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terça-feira, 23 de fevereiro de 2021

OS MISTÉRIOS DE DELOS

 

     A palavra mistério tem origem no latim mysterium. Refere-se a tudo cuja causa é oculta, desconhecida, incompreensível, inexplicável; enigma. O que a ninguém deve ser dito; confidência e segredo. Até os dias de hoje, qualquer entidade iniciática, possui suas crenças e seus mistérios que não podem ser revelados pelos seus membros.

     Muitos estudos e escavações arqueológicas revelaram que os primeiros assentamentos na ilha de Delos, remontam ao ano 3.000 a.C., sendo que aproximadamente em torno de 1.000 a.C., há vestígios de que o local foi habitado pelos povos jônicos. Faz parte do arquipélago das chamadas Ilhas Cicládicas, no Mar Egeu, entre a Grécia e a Ásia Menor, e localiza-se geograficamente no centro desse círculo. Seu território apresenta 5 quilômetros de extensão no sentido Norte/Sul e 1/5 km de extensão, no sentido Leste/ Oeste.

     Por que tanto se fala nos mistérios de Delos? Exatamente em função de que lá, havia uma grande quantidade de cultos e adoração a vários deuses gregos, cada um com seus mistérios. Na ilha de Delos, havia: o Heraion - santuário de Hera, a primeira esposa de Zeus; além de vários templos: o santuário de Apollo – Deus do Sol; o santuário de Ártemis – Deusa da Lua; o templo de Leto – Deusa do anoitecer, entre outros. Nesses locais sempre havia, o templo, que era mais simples, e o santuário que era o espaço sagrado, denominado de Períbolo; espaço de terreno que havia em torno dos templos, limitava o espaço sagrado e eram decorados com estátuas e monumentos votivos.

     Não obstante, apesar da quantidade de santuários que havia em Delos, pela grandiosidade do ádito, ela era considerada a ilha de Apollo. E ainda, porque, de acordo com a mitologia grega, Apollo e sua irmã gêmea, Ártemis, nasceram em Delos. Essa adoração ao Deus Apollo chegou ao seu esplendor, no século IV a.C., tornando-se uma das mais populares do mundo grego. Da mesma forma de outros deuses, também havia um festival especifico dedicado a Apollo. A “Delia”, era um evento que reunia as cidades pertencentes à Liga de Delos e acontecia a cada quatro anos, em torno do santuário, com corridas de cavalos entre outras atividades. Todo o futuro da Grécia era confiado a Apollo, por esse motivo, Delos era tida como uma ilha sagrada.

     Diz-se que Apollo nascera de 7 meses, por isso, seus festivais e oferendas com sacrifícios, sempre aconteciam no dia 7 de cada mês. Quando se afirma que algo é apolíneo, ou seja, típico de Apolo, trata-se referir-se à ordem, clareza, razão, calma, sonho, predição, visão ou ainda, dimensão solar. O Deus era cultuado com peãs – peã é um hino originalmente cantado a Apollo, são canções sérias e ordenadas e de natureza alegre, com melodia que expressava esperança e confiança. Sua origem remete pelo fato de Apollo tê-la cantado, após a vitória sobre píton.

     Levando-se em consideração de que a ilha era sagrada, por consequência, em Delos era proibido: as mulheres dar à luz; as pessoas adoecerem ou morrerem. Nesses casos, os habitantes tinham que ser transferidos para a ilha de Rineia, mais conhecida como a necrópoles de Delos. Após a guerra contra os Persas, a ilha se tornou o local de encontro da Liga de Delos, fundada em 478 a.C., que reunia aliados de Atenas e Esparta, onde decidiam as estratégias de lutas contra invasões estrangeiras.

    

 

domingo, 7 de fevereiro de 2021

OS MISTÉRIOS DE ELÊUSIS

  

     Elêusis é uma localidade da Grécia que fica cerca de 23 quilômetros de Atenas, onde se celebravam os ritos de iniciação ao culto das deusas agrícolas, Deméter e sua filha Perséfone, (Ceres e Proserpina para os romanos). Os Mistérios de Elêusis giram em torno do mais famoso ritual religioso secreto da Grécia antiga, realizado entre os séculos 6 a.C. e 4 d.C., eram cerimônias de iniciação e apresentavam vários ritos, que teriam que ser seguidos exclusivamente pelos novos participantes, os quais, tinham a obrigação de guardar os segredos dessas iniciações.

     Segundo a lenda, Perséfone, filha de Deméter, enquanto colhia flores no vale do Nisa, foi raptada por Hades, rei do tártaro. Na mitologia grega, tártaro é a personificação do mundo inferior, ou seja, o mundo dos mortos. A partir dessa situação inesperada, e com grande tristeza em ter perdido sua filha, Deméter, que era a Deusa da agricultura, resolveu deixar de cuidar das plantações. Consequentemente começou a escassez de todo o tipo de cereal e alimento, fazendo com que a população começasse a passar fome. Zeus, que havia permitido seu irmão Hades, roubar Perséfone, resolveu reparar seu erro, decidindo que a mesma deveria voltar à terra por um período de seis meses para poder visitar sua mãe, sendo assim, os outros seis meses passaria com seu esposo, Hades.

