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segunda-feira, 22 de abril de 2024

BODE EXPIATÓRIO

 

 

   Na língua portuguesa, há dois verbos que são bastante utilizados pelas pessoas: o primeiro: “espiar”, que tem origem no gótico spaíhôn. É verbo transitivo direto, e, significa olhar, ver, perceber, observar algo ou alguém, de modo secreto, sem que ninguém perceba, com o propósito de conseguir informações. O mesmo que espionar. Espiar é um verbo muito conhecido e muito usado pela população. Um exemplo é: a mulher espiava o filho, enquanto o mesmo dormia.  O segundo: é “expiar”, com origem no latim expiare. É verbo transitivo direto e pronominal, e significa reparar, redimir, pagar, purgar, remir, resgatar, padecer, penar, ou seja, reparar um erro, uma falta; pagar um crime, etc. Exemplo: o homem expiou arduamente por seu erro.

     De acordo com as regras ortográficas, essas duas palavras, são homófonas, isto é, possuem a mesma pronúncia, mas com grafia e significados diferentes. Origina-se de homo, que significa, o mesmo; e fonia, que quer dizer, som. Embora algumas pessoas não queiram perceber, é de fundamental importância o estudo, aprendizado e o domínio da sua língua mater, como no caso aqui, da língua portuguesa. Mater, que é substantivo feminino, e que é aquela que desempenha o papel de mãe, de mulher que gerou, deu à luz e criou seus filhos, e foi a partir da junção de várias línguas, e principalmente do latim, que surgiu nossa língua portuguesa mãe.

     Interessante definir o que representa cada palavra da nossa língua, para entendermos prontamente, seus significados e suas objetividades na fala e na escrita. Trataremos aqui, do chamado ”bode expiatório”. Essa expressão teve origem no dia da expiação e era um ritual para purificação de toda nação de Israel. Expressão popular que é entendida hoje, como: para definir uma pessoa sobre a qual recaem as culpas alheias; é aquela pessoa chamada de laranja; por exemplo, quando alguém é acusado de um delito que não realizou. Temos o caso de Tiradentes, que foi o bode expiatório da Inconfidência Mineira.

     Para se redimir de seus pecados o judaísmo que era praticado pelo povo judeu, nos tempos antigos, época do Velho Testamento, identificou num animal, o bode, uma forma de expiar seus pecados. No deserto, definiam um lugar mais alto para colocar o referido animal, no qual, se reuniam em seu entorno e começavam um culto de expiação de seus pecados, tendo como ponto de partida aquele animal, que ali mesmo seria sacrificado. Esse fato, ficou consagrado na tradição judaica como o ritual do sacrifício do “bode expiatório”. Durante essa cerimônia, o bode era apedrejado, massacrado, cuspido pelo povo, finalizando com o sacrifício do mesmo.

     Este costume tinha um efeito reparador dos pecados cometidos pelo próprio povo judeu. Já no final desse ritual, o povo saía do local, com a consciência limpa, porque todos os seus erros e pecados tinham sido transferidos para o referido animal. Como em todos os povos antigos, esse ritual judaico representava simbolicamente, no imaginário do povo, que todos os seus crimes e pecados haviam sido transferidos para o bode expiatório e que Javé, o Deus Supremo estava satisfeito com o seu povo santo.

segunda-feira, 15 de abril de 2024

UMA DÉCADA DO CURSO DE TEATRO

 

 

     Este início do mês de abril de 2024, se torna um período muito significativo, tanto para mim, como para os profissionais da área das artes cênicas do Amapá, tendo em vista que há 10 anos, recebi a primeira turma do Curso de Licenciatura em Teatro, exatamente no dia 09 de abril de 2014. Processo que se desenrolou entre duas décadas e que, no dia 12 de novembro de 2013, depois de dois projetos que eu já havia encaminhado à administração da UNIFAP, (um, em 1996 e outro em 2001), ter sido aprovado pelo Conselho Superior da Universidade Federal do Amapá. Já em dezembro de 2014, assumi a Coordenação do referido curso. Iniciei apenas com a cara e a coragem. E fui em busca, de espaço físico para a Coordenação, que se instalou em dois pequenos ambientes cedidos pelo Curso de Licenciatura em Artes Visuais. Determinou-se também a sala de aula para receber a primeira turma.

     Na ânsia de ver o curso criado, e para juntarmos nossas forças, resolvi convidar para uma reunião, o Presidente do Conselho Estadual de Cultura do Amapá, quando na ocasião, expressei a necessidade da participação da classe artística neste processo. Em seguida nos reunimos com a classe e ficou definido a realização de um cortejo que sairia do Marco Zero, com destino à sala do Conselho Superior da UNIFAP. Expressei também, a necessidade de que cada grupo de teatro deveria redigir um documento em apoio à criação do Curso de Teatro. No dia da aprovação a classe entregou um calhamaço de papel ao Presidente do Conselho. E, assim, as pessoas de teatro, invadiram o Conselho Superior, juntando-se a essa luta para a implantação do curso. Desta forma, pressionando o Conselho para a aprovação imediata do primeiro Curso Superior de Teatro do Amapá.

     Após a aprovação, pelo Conselho Superior da UNIFAP, da criação do curso de teatro, a classe saiu em grande passeata pelas ruas da instituição, festejando, celebrando a Dioniso, como um verdadeiro canto ditirâmbico. Foi de grande importância essa participação da classe artística e teatral, na luta pela implantação do Curso de Teatro, que nesses dez anos, colocou no mercado de trabalho, profissionais competentes para desenvolveram suas funções na sociedade amapaense. No Curso de Licenciatura em Teatro o aluno desenvolve a prática de lecionar aulas de teatro, como também, interpretar, vivenciando a experiência do fazer teatral, aprofundando-se nas especificidades de sua escolha. A base deste curso está alicerçada nesta formação e complementada pelos fundamentos sócio-político-pedagógico que norteiam a formação pedagógica dos cursos de Licenciatura.

     Foram sete anos ininterruptos, os quais, trabalhei diuturnamente, iniciando-se em 2010, com a retomada, análise e atualização dos dois projetos anteriores. Em seguida, o acompanhamento do processo por todas as instâncias da instituição, sempre respondendo e esclarecendo as dúvidas do relator do referido processo. Após a aprovação, tudo começou do zero; em 19 de dezembro foi publicada minha portaria como Coordenador. Enfaticamente, parti para a organização física da Coordenação do Curso e a preparação para receber a primeira turma, que iniciou no dia 09 de abril de 2014. Esta primeira fase do Curso de Teatro, foi um ciclo que se fechou, primeiro com a contratação de 7 professores em dezembro de 2015, e em seguida, quando em abril do ano de 2017, entreguei definitivamente, a coordenação do curso à nova geração de professores, completando assim, 7 anos de trabalhos ininterruptos, para que o curso tomasse novo impulso, o que aconteceu com a chegada dos novos professores.

