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segunda-feira, 23 de janeiro de 2023

NOBRES TITULARES

  

     Nas Universidades Federais, a carreira acadêmica inicia como professor auxiliar, depois professor assistente; em seguida, professor adjunto; depois professor associado; culminando com o último grau da carreira que é o professor titular. Para chegar a ser professor titular é preciso o candidato ser doutor e ter produção acadêmica. Há dois caminhos para se chegar lá; através de concurso público ou a partir da carreira acadêmica.

     O candidato terá que encaminhar processo com memorial descritivo e comprovação de toda sua produção acadêmica. Os memoriais têm longa tradição no Brasil, constituem-se em documentos que expõem trajetórias de professores universitários para fins de concursos ou de progressões ao longo das suas carreiras. No caso específico das universidades federais e da progressão para a classe de Professor Titular, a ampliação do acesso a esse nível da carreira é a resultante de uma greve do movimento docente. Entre as concessões ao Estado e as conquistas da categoria, essa greve garantiu que todos os professores que alcançarem o nível de Professor Associado IV possam pleitear essa ascensão na carreira horizontal.

     Os memoriais são escritos na primeira pessoa do singular, da mesma forma que as cartas, as confissões, os diários e as memórias. Esse gênero de escrita de si, expõe as razões do sujeito na sua parcialidade e subjetividade. Trata-se de um gênero que produz certo grau de desconforto entre os pesquisadores acadêmicos, uma vez que, por razões de ofício, esses, aprenderam a escrever na terceira pessoa do singular ou na primeira pessoa do plural, na pretensão de produzir os efeitos de imparcialidade e impessoalidade.

     Até meados de 2019 a Universidade Federal do Amapá, possuía apenas dois professores titulares; Professora Doutora Julieta Bramorski e Professor Doutor José Carlos Tavares; os quais se submeteram a concurso público. No segundo semestre de 2019, mais quatro professores galgaram esse patamar, foram eles: Professor Doutor Jadson Porto, que apresentou Memorial Descritivo; Professor Dr. Romualdo Rodrigues Palhano, e Professora Doutora Rosemary Ferreira de Andrade, que também apresentaram Memorial Descritivo. Ainda em 2019, houve a defesa de tese inédita, “Água de Barrela”, da Professora Doutora Simone Garcia Almeida, quando, na ocasião, fui Presidente da Banca Avaliativa.  O que se pode observar, é que nossa instituição encerrou o ano de 2019 com um total de 6 professores titulares. 

     Apesar da pandemia do coronavírus e de todos os problemas que vinha enfrentando o Estado do Amapá, no ano de 2020, presidi mais uma Banca de Avaliação de Progressão Funcional para Professor Titular, desta vez, da Professora Doutora Helenilza Ferreira de Albuquerque. Neste mesmo ano, houve também a passagem para titular, do Prof. Dr. José Alberto Tostes, banca à qual, presidi. Esclarecendo que as bancas deste ano foram todas realizadas online. E em 2021, houve mais um professor que conquistou este posto, desta vez, foi o Prof. Dr. Carmo Antônio de Souza, cuja banca fui Presidente. E para fechar o ano de 2022, Prof. Dr. Ricardo Ângelo Pereira de Lima, também se tornou Professor Titular. Isto implica dizer que, atualmente a UNIFAP possui nos seus quadros, um total de 10 professores Titulares, o que é um fato muito importante para nossa instituição.

segunda-feira, 16 de janeiro de 2023

DILETO PROFESSOR

 


     O que dizer quando a relação do professor com o aluno se tornar amizade? Neste caso, com certeza haverá uma reciprocidade de conhecimentos, que traz uma amplitude que foge completamente do ensino formal, e que muitas vezes é benéfico para o conhecimento recíproco e para o futuro profissional. Sem dúvidas, há uma fase da vida, em que muitos alunos e alunas se espelham em seus professores, o que é normal, sobretudo na fase da adolescência. Aqui, com certeza o professor precisa estar preparado profissionalmente para enfrentar essas flechadas tentadoras do cupido. Há quarenta e um anos como professor, em várias situações, também tive que passar por momentos semelhantes.

