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segunda-feira, 18 de março de 2024

PASSOS DO HERÓI

 

 

     Basicamente, se olharmos para todo herói, iremos perceber que há muita coisa de semelhante, principalmente no que diz respeito à sua trajetória, à sua história; visto que todos eles seguem o mesmo enredo, o mesmo caminho ou a mesma saga. Quem já assistiu um filme de western ou bang-bang, sabe disso! Inicia-se quando, geralmente, nasce numa família muito humilde. Possui força sobre-humana precoce; e de acordo com seu desenvolvimento, consegue rápida ascensão ao poder, além de muita notoriedade. Torna-se defensor da justiça e cheio de virtudes, e na sua trajetória final, ou morre ou se torna herói reconhecido pelo seu povo.

     O herói geralmente, sai do seu mundo comum, passa por um mundo diferente e desconhecido, e retorna ao seu mundo comum, como verdadeiro herói. Como isso acontece? Vejamos: primeiramente há um chamado para a aventura, uma mensagem ou um convite de alguém, na verdade um desafio que ele deverá aceitar, ou não. Aqui, ele ainda está em seu mundo cotidiano. Para sua difícil decisão, sai em busca de alguém mais sábio, um oráculo, talvez! Em busca de conselhos e ajuda. Em função de sua decisão, segue seu rumo, cruzando o portal do seu mundo normal, seguro e tranquilo, e adentrando num mundo especial, desconhecido e cheio de provações e aventuras.

     Já no mundo completamente misterioso, o herói terá que passar por testes e provações; e este é o momento em que muitas situações adversas possivelmente irão acontecer, como, por exemplo, escapar de uma armadilha, descobrir o enigma e matar um monstro. Lembremos da saga de Ulisses no seu retorno à Ítaca; em Édipo Rei, quando mata a esfinge, ou ainda os 12 trabalhos de Hércules. E aí, chega a hora de encarar a maior provação, que se torna o maior temor do herói, mas que inevitavelmente ele terá que enfrentar tais situações. Este é o mais difícil momento do herói, tendo em vista, que ele, enfrentará a morte, e poderá matar o monstro ou até mesmo morrer.

     Ao vencer todas as suas provações, com certeza, o herói exige um prêmio, uma recompensa, algum tesouro, ou poder, como aconteceu com Édipo, que se tornou rei de Tebas. No desfecho de sua caminhada, o povo se curva respeitosamente diante do herói e o transforma em rei ou pessoa importante. Portanto, há várias formas de se decidir o desfecho final. Então, chega o momento do herói sair do seu mundo especial, e retornar ao seu mundo normal, já como herói reconhecido. Acontece que, depois de toda essa aventura, ele retorna a seu mundo normal, rejuvenescido e com uma nova vida. Foi preciso todo esse desenlace para que o mesmo se tornasse um herói. Seu gesto, sua decisão e sua atitude o transformaram em herói. 

     Em função de que todas as tramas foram resolvidas, o herói volta ao seu mundo cotidiano, mas com um nível mais elevado, já não é mais o mesmo, deixando de ser algo comum, para ser um herói. Isso também acontece com o personagem Flick, herói do filme “Vida de Inseto”, Édipo, na peça “Édipo Rei”, de Sófocles, como também fica muito claro no personagem “Ulisses” da “Odisseia”, e ainda, vamos encontrar esses heróis em muitos filmes populares. Esta é a jornada do herói.

 

quarta-feira, 13 de março de 2024

PROFESSORA VERÔNICA É CIDADÃ AMAPAENSE

 

 

     Na última segunda-feira, dia 4 de março, a Professora aposentada Doutora Verônica Xavier Luna, da Universidade Federal do Amapá, recebeu da Assembleia Legislativa do Estado do Amapá, o Título de Cidadã Amapaense, numa homenagem do Deputado Estadual Jory Oeiras. Desde muito jovem, Dra. Verônica se dedicou ao magistério, quando ainda não tinha habilitação específica para trabalhar como professora, mas apenas como diletante da arte de ensinar. Aos dezesseis anos já atuava no ensino primário, escala que foi aumentando à medida que foi adquirindo sua formação superior.

