Em sua obra intitulada “Poética”,
Aristóteles realizou profunda análise do drama trágico, do período clássico grego.
Contudo, muita coisa ainda reverbera na sociedade contemporânea. Enquanto a
tragédia tratava de homens idôneos, cultos e nobres, cujas ações refletiam suas
atitudes morais e de boa virtude, por outro lado, a comédia tratava do
cotidiano das pessoas e do povo simples. Mas o nosso foco neste artigo, será
mesmo, relacionar o destino do herói da tragédia grega, com nossos heróis da
atualidade.
Tendo como ponto de partida, uma análise na
perspectiva psicológica da trajetória dramática: ascensão, apogeu e queda do
herói; quero tratar aqui, da verossimilhança que há entre o destino do
protagonista da tragédia grega e o destino de heróis da atualidade. Conheci o
Clécio, há 26 anos, ele muito jovem, era aluno do Curso de Geografia da UNIFAP,
onde, no Diretório Central dos Estudantes, já estava dando os primeiros passos
da sua, sem dúvida, brilhante carreira política.
Desde então, tornou-se um político de
esquerda; e ainda garoto, teve experiências em vários cargos públicos de
relevância. Como reflexo da dedicação e insistência do seu trabalho, conquistou
uma cadeira de vereador na Câmara Municipal de Macapá. Em função de sua
dedicação à política, conseguiu ser reeleito e galgar duas gestões, ou seja, permaneceu
oito anos na pasta como vereador. Seguiu eminente sua carreira política, e se
tornou prefeito da cidade de Macapá, por duas gestões, (estimulou sua hamartia,
ou seja, sua falha trágica e impureza do papel que exercia), seguiu seu caminho
ascendente de herói, para a felicidade, sempre acompanhado empaticamente pelos
seus fiéis eleitores escudeiros.
Como todo herói, passou a contribuir
imensamente para com a cidade e com as camadas mais vulneráveis da sociedade
amapaense, e a cada ano que se passava, conquistava ainda mais seu perseverante
público. Porém, da mesma forma que o herói da tragédia grega, se viu diante de
uma difícil situação, quando se percebeu obrigado a enfrentá-la e resolvê-la.
Diante do conflito interno do nosso herói, o mesmo decide apagar da memória e
esquecer seu compromisso político, já construído em sua discussão dialética com
base numa ideologia de esquerda, e passa, peremptoriamente, a apoiar um
candidato de extrema direita, nas eleições para prefeito de Macapá, no ano de
2020.
Aqui se dá o que se define como Peripécia,
ou seja, momento em que surge um ponto de reversão na trajetória do
nosso herói. Diante desse conflito, o público lamenta o fim do personagem cuja
vontade de bem agir revelava seu bom caráter. Neste momento crucial, o eleitor
já deseja a queda do herói, transformando-o em bode expiatório, quando
concretiza tal ação com o depósito na urna eleitoral, de voto contrário. Ocasião
em que, o personagem e o espectador iniciam o caminho inverso, da felicidade à
desgraça. Aterrorizado pela compaixão e pelo terror, gerados pela tragédia,
acontece a catarse, quando o eleitor se purifica de sua harmatia. Como
resultado final de sua catástrofe, o herói sofre, de forma violenta, as
consequências do reconhecimento de sua falha trágica (anagnorisis),
enfrentando sua própria desgraça com sua inevitável queda.
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