     Em relação a tudo isso, gostaria de dizer que ultimamente, encontrei no fundo do baú, uma carta do ano de 1987, de uma ex-aluna da sexta série, que, em sua declaração, se dizia profundamente apaixonada pelo seu professor. Vejam, que bela declaração:  

     “Meu querido professor, agora a pouco deixei a classe, sai de fininho, vendo-o apanhar os livros da mesa, para sair. Quis aproximar-me e oferecer-lhe a minha companhia, mas faltou-me coragem. De que me adiantaria ficar ao seu lado, desajeitada e tímida, sem pronunciar qualquer palavra? É que a sua presença me fascina tanto, que não me é possível ser eu mesma, quando estou diante de você. Seria a diferença de idade entre nós? Seria a diferença de cultura? Não, meu lindo professor, não pode ser, porque o senhor é jovem, afinal de contas, e eu já não sou uma criança! Não...! porque conheço outros homens cultos, com os quais posso falar naturalmente, sem qualquer inibição.

     Simplesmente por se tratar de você, porque o amo e vejo-o como um astro em minha constelação de Órion: bem alto, muito brilhante, longe do meu olhar, mas perto do meu coração, iluminado e maravilhado. E, como sou tímida, procurei a forma mais rápida de acabar com esta angústia de querer estar sempre perto de você, sem me atrever; querer sempre dizer-lhe alguma coisa, sem saber por onde começar e resolvi, finalmente, escrever-lhe esta carta que encerra a mais sentimental das declarações de uma singela virgem moça: a sua primeira declaração de amor.

     Ansiosamente, deposito-a a seus pés como um ramalhete de flores aos pés de uma celebridade, de um astro, e não peço, em troca deste amor que perdoe o gesto apaixonado de uma jovem moça que o ama.  I love you, professor. Não me deixe...! - por favor! porque eu o amo e quero te amar. Não me diga não...! por favor!  João Pessoa, outubro de 1987. Desesperadamente, Alana da Silva.”

     Claro que aqui, o nome de minha ex-aluna é fictício. Naquela época, fiquei muito lisonjeado, a entendi! mas não correspondi. Parabenizo-a pelo bom português de uma jovem de apenas 12 anos, e pelo incisivo uso da ênclise. Guardei a carta até os dias atuais, quando a lembrança me invadiu de forma nostálgica, equivalente àquela desenfreada paixão platônica de minha ex-aluna, que foi sentimentalmente flechada por um estúpido cupido.

 

quinta-feira, 12 de janeiro de 2023

BIBLIOTECA

 


          Um livro parado na estante de uma biblioteca é uma porta para o conhecimento. Mas, este não é o principal objetivo da obra. O propósito real do exemplar é a de ser retirada daquela estante. Cabe ao leitor mais persistente, retirá-la emprestado. Mas não para por aí, para completar este ciclo, o livro precisa ser completamente lido. É para isso que existem as bibliotecas. Um livro, só se torna livro depois de lido.

     Aliás, por que biblioteca, se antes da cerâmica, os primeiros escritos eram em papiros? Os papiros eram retirados de uma planta nativa da África tropical, cujas hastes são formadas de folhas sobrepostas, de onde os egípcios retiravam, separavam e a utilizavam para escrever. Precursor do papel, propriamente dito, esse material passou a ser comercializado em todo o mar mediterrâneo.

     De certa forma, houve o momento em que, se por um lado, o Egito passou a produzir o papiro em larga escala, por outro, naquela época, o país não tinha knowhow, de como distribuir esse valioso produto. Neste caso, foi preciso a ajuda comercial de outros povos, e como os egípcios não eram comerciantes, tiveram que passar essa missão para os fenícios.

     Os fenícios eram povos antigos descendentes dos cananeus e contemporâneos dos hebreus. Eram mercadores altamente profissionais, e localizavam-se no norte da antiga Canaã, ao longo das regiões litorâneas, do antigo e atual Líbano. Esse povo ficou conhecido pelo comércio, navegação e criação do alfabeto. Em função de não terem criado nenhum exército, sua função principal era o comércio.