 

terça-feira, 9 de abril de 2024

VEGANO - SER OU NÃO SER

 

                              

O artigo desta semana, foi escrito por minha aluna, Hozana de Araújo Alves, à qual, participa do projeto de extensão que estou à frente como Coordenador, intitulado: “Socializando a Cultura”. Projeto este, ligado ao Curso de Teatro da UNIFAP, o qual, tem o objetivo de motivar nossos discentes para o ato da escrita. Portanto, segue as palavras de uma futura pesquisadora:

A moda do momento é definida pelo padrão alimentar que as pessoas adotam e influenciam. Mas, paramos para refletir como isso poderá afetar nossas escolhas. Durante uma entrevista ao programa da Eliana, a apresentadora Xuxa se pronunciou dizendo que: “muitas pessoas acham que ser vegano é só comer mato, não, a gente só tira o defunto do prato”, a frase no primeiro momento passa despercebida sem muita importância, mas ao avaliar atentamente percebemos que possui uma carga ideológica no lexical: “Defunto” – que assume na frase outra coisa, agora destinado à carne em decomposição, que faz mal à saúde humana. Nesse sentido, tem significado próprio, de outro modo, carregando assim uma mudança de significado e provocando efeitos moventes na significação. Ademais, nada é por acaso, o texto é formado por um conjunto de nós, isto é, este discurso representa um grupo de pessoas, neste caso, o grupo dos Veganos, do qual, Xuxa faz parte.

Para a comunidade Vegana os animais têm as mesmas condições e direitos que os seres humanos, bem como eles possuem uma interação e conexão direta com eles e tudo que está a sua volta, ou seja, comer outro ser vivente seria um atentado à vida, por isso, da negação de se alimentar de produtos de origem animal. Essa filosofia de vida é amplamente aderida e divulgada pelos Veganos. E ir contra esta prática ou criticá-la é para eles uma ofensa, pois eles a creditam que há uma conexão entre os seres.

Aliás, os Veganos são conhecidos por não consumirem nenhum produto de origem animal, e isso incluem roupas, cosméticos, alimentos, etc., eles praticam uma consciência naturalista utilizando apenas alimentos de origem vegetal: legumes, cereais, frutas, etc. Ou seja, de acordo com a sociedade Vegana: “os veganos são contra o sofrimento de animais para a fabricação de cosméticos, roupas, qualquer tipo de produto. Também não apoiam atividades de lazer onde animais são aprisionados para entretenimento do público”. É por isso que alguns discursos desse grupo são carregados de radicalismo, bem como de aspectos ideológicos e discursivos, o qual produzem discursos enunciados que inegavelmente são defendidos e divulgados amplamente nos meios de comunicação os quais estes circulam.

Por outro lado, contrários a este pensamento existem os não-Veganos (pessoas que consome as carnes e seus derivados) e que defendem o consumo de aves, peixes, camarões, crustáceos, etc., até porque são fontes de proteínas, e ao retirá-las da alimentação poderá causar danos graves à saúde humana. Os nutricionistas e os profissionais da saúde aconselham sempre a procurar orientação profissional, já que as carnes são fontes de vitaminas, a exemplo à do complexo B12. E ter uma dieta Vegana custa muito caro, ainda mais no Brasil com diferentes rendas, classes, sem um estruturalismo financeiro e um aparato médico fica inviável manter uma postura tão saudável como a dos Veganos.

Os Veganos têm um modo de pensar e de agir em relação aos animais, principalmente quando o assunto é alimentação e consumo saudável excluindo assim as carnes de origem carnívora. Pois os Veganos possuem uma relação muito próxima com os animais, para eles a vida interage - existe uma conexão com todos os seres vivos - todos são nesse sentido, a mesma coisa. Mas, tem-se a pensar que se tratando de Brasil ter a cultura da alimentação saudável fica difícil, pois não temos os mesmos padrões sociais para todos. Então, ser ou não ser vegano parte inicialmente da condição financeira e social de se manter essa prática.

segunda-feira, 1 de abril de 2024

DIA INTERNACIONAL DO TEATRO

 


     Na última quarta-feira, 27 de março, foi comemorado o dia internacional do teatro. Em relação a isso, resolvi trazer à tona, esse tema tão importante para nossa cultura, já que temos atualmente no Amapá, vários artistas profissionais do teatro, principalmente, em função da implantação do Curso de Licenciatura em Teatro da UNIFAP, que iniciou sua primeira turma no ano de 2014. Ao todo, são sete turmas que já concluíram o referido curso, sendo um total aproximado de 330 profissionais da área, levando-se em consideração que os egressos seguem caminhos diferentes: alguns encaminham-se para a carreira acadêmica, enquanto outros decidem pela carreira artística. 

     Todos sabem que o teatro é uma arte exclusivamente coletiva, visto que é resultado da união de várias artes, como: dança, música, canto, fala, movimento, literatura, artes visuais, arquitetura, circo, mímica, pantomima, cinema, entre outras. Todavia, na manifestação teatral, encontramos várias formas de expressão: expressão gestual; expressão verbal; expressão visual; expressão musical e expressão escrita. Mas há uma inquietação essencial, no que diz respeito aos principais elementos que constituíram a base fundamental do teatro grego.

     Em relação a essa questão, fica claro que esse alicerce remoto gira em torno de duas artes distintas: a música e a dança; como também poderia ter sido a fala, levando-se em consideração a atitude de Téspis, quando, pela primeira vez, falou no Culto a Dioniso, em primeira pessoa, a seguinte frase: “- Eu sou Dioniso”. Além de ser considerado o primeiro ator, com esse gesto e esse ato, ele também é considerado como o impulsionador da literatura ocidental. No entanto, há muitas controvérsias...!  Enquanto alguns autores defendem a dança, como princípio fundamental da origem do teatro, outros defendem a música. Sabe-se que muitos povos primitivos já praticavam a dança em suas manifestações comemorativas e religiosas, em seu livro “O Teatro Grego”, António Freire afirma que: “As primeiras sociedades primitivas acreditavam que a dança imitativa influenciava os fatos necessários à sobrevivência através de poderes sobrenaturais, por isso alguns historiadores assinalam a origem do teatro a partir desse ritual. ”

     Etimologicamente o termo teatro deriva do latim theatrum e do grego theatron, que dá ao vocábulo o sentido de miradouro, praticamente, lugar de onde se vê, lugar para olhar, de theasthai, “olhar”, mais – tron, sufixo que denota “lugar”. Entendendo-se dessa maneira, que o sentido primitivo da palavra “teatro”, estava relacionado estritamente com a ideia da visão, lugar de contemplação. Esse verbete, que significava o prédio onde são realizados espetáculos, posteriormente, se tornou mais amplo e a ter maior alcance, com vários sentidos conotativos, designando peças, produção, preparação de uma peça teatral em geral, edifício, entre outros.