     Ao chegar à região Norte, na qualidade de professora concursada da Universidade Federal do Amapá e docente do Curso de História, sua vivência no Amapá foi despertando seu interesse pela cultura local, religiosidade e a formação social do seu povo. Ao se familiarizar com as comunidades afrodescendentes do Amapá, foi motivada por esse novo mundo, o que a levou ao compromisso acadêmico tendo como ponto de partida a sociedade amapaense. A partir de seus estudos, publicou em 2011, a obra intitulada “ESCRAVOS EM MACAPÁ”, que foi resultado da conclusão de seu Mestrado. 

     Com o passar dos anos, em suas pesquisas Dra. Verônica afirma ter-se debruçado sobre extensa literatura, partindo de autores locais e regionais. Além de entrar em contato com a historiografia local, à qual, revelou uma história mais política da região, ela também participou de vários encontros que debatiam essa temática. O estudo da professora aprofunda o alargamento da formação social dos trabalhadores africanos cativos na Vila de Macapá, tendo como perspectiva a formação social e histórica em suas diferentes dimensões, voltados para o debate acadêmico da história da Vila de Macapá.

     A professora passou a apreender práticas da cidade no início dos tempos republicanos, delimitadas por uma temporalidade também passada/presente. Sendo assim, realizou atividades em instituições públicas de Macapá: como exemplo: no cartório Jucá, no Tribunal Judiciário do Amapá (TJAP), Biblioteca Pública Elcy Lacerda, e ainda no arquivo da Cúria de Macapá. Essa atividade contou com a colaboração de alunos da especialização e da graduação em história da UNIFAP. Em 2020, publicou a obra “UM CAIS QUE ABRIGA HISTÓRIAS DE VIDA – Sociabilidades Conflituosas na Gentrificação da Cidade de Macapá (1943 a 1970).

     Como professora da Universidade Federal do Amapá, criou o Centro de Estudos e Pesquisas Arqueológicas – CEPAP; como também o Centro de Memória, Documentação Histórica e Arquivo – CEMEDHARQ/UNIFAP. Mesmo aposentada atua em prol do salvamento dos acervos documentais do Estado do Amapá, com intuito de garantir a preservação e guarda da memória e identidade histórica local. Salvou a Memória da Briosa Guarda Territorial e a transformou em livro, que teve como resultado a obra “MEMÓRIA DA BRIOSA GUARDA TERRITORIAL DO AMAPÁ”, livro que foi lançado no dia 21 de setembro de 2023. Atualmente continua investindo na guarda de memória de atores sociais locais. 

                                                                                    Prof. Dr. PALHANO.

terça-feira, 5 de março de 2024

FUTLAMA

 

 

     Uma das características culturais da cidade de Macapá é o conhecido FUTLAMA, que vem sendo realizado e apreciado pela população há muitos anos. É uma criação dos amapaenses aficionados ao futebol, não profissionais, mas que não têm acesso a grandes estádios. Essa mania de jogar futebol nas areias do rio amazonas, quando o mesmo está de maré baixa, ganhou espaço na cidade, visto que já existe até campeonatos de futlama. Seguindo a principal lei dos povos dessa região insular, tudo está submetido ao grande rio amazonas, em função da sua tábua de marés. Isso mesmo...! É o fluxo da maré quem determina o horário de partida e de chegada. É a maré quem define o horário do vai e vem de pessoas e mercadorias dessa região. Frente a isso, o Futlama também não poderia fugir a essa regra, por isso mesmo ele sempre acontece com a maré baixa.