     A partir de relações diplomáticas e comerciais entre esses dois países, o papiro, fabricado no Egito, seguia viagem para o Líbano, com o objetivo de ser comercializado ao longo do mar mediterrâneo. Além de serem mercadores, os fenícios eram ótimos navegadores. Conseguiram dominar a navegação e o comércio em todo o mar mediterrâneo, fundando várias cidades, entre elas, Marselha na França, e Cartago no norte da África, à qual, foi destruída por Roma.

     Depois de fabricado no Egito, e com objetivo de ser comercializado; inicialmente, o papiro seguia para a cidade de Biblos, na Fenícia. Desse centro, era distribuído em várias embarcações para serem vendidos em diversos países que se encontravam ao longo do mar mediterrâneo. Fenícia é um termo inventado pelos gregos, em vista de que eles vendiam a púrpura, que eram pigmentos para tingir tecidos, e púrpura em grego se chama phoinikes.

     E como se desenvolve a história? Naturalmente, o que conhecemos hoje como biblioteca, deve-se à questão de que o papiro foi vendido e difundido ao longo do mar mediterrâneo, em Roma, e principalmente na Europa, pelos povos fenícios, a partir, especialmente, da cidade de Biblos. Daí, deriva o nome Bíblia. Talvez, se o Egito tivesse o savoir-faire, ou seja, o domínio do comércio, provavelmente, o que conhecemos hoje como Biblioteca, poderia ser conhecido como Papiroteca, e a Bíblia, por sua vez, não seria Bíblia, mas, seria difundido como “Papiro Sagrado”.

   

segunda-feira, 2 de janeiro de 2023

PRÓSPERO ANO NOVO

 


     O ano passado passou tão apressado! É a pura verdade que o ano já terminou. Temos que acreditar que 2022 chegou ao fim. Isso mesmo! Ontem era 2022, e hoje já estamos no dia primeiro de janeiro de 2023. Como é de praxe, todo final de ano termos que desejar um bom ano, um feliz ano novo, todos hão de convir que ainda estamos enfrentando as consequências da pandemia, agora com as suas variantes. Não só para nós amapaenses, mas para o Brasil e o mundo. É sabido, que a própria China vem enfrentando momentos difíceis na atualidade. 

     Muitos pensavam que tudo iria ser rápido. Mas, em março próximo completaremos três anos de pandemia, visto que ainda há um percentual de mortes. A verdade é que já estamos em 2023, e a pandemia persiste. Boa parte da população está enfrentando as sequelas e vários problemas deixados por esse temeroso vírus. Ainda nos dias atuais, tudo e todos, estão lutando, de uma forma outra, contra o coronavírus.

     Pelo menos, em grande maioria e após a vacina, tivemos a oportunidade de nessas festas, podermos nos reunir com a família e com as pessoas queridas. Pelo menos aquelas pessoas que seguiram as indicações da Organização Mundial da Saúde. De qualquer formar o Natal já passou e esperamos que este ano de 2023 nos traga muitas esperanças e prosperidade.  

    Por outro lado, independentemente de qualquer situação, a cada final de ano todos nós fazemos um balanço de nossas vidas. O porquê de estarmos aqui? Para onde iremos? Saudade dos que já se foram...! A busca constante da felicidade. A esperança que nunca morre. O dia de amanhã que vai melhorar. É o período de também renovarmos nossos pertences em nossas casas. O que não nos serve, com certeza outras pessoas poderão fazer usufruto. Nesse caso, passemos adiante aqueles objetos que não faz mais sentido em nossas vidas.

     Já dizia o filósofo: a vida é curta pra dizer que não é longa e é longa pra dizer que não é curta, e é por isso que devemos aproveitá-la ao máximo, de todas as formas, plenamente. Com a comemoração das festas de final de ano realizamos um retour ao nosso passado ou mais especificamente ao ano que passou, e que está finalizando. São momentos que nos traz muitas esperanças para podermos continuar jogando no jogo da vida. Essas atitudes são de tamanha importância, e nos alimentam consideravelmente para poder continuar nossa contribuição com a sociedade amapaense nesse estágio da vida.

     Por fim, esperamos que em 2023, tenhamos mais força para continuar nessa batalha. A todos e todas, principalmente aos jovens, aos colegas da área da educação e a população em geral, desejo um Próspero Ano Novo. Que o Amapá avance politicamente com os novos gestores estaduais. Que os governantes saibam com sapiência transformar o Brasil num país do futuro.