     Sem embargo, esse teatro do qual conhecemos na atualidade, originou-se basicamente de três festividades gregas, às quais, apresentavam características especificas com seus cultos e seus mistérios: a) dos mistérios de Delos; b) dos mistérios de Elêusis; e c) dos mistérios do culto ao deus Dioniso. Tanto em Delos quanto em Elêusis, sempre havia comemorações e festividades dedicadas a Dioniso. Todavia, acredita-se que, segundo estudos históricos e antropológicos já realizados, o culto ao deus Dioniso, é a mais provável hipótese e o principal vetor do surgimento do teatro. 

     Em função dessas atividades teatrais persistirem até nossos dias, foi que em 1961, o Instituto Internacional do Teatro da UNESCO, órgão das Nações Unidas, voltado para a educação, ciência e cultura, resolveu criar uma data dedicada às atividades culturais ligadas à representação, durante o seu IX Congresso Mundial, em Viena, Áustria. Portanto, em função da inauguração do Teatro das Nações, em Paris, França, em 27 de março de 1962, tem sido celebrado o Dia Internacional do Teatro. A data 27 de março, assinala também a inauguração das temporadas internacionais no referido teatro.

 

segunda-feira, 25 de março de 2024

45 ANOS DE UMA CRUZ PARA JESUS

 

 

     Com uma vida dedicada ao teatro do Amapá, o ator e diretor de teatro Amadeu Lobato merece meus cumprimentos e minhas felicitações, em função de sua persistência e dedicação exclusiva à sua tradicional montagem do espetáculo “Uma Cruz para Jesus”, que neste ano de 2024, inusitadamente, está completando seus 45 anos em cartaz. É bom lembrar que, no Brasil, são poucos os grupos de teatro que permanecem tanto tempo em cartaz, como exemplo, José Pimentel que passou mais de 40 anos representando a Paixão de Cristo, em Nova Jerusalém, Pernambuco.

     A primeira apresentação que aconteceu no ano de 1979, teve apoio da Igreja Católica, e consequentemente, nesses quarenta e cinco anos à frente, como diretor da Companhia Teatro de Arena, Amadeu Lobato transformou seu trabalho num espetáculo ontológico e clássico do Amapá. Uma peça em que não se paga ingresso, onde o acesso é livre para o público em geral, sem discriminação de cor, etnia, religião e classe social. Todos podem assistir ao referido espetáculo, e para isso, basta se dirigir na sexta-feira santa, ao teatro ao ar livre que existe na lateral norte da Fortaleza de São José de Macapá, no centro da cidade. 

      Para aqueles que acompanham essa trajetória, basta imaginar que são 45 anos de resistência em relação ao fazer teatral nas terras tucujus. Amadeu Lobato é nosso grande Mestre do teatro amapaense e transformou seu espetáculo numa considerável escola de teatro ao ar livre, visto que significativa parte dos artistas do Amapá, pela primeira vez, subiram ao palco, nesta escola. Também não é para menos, sua peça coloca em cena, todos os anos, mais de cem atores e atrizes, concentrados num espetáculo de um pouco mais de uma hora, na área externa da Fortaleza.

     Uma Cruz para Jesus significa a vitalidade e a persistência do teatro amapaense. Hoje não se pode falar desta peça sem citar o nome de Amadeu Lobato. Ao longo de quatro décadas houve um hibridismo entre o criador (Amadeu) e a criatura (que é seu espetáculo).  Por isso, esse trabalho e essa dedicação do Amadeu Lobato, já é referência tanto na sociedade amapaense quanto dentro da academia voltada para estudos culturais.

         Nesses últimos 29 anos tenho acompanhado de perto a obra desse avultado Mestre, e foram muitas as vezes que seu trabalho foi montado com garra, coragem e decisão, e o mais importante é que o público sempre esteve lá, literalmente de pé, vendo a ficção e aplaudindo na realidade, os passos de Jesus Cristo Salvador. Amadeu Lobato é um sujeito de fé, com muita determinação, objetivo e metódico, não fosse essas qualidades, seu espetáculo já não mais existiria.

     Seguramente posso citar aqui algumas influências de “Uma Cruz para Jesus” nestes 45 anos de atividades ininterruptas. No entanto, é em função deste espetáculo que se disseminou vários outros grupos que passaram a apresentar seus espetáculos sobre a vida, paixão e morte de cristo. Bairros como: Perpétuo Socorro, Pacoval, Novo Horizonte, entre outros também fazem apresentação sobre a vida de Cristo. Em função de todo esse trabalho, por toda sua contribuição para o teatro do Amapá, Amadeu Lobato merece nosso respeito. Parabéns meu amigo, parabéns por sua resiliência e persistência nesses últimos 45 anos de apresentação de “Uma Cruz para Jesus”.  O teatro do Amapá agradece sua dedicação e espírito dionisíaco.

 

 

 

 

segunda-feira, 18 de março de 2024

PASSOS DO HERÓI

 

 

     Basicamente, se olharmos para todo herói, iremos perceber que há muita coisa de semelhante, principalmente no que diz respeito à sua trajetória, à sua história; visto que todos eles seguem o mesmo enredo, o mesmo caminho ou a mesma saga. Quem já assistiu um filme de western ou bang-bang, sabe disso! Inicia-se quando, geralmente, nasce numa família muito humilde. Possui força sobre-humana precoce; e de acordo com seu desenvolvimento, consegue rápida ascensão ao poder, além de muita notoriedade. Torna-se defensor da justiça e cheio de virtudes, e na sua trajetória final, ou morre ou se torna herói reconhecido pelo seu povo.

     O herói geralmente, sai do seu mundo comum, passa por um mundo diferente e desconhecido, e retorna ao seu mundo comum, como verdadeiro herói. Como isso acontece? Vejamos: primeiramente há um chamado para a aventura, uma mensagem ou um convite de alguém, na verdade um desafio que ele deverá aceitar, ou não. Aqui, ele ainda está em seu mundo cotidiano. Para sua difícil decisão, sai em busca de alguém mais sábio, um oráculo, talvez! Em busca de conselhos e ajuda. Em função de sua decisão, segue seu rumo, cruzando o portal do seu mundo normal, seguro e tranquilo, e adentrando num mundo especial, desconhecido e cheio de provações e aventuras.

     Já no mundo completamente misterioso, o herói terá que passar por testes e provações; e este é o momento em que muitas situações adversas possivelmente irão acontecer, como, por exemplo, escapar de uma armadilha, descobrir o enigma e matar um monstro. Lembremos da saga de Ulisses no seu retorno à Ítaca; em Édipo Rei, quando mata a esfinge, ou ainda os 12 trabalhos de Hércules. E aí, chega a hora de encarar a maior provação, que se torna o maior temor do herói, mas que inevitavelmente ele terá que enfrentar tais situações. Este é o mais difícil momento do herói, tendo em vista, que ele, enfrentará a morte, e poderá matar o monstro ou até mesmo morrer.

