Em função de que no mês de março se
comemora o dia internacional do teatro, durante este mês, dedicarei esta coluna
a esta arte milenar. Do ponto de vista histórico e com os elementos que
conhecemos na atualidade, poderíamos afirmar que o teatro surgiu na Grécia
Clássica, embora pesquisas recentes venham demonstrar que muito antes, os
egípcios, os indianos e os chineses já o praticavam. Portanto, não se pode
negar que a cultura oriental é muito sedimentada, mas, embora o oriente
praticasse teatro antes dos gregos, essa prática acontecia primitivamente em
forma de rituais religiosos.
Aqui poderíamos fazer a seguinte indagação:
porque ao longo dos anos, os ritos dramáticos religiosos desses povos que
antecederam os gregos, durante centenas de anos, não conseguiram avançar, se
hibridizar, se reconstruir e se transformar em novas manifestações culturais?
Como se pode perceber, a grande maioria desses povos antigos era regida por
impérios, cujos imperadores representavam a justiça e os deuses aqui na terra.
Cada imperador era onipotente e onipresente e impunham suas leis que eram
absolutas e indestrutíveis.
O Egito com seus faraós é um grande
exemplo disso. O povo egípcio seguia cegamente essas leis, e por vários séculos
não se insurgiam em relação a elas.
Aceitou essas leis impostas pelo faraó, que ao mesmo tempo era o juiz e
o sacerdote de deus. Em seu livro História Mundial do Teatro, Margot Berthold,
afirma que: “Esse paciente apego à tradição sufocou as sementes do drama”. A
questão é que esses reinos antigos, não abriram espaço para o desenvolvimento
de um individuo livre, pensante e que tivesse direta participação na vida da
comunidade.
Este fato era impensável para aqueles que
reinavam e dominavam seu povo, e se algum cidadão tentasse participar ou opinar
contrariamente ao pensamento do rei, seria automaticamente morto por centenas
de flechas, pela elite dos arqueiros fiéis ao rei. De acordo com Margot
Berthold: “Faltava ao egípcio o impulso da rebelião; não conhecia o conflito
entre a vontade do homem e a vontade dos deuses, de onde brota a semente do
drama”.
Para que o teatro obtivesse novo impulso nessas
antigas manifestações religiosas, faltou, estritamente, o que aconteceu na
sociedade grega: a democracia. Nesse novo regime, o cidadão teve direito a voz,
além do que possuía a abertura de um confronto pessoal com o Estado de direito.
É notório que a Grécia antiga tenha
herdado esses rituais, entretanto não podemos negar que foi justamente nesse
país que os primitivos rituais foram, ao longo dos anos, se transformando,
tomando novas formas como festividades e atividades culturais até determinar os
cultos teatrais como forma de representação e arte, à qual conhecemos hoje.
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