  

 

 

 

 

UM FELIZ NATAL

 

 

          Apesar de tudo que vem acontecendo no mundo, e em nosso país, e apesar ainda, das ameaças do coronavírus, que continua persistindo em nosso meio, há uma necessidade maior de termos que olhar sempre para o futuro. De qualquer forma, agradecermos pelos que ainda estão conosco, desbravando essa saga do caminhar e do enfrentar as vicissitudes da vida. Não é hora de desanimar! Estamos no final de um ano, que foi difícil para todos nós, principalmente no que diz respeito às nossas condições econômicas e salarial, que vem sendo corroído pela inflação. Mas, chegou o momento de refletirmos sobre tudo isso. Claro! Também precisamos comemorar mais um Natal do Senhor Jesus.

     O maior desejo de todas as pessoas é saber da conquista de seus objetivos, de seus desejos, de sua vida. O Natal nos traz muita alegria a cada final de ano. É um ótimo momento de reflexão sobre um pequeno espaço de tempo que passou, ou seja, pelo qual nós passamos com vida, ilesos. Esse tempo refere-se ao espaço de praticamente 365 dias consecutivos, ou seja, um ano. Todo momento é hora de comemorar.

         Sem esquecer as modificações que aconteceram interiormente com nós mesmos. Às vezes algum problema de saúde, questões profissionais e tantos momentos difíceis que passamos. Mas, também foi um tempo em que nos trouxe muitas alegrias.  Alegria de ter lançado livros, alegria de ver o filho ser aprovado na escola, alegria de estar vivendo momentos felizes com quem se ama.

     O Natal é uma festa comemorada em todo o mundo; quantos de nós está falando a mesma língua: FELIZ NATAL, FELIZ NAVIDADE, JOYEUX NÖEL, MERRY CHRISTMAS, são alguns dos recados mais difundidos neste natal em todo o mundo. E assim vamos nos confraternizando, cada país do seu modo, cada povo de acordo com suas crenças e suas culturas.

     Natal significa o nascimento de Jesus Cristo, que tanto batalhou para a igualdade do povo do seu tempo. Verdadeiro revolucionário de sua época. E hoje e sempre comemoramos em função deste símbolo de ser humano.

     Todo natal nos traz esperança de um mundo melhor, de alegria, de união entre os povos. Momento de refletirmos sempre para o bem da humanidade. Como é bonito todos juntos com suas famílias, revendo uns aos outros, pessoas que há tempo não mais havíamos visto, tudo isto faz parte do semblante natalino.

     Sabemos que na atualidade, os meios tecnológicos como as redes sociais em muito contribuem para uma aproximação das pessoas, mas, ainda deixa um vazio em relação à vida presencial, quando você toca e abraça seu amigo ou amiga de tempos antanho. É a vida...! É a vida...! É a vida...! Desejo a todos que conheço e aos que não tive a oportunidade ainda de conhecer, tudo de bom neste natal, muita saúde, paz e que tenhas conquistado seus objetivos neste ano que está terminando. Para todos UM FELIZ NATAL.

 

 

TEATRO E CONTRADIÇÃO

 

                                          

     Aristóteles considerava que era a ação e não o caráter, o ingrediente básico do drama, e que o caráter está subordinado às ações. Um dos princípios mais famoso da Poética se refere à purificação das emoções através da piedade e do terror. Aristóteles deu nome de “peripeteia”, (peripécia), à intromissão de um acontecimento repentino que afeta a vida do herói e conduz a ação numa nova direção. O que é complementado com a “anagnorisis” ou cena de reconhecimento, como se fosse o encontro inesperado de amigos e inimigos.

     Aristóteles teve a vantagem de estudar o teatro logicamente, no entanto não conseguiu realizar tal façanha em nível sociológico. Em sua obra não fez menção aos problemas sociais ou morais que foram tratados pelos poetas gregos. De qualquer forma, ele conseguiu realizar sua grande façanha: explicar-nos como funciona psicologicamente a relação da tragédia grega e o público presente. Assim temos que aceitar que Aristóteles é a bíblia da técnica dramática.