     Ao vencer todas as suas provações, com certeza, o herói exige um prêmio, uma recompensa, algum tesouro, ou poder, como aconteceu com Édipo, que se tornou rei de Tebas. No desfecho de sua caminhada, o povo se curva respeitosamente diante do herói e o transforma em rei ou pessoa importante. Portanto, há várias formas de se decidir o desfecho final. Então, chega o momento do herói sair do seu mundo especial, e retornar ao seu mundo normal, já como herói reconhecido. Acontece que, depois de toda essa aventura, ele retorna a seu mundo normal, rejuvenescido e com uma nova vida. Foi preciso todo esse desenlace para que o mesmo se tornasse um herói. Seu gesto, sua decisão e sua atitude o transformaram em herói. 

     Em função de que todas as tramas foram resolvidas, o herói volta ao seu mundo cotidiano, mas com um nível mais elevado, já não é mais o mesmo, deixando de ser algo comum, para ser um herói. Isso também acontece com o personagem Flick, herói do filme “Vida de Inseto”, Édipo, na peça “Édipo Rei”, de Sófocles, como também fica muito claro no personagem “Ulisses” da “Odisseia”, e ainda, vamos encontrar esses heróis em muitos filmes populares. Esta é a jornada do herói.

 

quarta-feira, 13 de março de 2024

PROFESSORA VERÔNICA É CIDADÃ AMAPAENSE

 

 

     Na última segunda-feira, dia 4 de março, a Professora aposentada Doutora Verônica Xavier Luna, da Universidade Federal do Amapá, recebeu da Assembleia Legislativa do Estado do Amapá, o Título de Cidadã Amapaense, numa homenagem do Deputado Estadual Jory Oeiras. Desde muito jovem, Dra. Verônica se dedicou ao magistério, quando ainda não tinha habilitação específica para trabalhar como professora, mas apenas como diletante da arte de ensinar. Aos dezesseis anos já atuava no ensino primário, escala que foi aumentando à medida que foi adquirindo sua formação superior.

     Ao chegar à região Norte, na qualidade de professora concursada da Universidade Federal do Amapá e docente do Curso de História, sua vivência no Amapá foi despertando seu interesse pela cultura local, religiosidade e a formação social do seu povo. Ao se familiarizar com as comunidades afrodescendentes do Amapá, foi motivada por esse novo mundo, o que a levou ao compromisso acadêmico tendo como ponto de partida a sociedade amapaense. A partir de seus estudos, publicou em 2011, a obra intitulada “ESCRAVOS EM MACAPÁ”, que foi resultado da conclusão de seu Mestrado. 

     Com o passar dos anos, em suas pesquisas Dra. Verônica afirma ter-se debruçado sobre extensa literatura, partindo de autores locais e regionais. Além de entrar em contato com a historiografia local, à qual, revelou uma história mais política da região, ela também participou de vários encontros que debatiam essa temática. O estudo da professora aprofunda o alargamento da formação social dos trabalhadores africanos cativos na Vila de Macapá, tendo como perspectiva a formação social e histórica em suas diferentes dimensões, voltados para o debate acadêmico da história da Vila de Macapá.

     A professora passou a apreender práticas da cidade no início dos tempos republicanos, delimitadas por uma temporalidade também passada/presente. Sendo assim, realizou atividades em instituições públicas de Macapá: como exemplo: no cartório Jucá, no Tribunal Judiciário do Amapá (TJAP), Biblioteca Pública Elcy Lacerda, e ainda no arquivo da Cúria de Macapá. Essa atividade contou com a colaboração de alunos da especialização e da graduação em história da UNIFAP. Em 2020, publicou a obra “UM CAIS QUE ABRIGA HISTÓRIAS DE VIDA – Sociabilidades Conflituosas na Gentrificação da Cidade de Macapá (1943 a 1970).

     Como professora da Universidade Federal do Amapá, criou o Centro de Estudos e Pesquisas Arqueológicas – CEPAP; como também o Centro de Memória, Documentação Histórica e Arquivo – CEMEDHARQ/UNIFAP. Mesmo aposentada atua em prol do salvamento dos acervos documentais do Estado do Amapá, com intuito de garantir a preservação e guarda da memória e identidade histórica local. Salvou a Memória da Briosa Guarda Territorial e a transformou em livro, que teve como resultado a obra “MEMÓRIA DA BRIOSA GUARDA TERRITORIAL DO AMAPÁ”, livro que foi lançado no dia 21 de setembro de 2023. Atualmente continua investindo na guarda de memória de atores sociais locais. 

                                                                                    Prof. Dr. PALHANO.

terça-feira, 5 de março de 2024

FUTLAMA

 

 

     Uma das características culturais da cidade de Macapá é o conhecido FUTLAMA, que vem sendo realizado e apreciado pela população há muitos anos. É uma criação dos amapaenses aficionados ao futebol, não profissionais, mas que não têm acesso a grandes estádios. Essa mania de jogar futebol nas areias do rio amazonas, quando o mesmo está de maré baixa, ganhou espaço na cidade, visto que já existe até campeonatos de futlama. Seguindo a principal lei dos povos dessa região insular, tudo está submetido ao grande rio amazonas, em função da sua tábua de marés. Isso mesmo...! É o fluxo da maré quem determina o horário de partida e de chegada. É a maré quem define o horário do vai e vem de pessoas e mercadorias dessa região. Frente a isso, o Futlama também não poderia fugir a essa regra, por isso mesmo ele sempre acontece com a maré baixa.

     O que inicialmente era um momento de prazer e lazer de antigos pescadores, os quais, precisavam relaxar após o árduo trabalho, tomou corpo e na atualidade, todos os anos vem acontecendo o campeonato de futlama defronte à cidade, na ocasião da maré baixa. Ao longo dos anos, certamente, houve vários avanços em relação à essa atividade cultural no Amapá. No ano de 2003, se deu o primeiro torneio de futebol de lama do Brasil. Já em 2007, houve a fundação da Federação Amapaense de Futlama. Como tudo na região Norte está sujeito às forças da natureza, da mesma forma que os jogos acontecem na maré baixa, em vários casos, a força das águas, faz com que a partida termine antes do tempo previsto. Não é à toa que, praticamente todos os anos, em função da força das águas, entre março e abril, acontece as marés lançantes quando a orla de Macapá fica completamente inundada, sendo batizada e purificada pelas águas do grande rio.

     Outro dado interessante, é que as agremiações sempre homenageiam a própria região colocando nomes específicos da fauna e flora amazônica, como: Tralhoto, Vitória Régia, entre outros. Essas atividades culturais já fazem parte do Patrimônio cultural da cidade. O que se pode observar aqui, é a persistência e resiliência de uma comunidade de cidadãos que a partir, de sua atuação, busca conquistar um sentido de pertencimento ao grupo de amigos, à cidade e, respectivamente, ao Estado do Amapá.  É extremamente necessário que os órgãos de cultura se voltem para a motivação e proteção de atividades culturais desse gênero, principalmente quando surge de classes menos favorecidas. Ao longo da história pode-se observar alguns casos como por exemplo, o próprio samba, que foi perseguido, aqui no Brasil, a valsa, na Argentina. Em seu início, essas manifestações foram rechaçadas pela elite, mas, que se tornaram patrimônios desses países.

