O culto ao deus Dioniso é a hipótese mais
provável do surgimento do teatro na Antiga Grécia. Em suas primeiras
manifestações não havia nem atores nem espectadores. Igualmente ao que acontece
numa roda de ciranda defronte ao mar, onde todos participam efetivamente da
brincadeira, é isso mesmo...! No culto ao deus Dioniso não havia a subdivisão
entre palco e plateia, como acontece no teatro contemporâneo.
Naquele período histórico, o teatro era o
povo cantando e dançando livremente ao ar livre, sem as paredes que temos hoje,
nos edifícios teatrais, nos colocando num cubo quase hermeticamente fechado e
com uma das paredes abertas ao público. O povo era o teatro e o teatro era o
povo, visto que não havia um destinatário específico para assistir
exclusivamente ao espetáculo, naquele caso, o culto era pragmaticamente
participativo. A essa festa chamada de “Canto Ditirâmbico”, todos podiam
participar livremente, se manifestar e brincar com as suas emoções como se
estivessem num bloco popular de carnaval de rua.
Como acontece na vida cotidiana e na
cultura especificamente, tudo muda constantemente ao longo dos anos, a cultura
é híbrida. Partindo desse ponto de vista, percebe-se que com o passar do tempo
essa forma primitiva de teatro foi tomando novos direcionamentos. A
aristocracia foi quem primeiramente estabeleceu divisões fundamentais para esta
mudança, quando definiu que somente algumas pessoas poderiam subir ao palco e
representar, (significando a própria aristocracia), enquanto que outras
deveriam permanecer sentadas, receptivas e passivas, (representando a massa, o
povo).
Para atender fielmente aos desejos de sua
ideologia dominante, a própria aristocracia estabelece uma nova divisão onde os
próprios atores seriam divididos em atores principais e (aristocratas
ascendentes), e secundários, que seriam o coro, simbolizando o povo, a massa e
definitivamente distanciando o povo em relação à classe dirigente.
Com o advento da burguesia, esses
protagonistas deixaram de ser objetos de valores morais, superestruturais, e
passaram a ser sujeitos multidimensionais, ou seja, indivíduos excepcionais,
afastados do povo, como novos aristocratas. Nesse processo, o teatro que era
feito nas ruas, nas esquinas e nas cidades, o teatro que era geralmente
apresentado ao ar livre, passa gradativamente a mudar de espaço físico, e, seguindo
a trajetória dos burgueses, começa a ser apresentado em locais fechados,
inicialmente dentro dos castelos e palácios dos reis da Idade Média. E junto
com eles vão os atores, que deixam de rodar o chapéu na rua, após suas
representações, e passam a fazer parte de uma elite com status e fartura, galgando
uma vida muito mais estruturada, por estar sob os cuidados da Coroa.
Independentemente de suas várias trajetórias, o teatro vai seguindo seu
caminho. Da mesma forma que seguiu por essas veredas, por outro lado, fatos
como esses também fizeram surgir, como contraposição, uma nova forma crítica de
teatro de rua, que foi a Commedia del’Arte, também na Idade Média, na
Itália.
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