     O que inicialmente era um momento de prazer e lazer de antigos pescadores, os quais, precisavam relaxar após o árduo trabalho, tomou corpo e na atualidade, todos os anos vem acontecendo o campeonato de futlama defronte à cidade, na ocasião da maré baixa. Ao longo dos anos, certamente, houve vários avanços em relação à essa atividade cultural no Amapá. No ano de 2003, se deu o primeiro torneio de futebol de lama do Brasil. Já em 2007, houve a fundação da Federação Amapaense de Futlama. Como tudo na região Norte está sujeito às forças da natureza, da mesma forma que os jogos acontecem na maré baixa, em vários casos, a força das águas, faz com que a partida termine antes do tempo previsto. Não é à toa que, praticamente todos os anos, em função da força das águas, entre março e abril, acontece as marés lançantes quando a orla de Macapá fica completamente inundada, sendo batizada e purificada pelas águas do grande rio.

     Outro dado interessante, é que as agremiações sempre homenageiam a própria região colocando nomes específicos da fauna e flora amazônica, como: Tralhoto, Vitória Régia, entre outros. Essas atividades culturais já fazem parte do Patrimônio cultural da cidade. O que se pode observar aqui, é a persistência e resiliência de uma comunidade de cidadãos que a partir, de sua atuação, busca conquistar um sentido de pertencimento ao grupo de amigos, à cidade e, respectivamente, ao Estado do Amapá.  É extremamente necessário que os órgãos de cultura se voltem para a motivação e proteção de atividades culturais desse gênero, principalmente quando surge de classes menos favorecidas. Ao longo da história pode-se observar alguns casos como por exemplo, o próprio samba, que foi perseguido, aqui no Brasil, a valsa, na Argentina. Em seu início, essas manifestações foram rechaçadas pela elite, mas, que se tornaram patrimônios desses países.

     O que me fez escrever este artigo sobre o Futlama de Macapá, foi em função de meu retorno à Macapá, no início de janeiro do ano em curso, quando da leitura de uma matéria sobre essa beleza de manifestação cultural da nossa querida cidade. A referida reportagem encontra-se na revista de bordo, nº 236, de novembro/dezembro/2023, da empresa aérea Gol, com início na página 32, e término na página 37. Ao ler tal reportagem fiquei muito feliz de ter visto uma notícia tão importante numa revista que é lida por centenas de brasileiros.  

ARTE E EDUCAÇÃO

 

 

     Muito se tem enfocado sobre a questão do ensino de artes nas escolas, o que é importante saber é que desde os primórdios que a arte está presente, mesmo que não tenha sido no currículo propriamente dito, mas, na prática sempre existiu. Na minha passagem pelo curso ginasial, na década de 1970, por exemplo, já havia aulas de música, pintura e dramatização, como também, professores formados nessas áreas da arte. Vejamos os primórdios do processo do ensino de artes nas escolas.

     O ensino de artes nas escolas não é tema da atualidade, ao contrário, é assunto extremamente antigo. Tudo começou com o desenho. Clara herança do passado é o persistente desejo oficial de justificar a arte, ou como era chamada nos primeiros tempos, o desenho. Jack Cross, em seu livro “O Ensino de Artes na Escola”, afirma que: “um jovem cavalheiro que soubesse desenhar poderia, com sua habilidade, suplementar o próprio diário; a escola oferecia os serviços do professor de desenho como vantagem opcional, mediante uma taxa adicional”.

     Praticava-se também o desenho de letras. Não só de escrita caligráfica, mas também de maiúsculas decorativas. Percebe-se claramente que a arte se resumia ao desenho de letras e cartazes. Aproximadamente, no século XIX, em muitos planos de trabalho, surgiu uma disciplina rotulada de treinamento manual, treinamento das mãos e dos olhos, trabalho manual, artesanato ou arte aplicada.

     Nas escolas da Inglaterra, França e outros países europeus, predominavam no século XIX, influências de ideias liberais e positivistas que resultavam na sua utilização como uma modalidade aplicada em ornamentos e preparação dos operários. A partir de 1837, foram criadas “Escolas de Desenho” na Inglaterra, para atender aos princípios e práticas artísticas de ornamentação, decoração e manufaturas.