     O que me fez escrever este artigo sobre o Futlama de Macapá, foi em função de meu retorno à Macapá, no início de janeiro do ano em curso, quando da leitura de uma matéria sobre essa beleza de manifestação cultural da nossa querida cidade. A referida reportagem encontra-se na revista de bordo, nº 236, de novembro/dezembro/2023, da empresa aérea Gol, com início na página 32, e término na página 37. Ao ler tal reportagem fiquei muito feliz de ter visto uma notícia tão importante numa revista que é lida por centenas de brasileiros.  

ARTE E EDUCAÇÃO

 

 

     Muito se tem enfocado sobre a questão do ensino de artes nas escolas, o que é importante saber é que desde os primórdios que a arte está presente, mesmo que não tenha sido no currículo propriamente dito, mas, na prática sempre existiu. Na minha passagem pelo curso ginasial, na década de 1970, por exemplo, já havia aulas de música, pintura e dramatização, como também, professores formados nessas áreas da arte. Vejamos os primórdios do processo do ensino de artes nas escolas.

     O ensino de artes nas escolas não é tema da atualidade, ao contrário, é assunto extremamente antigo. Tudo começou com o desenho. Clara herança do passado é o persistente desejo oficial de justificar a arte, ou como era chamada nos primeiros tempos, o desenho. Jack Cross, em seu livro “O Ensino de Artes na Escola”, afirma que: “um jovem cavalheiro que soubesse desenhar poderia, com sua habilidade, suplementar o próprio diário; a escola oferecia os serviços do professor de desenho como vantagem opcional, mediante uma taxa adicional”.

     Praticava-se também o desenho de letras. Não só de escrita caligráfica, mas também de maiúsculas decorativas. Percebe-se claramente que a arte se resumia ao desenho de letras e cartazes. Aproximadamente, no século XIX, em muitos planos de trabalho, surgiu uma disciplina rotulada de treinamento manual, treinamento das mãos e dos olhos, trabalho manual, artesanato ou arte aplicada.

     Nas escolas da Inglaterra, França e outros países europeus, predominavam no século XIX, influências de ideias liberais e positivistas que resultavam na sua utilização como uma modalidade aplicada em ornamentos e preparação dos operários. A partir de 1837, foram criadas “Escolas de Desenho” na Inglaterra, para atender aos princípios e práticas artísticas de ornamentação, decoração e manufaturas.

     Na mesma época, nos Estados Unidos, os filhos das classes média e média alta, aprendiam em escolas particulares a copiar reproduções famosas, perspectiva linear e desenho geométrico. Com isso, podiam reconhecer as obras de arte originais dos grandes mestres e não comprar trabalhos falsos. Por outro lado, os filhos dos operários frequentavam a escola pública, onde aprendiam desenho geométrico e desenho linear, destinados a serem usados em seus futuros trabalhos nas fábricas.

     No Brasil do século XIX, o desenho passa a ocupar um espaço equivalente ao do mundo em industrialização, o que fica bem evidente no parecer feito por Rui Barbosa sobre o ensino primário em 1883, onde relaciona o desenho com o progresso industrial.

     Já nas primeiras décadas do século XX, continua visível, junto às classes sociais mais baixas, a analogia entre o ensino do desenho e o trabalho, como se observa nos programas de desenho geométrico, perspectiva, exercícios de composição para decoração e desenho de ornatos.  Estes, orientados exclusivamente para cópias de modelos que vinham geralmente de fora.

segunda-feira, 19 de fevereiro de 2024

SER CRIANÇA

 

 

    Quando criança vivi entre a cidade e o campo, na primeira, por uma necessidade de trabalho do meu pai, no campo, em meus momentos de férias. Morei em duas cidades de dois Estados da Federação, Nova Cruz – Rio Grande do Norte, e Itabaiana – Paraíba. Dessas duas cidades sempre tive como ponto de partida, o inesquecível sítio do meu avô, para onde sempre viajava quando de férias da escola, com meus pais, irmãos ou primos. O Sitio Engenho Velho está situado nas proximidades de Gramame, na cidade de João Pessoa. Vale ressaltar que na atualidade, este sítio está se transformando em bairro, visto que a capital cresceu até seus braços.

    A cidade me ensinou coisas importantíssimas em minha vida, mas o que deixou saudades, foram minhas viagens de férias para o campo. Lembro-me quando muito criança, viajava de trem com máquinas à vapor, mais conhecidas como Maria Fumaça. Naquelas viagens, parecia que eu estava entrando numa máquina do tempo. À medida que ia me aproximando do sítio, tudo ia se transformando em meus olhos e diante de mim.

     No Sítio Engenho Velho, eu tinha meus avós, tios, tias, primos, primas, árvores, frutos, pássaros, cachorros, cavalos, galinhas, animais diversos, casas de palha, rio, lagoa, cacimba, tudo o que uma criança necessitava para criar seu mundo de sonhos e fantasias. E eu ficava encantado com tudo isso. Pensava comigo mesmo, que tudo aquilo nunca iria se acabar. Mas, ninguém pode tomar banho duas vezes na mesma água do rio, já dizia o filósofo grego Heráclito de Éfeso.

     Ao raiar o dia, tomava leite quentinho que saía das tetas de uma vaca, direto para uma caneca que eu, a guardava desde a noite anterior. Entre os mais variados animais que meus tios criavam, eu ficava pasmo e não conseguia entender a astúcia indecifrável de uma vaca. O que ela tinha de especial? Simplesmente, mamava em suas próprias tetas.

     Não há como somar as vezes que eu subia nos pés de manga e, ali mesmo, no mais alto dos galhos, as devorava como um pequeno animal silvestre, isso sem contar as horas dedicadas no alto dos cajueiros. Ah! Jaca era o que não faltava na casa de minha tia, era preciso caminhar um pouco, mas valia a pena o sacrifício. Sempre me deliciava com água de coco verde, que era abundante naquele sítio.

     Delicioso era tomar banho, ao ar livre nas cacimbas do lugar, aqueles banhos mágicos com águas trazidas do leito da terra, isso me remete, na atualidade, às líricas poesias de Zé da Luz. Foram muitos os banhos nas águas do rio Gramame, quando o mesmo não era poluído. Sempre observava o quão era natural e tranquilo aquele rio... Andar de canoa com meus primos! Era uma grande aventura, igual à das histórias em quadrinhos dos gibis da época.

