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segunda-feira, 19 de fevereiro de 2024

SER CRIANÇA

 

 

    Quando criança vivi entre a cidade e o campo, na primeira, por uma necessidade de trabalho do meu pai, no campo, em meus momentos de férias. Morei em duas cidades de dois Estados da Federação, Nova Cruz – Rio Grande do Norte, e Itabaiana – Paraíba. Dessas duas cidades sempre tive como ponto de partida, o inesquecível sítio do meu avô, para onde sempre viajava quando de férias da escola, com meus pais, irmãos ou primos. O Sitio Engenho Velho está situado nas proximidades de Gramame, na cidade de João Pessoa. Vale ressaltar que na atualidade, este sítio está se transformando em bairro, visto que a capital cresceu até seus braços.

    A cidade me ensinou coisas importantíssimas em minha vida, mas o que deixou saudades, foram minhas viagens de férias para o campo. Lembro-me quando muito criança, viajava de trem com máquinas à vapor, mais conhecidas como Maria Fumaça. Naquelas viagens, parecia que eu estava entrando numa máquina do tempo. À medida que ia me aproximando do sítio, tudo ia se transformando em meus olhos e diante de mim.

     No Sítio Engenho Velho, eu tinha meus avós, tios, tias, primos, primas, árvores, frutos, pássaros, cachorros, cavalos, galinhas, animais diversos, casas de palha, rio, lagoa, cacimba, tudo o que uma criança necessitava para criar seu mundo de sonhos e fantasias. E eu ficava encantado com tudo isso. Pensava comigo mesmo, que tudo aquilo nunca iria se acabar. Mas, ninguém pode tomar banho duas vezes na mesma água do rio, já dizia o filósofo grego Heráclito de Éfeso.

     Ao raiar o dia, tomava leite quentinho que saía das tetas de uma vaca, direto para uma caneca que eu, a guardava desde a noite anterior. Entre os mais variados animais que meus tios criavam, eu ficava pasmo e não conseguia entender a astúcia indecifrável de uma vaca. O que ela tinha de especial? Simplesmente, mamava em suas próprias tetas.

     Não há como somar as vezes que eu subia nos pés de manga e, ali mesmo, no mais alto dos galhos, as devorava como um pequeno animal silvestre, isso sem contar as horas dedicadas no alto dos cajueiros. Ah! Jaca era o que não faltava na casa de minha tia, era preciso caminhar um pouco, mas valia a pena o sacrifício. Sempre me deliciava com água de coco verde, que era abundante naquele sítio.

     Delicioso era tomar banho, ao ar livre nas cacimbas do lugar, aqueles banhos mágicos com águas trazidas do leito da terra, isso me remete, na atualidade, às líricas poesias de Zé da Luz. Foram muitos os banhos nas águas do rio Gramame, quando o mesmo não era poluído. Sempre observava o quão era natural e tranquilo aquele rio... Andar de canoa com meus primos! Era uma grande aventura, igual à das histórias em quadrinhos dos gibis da época.

     Acompanhava meus tios no cotidiano, e nunca deixei de apreciar as plantações de feijão, quiabo, batata doce, mamão, macaxeira, entre outras. Era nas plantações onde eu conhecia o caminho das formigas. Feito na lenha e em panela de barro, com ingredientes que se cultivava nas imediações como, maxixe, pimenta do reino, tomate, couve, etc., ninguém fazia um almoço igual ao da minha avó, que tinha um gosto especial com sabor de terra.

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