Contatos

palhanojp@gmail.com - palhano@unifap.br

domingo, 30 de abril de 2023

O TEATRO DE ENTRETENIMENTO

 

 

     A partir de 1859, o teatro romântico e realista foram perdendo espaço para uma nova estética do espetáculo. Isso aconteceu principalmente em função da inauguração, no Rio de Janeiro, do Teatro Alcazar Lyrique, que teve à frente o empresário Joseph Arnaud. Em relação ao que se fazia antes, esta casa de teatro, com seu novo tipo de espetáculo, surgiu com perspectivas completamente diferentes no que diz respeito à encenação, como também em relação ao próprio ambiente. O espaço onde acontecia os espetáculos, deixou de ser um local hermeticamente fechado, como o teatro italiano, para se transformar num recinto etílico.

     Esse novo tipo de casa de espetáculos, além da própria apresentação, também proporcionava ao público assistente, a chance de poder beber algum drinque, em mesas dispostas na frente do palco. Era um teatro de entretenimento que trazia em seu bojo, uma montagem teatral, baseada na dança, na música, e principalmente na beleza das mulheres que se apresentavam com roupas bastante curtas; surgia assim, o teatro das vedetes.   Esses espetáculos se dividiam em duetos, operetas, revistas de ano, burletas, mágicas, pequenos vaudevilles e em cenas cômicas.

      Mesmo que no início tenham sidos apresentados em francês, com o passar do tempo e principalmente no ano de 1868, surgiu no Teatro Fênix Dramática, a peça Orfeu na Roça, de Francisco Corrêa Vasques, uma adaptação de Orphée aus enfers. Em seguida, em 1876, vai estrear a peça A Filha de Maria Angu, que era uma paródia de Artur Azevedo, escrita a partir da peça francesa La Fille de Madame Angot. Já em 1880, a opereta é reconhecida e nacionalizada por completo, por Artur Azevedo, em parceria com Francisco de Sá Noronha, em função da estreia da peça Os Noivos e a Princesa do Cajueiro.

     Um grande diferencial entre esses tipos de espetáculos era a Mágica. Tipo de representação que tinha características de uma grande performance teatral que encantava o público presente, que se surpreendia pelo fato das ações inesperadas em que os recursos visuais da cena surgiam e desapareciam, como num toque de mágica. A Mágica teve seu ápice entre o período de 1880 a 1890, resistindo até o início do século XX. Na história do teatro brasileiro, esse foi o período em que se deu mais prestígio para os cenógrafos e os maquinistas, em função de que as cenas das Mágicas, dependiam exclusivamente do trabalho desses profissionais.

     A energia elétrica foi usada pela primeira vez no teatro brasileiro, em 1884, por Artur Azevedo e Moreira Sampaio, na apresentação da peça O Mandarim, em que foi utilizado um pequeno gerador, que emitiu um foco de luz elétrica que passou rapidamente iluminando o palco. Na época, gerou grande revolução no teatro, e logo em seguida outras revistas passaram a se utilizar da energia elétrica para iluminar seus espetáculos. A expressão francesa mise en scènce, foi usada pela primeira vez no Brasil, também por Artur Azevedo, que no nosso português se tornou encenação, substituindo o trabalho do antigo diretor que passou a se denominar de encenador.

segunda-feira, 24 de abril de 2023

A OVELHA MALHADA

 

                                

         No ano de 2011, publiquei minha terceira obra infantil “A Ovelha Malhada” em preto e branco e para colorir. As ilustrações foram de J. Marcio, artista plástico, desenhista, pintor, cartunista, caricaturista e professor de artes visuais do Centro Profissional em Artes Visuais Cândido Portinari. Naquela época, ele tinha sido meu aluno e já era formado em Artes Visuais e demonstrava o que tinha de melhor na sua arte.