     Acompanhava meus tios no cotidiano, e nunca deixei de apreciar as plantações de feijão, quiabo, batata doce, mamão, macaxeira, entre outras. Era nas plantações onde eu conhecia o caminho das formigas. Feito na lenha e em panela de barro, com ingredientes que se cultivava nas imediações como, maxixe, pimenta do reino, tomate, couve, etc., ninguém fazia um almoço igual ao da minha avó, que tinha um gosto especial com sabor de terra.

segunda-feira, 12 de fevereiro de 2024

ORIGEM DO CARNAVAL

 

 

     As festividades do carnaval que conhecemos como se nos apresenta na atualidade, possuem vestígios antiquíssimos. Vamos encontrar algumas dessas evidências, em civilizações remotas, como na Suméria, Pérsia e principalmente nos antigos países Egito e Grécia. Esses povos cultuavam vários deuses e entre eles, sempre havia aquele deus da fertilidade, do sexo, da colheita, de momentos de bebidas intensas, de embriaguez, como também de liberação com perspectivas lascivas e de luxúrias.

     Entre os vários deuses, no panteão egípcio havia a deusa Bastet que era representada com o corpo humano, mas, com a cabeça de uma gata. Ela era considerada a protetora do lar, da vida doméstica, da fertilidade, do parto, dos segredos femininos e dos gatos. Os cultos em sua homenagem coincidiam com a colheita e a fabricação do vinho, momento em que havia alto consumo dessa bebida. Favorecia e motivava a euforia e o estado de embriaguez. Também era considerada a deusa da alegria, música, dança e do amor. Essas manifestações sempre aconteciam como um verdadeiro carnaval, visto que tudo era liberado nesses cultos.

     Na Grécia vamos nos deparar com o deus Dioniso, que também era deus da fertilidade, da colheita, do vinho, dos bacanais, e seus festivais eram intensos naquele país. O Objetivo do culto Dionisíaco era fazer com que a intensidade da paixão emergisse ao máximo. Dioniso era cultuado com ditirambos; canções cheias de momentos de livre expressão e plenas de paixão. Era uma divindade ligada ao campo. No início, essas festividades revolucionárias, revelavam uma espécie de transgressão em relação à sociedade grega da época.

     Tudo tinha início com imensas procissões, que partiam de determinados lugares até o Santuário do deus. Essas festividades se concentravam em três dias e transgrediam o cotidiano da sociedade grega. Semelhante ao carnaval da atualidade, sempre havia confronto em relação à transgressão dos valores sociais, como por exemplo: os homens se vestiam de mulheres, o pobre se vestia de rico, as prostitutas fingiam ser donzelas, tudo isso regado a muito vinho, dança e gritos de viva a Dioniso. Era uma festa que durava três dias, regada de muito vinho, admitindo-se que as relações sexuais ao ar livre, fossem absolutamente permitidas e consideradas habituais.

 

     Com o advento do Império Romano e dominação de toda a Europa, havia o “Festival Ploiafésia”, que era um evento greco-romano, também conhecido como Festival Isidis Navigium, quando um barco era montado numa carroça e dedicado à deusa Ísis. Este carro alegórico, também era conhecido como carro-navalis, ou seja, um carro transformado em navio que desfilava pela cidade, de onde deriva, certamente, a palavra carnaval.

     Também havia barcos que eram lançados ao mar em homenagem à deusa Ísis. Essa era uma das manifestações mais importantes do culto a Ísis, na época greco-romana. A Ploiafésia acontecia geralmente, duas vezes ao ano, mas, a mais concorrida acontecia no dia 5 de março, tendo em vista que era a mais original, e realizava-se no mesmo período onde havia melhores condições climáticas para a navegação. Com a perspectiva de relacionar a deusa Ísis aos imperadores romanos, decidiram criar novas datas para o lançamento do navio ao mar, mais especificamente, nos dias 5 e 6 de janeiro, de cada ano.

     Na contemporaneidade, as festas de carnaval pelo mundo afora, trazem consigo todo esse legado dos grandes festivais, em homenagem à deusa Bastet e Ísis, no Egito, e do culto ao deus Dioniso, na Grécia. Os navios que antes eram montados em carros e carroças em homenagem ao deus Dioniso, como também à deusa Ísis, Isidis Navigium, hoje se transformaram nos grandiosos carros alegóricos das escolas de samba que desfilam na atualidade, em homenagem ao Rei Momo.

 

segunda-feira, 5 de fevereiro de 2024

PARABÉNS MACAPÁ

 

 

          Cheguei à cidade de Macapá em novembro de 1994 para me submeter a concurso público na Universidade Federal do Amapá. Com a Universidade recém fundada, participei do seu segundo concurso público para professor do magistério superior. Era uma cidade horizontal, com faixa de trezentos mil habitantes e com a maioria de suas casas de madeira. Condição que chamou extremamente minha atenção.    

     Nada conhecia sobre este recanto de Brasil, tudo era novo, eu ainda não tinha nenhuma referência sobre este espaço geográfico. Trabalhava em Belém, no Núcleo Integrado da UFPA, mas desejava ir mais longe. Cheguei aqui com a cara e a coragem de um nordestino desbravador e passei a ser pioneiro em relação aos estudos e pesquisas na área das artes cênicas. Iniciei as primeiras pesquisas científicas sobre o Teatro do Amapá e continuo estudando e pesquisando este mesmo tema.

     Aos poucos, fui enamorando esta pequena cidade, que paulatinamente foi me conquistando com o passar dos anos. Hoje tenho muito orgulho de Macapá. De todo o processo que acompanhei ao ver esta cidade crescer, juntamente com o desenvolvimento da própria Universidade Federal do Amapá, que, há vinte e nove anos, se tornou minha casa, meu ninho, meu aconchego.

     Macapá está de Parabéns nesses seus 266 anos. É verdade que há muito o que se comemorar. Nessas quase três últimas décadas, a cidade cresceu em todos os sentidos: alargamento de avenidas, criação de museus, entre outros fatores. O centro da cidade, por exemplo, ficou completamente revitalizado com a Fortaleza de São José de Macapá, onde todo o espaço urbano do centro da cidade foi se transformando num complexo turístico deveras importante. A recuperação do entorno do canal da Mendonça Júnior, a Rodovia Duca Serra que virou uma grande avenida.

     Muitos espaços que vem sendo construídos e definidos ao longo dos anos, como a grande avenida que transformou a entrada da cidade, de quem vem do interior ou da Guiana Francesa. Tiro o chapéu para esta bela avenida ampla, arborizada, com ciclovias, sinalização e passarelas para pedestres, que envolve vários bairros da zona norte. Espaço urbano que há 29 anos havia apenas uma pequena via e alguns bairros como, Jardim da Felicidade e Boné Azul.

     Macapá foi me envolvendo, aos poucos, e também fui me amalgamando a esta pequena cidade joia da Amazônia. Morar neste lugar é ter o prazer de todos os dias ter a chance de apreciar esta bela paisagem que se encontra de braços abertos para todos, que é o rio Amazonas. Particularmente, este rio me encanta. Sou grato por estar em Macapá e ela estar em mim, por osmose se deu nossa relação, eu e a cidade, a cidade e eu. 

