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segunda-feira, 18 de janeiro de 2021

O INÍCIO DO COMEÇO

 

     Pouco se conhece sobre o Teatro no Amapá; em se falando de dramaturgia as informações se tornam ainda muito mais escassas.  Faz-se necessário saber que a primeira obra que trata sobre o teatro no Amapá, é de minha autoria e foi publicada no ano de 2011 com o título “Artes Cênicas no Amapá – Teoria, Textos e Palcos”. Surgiu a partir de vários artigos (como este) que escrevi neste meio de comunicação. O objetivo desta obra foi a de revelar os espaços teatrais; produtores teatrais; análise crítica de espetáculos apresentados no Estado; novela amapaense; arte circense e humor. É resultado de estudos do Grupo de Pesquisa em Artes Cênicas da Universidade Federal do Amapá - UNIFAP.

     Prosseguindo com pesquisas voltadas para o teatro no Amapá, foi publicada em 2013 a obra “Teatro no Amapá: Artistas e Seu Tempo”, também de minha autoria, que foi resultado de realização de entrevistas com artistas de teatro que haviam montado espetáculos nas décadas de 60, 70 e 80, e que na atualidade não havia nenhum registro sobre seus trabalhos voltados para o teatro no Amapá.

     Do que se tem notícia, a primeira obra sobre dramaturgia amapaense foi publicada em 2012, intitulada: “Cênico em Contextos: peças teatrais” do ator e diretor de teatro Daniel de Rocha, na intenção de socializar seus textos e consequentemente sua dramaturgia. Na ocasião, ele publicou sete textos de sua autoria. A segunda obra que também trata do referido tema, intitula-se “Dramaturgia Amapaense”, de minha autoria (publicada em 2015) também resultado de pesquisa realizada pelo Grupo de Pesquisa em Artes Cênicas e Núcleo Amazônico de Estudos das Artes Cênicas da UNIFAP.

     De fato, há um vazio documental tanto em relação à história do teatro no Amapá, como também ao que diz respeito à sua dramaturgia. Por outro lado, à medida que se vai pesquisando, vai-se revelando o vigor de um teatro que necessita urgentemente ser registrado e se tornar patente em nossas bibliotecas. Aliás, a realidade de nossas bibliotecas públicas e particulares carece de material que informe à comunidade em geral; ao pesquisador e às pessoas de teatro sobre tema tão específico.

     Volto-me há duas décadas a mergulhar no que há de melhor sobre o teatro amapaense. Ao longo dos anos venho localizando dados esparsos, analisando-os paulatinamente e arquivando-os. Na atualidade, o que se encontra em nível bibliográfico são abordagens isoladas e citações como. No entanto, há evidências de ter havido desde o século XVIII, grande número de atividades teatrais, que não se restringiu apenas à capital, Macapá, mas principalmente em função da representação da luta dos “Mouros e Cristãos” na Vila de Mazagão Velho, cujas primeiras apresentações aconteceram no ano de 1777.

          No momento estou com a obra “História do Teatro do Amapá: Do Século XVIII à Década de 1940”, que já está no prelo, e escrevendo a segunda parte dessa história, que vai da década de 1950 aos dias atuais. Além disso estou analisando material para ainda mais dois livros sobre nosso teatro. Ainda há muito o que se pesquisar, isto é apenas o início do começo. 

terça-feira, 5 de janeiro de 2021

O HERÓI TRÁGICO

 


     Em sua obra intitulada “Poética”, Aristóteles realizou profunda análise do drama trágico, do período clássico grego. Contudo, muita coisa ainda reverbera na sociedade contemporânea. Enquanto a tragédia tratava de homens idôneos, cultos e nobres, cujas ações refletiam suas atitudes morais e de boa virtude, por outro lado, a comédia tratava do cotidiano das pessoas e do povo simples. Mas o nosso foco neste artigo, será mesmo, relacionar o destino do herói da tragédia grega, com nossos heróis da atualidade.

     Tendo como ponto de partida, uma análise na perspectiva psicológica da trajetória dramática: ascensão, apogeu e queda do herói; quero tratar aqui, da verossimilhança que há entre o destino do protagonista da tragédia grega e o destino de heróis da atualidade. Conheci o Clécio, há 26 anos, ele muito jovem, era aluno do Curso de Geografia da UNIFAP, onde, no Diretório Central dos Estudantes, já estava dando os primeiros passos da sua, sem dúvida, brilhante carreira política.

     Desde então, tornou-se um político de esquerda; e ainda garoto, teve experiências em vários cargos públicos de relevância. Como reflexo da dedicação e insistência do seu trabalho, conquistou uma cadeira de vereador na Câmara Municipal de Macapá. Em função de sua dedicação à política, conseguiu ser reeleito e galgar duas gestões, ou seja, permaneceu oito anos na pasta como vereador. Seguiu eminente sua carreira política, e se tornou prefeito da cidade de Macapá, por duas gestões, (estimulou sua hamartia, ou seja, sua falha trágica e impureza do papel que exercia), seguiu seu caminho ascendente de herói, para a felicidade, sempre acompanhado empaticamente pelos seus fiéis eleitores escudeiros.

     Como todo herói, passou a contribuir imensamente para com a cidade e com as camadas mais vulneráveis da sociedade amapaense, e a cada ano que se passava, conquistava ainda mais seu perseverante público. Porém, da mesma forma que o herói da tragédia grega, se viu diante de uma difícil situação, quando se percebeu obrigado a enfrentá-la e resolvê-la. Diante do conflito interno do nosso herói, o mesmo decide apagar da memória e esquecer seu compromisso político, já construído em sua discussão dialética com base numa ideologia de esquerda, e passa, peremptoriamente, a apoiar um candidato de extrema direita, nas eleições para prefeito de Macapá, no ano de 2020.

     Aqui se dá o que se define como Peripécia, ou seja, momento em que surge um ponto de reversão na trajetória do nosso herói. Diante desse conflito, o público lamenta o fim do personagem cuja vontade de bem agir revelava seu bom caráter. Neste momento crucial, o eleitor já deseja a queda do herói, transformando-o em bode expiatório, quando concretiza tal ação com o depósito na urna eleitoral, de voto contrário. Ocasião em que, o personagem e o espectador iniciam o caminho inverso, da felicidade à desgraça. Aterrorizado pela compaixão e pelo terror, gerados pela tragédia, acontece a catarse, quando o eleitor se purifica de sua harmatia. Como resultado final de sua catástrofe, o herói sofre, de forma violenta, as consequências do reconhecimento de sua falha trágica (anagnorisis), enfrentando sua própria desgraça com sua inevitável queda.