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segunda-feira, 17 de outubro de 2022

MESTRE E DISCÍPULO

 


     No ano de 1996, Ronne Franklin Carvalho Dias foi meu aluno no Curso de Licenciatura em Educação Artística da Universidade Federal do Amapá. Ele é amapaense, filho de Rubens Gonçalves Dias e Maria da Conceição Carvalho Dias. Desde criança gostava de desenhar. Concluiu o curso artístico na Escola de Artes Cândido Portinari. Seguiu a caminho da universidade, onde realizou o curso de Educação Artística. Em função da conclusão do curso superior, se tornou professor de Artes da rede Estadual de Ensino.

     Vivenciou em sua própria casa, as principais influências na área da arte, tendo em vista que muito apreciava os desenhos que seus irmãos faziam, referentes às tarefas da escola. Quando estudante do ensino fundamental e médio, para seus colegas de classe, passou a ser o mestre do desenho. Trabalhos de desenho do corpo humano ou de mapas geográficos, eram tarefas dedicadas ao “artista Ronne”, como era conhecido por seus companheiros de classe.

     Foi um artista plástico que, observando os desenhos do Ronne, o motivou para ingressar na Escola de Artes Cândido Portinari. Ao ouvir a conversa daquele artista plástico com seu filho, Dona Santa, sua genitora, não contou conversa, e o matriculou na referida e reconhecida escola de artes. Ronne se instalou naquela escola entre o período de 1989 a 1995.

     E para aprofundar ainda mais seus estudos, na área das artes plásticas, em 1996, Ronne ingressou no Curso de Educação Artística da UNIFAP. Como artista, em 2000, recebeu menção honrosa no Terceiro Salão do SESC/Amapá. Frente às dificuldades de sobreviver preferencialmente da arte, resolveu paralelamente, ser professor e artista. Sua primeira individual foi realizada, ainda quando estudante da UNIFAP.

     Além de meu ex-aluno e ex-bolsista de projeto de extensão em seu período de acadêmico na UNIFAP, me vejo como seu mestre e o tenho como discípulo. Ronne Franklin seguiu seu caminho...! De estudante ávido em busca de um futuro tranquilo, se prostrou diante da profissão acadêmica, quando resolveu seguir a profissão de professor. Grandemente, sua busca, foi meteórica, concluiu o Curso de Educação Artística na UNIFAP, realizou Curso de Mestrado na Universidade Federal de Goiás, concluiu seu Curso de Doutorado, e na atualidade é professor Doutor do Instituto Federal de Ensino de Macapá.  

     Entendo, que o verdadeiro mestre é aquele que ensina os caminhos, e faz com que seu discípulo crie e siga seus próprios passos, e não aquele que busca com que seu discípulo repita seus ensinamentos, pelo resto da vida. O verdadeiro mestre, também não deve temer ou ficar com inveja, em relação às conquistas e vitórias de seus discípulos, mas sim, motivá-los a seguir em frente com seus próprios pensamentos, atitudes, ações, suas próprias filosofias e ideologias. E é com alegria e satisfação que observo de longe, o crescimento e a evolução deste meu excelso discípulo, o que gera em mim, um imenso feedback que me provoca excessiva força e coragem para continuar lutando pela educação neste país.   

segunda-feira, 10 de outubro de 2022

EURÍPEDES

 


     Iniciamos com Ésquilo e Sófocles, e agora, para concluir essa trilogia sobre os mais respeitados trágicos gregos do século V a.C., concluiremos com breve enfoque sobre Eurípedes, cronologicamente, o terceiro e último trágico. As tragédias de Eurípedes significam, precisa e essencialmente a humanização dos temas, diminuindo a força dos deuses num profundo desprezo por eles. Foi consideravelmente o primeiro poeta trágico a preocupar-se de maneira mais precisa, com a força da alma.

     Eurípedes nasceu em 480 a.C., em Salamina e morreu em 406 a.C. Foi sucessivamente, atleta profissional, pintor, orador e filósofo. Começando a escrever aos dezoito anos, conquistou prêmios com suas tragédias, já aos quarenta anos de idade. Escreveu aproximadamente sessenta peças, tendo sido vitorioso cinco vezes em vida, e uma, após sua morte. Era mal visto pelos gregos em função de ser ateu. Conta-se que foi o primeiro cidadão grego a possuir uma biblioteca particular. Era filho de um taverneiro com uma verdureira. Foi discípulo de Anaxágoras e condiscípulo de Sócrates.