     Macapá é uma cidade tranquila, me sinto bem neste recanto do Brasil. Aqui que me realizei profissionalmente e venho fazendo minha parte. Este ano de 2024, estarei lançando mais uma obra para contribuir com esta cidade e este Estado que me acolheu em seus braços. A obra intitula-se “História do Teatro do Amapá – De 1950 aos Dias Atuais”. Tenho a honra de hoje ser cidadão macapaense. Parabéns Macapá...!!! Parabéns Macapá...!!!

 

 

 

segunda-feira, 29 de janeiro de 2024

EQUIPE DE TITULARES

 


     Nas Universidades Federais, a carreira acadêmica inicia como professor auxiliar, depois professor assistente; em seguida, professor adjunto; depois professor associado; culminando com o último grau da carreira que é o professor titular. Para chegar a ser professor titular é preciso o candidato ser doutor e ter produção acadêmica. O candidato terá que encaminhar processo com memorial descritivo e comprovação de toda sua produção acadêmica. Os memoriais são escritos na primeira pessoa do singular, da mesma forma que as cartas, as confissões, os diários e as memórias. Esse gênero de escrita de se expõe as razões do sujeito na sua parcialidade e subjetividade. Trata-se de um gênero que produz certo grau de desconforto entre os pesquisadores acadêmicos, uma vez que, por razões de ofício, esses aprenderam a escrever na terceira pessoa do singular ou na primeira pessoa do plural, na pretensão de produzir os efeitos de imparcialidade e impessoalidade.

     Cinco anos após sua fundação, isto é, em 1995, a UNIFAP contava apenas com 4 professores Mestres. O primeiro professor Titular da instituição se deu com a chegada do professor Dr. João Renôr Ferreira de Carvalho, oriundo da Universidade Federal do Amazonas – UFAM; em seguida o Prof. Dr. Luís Isamu Barros Kanzaki, se tornou o segundo professor titular da UNIFAP. Vale salientar que há bastante tempo, esses professores já não mais pertencem aos quadros da instituição, e, que que este foi um momento isolado que se deu na década de 1990 do século XX. 

     Tratando-se do século XXI, até meados de 2019 a Universidade Federal do Amapá possuía apenas  dois professores titulares; Professora Doutora Julieta Bramorski e Professor Doutor José Carlos Tavares; os quais se submeteram a concurso público; em agosto deste mesmo ano, foi a vez de mais um servidor se tornar Titular, no caso, o Professor Doutor Jadson Porto, que apresentou Memorial Descritivo. No dia 11 de setembro de 2019, me tornei Professor Titular e já no dia 12, a professora Doutora Rosemary Ferreira de Andrade; nós também apresentamos Memorial Descritivo. Em dezembro desse mesmo ano, fui Presidente da Banca da Professora Doutora Simone Garcia Almeida, esta última resolveu apresentar sua tese intitulada “Água de Barrela”. O que se pode observar, é que nossa instituição encerrou o ano de 2019 com um total de 6 professores titulares.   

     Apesar da pandemia do coronavírus e de todos os problemas que vinha enfrentando o estado do Amapá, no ano de 2020, foi a vez da Professora Doutora Helenilza Ferreira de Albuquerque, que conseguiu galgar ser Professora Titular. Nesse período, todas as bancas foram realizadas online. No dia 27, desse mesmo ano fui Presidente da Banca de Avaliação do Prof. Doutor José Alberto Tostes, que apresentou seu Memorial Descritivo e foi aprovado pela Comissão de Avaliação. Isto implica dizer que a UNIFAP encerrou o ano de 2020 com um total de 8 professores Titulares. Já no ano de 2021, também fui presidente da banca de progressão do Prof. Dr. Carmo Antônio de Souza, o qual, se tornou o primeiro professor Titular do Curso de Direito da UNIFAP. Em 2022, mais dois professores tiveram progressão funcional, sendo assim, o Prof. Dr.  Ricardo Ângelo Pereira de Lima, da área de Geografia, também se tornou Prof. Titular, como também, o Prof. Dr. Raimundo Nonato. E, em 2023, prof. Dr. João Batista Gomes de Oliveira, também entrou para o time de professores titulares da UNIFAP. Desta feita, a Universidade Federal do Amapá inicia este ano de 2024 com um total de 12 professores nível “E”, reconhecidos Professores Titulares.

domingo, 14 de janeiro de 2024

GIRA MUNDO

 

 

     Último dia 09 de janeiro, consegui chegar ao meu sexagésimo terceiro janeiro. Não é fácil! Não é fácil chegar aos sessenta e três anos de idade. De toda forma, estou muito feliz de ter chegado a esse patamar da vida. É um caminho muito longo, em diversos sentidos. Sem esquecer que nessa imensa caminhada, muitos colegas ficaram para trás...! Muitos amigos se foram! Com um olhar para o passado, percebo que a vida se transforma numa constante luta pela sobrevivência. Isso se percebe desde criança, quando passamos a acompanhar nossos pais na luta diária... no cotidiano!

     Eu nasci em Nova Cruz, pequena cidade do Rio Grande do Norte. Meu pai já havia trabalhado de pedreiro, no Rio de Janeiro. Retornou e conseguiu um emprego efetivo na Rede Ferroviária do Nordeste. Naquela época, jovem, quando conseguia emprego, a primeira coisa que fazia era arranjar uma namorada e casar. Já casado com minha mãe, trabalhou na cidade de Cabedelo na Paraíba, depois foi transferido para a cidade de Nova Cruz – RN, onde nasci. Meu pai trabalhava oito horas por dia, saía pela manhã e só voltava para casa à noite.

     Quanto à minha mãe, como doméstica, dedicou sua vida à família. Era um período em que a mulher fazia tudo em casa, cozinhar, passar, lavar roupa, cuidar dos filhos. Eletrodomésticos? Ninguém sabia o que era isso! Até o ferro de passar tinha como combustível, o carvão vegetal. Além de tudo isso, ela era uma exímia costureira, e nas horas vagas costurava roupas, para também contribuir com os recursos financeiros da família. Portanto, em função da família, trabalhava diuturnamente.

     Quanto a mim, passei a vida buscando conquistar meus objetivos. Para isso, como uma fera, tive que enfrentar as vicissitudes da vida e da sociedade contemporânea. O primeiro passo foi o estudo. Não tenho nada, mas o que tenho, conquistei em função de toda uma vida dedicada ao estudo. Meus pais me ensinaram, e eu segui seus conselhos, eles diziam:  - para ser alguém na vida é preciso estudar! E foi exatamente isso o que fiz, continuo e continuarei fazendo, durante toda minha existência.

