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terça-feira, 5 de janeiro de 2021

O HERÓI TRÁGICO

 


     Em sua obra intitulada “Poética”, Aristóteles realizou profunda análise do drama trágico, do período clássico grego. Contudo, muita coisa ainda reverbera na sociedade contemporânea. Enquanto a tragédia tratava de homens idôneos, cultos e nobres, cujas ações refletiam suas atitudes morais e de boa virtude, por outro lado, a comédia tratava do cotidiano das pessoas e do povo simples. Mas o nosso foco neste artigo, será mesmo, relacionar o destino do herói da tragédia grega, com nossos heróis da atualidade.

     Tendo como ponto de partida, uma análise na perspectiva psicológica da trajetória dramática: ascensão, apogeu e queda do herói; quero tratar aqui, da verossimilhança que há entre o destino do protagonista da tragédia grega e o destino de heróis da atualidade. Conheci o Clécio, há 26 anos, ele muito jovem, era aluno do Curso de Geografia da UNIFAP, onde, no Diretório Central dos Estudantes, já estava dando os primeiros passos da sua, sem dúvida, brilhante carreira política.

     Desde então, tornou-se um político de esquerda; e ainda garoto, teve experiências em vários cargos públicos de relevância. Como reflexo da dedicação e insistência do seu trabalho, conquistou uma cadeira de vereador na Câmara Municipal de Macapá. Em função de sua dedicação à política, conseguiu ser reeleito e galgar duas gestões, ou seja, permaneceu oito anos na pasta como vereador. Seguiu eminente sua carreira política, e se tornou prefeito da cidade de Macapá, por duas gestões, (estimulou sua hamartia, ou seja, sua falha trágica e impureza do papel que exercia), seguiu seu caminho ascendente de herói, para a felicidade, sempre acompanhado empaticamente pelos seus fiéis eleitores escudeiros.

     Como todo herói, passou a contribuir imensamente para com a cidade e com as camadas mais vulneráveis da sociedade amapaense, e a cada ano que se passava, conquistava ainda mais seu perseverante público. Porém, da mesma forma que o herói da tragédia grega, se viu diante de uma difícil situação, quando se percebeu obrigado a enfrentá-la e resolvê-la. Diante do conflito interno do nosso herói, o mesmo decide apagar da memória e esquecer seu compromisso político, já construído em sua discussão dialética com base numa ideologia de esquerda, e passa, peremptoriamente, a apoiar um candidato de extrema direita, nas eleições para prefeito de Macapá, no ano de 2020.

     Aqui se dá o que se define como Peripécia, ou seja, momento em que surge um ponto de reversão na trajetória do nosso herói. Diante desse conflito, o público lamenta o fim do personagem cuja vontade de bem agir revelava seu bom caráter. Neste momento crucial, o eleitor já deseja a queda do herói, transformando-o em bode expiatório, quando concretiza tal ação com o depósito na urna eleitoral, de voto contrário. Ocasião em que, o personagem e o espectador iniciam o caminho inverso, da felicidade à desgraça. Aterrorizado pela compaixão e pelo terror, gerados pela tragédia, acontece a catarse, quando o eleitor se purifica de sua harmatia. Como resultado final de sua catástrofe, o herói sofre, de forma violenta, as consequências do reconhecimento de sua falha trágica (anagnorisis), enfrentando sua própria desgraça com sua inevitável queda.

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