     Segundo a professora Dilene Kátia, no seu prefácio ela enfoca que, o livro “A Ovelha Malhada” além de ser instigante, faz uso de uma linguagem ao mesmo tempo simples e acessível ao público a que se destina. Palhano narra a estória de uma ovelha que enfrentou certas adversidades financeiras. Entretanto, soube lidar com as diferenças de cor e, já na companhia do grande amor de sua vida, supera as adversidades ao buscar novas alternativas, com recursos próprios, dedicando-se ao trabalho, de maneira a alcançar um final feliz. Desta forma, a produção volta suas lentes para as questões contemporâneas. Até porque, enfoca tanto o aspecto de persistência de uma ovelhinha esperta, em não se deixar esmorecer pelas dificuldades do cotidiano, bem como ressalta a quebra de paradigmas no que compete ao processo de inclusão social, tema tão necessário a ser abordado na atualidade”.

     O lançamento do livro “A Ovelha Malhada” aconteceu na Escola do SESC/Araxá, dentro da programação do Banquete literário. Foi uma tiragem de quinhentos exemplares. Dado sua importância, que foi reconhecida pelo setor pedagógico da escola, o SESC/Araxá adquiriu 250 exemplares, por sua vez, o SESI resolveu comprar os outros 250 volumes. Dizem que o escritor ganha muito dinheiro. Não sei não... visto que até os dias de hoje, esta foi a única obra que eu consegui, pelo menos, cobrir as despesas da impressão.  Com 28 obras publicadas, dessas, 24, eu mesmo que as produzi, no que diz respeito à escrita e à questão financeira. Portanto, costumo dizer, que eu não sou o Paulo Coelho, mas sim, o coelho do Paulo.

     Mas ainda acredito, que a maior satisfação para o escritor, não apenas é a questão financeira ou o lucro advindo de sua obra. Independente de questões monetárias, o maior contentamento de um escritor, é saber que sua obra está sendo lida e disseminada. Particularmente, eu escrevo por prazer, mas se em algum caso, a obra nos favorecer algum suporte econômico, que este seja bem-vindo. Na atualidade, observo o ato de escrever como uma necessidade premente e intrínseca da minha existência. Neste momento da minha vida, eu sinto extrema necessidade de estar escrevendo e me sinto confortável para a posteridade, observando o caráter de quem não tem fim.

     Gostaria de concluir este artigo, com a dignidade de um escritor frente à sua obra. Semana passado, fui ao SESC/Araxá fazer uma visita cordial à biblioteca lá existente, além de doar alguns livros de minha autoria. Eu me considero um leitor e eterno estudante, além de um doador de livros às bibliotecas. Pois bem! Em breve conversa com o pessoal da biblioteca e do setor de cultura do SESC, saí de lá muito feliz e de certa forma realizado como escritor, ao saber que a obra mais procurada daquela biblioteca é exatamente “A Ovelha Malhada”, de minha autoria. 

 

segunda-feira, 17 de abril de 2023

TEATRO REALISTA

 

 

     Até meados do século XIX, o teatro brasileiro vinha se desenvolvendo tendo como ponto de partida o teatro romântico. Sendo que, em 1855, inaugura-se o Teatro Ginásio Dramático, no Rio de Janeiro, que foi criado pelo empresário Joaquim Eleodoro Gomes dos Santos. Em contraposição à antiga estética teatral, esta nova casa de espetáculos, criou rupturas e quebrou paradigmas, quando trouxe para a cena brasileira, algumas peças francesas da nova escola realista, cujos temas abordados confrontavam com o cotidiano e costumes daquela burguesia em ascensão. Desta vez, estava em jogo uma renovação dramatúrgica que tinha por base autores como: Alexandre Dumas Filho, Émile Augier, Théodore Barrière, entre outros.

     Quando do advento do romantismo, João Caetano, primeiro empresário e ator brasileiro, que havia rechaçado as companhias, atores e atrizes portuguesas, reinava inconteste, com sua estética por décadas, e ainda não havia sido contrariado desde durante muito tempo. Mas, com a chegada da escola realista, tendo sido colocada para o público, com a inauguração do Teatro Ginásio Dramático, este fato causou um certo desconforto para o referido profissional das artes cênicas. Apesar disso, João Caetano permanece fiel aos cânones do romantismo até sua morte em 1863.