     Na mesma época, nos Estados Unidos, os filhos das classes média e média alta, aprendiam em escolas particulares a copiar reproduções famosas, perspectiva linear e desenho geométrico. Com isso, podiam reconhecer as obras de arte originais dos grandes mestres e não comprar trabalhos falsos. Por outro lado, os filhos dos operários frequentavam a escola pública, onde aprendiam desenho geométrico e desenho linear, destinados a serem usados em seus futuros trabalhos nas fábricas.

     No Brasil do século XIX, o desenho passa a ocupar um espaço equivalente ao do mundo em industrialização, o que fica bem evidente no parecer feito por Rui Barbosa sobre o ensino primário em 1883, onde relaciona o desenho com o progresso industrial.

     Já nas primeiras décadas do século XX, continua visível, junto às classes sociais mais baixas, a analogia entre o ensino do desenho e o trabalho, como se observa nos programas de desenho geométrico, perspectiva, exercícios de composição para decoração e desenho de ornatos.  Estes, orientados exclusivamente para cópias de modelos que vinham geralmente de fora.

segunda-feira, 19 de fevereiro de 2024

SER CRIANÇA

 

 

    Quando criança vivi entre a cidade e o campo, na primeira, por uma necessidade de trabalho do meu pai, no campo, em meus momentos de férias. Morei em duas cidades de dois Estados da Federação, Nova Cruz – Rio Grande do Norte, e Itabaiana – Paraíba. Dessas duas cidades sempre tive como ponto de partida, o inesquecível sítio do meu avô, para onde sempre viajava quando de férias da escola, com meus pais, irmãos ou primos. O Sitio Engenho Velho está situado nas proximidades de Gramame, na cidade de João Pessoa. Vale ressaltar que na atualidade, este sítio está se transformando em bairro, visto que a capital cresceu até seus braços.

    A cidade me ensinou coisas importantíssimas em minha vida, mas o que deixou saudades, foram minhas viagens de férias para o campo. Lembro-me quando muito criança, viajava de trem com máquinas à vapor, mais conhecidas como Maria Fumaça. Naquelas viagens, parecia que eu estava entrando numa máquina do tempo. À medida que ia me aproximando do sítio, tudo ia se transformando em meus olhos e diante de mim.

     No Sítio Engenho Velho, eu tinha meus avós, tios, tias, primos, primas, árvores, frutos, pássaros, cachorros, cavalos, galinhas, animais diversos, casas de palha, rio, lagoa, cacimba, tudo o que uma criança necessitava para criar seu mundo de sonhos e fantasias. E eu ficava encantado com tudo isso. Pensava comigo mesmo, que tudo aquilo nunca iria se acabar. Mas, ninguém pode tomar banho duas vezes na mesma água do rio, já dizia o filósofo grego Heráclito de Éfeso.

     Ao raiar o dia, tomava leite quentinho que saía das tetas de uma vaca, direto para uma caneca que eu, a guardava desde a noite anterior. Entre os mais variados animais que meus tios criavam, eu ficava pasmo e não conseguia entender a astúcia indecifrável de uma vaca. O que ela tinha de especial? Simplesmente, mamava em suas próprias tetas.

     Não há como somar as vezes que eu subia nos pés de manga e, ali mesmo, no mais alto dos galhos, as devorava como um pequeno animal silvestre, isso sem contar as horas dedicadas no alto dos cajueiros. Ah! Jaca era o que não faltava na casa de minha tia, era preciso caminhar um pouco, mas valia a pena o sacrifício. Sempre me deliciava com água de coco verde, que era abundante naquele sítio.

     Delicioso era tomar banho, ao ar livre nas cacimbas do lugar, aqueles banhos mágicos com águas trazidas do leito da terra, isso me remete, na atualidade, às líricas poesias de Zé da Luz. Foram muitos os banhos nas águas do rio Gramame, quando o mesmo não era poluído. Sempre observava o quão era natural e tranquilo aquele rio... Andar de canoa com meus primos! Era uma grande aventura, igual à das histórias em quadrinhos dos gibis da época.