     Os Mistérios de Elêusis giravam especificamente, em volta desse psicodrama. Destarte, o período de seis meses que Perséfone passava no Olimpo, simbolizavam a primavera e o verão, período em que favorece a agricultura, e os seis meses que passava com Hades, representavam o outono e o inverno, temporada em que o solo ficava infecundo. Esses rituais se dividiam em dois: os grandes e os pequenos mistérios. Enquanto os Grandes Mistérios eram realizados no equinócio da primavera, aproximadamente no dia 21 de março, os Pequenos Mistérios sucediam no equinócio de outono, por volta de 23 de setembro.

     As festividades começavam com uma procissão que partia de Atenas, no período matutino, em direção a Elêusis. Havia nesse cortejo, um espaço dedicado a Dioniso, quando os mystai (candidatos a iniciados), tomavam uma bebida alucinógena, feita especialmente para a cerimônia, onde na ocasião, eles carregavam uma estátua do Deus Dioniso, dando viva ao Deus do vinho. Ciceona, era uma bebida fermentada, psicoativa; dizem, ser uma bebida favorita dos camponeses gregos. Esses mistérios sempre eram comemorados no início da primavera, que significava o retorno de Perséfone, e assim, ela trazia sementes novas e o renascer de toda vida vegetal, ou seja, o ressurgir das plantas, a colheita e a vida na terra.  Lançar novas sementes que brotam novos frutos, significa no mito, uma espécie de morte e ressureição. 

     Presumivelmente, pessoas idôneas e grandes personalidades importantes da sociedade grega, foram iniciados nos Mistérios de Elêusis, como: Aristóteles, Cícero, Pitágoras, Aristófanes, Plutarco, Platão, Alcebíades, Sócrates, Demóstenes e Sófocles, entre outros. 

 

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2021

A JORNADA DO HERÓI

 

     Basicamente, se olharmos para todo herói, iremos perceber que há muita coisa de semelhante, principalmente no que diz respeito a sua trajetória, a sua história; visto que todos eles seguem o mesmo enredo, o mesmo caminho ou a mesma saga. Quem já assistiu um filme de western ou bang-bang, sabe disso! Inicia-se quando, geralmente, nasce numa família muito humilde. Possui força sobre-humana precoce; e de acordo com seu desenvolvimento, consegue rápida ascensão ao poder, além de muita notoriedade. Torna-se defensor da justiça e cheio de virtudes, e na sua trajetória final, ou morre ou se torna herói reconhecido pelo seu povo.

     O herói geralmente, sai do seu mundo comum, passa por um mundo diferente e desconhecido, e retorna ao seu mundo comum, como verdadeiro herói. Como isso acontece? Vejamos: primeiramente há um chamado para a aventura, uma mensagem ou um convite de alguém, na verdade um desafio que ele deverá aceitar, ou não. Aqui, ele ainda está em seu mundo cotidiano. Para sua difícil decisão, sai em busca de alguém mais sábio, um oráculo, talvez! Em busca de conselhos e ajuda. Em função de sua decisão, segue seu rumo, cruzando o portal do seu mundo normal, seguro e tranquilo, e adentrando num mundo especial, desconhecido e cheio de provações e aventuras.

     Já no mundo completamente misterioso, o herói terá que passar por testes e provações; e este é o momento em que muitas situações adversas possivelmente irão acontecer, como, por exemplo, escapar de uma armadilha, descobrir o enigma e matar um monstro. Lembremos da saga de Ulisses no seu retorno a Ítaca; em Édipo Rei, quando mata a esfinge, ou ainda os 12 trabalhos de Hércules. E aí, chega a hora de encarar a maior provação, que se torna o maior temor do herói, mas que inevitavelmente ele terá que enfrentar tais situações. Este é o mais difícil momento do herói, tendo em vista, que ele, enfrentará a morte, e poderá matar o monstro ou até mesmo morrer.

     Ao vencer todas as suas provações, com certeza, o herói exige um prêmio, uma recompensa, algum tesouro, ou poder, como aconteceu com Édipo, que se tornou rei de Tebas. No desfecho de sua caminhada, o povo se curva respeitosamente diante do herói e o transforma em rei ou pessoa importante. Portanto, há várias formas de se decidir o desfecho final. Então, chega o momento do herói sair do seu mundo especial, e retornar ao seu mundo normal, já como herói reconhecido. Acontece que, depois de toda essa aventura, ele retorna a seu mundo normal, rejuvenescido e com uma nova vida. Foi preciso todo esse desenlace para que o mesmo se torna-se um herói. Seu gesto, sua decisão e sua atitude o transformaram em herói.  

     Em função de que todas as tramas foram resolvidas, o herói volta ao seu mundo cotidiano, mas com um nível mais elevado, já não é mais o mesmo, deixando de ser algo comum para ser um herói. Isso também acontece com o personagem Flick, herói do filme “Vida de Inseto”, Édipo, na peça “Édipo Rei”, de Sófocles, como também fica muito claro no personagem “Ulisses” da “Odisseia”, e ainda, vamos encontrar esses heróis em muitos filmes populares. Esta é a jornada do herói.