     São muitos os estágios que temos que enfrentar; até para entrar no curso ginasial, havia uma prova de admissão, como se fosse um pequeno ENEM, depois o vestibular, para entrar no curso superior. Em seguida, Mestrado, Doutorado e Pós-Doc. É uma vida inteira, dedicada aos estudos. No mais das vezes, o jovem não entende e não compreende essas necessidades que a vida nos impõe, mas é a nossa selva de pedra que a cada dia nos exige mais empenho e determinação para almejar nosso futuro.

     Agora, já com sessenta e três anos de idade, dou glória a Deus, enxergando no final do túnel a proximidade da minha aposentadoria. Com quarenta e nove anos dedicados à arte e especificamente ao teatro, e ainda, quarenta e dois anos dedicados à educação e pesquisa, sou uma pessoa feliz. E digo ainda! faria tudo outra vez. Hoje, tenho a honra de ter tido uma vida completamente dedicada à arte e à educação. Tenho certeza de que não me arrependo de nada que fiz durante minha vida passada. Aos sessenta e três, estou preparado para o futuro. E assim, eu giro...! e assim, gira mundo...!

     

 

segunda-feira, 8 de janeiro de 2024

MOBRAL E TEATRO NO AMAPÁ

 

 

     Na década de 1970 ainda era evidente o teatro nas escolas e nas igrejas, percebendo aqui, igreja num sentido amplo, evidenciando várias religiões, visto que, tanto o catolicismo como o protestantismo, praticavam essa atividade artística no âmbito de seus espaços físicos e dos seus limites canônicos.

     A escola Paroquial São José, fomentava aulas de teatro, que eram ministradas pelos padres e freiras. Apesar de direcionarem espetáculos com temas religiosos, eles se tornaram os principais professores de arte no Amapá, daquele período. Essas atividades aconteciam geralmente, no curso primário e ginasial.

     Havia ainda o “Grupo de Teatro do Colégio Amapaense”, e o “Grupo de Teatro do Santina Rioli”. Na Paróquia Jesus de Nazaré, havia o “Grupo de Teatro Avatar”. Em sua maioria e com influências religiosas, esses grupos se dedicavam a montar espetáculos religiosos com temas sobre “Natal”, “Jesus Cristo”, “Dia da Mães”, entre outras datas comemorativas.

     Entre o período de 1968 a 1978, a Rádio Educadora de Macapá, que pertencia à Prelazia de Macapá, (atual Diocese) também cedia espaços para radionovelas e para apresentação de peças em seu auditório. Fato que também já vinha sendo realizado pela Rádio Difusora de Macapá. A referida emissora fundada em 1968, teve sua programação interditada no ano de 1978, pela Polícia Federal, no ato em que sua concessão de funcionamento foi cassada pelo regime militar.

     Nessa época, o Movimento Brasileiro de Alfabetização – MOBRAL, em muito contribuiu para o desenvolvimento do teatro no Estado do Amapá. Além da motivação, trazia para o Cabo Norte, muitos cursos e oficinas na área das artes cênicas. Coronel Ribeiro defensor ferrenho da educação e das artes, era Presidente do MOBRAL, e trazia vários professores de outros Estados para ministrarem cursos e oficinas de teatro, como por exemplo, empostação de voz, interpretação, direção teatral, entre outros cursos. Marizete Ramos veio de Belém, como também o diretor Luiz Otávio Barata, para ministrar curso para nossos atores.  

     Por outro lado, também havia alguns professores aqui no Estado do Amapá, que tinham conhecimento e condições de ministra oficinas de teatro, como a atriz Creusa Bordalo, que inclusive havia realizado curso de teatro no Rio de Janeiro, Padre Mino e o próprio Coronel Ribeiro também tinha conhecimento na área do teatro. O atual “Grupo Língua de Trapo”, que há mais de 33 anos vem apresentando sua peça “Bar Caboclo”, é o resultado concreto de uma dessas oficinas, gerenciadas pelo MOBRAL. É um grupo que surgiu praticamente a partir do trabalho do Coronel Ribeiro à frente do MOBRAL. Foi nesse período que começaram a surgir os diretores teatrais específicos do Amapá, como Amadeu Lobato e Disney Silva. A peça Uma Cruz para Jesus, que vem se apresentando há mais de 40 anos na área norte da Fortaleza de São José de Macapá, durante a Semana Santa, também tem sua gênese nesse mesmo vetor.

segunda-feira, 1 de janeiro de 2024

FELIZ ANO NOVO

 


     O ano de 2023 está chegando ao fim, já passou o Natal e estamos comemorando mais uma vitória, mais um ano que continuamos batalhando e sabendo que ainda estamos vivos. É isso aí...! A vida passa e tudo passa, nós também passamos. O ontem já se foi, o hoje continua, e o amanhã a Deus pertence, Sigamos em frente com nossos objetivos e nossos sonhos.

     A cada final de ano todos nós fazemos um balanço de nossas vidas. O porquê de estarmos aqui? Para onde iremos? Saudade dos que já se foram...! A busca constante da felicidade. A esperança que nunca morre. O dia de amanhã que vai melhorar.

     E assim a vida passa, passa como um cometa que ninguém vê, e o cotidiano fica assim: acordar cedo pela manhã, levar o filho para a escola, ir ao trabalho; meio dia, pegar o filho na escola; almoçar para trabalhar novamente, voltar para casa e jantar, deitar e dormir para acordar no outro dia e recomeçar tudo outra vez.

     Já dizia o filósofo: a vida é curta pra dizer que não é longa e é longa pra dizer que não é curta e é por isso que devemos aproveitá-la ao máximo, de todas as formas, plenamente. Com a comemoração das festas de final de ano realizamos um retour ao nosso passado, ou mais especificamente ao ano que passou, que está finalizando. São momentos que nos traz muitas esperanças para podermos continuar jogando no jogo da vida.

     E aqui lembro que há 10 anos eu estava motivando e implementando os primeiros passos do curso de teatro da Universidade Federal do Amapá, e nesse momento estou ansioso com a perspectiva da comemoração da entrada da primeira turma, que aconteceu no dia 09 de abril de 2014. Curso que abriu perspectivas de trabalho para muitos jovens que hoje se dedicam a trabalhar com as artes cênicas no Amapá.

      Essas atitudes são de tamanha importância e nos alimentam consideravelmente para poder continuar nossa contribuição com a sociedade amapaense nesse estágio da vida. Assim, continuaremos com nossas pesquisas, nossos estudos, no intuito de dotar as bibliotecas com vários documentos sobre a cultura e o teatro amapaense.

     Por fim, esperamos que neste ano de 2024, tenhamos mais força para continuar nessa luta. A todos e todas, principalmente aos jovens, aos colegas da área da educação e a população em geral desejo um Feliz Ano Novo. Que o Amapá avance politicamente, que as pessoas saibam votar e escolher seus candidatos. Que os governantes saibam com sapiência transformar o Brasil num país do futuro. De qualquer forma, minha última mensagem para todos os viventes é a seguinte frase em latim: Carpe diem, quam minimum credula postero. Até 2024.