      Podemos classifica-lo como poeta da decadência, ou seja, do declínio da tragédia, o que não significa que suas obras sejam inferiores aos dois outros trágicos que o precederam. Causou muita celeuma entre os gregos que, por várias vezes obrigaram suas peças a sair de cena, tendo como motivo, principalmente em relação ao fato de os deuses terem sido substituídos por homens.

     Eurípedes reduziu o prólogo a um discurso no qual eram explicados os acontecimentos que antecedem a ação; o êxodo foi substituído pela aparição sobrenatural de um deus que precipitava o desenlace. Desenvolveu cuidadosamente a incerteza e a surpresa. Outra sua característica é a grandeza das suas mulheres, em contraste com o seu misoginismo na vida real. As mulheres, sobretudo, em seu teatro, são incomparáveis.

     Pela primeira vez o amor entrou no teatro e o sentimentalismo se apossou da cena. Por outro lado, Eurípedes explorou os vários estados da alma do ser humano. Não sendo mais o homem um ser uniforme.

     Algumas peças de Eurípedes que chegaram até nossos dias: “Hécuba”; “Hipólito”; “As Fenícias”; “Orestes”; “Alceste”; “Medéia”; “As Troianas”; “Hércules Furioso”; “Electra”; “Ifigênia em Áulide”; “Ifigênia em Táuride”; “Helena”; “Io”; “Andrômeda”; “As Suplicantes”; “As Bacantes”; “Os Heráclidas”; “Reso”, e o drama satírico “O Ciclope”.

     Com o advento do Império Romano, a obra de Eurípedes exerceu grande influência no teatro ocidental. O dramaturgo deixou tipos que são conhecidos ainda hoje, como: as aias, os fantasmas, as mulheres abnegadas e os vilões.   

sexta-feira, 7 de outubro de 2022

SÓFOCLES

 

     Após ter escrito sobre Ésquilo, que faz parte dos três trágicos gregos mais conhecidos, agora trago à tona, Sófocles, e próxima semana, encerrarei esta trilogia com Ésquilo. Esses foram os três principais trágicos, gregos, ou dramaturgos como pode-se defini-los na atualidade.

     Sófocles nasceu em Colono. Em função de sua beleza física, aos quinze anos conduziu o coro de adolescentes na louvação pela vitória de Salamina. O primeiro concurso do qual participou foi em 469, a.C., na ocasião, competiu e ganhou de Ésquilo. Com o sucesso de Antígona, foi nomeado estrategista e com Péricles, lutou na expedição de Santos.

     Escreveu aproximadamente cem peças e foi vinte vezes vencedor nos concursos de teatro da antiga Grécia. De suas peças, apenas sete chegaram à atualidade. Sete tragédias; obras primas e independentes entre si. Por ordem cronológica temos: Antígona, Electra, As Traquíneas, Édipo Rei, Ájax, Filoctetes, e Édipo em Colono. Faleceu em 406 a.C., tendo introduzido na tragédia as seguintes modificações: inventou o terceiro ator, quebrou a regra da tetralogia e escreveu peças menores em relação ao tempo cênico.

     Vejamos algumas das características das peças de Sófocles: em Antígona apreciamos a luta da autoridade contra os sentimentos; Édipo Rei, trata-se da mais importante tragédia que o mundo antigo nos legou, mostra a relação psicológica do homem em sociedade, suas conquistas, seus egoísmos, sua ascensão e decadência. Pela primeira vez no teatro explora-se a curiosidade que nos conduz a uma revelação brutal, como no caso de Édipo, que por ironia do destino, mata seu próprio pai e casa com sua própria mãe. Ájax é das últimas criações de Sófocles, uma peça de fim de carreira, onde o dramaturgo revela uma volta à simplicidade. Filoctetes é ainda mais simples, a peça enfoca o patético que há numa relação e o enriquecimento do jogo de sentimentos.