     Já Hegel desenvolveu um método dialético que concebe a lógica como uma série de movimentos em forma de teses, antíteses e sínteses: a tese é a tendência original, o estado de equilíbrio; a antítese é a tendência oposta ou perturbação do equilíbrio e a síntese é a proposição unificadora que inaugura um novo estado de equilíbrio.

     A contradição, disse Hegel, é a força que move as coisas e não há nada que não esteja se transformando, que não ocupe uma posição intermediária entre ser e não ser. Hegel substituiu o método estático de investigação pelo dinâmico. Enquanto Hegel acreditava num universo racional, Schopenhauer considerou a vontade emocional e instintiva como base para suas reflexões.

     Para que haja representação, se faz necessária a contradição, e é por isso que o drama e a tragédia revelam o protagonista e o antagonista; não fosse isso, a ação não se desenrolaria. A psicologia shakespeariana foi uma clara ruptura com a Idade Média e expressava diretamente as responsabilidades e relações que caracterizariam o novo sistema econômico.

     Para analisar o método do artista, o crítico deve possuir um método, um sistema de ideias. Sendo assim, as tragédias de Corneille e Racine estavam baseadas na filosofia social da aristocracia. As obras desses dois autores são a dramatização do absolutismo, período do reinado de Luis XIV. Aqui se pode observar que o drama teve seu valor social, deve tratar de gente, cuja posição social na vida e cujas atitudes sejam compreensíveis para o público. De toda forma, as leis dessa técnica são psicológicas e só podem ser compreendidas penetrando na mente do dramaturgo.

CENOGRAFIA

 


     A cenografia existe desde que se iniciou os primeiros espetáculos teatrais na Grécia Antiga, mas em cada época teve um significado diferente, dependendo da proposta do espetáculo teatral. Por exemplo, o cenário da antiguidade era fixo, tinha poucos elementos e apenas servia de ornamentação para a cena. Resumia-se basicamente, em três entradas principais: duas laterais e uma central, por onde entravam os protagonistas.

     Na Idade Média adquire um caráter místico e religioso. Concentrando suas apresentações nas ruas, encima de carroças, com o cenário dividido entre céu e inferno, com seus mistérios e moralidades. Esse teatro religioso, tratava especificamente de convencer os fiéis, para seu apego com a religião.

     O Renascimento na Itália nos trouxe os cenários construídos em três dimensões, o que, inicialmente, foi uma grande revolução na cena. Eram pintados utilizando-se a técnica da perspectiva central. As casas que, no passado apareciam achatadas na visão do público, com o uso da perspectiva, passou a serem vistas em três dimensões.  Por outro lado, também haviam as companhias que se utilizavam praticamente de cenários naturais, como as ruas, assim era o método de apresentação do teatro popular e principalmente da Commedia dell’Arte.

     Já no final do século XIX a cenografia deixa de ser um mero elemento decorativo, de apoio aos atores, para fazer parte do conjunto do espetáculo. Para Anna Mantovani, a cenografia pode ser considerada uma composição em espaço tridimensional – o lugar teatral, que se utiliza de elementos básicos como cor, luz, formas, volumes e linhas. Na verdade, é uma composição que tem peso, tensões, equilíbrio, movimento e contrastes.  

     Devemos reconhecer que a produção teatral se distingue das outras produções da arte e dos outros sistemas semânticos, pela grande quantidade de signos que veicula. Isto é bastante compreensível, pois uma representação teatral é uma estrutura de signos composta por elementos que pertencem a diferentes artes: poesia, artes visuais, música, coreografia, entre outras. 

     Para Sábato Magaldi, a cenografia oscilou desde os primeiros tempos, entre a arquitetura e a pintura. Na atualidade, temos os mais diversificados tipos de cenários e muitas vezes, dependendo do espetáculo, a própria iluminação determina o cenário em comunhão com os objetos de cena.

     Hoje, não há mais a necessidade de se elaborar um cenário, visto que muitos espetáculos não possuem o cenário, compensando com a variedade de objetos de cena, além de utilizar outras técnicas, como por exemplo, a iluminação, a fotografia ou mesmo, o cinema. A cenografia diz respeito a tudo o que existe, ou se faz presente na cena, como: o penteado, a maquiagem, os objetos de cena, o vestuário, e tudo o que é visível e compõe o quadro teatral do espetáculo que está sendo apresentado.