     Nesse período, o teatro estava sendo visto como uma escola moralizadora da sociedade, tanto para a burguesia como também para os mais abastados. Da mesma forma que, no século XVI, Shakespeare trouxe a sociedade burguesa elizabetana para o palco, desta vez, no século XIX, é a estética realista que vai trazer para o palco a ascendente burguesia brasileira. Os temas sugeridos nos textos e espetáculos realista, eram de preferência relacionados com a burguesia local. Da mesma forma que os melodramas, as peças de cunho realista, sempre chegam ao seu epílogo, revelando a vitória do homem idôneo e honesto.

     O teatro realista, como uma escola de bons costumes, não dá espaço para personagens como: esposas adúlteras, jovens revoltosos, agiotas, caça-dotes, viciados em jogos, golpistas, estelionatários e, principalmente as prostitutas, que parecem ser uma grande ameaça aos homens bons e casados, como também, era visto como uma afronta aos jovens de boa família. Esses personagens eram inviáveis para a boa formação do burguês e do homem idôneo daquela sociedade brasileira do século XIX

     Enquanto Furtado Coelho e Eugênia Câmara foram considerados os principais intérpretes desse período, por outro lado, Gabriela da Cunha e Adelaide Amaral, se tornaram as musas do teatro realista. Já o Teatro Ginásio Dramático teve total influência do Théâtre Gymnase Dramatique, de Paris. Diferentemente do teatro romântico, o teatro realista, como o nome já diz, trouxe para o palco mobiliário de verdade, com o objetivo de reproduzir de fato, o interior das salas das famílias burguesas. Em geral, o figurino se baseava na moda em voga e sempre era atual, de acordo com o que era usado na vida real. Já a ação dramática também se passava no presente. Aboliu-se o cunho meramente dramático e a movimentação dos atores se tornaram menos enfáticas e mais natural.

segunda-feira, 10 de abril de 2023

Teatro Amapaense: persistência e resiliência


 

     O público que se dirigiu este último final de semana para o anfiteatro da Fortaleza de São José de Macapá, (dias 6 e 7), para apreciar eventos de comemoração da Semana Santa, presenciou mais uma vez a apresentação do espetáculo teatral intitulado, Uma Cruz Para Jesus. Acontecimento muito especial para todos os cristãos que lá estiveram para ver o espetáculo da Companhia Teatro de Arena. Vale salientar que há 44 anos que esta companhia teatral tucuju vem apresentando a referida peça.

     Afirmar que este grupo de teatro vem se apresentando há mais de quatro décadas, parece até Fake News, mas, engana-se quem pensa assim! É a pura verdade e, os fatos comprovam isso. Todavia, a Semana Santa é um período que considero como um tempo ou uma data de forte expressão para o teatro do Amapá. Uma Cruz Para Jesus, teve sua primeira apresentação no ano de 1979, nasceu estritamente ligado à igreja católica, e foi uma ideia do ator e diretor Amadeu Lobato. Neste ano de 2023 é o quadragésimo quarto ano de sua ininterrupta apresentação na área externa da Fortaleza de São José de Macapá.

     É um espetáculo que acontece anualmente na cidade de Macapá, que tem como cenário os muros da Fortaleza de São José, e revela a luta, persistência e resiliência do teatro amapaense, que se faz conhecer por uma inspiração sobrenatural da figura do diretor teatral Amadeu Lobato, que tem sua vida dedicada ao teatro e particularmente à esta peça.                               Há 28 anos que, com muito respeito, acompanho de perto a obra do mestre Amadeu Lobato. É um espetáculo de sucesso, e que com o trabalho de vários anos conseguiu conquistar a atenção dos setores de cultura do Estado do Amapá.

     Certamente o espetáculo já cativou seu grande público, mas, vale salientar que esse tipo de espetáculo que é apresentado sempre em espaços abertos, se apoiando no teatro de arena, reclama maior atenção da plateia, visto que geralmente não há cadeiras no espaço ao ar livre, exigindo-se que os espectadores se acomodem da melhor forma possível; sentados ou em pé. Em alguns espetáculos desse gênero se exige ainda a movimentação constante do público presente em relação às cenas vindouras, como é o caso do espetáculo “A Paixão de Cristo” em Nova Jerusalém, sertão de Pernambuco.  

