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segunda-feira, 7 de novembro de 2022

ARTE E EDUCAÇÃO

 


     Entre os anos 30 e 70 do século XX, no Brasil, os programas dos cursos de desenho abordavam basicamente as seguintes modalidades: a) desenho natural; que eram exercícios que giravam em torno da observação, representação e cópias de objetos. b) desenho decorativo: centralizado em faixas, ornatos redes gregas, estudo de letras, barras decorativas e painéis. c) desenho geométrico, ligado à morfologia geométrica e estudo de construções geométricas, e, d) desenho pedagógico, nas antigas escolas do magistério, que eram esquemas de construções de desenhos para ilustrar aulas. Na década de 1950, além do desenho, passam a fazer parte do currículo escolar as matérias: música, canto orfeônico e trabalhos manuais, que mantem de alguma forma o caráter e a metodologia do ensino do desenho artístico.

     Acredito que do ponto de vista metodológico, a aula de desenho na escola tradicional era encaminhada através de exercícios com reproduções de modelos propostos pelo professor, que seriam fixados pela repetição, buscando sempre o seu aprimoramento e destreza motora. De qualquer forma, se subentende que o ensino do desenho nas escolas primárias e secundárias, apresentava-se ainda com uma concepção neoclássica ao enfatizar a linha, o contorno, o traçado e a configuração. Estas particularidades tão intelectualizadas do desenho, foram transmitidas principalmente pela Academia Imperial do Rio de Janeiro, hoje, Escola de Belas Artes da UFRJ, e pelo grupo da Missão Francesa, que chegou ao Brasil em 1816.

     Tendo o desenho como ponto de partida, historicamente, a questão da Arte Educação, começou a ser discutida em nossa país no final do século XIX, quando ocorreram mudanças político-sociais como a abolição da escravatura e a substituição do Império pela República. Em função disso, a educação escolar em arte, passou a ser reformulada e organizada por políticos e intelectuais da época.

     Antes de 1971, a arte na escola era trabalhada separadamente, ou seja, havia aulas de música, teatro e trabalhos manuais. Em função da Lei 5692, de 1971, essas atividades, que antes aconteciam separadas, passam a se aglutinar numa única disciplina, que, inicialmente foi denominada de “Artes”. Neste caso, os primeiros cursos de educação artística, começam a ser implantados nas universidades do país. Com o passar do tempo surgiram novos conceitos, e percebeu-se que o antigo Curso de Educação Artística concentrava várias habilitações como: teatro, artes plásticas, música, desenho e dança. Dessa forma, emergiu uma contradição, tendo em vista que o professor de artes, saía da universidade com apenas uma habilitação e teria que ser um polivalente, ao ter que trabalhar nas escolas de ensino fundamental e médio, as várias modalidades da arte, enquanto que o curso formava apenas uma dessas modalidades. Em seu livro “História da Arte Educação”, Ana Mae Barbosa afirma que “lutas foram travadas no Brasil desde o século XIX, por positivistas e liberais, para tornar a arte disciplina obrigatória”, o que veio realmente acontecer a partir do ano de 1996, com a Lei de Diretrizes e Bases da Educação, nº 9394/96.

TEATRO DE BOLSO II

 


     Iniciarei este artigo, com esta simples pergunta. Quais as vantagens de um Teatro de Bolso? Tenho falado muito sobre este assunto, inclusive no último artigo, sobre construção ou adaptação de um Teatro de Bolso para a cidade de Macapá. Então, vou relatar e esclarecer aqui sobre o que penso em relação ao tema proposto. Vejamos: de um lado, temos o grande edifício teatral, este é um tipo de casa de espetáculos que existe pelo menos um, na grande maioria das nossas capitais. Sem dúvida, é de fundamental importância que haja nas grandes cidades brasileiras, um grande edifício teatral.

     A questão é que nem sempre essas casas de espetáculos, atendem por completo a necessidade dos artistas e de pequenos grupos de teatro de determinada localidade. Teatros que giram em torno dos 500 lugares ou mais, e que são geralmente, os quais, os administradores das cidades e estados preferem construí-los, são teatros que apresentam a necessidade de um orçamento diário muito alto, como também, um grande grupo de funcionários, para sua manutenção e de suas atividades cotidianas. Em função disso, se torna especifica e naturalmente, em um espaço onde poucos grupos amadores conseguem pagar uma pauta, restando apenas, como espaço para artistas e grupos profissionais, seja de teatro, dança, música ou outro qualquer espetáculo do gênero.

     Tudo o que se imaginar em relação à manutenção de uma grande casa de espetáculos, se torna muito oneroso, materiais de limpeza, iluminação, salário dos funcionários, energia, água e esgoto, pintura, manutenção do maquinário da caixa cênica, cortinas, aparelhagem de som, manutenção da área externa que faz parte do conjunto arquitetônico, tudo tem que estar funcionando plenamente, para que os espetáculos possam acontecer. E é por isso, que geralmente, os artistas em geral, tem dificuldade de pagar uma pauta, ou seja, o aluguel do teatro, para que seu grupo possa se apresentar naquele palco.