    

FÁTIMA GARCIA

 


     Quando eu tomei posse como professor do ensino superior, no dia dois de janeiro de 1995, a Universidade Federal do Amapá estava dando seus primeiros passos. Havia apenas nove cursos de graduação. Os prédios mais antigos, que possuem estruturas de ferro, segundo placas do local, foram inaugurados no ano de 1993. O curso de Licenciatura em Educação Artística, tinha como coordenadora a professora Nazaré Trindade, ela já era professora do ex-território. Nesse período, muitos professores do ex-território deram imensa contribuição para que a UNIFAP pudesse seguir em frente e chegar até os dias de hoje, como universidade. Eles foram os principais alicerces da nossa instituição.

     Antes de ser UNIFAP, era o antigo NEM, Núcleo de Educação do Amapá, que fazia parte do projeto de interiorização da Universidade Federal do Pará. Período em que a maioria dos estudantes só tinham Kombis como transporte para poderem ter acesso àquela instituição. Quando a partir de 1990, se tornou UNIFAP, os ônibus tinham acesso e podiam entrar no espaço geográfico universitário, entravam pelo a atual entrada principal e saíam ao lado onde hoje encontra-se o novo prédio da Biblioteca Central da UNIFAP.

     Além da professora Nazaré Trindade, que era a coordenadora, os únicos professores efetivos do Curso de Licenciatura em Teatro, resumia-se a três: professor José Alberto Tostes; professor Humberto Mauro e professora Fátima Garcia. Havia também o professor Aranha, que era substituto; ele também pertencia aos quadros do ex-território. Os três professores efetivos, haviam sido contratados em função de terem participado como candidatos no primeiro concurso para professores, da instituição, que acontecera no ano de 1993. Eu, particularmente, fui candidato no segundo concurso, que aconteceu em setembro de 1994.

     Foi a partir desse período que comecei a conviver com a professora Fátima Garcia. Resolvi escrever sobre este tema, tendo em vista que no último dia 22 de novembro, o Curso de Artes Visuais inaugurou uma exposição sobre as obras da professora Fátima Garcia, que também era artista e se debruçava praticamente na área da pintura. Inclusive a Galeria do referido curso, foi nomeada de “Galeria Fátima Garcia”, em homenagem à professora, que tanto se dedicou ao curso, à educação e à UNIFAP. Fátima Garcia, nasceu em Belém, em 1962 e faleceu em Macapá, em 2018. Era apaixonada pela pintura e literatura, viveu grandes experiências e vivências na arte.

     Encerrarei com as observações do Prof. Dr. Joaquim Netto, quando ele afirma que: Fátima Garcia percorre um caminho de experimentações, onde a composição e a paleta cromática sinalizam elegância e reflexão. Em suas abstrações, formas arredondadas e sinuosas pronunciam algo de feminilidade num sentido plástico, que subvertem convenções no campo da pintura. Nesses trabalhos, a pintora experimenta tinta óleo sobre papel, usando esponjas, espátulas e/ou o próprio bico das bisnagas de tinta.  Com suavidade, vai diluindo a densidade dos “conflitos cromáticos” em espaços vazios e “sfumatados” - atinge a harmonia compositiva. Este artigo é uma homenagem póstuma à professora Fátima Garcia, que faleceu em 2018.

 

 

 

CAMINHOS DO TEATRO

 

 

     No início, as representações teatrais na Grécia Antiga, aconteciam ao ar livre. Os primeiros teatros, que já não mais existem, foram construídos de madeira. Somente no século V é que teve início a construção dos primeiros edifícios teatrais em pedra. Principalmente na Grécia, eles foram construídos concêntricos e circulares, aproveitando-se as encostas das montanhas. Nessa época, o teatro tinha um caráter religioso e, apesar da famosa democracia grega, no edifício teatral havia divisões para o público, em classes sociais. Havia ainda, lugares específicos para governantes e sacerdotes.