     Acompanhava meus tios no cotidiano, e nunca deixei de apreciar as plantações de feijão, quiabo, batata doce, mamão, macaxeira, entre outras. Era nas plantações onde eu conhecia o caminho das formigas. Feito na lenha e em panela de barro, com ingredientes que se cultivava nas imediações como, maxixe, pimenta do reino, tomate, couve, etc., ninguém fazia um almoço igual ao da minha avó, que tinha um gosto especial com sabor de terra.

segunda-feira, 12 de fevereiro de 2024

ORIGEM DO CARNAVAL

 

 

     As festividades do carnaval que conhecemos como se nos apresenta na atualidade, possuem vestígios antiquíssimos. Vamos encontrar algumas dessas evidências, em civilizações remotas, como na Suméria, Pérsia e principalmente nos antigos países Egito e Grécia. Esses povos cultuavam vários deuses e entre eles, sempre havia aquele deus da fertilidade, do sexo, da colheita, de momentos de bebidas intensas, de embriaguez, como também de liberação com perspectivas lascivas e de luxúrias.

     Entre os vários deuses, no panteão egípcio havia a deusa Bastet que era representada com o corpo humano, mas, com a cabeça de uma gata. Ela era considerada a protetora do lar, da vida doméstica, da fertilidade, do parto, dos segredos femininos e dos gatos. Os cultos em sua homenagem coincidiam com a colheita e a fabricação do vinho, momento em que havia alto consumo dessa bebida. Favorecia e motivava a euforia e o estado de embriaguez. Também era considerada a deusa da alegria, música, dança e do amor. Essas manifestações sempre aconteciam como um verdadeiro carnaval, visto que tudo era liberado nesses cultos.

     Na Grécia vamos nos deparar com o deus Dioniso, que também era deus da fertilidade, da colheita, do vinho, dos bacanais, e seus festivais eram intensos naquele país. O Objetivo do culto Dionisíaco era fazer com que a intensidade da paixão emergisse ao máximo. Dioniso era cultuado com ditirambos; canções cheias de momentos de livre expressão e plenas de paixão. Era uma divindade ligada ao campo. No início, essas festividades revolucionárias, revelavam uma espécie de transgressão em relação à sociedade grega da época.

     Tudo tinha início com imensas procissões, que partiam de determinados lugares até o Santuário do deus. Essas festividades se concentravam em três dias e transgrediam o cotidiano da sociedade grega. Semelhante ao carnaval da atualidade, sempre havia confronto em relação à transgressão dos valores sociais, como por exemplo: os homens se vestiam de mulheres, o pobre se vestia de rico, as prostitutas fingiam ser donzelas, tudo isso regado a muito vinho, dança e gritos de viva a Dioniso. Era uma festa que durava três dias, regada de muito vinho, admitindo-se que as relações sexuais ao ar livre, fossem absolutamente permitidas e consideradas habituais.

 

     Com o advento do Império Romano e dominação de toda a Europa, havia o “Festival Ploiafésia”, que era um evento greco-romano, também conhecido como Festival Isidis Navigium, quando um barco era montado numa carroça e dedicado à deusa Ísis. Este carro alegórico, também era conhecido como carro-navalis, ou seja, um carro transformado em navio que desfilava pela cidade, de onde deriva, certamente, a palavra carnaval.

     Também havia barcos que eram lançados ao mar em homenagem à deusa Ísis. Essa era uma das manifestações mais importantes do culto a Ísis, na época greco-romana. A Ploiafésia acontecia geralmente, duas vezes ao ano, mas, a mais concorrida acontecia no dia 5 de março, tendo em vista que era a mais original, e realizava-se no mesmo período onde havia melhores condições climáticas para a navegação. Com a perspectiva de relacionar a deusa Ísis aos imperadores romanos, decidiram criar novas datas para o lançamento do navio ao mar, mais especificamente, nos dias 5 e 6 de janeiro, de cada ano.

