Teatro, Margot Berthold, afirma que: “Esse paciente apego à tradição sufocou as sementes do drama”. A questão é que esses reinos antigos, não abriram espaço para o desenvolvimento de um individuo livre, pensante e que tivesse direta participação na vida da comunidade.
     Este fato era impensável para aqueles que reinavam e dominavam seu povo, e se algum cidadão tentasse participar ou opinar contrariamente ao pensamento do rei, seria automaticamente morto por centenas de flechas, pela elite dos arqueiros fiéis ao rei. De acordo com Margot Berthold: “Faltava ao egípcio o impulso da rebelião; não conhecia o conflito entre a vontade do homem e a vontade dos deuses, de onde brota a semente do drama”. 
     Para que o teatro obtivesse novo impulso nessas antigas manifestações religiosas, faltou, estritamente, o que aconteceu na sociedade grega: a democracia. Nesse novo regime, o cidadão teve direito a voz, além do que possuía a abertura de um confronto pessoal com o Estado de direito.
     É notório que a Grécia antiga tenha herdado esses rituais, entretanto não podemos negar que foi justamente nesse país que os primitivos rituais foram, ao longo dos anos, se transformando, tomando novas formas como festividades e atividades culturais até determinar os cultos teatrais como forma de representação e arte, à qual conhecemos hoje.


domingo, 1 de março de 2020

CARNAVAL E COMMEDIA DELL’ARTE



    
      A Commedia dell’Arte surgiu na Itália no século XVI, foi um movimento em contraposição à commedia erudita, que era um teatro literário culto. Ao contrário dos grupos acadêmicos, foram os primeiros atores profissionais. Teve sua origem nos mimos ambulantes, nos prestidigitadores e improvisadores. Também houve influência do carnaval. Eram companhias de cunho familiar que viajavam por toda a Europa.  
     Todos conhecem ou já ouviram músicas de carnaval que trazem os personagens da commedia dell’Arte, como a música “Máscara Negra”, “Quanto riso, oh, quanta alegria! /Mais de mil palhaços no salão/Arlequim está chorando/ Pelo amor da Colombina/ No meio da multidão”. Todos aqui citados, na verdade, são personagens da Commedia dell’Arte, como veremos a seguir.
     Arlecchino – também conhecido como Arlequim, na verdade é um palhaço, acróbata, personagem amoral e glutão. Apresenta-se com roupa branca e preta com estampa em forma de losangos.  Sua máscara possui uma testa baixa com uma verruga. É o servo do Pantalone, mas se faz de idiota. É apaixonado pela Colombina.
     Columbina – Colombina. É a principal personagem feminina que contracena com Arlequim. É inteligente e habilidosa. Vez por outra, usa roupas semelhantes à de Arlequim. Pantalone, conhecido como Pantaleão, é um personagem muito rico e avarento. Um verdadeiro mão de vaca. É um tio patinhas, só pensa em dinheiro, um capitalista. Apresenta-se com cavanhaque branco e manto negro sobre casaco vermelho.
     Pulcinella – também conhecido como “Punch”, até hoje é um personagem muito popular na Itália. Fala pouco e comunica-se através de sinais e sons estranhos. Apresenta-se como tolo ou enganador. Possui voz estridente com máscara com nariz grande e curvo, semelhante ao bico de papagaio.
     Dottore – é o Doutor. Homem com impressão de intelectual. Pedante, avarento e com muitas frustações em relação às mulheres. Apresenta-se com toga preta com gola branca, capuz preto, apertado sob um chapéu preto com as abas largas, viradas para cima. Pedrolino - mais conhecido como Pierrot (Pedro). Personagem forte, confiável e honesto. Charmoso e carismático. Apresenta-se com roupas brancas folgadas com um lenço no pescoço.
     Il Capitano – Capitão - Geralmente usa uniforme militar e apresenta-se forte e imponente. Tipo pescador, conta vantagens como guerreiro e conquistador, mas acaba desmentido. Capa e espada são adereços obrigatórios. Os Innamorati – Namorados, amantes. São jovens, virtuosos e apaixonados como Romeu e Julieta. Não usam máscaras, mas usam roupas bonitas e na moda. Cantam, dançam e recitam poemas. Embora existam outros, estes são os principais personagens da Commedia dell’Arte.