     Em função da grande diferença, no que diz respeito à concepção de seus espetáculos, em Roma, vai surgir nova concepção de edifício teatral. Permanecendo a mesma estratificação social, lá, o edifício era dividido por classe social, onde os melhores lugares eram reservados para uns poucos privilegiados. Em Roma, o teatro perde o caráter religioso, por completo, visto que para eles, significava estritamente divertimento. Enquanto que na Grécia, o edifício era concêntrico e circular, com a perspectiva de um lugar de reunião de uma comunidade, por outro lado, o teatro romano resumia-se num edifício fechado, com a perspectiva de oferecer alegria e diversão a um imenso público.

     Já durante a Idade Média, esse período que se coloca como transição entre a Antiguidade e a Modernidade, quando a Igreja Católica Romana, passa de organização clandestina e perseguida, para uma instituição oficial e perseguidora, o lugar teatral, era a praça, e o público passeava na frente dos palcos, como também das carroças que eram muito utilizadas nesse período com apresentações do teatro litúrgico, mistérios e moralidades. Nessa época, a representação era um acontecimento na cidade e todos deveriam participar. O teatro oficial era o religioso, no qual, se apresentavam peças conhecidas com temas estritamente religiosos.

     No Renascimento, quando o homem está saindo da Idade Média e entrando na Idade Moderna, o teatro que era feito nas igrejas e nas praças, passa também a acontecer dentro dos palácios. De certa forma, o caráter religioso vai desaparecendo, e o teatro profano volta a ser apresentado nos salões dos palácios da aristocracia, onde eram construídos os palcos e o público era somente a corte, seus amigos e convidados.  Por outro lado, o teatro popular evoluiu na Itália, e é lá que vamos encontrar a expressão máxima desse tipo de atividade teatral, que é a Commedia del’Arte, que surgiu em contraposição ao teatro erudito italiano. Este fato, revela-se como o maior movimento popular da história do teatro.

     Intermediário entre o palácio e a rua, começam a aparecer as primeiras casas de espetáculos, sob os olhares da burguesia ascendente. E surge o teatro burguês, que é aquele cidadão vai adquirindo a sua liberdade pessoal, aquele que inventa o comércio e o direito de comercializar, aquele que muda a religião católica romana e cria o protestantismo, que lhe permite atuar em direção ao lucro. Afinal surge aquele cidadão burguês que cria o Capitalismo. Difunde-se também, o teatro à italiana, tipo de teatro e casa de espetáculos, que mais conhecemos na atualidade, e que se tornou o símbolo de uma classe social, a burguesia, com a única função de divertir.  

    

    

TEATRO INFANTIL

 


     É um tanto difícil elaborar textos infantis para teatro, principalmente quando os autores não estão a par de todo o processo que envolve a elaboração de um texto, e ainda mais quando é o texto dramatúrgico, visto que deverá ser escrito em primeira pessoa. E isso se torna mais grave ainda, quando não possuem a menor ideia do que seja um texto teatral, além de desconhecer a essência de um espetáculo teatral. Torna-se mais difícil ainda, quando confundem teatro escolar com teatro infantil, aula com espetáculo, e percebem o teatro infantil como um espetáculo inferior ao teatro para adultos. E pecam quando transportam rubricas de TV para o palco do teatro.

     Muitos textos escritos para teatro infantil mostram diversas vezes, um grande excesso de verborragia e apresentam pouca ação, sendo esta última, primordial num espetáculo infantil. Geralmente, os autores finalizam os textos abruptamente, como por exemplo: ao mostrar uma situação difícil que se passa na terra, e sem conseguir resolvê-la a contento, apela para o desconhecido, ou seja, para o super herói ou o extraterreste. Esta forma de resolução do final do enredo já era utilizada na antiga tragédia grega, denominado de deus ex-machina, principalmente nas tragédias de Eurípedes.

     Os textos, e em consequência a montagem em si, apresentam-se com certa previsibilidade, sem nenhuma surpresa ou ações inesperadas. Em sua maioria, os textos infantis revelam toda espécie de preconceitos que são expressos pelos adultos. Páginas inteiras onde não acontece nada, deixando de lado a agilidade no diálogo, que é de fundamental importância para este tipo de teatro. Os textos infantis para teatro, às vezes mostram uma variedade imensa de animais que não estão no ambiente social em que se encontra a criança.

