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segunda-feira, 2 de janeiro de 2023

ORIGEM SOCIAL DO TEATRO

 


     O culto ao deus Dioniso é a hipótese mais provável do surgimento do teatro na Antiga Grécia. Em suas primeiras manifestações não havia nem atores nem espectadores. Igualmente ao que acontece numa roda de ciranda defronte ao mar, onde todos participam efetivamente da brincadeira, é isso mesmo...! No culto ao deus Dioniso não havia a subdivisão entre palco e plateia, como acontece no teatro contemporâneo.

     Naquele período histórico, o teatro era o povo cantando e dançando livremente ao ar livre, sem as paredes que temos hoje, nos edifícios teatrais, nos colocando num cubo quase hermeticamente fechado e com uma das paredes abertas ao público. O povo era o teatro e o teatro era o povo, visto que não havia um destinatário específico para assistir exclusivamente ao espetáculo, naquele caso, o culto era pragmaticamente participativo. A essa festa chamada de “Canto Ditirâmbico”, todos podiam participar livremente, se manifestar e brincar com as suas emoções como se estivessem num bloco popular de carnaval de rua.

     Como acontece na vida cotidiana e na cultura especificamente, tudo muda constantemente ao longo dos anos, a cultura é híbrida. Partindo desse ponto de vista, percebe-se que com o passar do tempo essa forma primitiva de teatro foi tomando novos direcionamentos. A aristocracia foi quem primeiramente estabeleceu divisões fundamentais para esta mudança, quando definiu que somente algumas pessoas poderiam subir ao palco e representar, (significando a própria aristocracia), enquanto que outras deveriam permanecer sentadas, receptivas e passivas, (representando a massa, o povo).

     Para atender fielmente aos desejos de sua ideologia dominante, a própria aristocracia estabelece uma nova divisão onde os próprios atores seriam divididos em atores principais e (aristocratas ascendentes), e secundários, que seriam o coro, simbolizando o povo, a massa e definitivamente distanciando o povo em relação à classe dirigente.  

     Com o advento da burguesia, esses protagonistas deixaram de ser objetos de valores morais, superestruturais, e passaram a ser sujeitos multidimensionais, ou seja, indivíduos excepcionais, afastados do povo, como novos aristocratas. Nesse processo, o teatro que era feito nas ruas, nas esquinas e nas cidades, o teatro que era geralmente apresentado ao ar livre, passa gradativamente a mudar de espaço físico, e, seguindo a trajetória dos burgueses, começa a ser apresentado em locais fechados, inicialmente dentro dos castelos e palácios dos reis da Idade Média. E junto com eles vão os atores, que deixam de rodar o chapéu na rua, após suas representações, e passam a fazer parte de uma elite com status e fartura, galgando uma vida muito mais estruturada, por estar sob os cuidados da Coroa.

     Independentemente de suas várias trajetórias, o teatro vai seguindo seu caminho. Da mesma forma que seguiu por essas veredas, por outro lado, fatos como esses também fizeram surgir, como contraposição, uma nova forma crítica de teatro de rua, que foi a Commedia del’Arte, também na Idade Média, na Itália. 

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