     Na contemporaneidade, as festas de carnaval pelo mundo afora, trazem consigo todo esse legado dos grandes festivais, em homenagem à deusa Bastet e Ísis, no Egito, e do culto ao deus Dioniso, na Grécia. Os navios que antes eram montados em carros e carroças em homenagem ao deus Dioniso, como também à deusa Ísis, Isidis Navigium, hoje se transformaram nos grandiosos carros alegóricos das escolas de samba que desfilam na atualidade, em homenagem ao Rei Momo.

 

segunda-feira, 5 de fevereiro de 2024

PARABÉNS MACAPÁ

 

 

          Cheguei à cidade de Macapá em novembro de 1994 para me submeter a concurso público na Universidade Federal do Amapá. Com a Universidade recém fundada, participei do seu segundo concurso público para professor do magistério superior. Era uma cidade horizontal, com faixa de trezentos mil habitantes e com a maioria de suas casas de madeira. Condição que chamou extremamente minha atenção.    

     Nada conhecia sobre este recanto de Brasil, tudo era novo, eu ainda não tinha nenhuma referência sobre este espaço geográfico. Trabalhava em Belém, no Núcleo Integrado da UFPA, mas desejava ir mais longe. Cheguei aqui com a cara e a coragem de um nordestino desbravador e passei a ser pioneiro em relação aos estudos e pesquisas na área das artes cênicas. Iniciei as primeiras pesquisas científicas sobre o Teatro do Amapá e continuo estudando e pesquisando este mesmo tema.

     Aos poucos, fui enamorando esta pequena cidade, que paulatinamente foi me conquistando com o passar dos anos. Hoje tenho muito orgulho de Macapá. De todo o processo que acompanhei ao ver esta cidade crescer, juntamente com o desenvolvimento da própria Universidade Federal do Amapá, que, há vinte e nove anos, se tornou minha casa, meu ninho, meu aconchego.

     Macapá está de Parabéns nesses seus 266 anos. É verdade que há muito o que se comemorar. Nessas quase três últimas décadas, a cidade cresceu em todos os sentidos: alargamento de avenidas, criação de museus, entre outros fatores. O centro da cidade, por exemplo, ficou completamente revitalizado com a Fortaleza de São José de Macapá, onde todo o espaço urbano do centro da cidade foi se transformando num complexo turístico deveras importante. A recuperação do entorno do canal da Mendonça Júnior, a Rodovia Duca Serra que virou uma grande avenida.

     Muitos espaços que vem sendo construídos e definidos ao longo dos anos, como a grande avenida que transformou a entrada da cidade, de quem vem do interior ou da Guiana Francesa. Tiro o chapéu para esta bela avenida ampla, arborizada, com ciclovias, sinalização e passarelas para pedestres, que envolve vários bairros da zona norte. Espaço urbano que há 29 anos havia apenas uma pequena via e alguns bairros como, Jardim da Felicidade e Boné Azul.

     Macapá foi me envolvendo, aos poucos, e também fui me amalgamando a esta pequena cidade joia da Amazônia. Morar neste lugar é ter o prazer de todos os dias ter a chance de apreciar esta bela paisagem que se encontra de braços abertos para todos, que é o rio Amazonas. Particularmente, este rio me encanta. Sou grato por estar em Macapá e ela estar em mim, por osmose se deu nossa relação, eu e a cidade, a cidade e eu. 

     Macapá é uma cidade tranquila, me sinto bem neste recanto do Brasil. Aqui que me realizei profissionalmente e venho fazendo minha parte. Este ano de 2024, estarei lançando mais uma obra para contribuir com esta cidade e este Estado que me acolheu em seus braços. A obra intitula-se “História do Teatro do Amapá – De 1950 aos Dias Atuais”. Tenho a honra de hoje ser cidadão macapaense. Parabéns Macapá...!!! Parabéns Macapá...!!!