     No caso da região amazônica, toda a fauna deverá ser valorizada em textos levados ao palco, e se isto não for o caso, cabe ao encenador resolver esta questão, a partir da encenação e montagem do espetáculo. Não podemos fugir da realidade climática e ambiental que nos envolve. Precisamos valorizar nossa fauna e nossa flora, os rios e tudo o que envolve nosso meio ambiente.

     Geralmente, em textos infantis para teatro, fala-se de um mundo que não mais existe, e há uma recusa obstinada em se colocar em cena problemas com os quais a criança se depara e convive, e ou aqueles de significados profundos, cujo conteúdo sempre foi importante para o ser humano, como por exemplo; a preservação do meio ambiente. Realmente, é muito difícil escrever textos dramatúrgicos para criança. É preciso muita maturidade. Eu particularmente já tive essa dificuldade, quando fazia teatro na década de 1980. Naquela época, nosso grupo de teatro resolveu desenvolver um texto, que seria adaptado da obra infantil, “Marcelo, Marmelo, Martelo”, de Ruth Rocha. Fizemos várias leituras, mas, infelizmente, em função da dificuldade dramatúrgica, o grupo não conseguiu fazer esta adaptação.

ORIGEM SOCIAL DO TEATRO

 


     O culto ao deus Dioniso é a hipótese mais provável do surgimento do teatro na Antiga Grécia. Em suas primeiras manifestações não havia nem atores nem espectadores. Igualmente ao que acontece numa roda de ciranda defronte ao mar, onde todos participam efetivamente da brincadeira, é isso mesmo...! No culto ao deus Dioniso não havia a subdivisão entre palco e plateia, como acontece no teatro contemporâneo.

     Naquele período histórico, o teatro era o povo cantando e dançando livremente ao ar livre, sem as paredes que temos hoje, nos edifícios teatrais, nos colocando num cubo quase hermeticamente fechado e com uma das paredes abertas ao público. O povo era o teatro e o teatro era o povo, visto que não havia um destinatário específico para assistir exclusivamente ao espetáculo, naquele caso, o culto era pragmaticamente participativo. A essa festa chamada de “Canto Ditirâmbico”, todos podiam participar livremente, se manifestar e brincar com as suas emoções como se estivessem num bloco popular de carnaval de rua.

     Como acontece na vida cotidiana e na cultura especificamente, tudo muda constantemente ao longo dos anos, a cultura é híbrida. Partindo desse ponto de vista, percebe-se que com o passar do tempo essa forma primitiva de teatro foi tomando novos direcionamentos. A aristocracia foi quem primeiramente estabeleceu divisões fundamentais para esta mudança, quando definiu que somente algumas pessoas poderiam subir ao palco e representar, (significando a própria aristocracia), enquanto que outras deveriam permanecer sentadas, receptivas e passivas, (representando a massa, o povo).

     Para atender fielmente aos desejos de sua ideologia dominante, a própria aristocracia estabelece uma nova divisão onde os próprios atores seriam divididos em atores principais e (aristocratas ascendentes), e secundários, que seriam o coro, simbolizando o povo, a massa e definitivamente distanciando o povo em relação à classe dirigente.  

     Com o advento da burguesia, esses protagonistas deixaram de ser objetos de valores morais, superestruturais, e passaram a ser sujeitos multidimensionais, ou seja, indivíduos excepcionais, afastados do povo, como novos aristocratas. Nesse processo, o teatro que era feito nas ruas, nas esquinas e nas cidades, o teatro que era geralmente apresentado ao ar livre, passa gradativamente a mudar de espaço físico, e, seguindo a trajetória dos burgueses, começa a ser apresentado em locais fechados, inicialmente dentro dos castelos e palácios dos reis da Idade Média. E junto com eles vão os atores, que deixam de rodar o chapéu na rua, após suas representações, e passam a fazer parte de uma elite com status e fartura, galgando uma vida muito mais estruturada, por estar sob os cuidados da Coroa.

     Independentemente de suas várias trajetórias, o teatro vai seguindo seu caminho. Da mesma forma que seguiu por essas veredas, por outro lado, fatos como esses também fizeram surgir, como contraposição, uma nova forma crítica de teatro de rua, que foi a Commedia del’Arte, também na Idade Média, na Itália.