     Por outro lado, num pequeno Teatro de Bolso, tudo isso se torna menos dispendioso. Vamos ter como exemplo aqui, um teatro com apenas 100 lugares, em relação a um grande teatro; em escala, tudo aqui se torna muito menor, e em consequência, se torna uma casa, que apresenta uma manutenção muito mais em conta, relativo ao seu orçamento. Uma sala deste porte, basta quatro centrais de ar, e nem sempre haverá a necessidade de coloca-las todas em funcionamento. Por exemplo, com 50 pessoas na plateia, basta apenas duas centrais funcionando, somente quando a sala estiver lotada é que vai ter a necessidade de ligar as quatro centrais. Tudo isso facilita o melhor uso e economia deste tipo de teatro.

     Observando que, energia, água, gastos com pessoal, tudo será em menor escala, em relação a uma grande casa de espetáculos. Numa necessidade, e para que um grupo passe o dia organizando sua apresentação, basta apenas uma fonte de luz, para que tudo seja bem encaminhado. Portanto, essa grande economia, vai influenciar grandemente no valor da pauta desta pequena casa, abrindo espaço para que uma grande camada de grupos amadores possa ter essa acessibilidade para mostrar seus modestos espetáculos. E com uma política cultural voltada para grupos amadores, com incentivos, este teatro poderia funcionar todos os finais de semana, ininterruptamente, com objetividade de criar seu próprio público.

TEATRO DE BOLSO

 


     Esta é uma luta que há 28 anos venho travando e batalhando para que os artistas de teatro do Amapá, possam ter acesso e melhores oportunidades a um edifício teatral de pequeno porte, para suas apresentações teatrais. Tenho escrito e debatido muito, sobre este assunto. Para grupos amadores que não possuem suporte financeiro para se apresentar em grandes casas como o Teatro das Bacabeiras, se faz necessário a urgente construção ou adaptação de uma casa de pequeno porte, à qual denominamos de Teatro de Bolso.

     Chamamos Teatro de Bolso, pequenos edifícios teatrais com plateia em torno de 80 a 150 lugares. Na realidade, uma das hipóteses para um novo impulso do teatro em Macapá, gira em torno de, por um lado, a construção de pelo menos um teatro de bolso com pelo menos 150 lugares, e por outro, uma política cultural de administração desse pequeno espaço, que propicie o acesso aos mais diversos grupos que trabalham com artes cênicas em nossa cidade. Uma política que motive também, a criação de novos grupos de teatro, principalmente nas escolas da rede estadual e municipal de ensino, visto que é principalmente na escola que surgem os novos cidadãos.

     Tais decisões políticas e culturais, viriam a dar cara nova às artes cênicas em nosso município, cativando os jovens, criando uma nova mentalidade e contribuindo para o desenvolvimento sociocultural de nossa sociedade. Sem esquecer que os órgãos de cultura em nível federal, estadual e municipal, poderiam contribuir com projetos voltados para o desenvolvimento das artes cênicas como um todo.

     Os espaços alternativos que já existem em nossa cidade, infelizmente não suprem a necessidade global, dos grupos de teatro local. Por outro lado, o Teatro das Bacabeiras, é um espaço para eventos profissionais e de grande porte, como também para grupos, como o Língua de Trapo, que, com seu famoso espetáculo “Bar Caboclo”, já está consolidado, visto que conquistou e tem seu próprio público, mesmo que venha inventando e criando adaptações, com a intenção de garantir a efetiva participação desse público.

     Relativo a essa questão, no limiar do século XXI, aproximadamente em 2005, o SECS/AP, ventilou suprir essa premente necessidade, com a perspectiva da construção de um pequeno edifício teatral de 156 lugares, que lamentavelmente, ficou no esquecimento. Nessa época, também se discutia sobre a restauração do prédio do antigo Cineteatro Territorial para transformá-lo num teatro. Hoje em dia, há a intenção de restaurá-lo e transformá-lo no Museu da Imagem e do Som – MIS, o que também seria de grande valia.

     Em relação ao “Sílvio Romero”, que é o Teatro Municipal de Santana, quando estava sendo discutido seu desenho arquitetônico, na época, sugeri que além do grande salão, se construísse no próprio prédio, um pequeno teatro de bolso, com a perspectiva de que pequenos grupos pudessem se apresentar naquela casa de espetáculos, à qual, facilitaria o acesso à maioria dos grupos de teatro daquela cidade, de Macapá e de outros municípios, respectivamente. Lembrando que, por serem pequenas salas de espetáculos, também devem comportar os aparatos indispensáveis de um teatro, como: coxias, caixa de palco, recursos de iluminação, mesa de sonorização, refletores, entre outros.