     Édipo em Colono, é uma peça, não das melhores de Sófocles, em relação à verossimilhança e apresenta um certo desprezo integral ao tempo e ao espaço, mas em compensação é um canto lírico da mais alta beleza. As Traquíneas, resume-se num jogo do ciúme e do mal e por fim, Electra, que juntamente com Antígona e Édipo Rei, é uma das peças mais importantes de Sófocles.

     Sófocles escreveu a trilogia constituída por três peças: Edipo Rei – 430 a.C., Édipo em Colono – 401 a.C., e Antígona – 441 a.C. Mesmo tendo sido escritas em períodos diferentes, essa trilogia não deve ser analisada separadamente; vejamos sua relação em rápidas linhas: Édipo Rei, apresenta o erro fatal e a total mudança do destino do ser humano; Édipo em Colono, mostra Édipo cego, miserável, banido de Tebas e exilado em Colono, lugarejo próximo a Atenas; Antígona, descumpre as leis e vela seu irmão morto. Em sua extensa obra, Sófocles nos ensina que há uma ordem cósmica, na qual deve inserir-se a ordem social.

ÉSQUILO

 

     Ésquilo nasceu em Elêusis, em 525 a.C., era filho de Eufórion, pertencente a uma família de nobres. Foi herói em Maratona, Salamina e Platéia, tendo competido pela primeira vez, em 490 a.C., contra Pratinas e Quérilus, saindo derrotado. Vivia na Sicília, só aparecendo para os concursos, como também representava como ator. Foi preso por ser acusado de revelar os mistérios eulesianos. Faleceu em Gala, na Sicília em 456 a.C. Seu epitáfio diz: “Aqui repousa Ésquilo, filho de Eufórion, ateniense. Se quiserdes saber se foi valente perguntai ao bosque sagrado de Maratona e ao Medo de longa Cabeleira”, e nenhuma referência aos seus títulos de poeta.

     Ésquilo escreveu sessenta tragédias e cinco dramas satíricos, tendo sido vencedor dos concursos de tragédias por treze vezes. De sua obra, algumas peças chegaram aos nossos dias, como: “As Suplicantes”; “Os Sete Contra Tebas”; “Os Persas”; “Prometeu Acorrentado”, e sua única trilogia existente, “Agamenon, As Coéforas e as Eumênides”.

     Ésquilo criou o segundo ator, deu papel preponderante ao diálogo, diminuiu a importância do coro, e de cinquenta, o reduziu para quinze coristas. A única exceção  a esta última regra pode ser verificada em “As Suplicantes”, tragédia composta praticamente só de coros.

     Faz jus lembrar que com o segundo ator, nasce aquilo que é a base de toda arte dramática: a ação, pois já não se limita a se referir a algo, mas a verdadeiramente atuar. Além de ter dado importância à palavra, também produziu outras inovações para efeitos cênicos como: cenários, altares, tumbas, rochas e pórticos de palácios. Refez também as máscaras, estereotipando os sentimentos. Sobrelevou os coturnos, variou as cores dos trajes, deu destaque à coreografia e estabeleceu a regra de não haver morto em cena.

     Eis algumas das características das tragédias de Ésquilo: “As Suplicantes”; acredita-se que essa tragédia é a segunda peça de uma trilogia, sendo que as outras foram praticamente extraviadas. Suas marcas são a predominância lírica e a ausência de mortes. Em “Os Persas”, o que se destaca, sobretudo, nessa tragédia é a sublimidade do diálogo ao lado do aparecimento do silêncio, isto é, do ator mudo, transformando o diálogo do ator num monólogo, enquanto o outro tinha a possibilidade de trocar de roupa e de máscara. Em “A Orestíade”, é a maior obra legada pela antiguidade. Uma trilogia completa com exposição, desenvolvimento e catástrofe no final.

     Ésquilo é o verdadeiro criador da tragédia, à qual deu dimensões literárias e sociais. O estilo dele é vigoroso e as suas tragédias elevam o ânimo a um mundo superior. Religioso que era, em sua obra, os deuses tinham total participação e geralmente definiam e resolviam o final dos espetáculos.