          A peça “Uma Cruz Para Jesus”, utiliza-se de vários cenários e vários planos. Com este trabalho, Amadeu Lobato virou escola e se transformou no ícone de um dos maiores teatros ao ar livre do Estado. Com uma vida dedicada ao teatro do Amapá, o ator e diretor de teatro Amadeu Lobato merece meus cumprimentos e minhas felicitações, em função de sua persistência e dedicação exclusiva à sua tradicional montagem do espetáculo “Uma Cruz para Jesus”. É um clássico ontológico. Uma peça em que não se paga ingresso, onde o acesso é livre para o público em geral.

 

 

 

 

 

 

 


segunda-feira, 3 de abril de 2023

33 ANOS DE UNIFAP

 


     A UNIFAP, foi fundada em função da Constituição de 1988, que determinou o fim dos Territórios Federais e sua consequente transformação em Estados, por outro lado, a maioria dos jovens do Amapá eram obrigados a se deslocar para a cidade de Belém do Pará, em busca de realizarem seus cursos profissionalizantes. Muitos desses jovens do Amapá que tiveram que ir estudar em Belém, se tornaram professores efetivos da UNIFAP.

     A Universidade Federal do Amapá ainda era quase um embrião, mas já havia nascido, quando assumi a função de professor daquela instituição de ensino superior. Fundada em 1990, e este ano comemorando seu trigésimo terceiro aniversário, tive a oportunidade de praticamente, acompanhar todo esse processo de amadurecimento da nossa UNIFAP. A primeira vez que estive no Amapá foi em setembro de 1994, para me submeter à concurso público para o cargo de professor do magistério superior, para exercer minhas funções no antigo Curso de Educação Artística, aliás, primeiro curso desta universidade, que foi reconhecido pelo Ministério da Educação e Cultura.

          Naquela ocasião, a instituição estava engatinhando, apenas com quatro anos de sua fundação. Possuía em torno de seis prédios, nove cursos de graduação, e aproximadamente 2.800 alunos regularmente matriculados, e já estava na gestão de Antônio Gomes de Oliveira, terceiro Reitor pró-tempore, que havia assumido o cargo no ano de 1993, período que foi concluído em 1997. Antes dele, houve a primeira gestão de Maria Alves de Sá, de 1990 a 1992, e ainda, a segunda gestão que foi de Laíse do Amparo Braga, que assumiu no período de 1992 a 1993. Ao mesmo tempo em que foi implantada, a instituição permaneceu no mesmo espaço físico do antigo Núcleo de Ensino de Macapá, hoje conhecido como antigo NEM, que fazia parte do projeto de interiorização da Universidade Federal do Pará.

     Foi muito importante a contribuição de vários colegas professores e funcionários ligados ao antigo território federal do Amapá. Uma quantidade considerável de professores do antigo território ministrou aulas nos momentos embrionários da nossa instituição, sem eles, teria sido muito difícil chegarmos ao trigésimo terceiro aniversário da UNIFAP. Uma dessas pessoas foi a professora Nazaré Trindade, primeira Coordenadora do antigo Curso de Educação Artística.

     O primeiro concurso para professores aconteceu em 1993 e o segundo se deu no ano de 1994, do qual, fui candidato, galgando o primeiro lugar naquele certame. Sem sombra de dúvidas, nesses últimos 33 anos, a UNIFAP cresceu e muito, principalmente a partir do ano de 2006, quando o governo federal investiu pesado na educação de todo o país, suprindo as necessidades das universidades, especialmente na pesquisa, ensino e extensão, espaços físicos e criação de novos cursos.  Notadamente, é de fundamental importância a presença dessa instituição de ensino superior no Amapá, nos dias de hoje, quando deu um grande salto e já possui 29 cursos de graduação e, conta com 13 programas de pós-graduação. Aqui deixo meu enaltecimento e meus parabéns à UNIFAP.