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segunda-feira, 7 de novembro de 2022

ARTE E EDUCAÇÃO

 


     Entre os anos 30 e 70 do século XX, no Brasil, os programas dos cursos de desenho abordavam basicamente as seguintes modalidades: a) desenho natural; que eram exercícios que giravam em torno da observação, representação e cópias de objetos. b) desenho decorativo: centralizado em faixas, ornatos redes gregas, estudo de letras, barras decorativas e painéis. c) desenho geométrico, ligado à morfologia geométrica e estudo de construções geométricas, e, d) desenho pedagógico, nas antigas escolas do magistério, que eram esquemas de construções de desenhos para ilustrar aulas. Na década de 1950, além do desenho, passam a fazer parte do currículo escolar as matérias: música, canto orfeônico e trabalhos manuais, que mantem de alguma forma o caráter e a metodologia do ensino do desenho artístico.

     Acredito que do ponto de vista metodológico, a aula de desenho na escola tradicional era encaminhada através de exercícios com reproduções de modelos propostos pelo professor, que seriam fixados pela repetição, buscando sempre o seu aprimoramento e destreza motora. De qualquer forma, se subentende que o ensino do desenho nas escolas primárias e secundárias, apresentava-se ainda com uma concepção neoclássica ao enfatizar a linha, o contorno, o traçado e a configuração. Estas particularidades tão intelectualizadas do desenho, foram transmitidas principalmente pela Academia Imperial do Rio de Janeiro, hoje, Escola de Belas Artes da UFRJ, e pelo grupo da Missão Francesa, que chegou ao Brasil em 1816.

     Tendo o desenho como ponto de partida, historicamente, a questão da Arte Educação, começou a ser discutida em nossa país no final do século XIX, quando ocorreram mudanças político-sociais como a abolição da escravatura e a substituição do Império pela República. Em função disso, a educação escolar em arte, passou a ser reformulada e organizada por políticos e intelectuais da época.

     Antes de 1971, a arte na escola era trabalhada separadamente, ou seja, havia aulas de música, teatro e trabalhos manuais. Em função da Lei 5692, de 1971, essas atividades, que antes aconteciam separadas, passam a se aglutinar numa única disciplina, que, inicialmente foi denominada de “Artes”. Neste caso, os primeiros cursos de educação artística, começam a ser implantados nas universidades do país. Com o passar do tempo surgiram novos conceitos, e percebeu-se que o antigo Curso de Educação Artística concentrava várias habilitações como: teatro, artes plásticas, música, desenho e dança. Dessa forma, emergiu uma contradição, tendo em vista que o professor de artes, saía da universidade com apenas uma habilitação e teria que ser um polivalente, ao ter que trabalhar nas escolas de ensino fundamental e médio, as várias modalidades da arte, enquanto que o curso formava apenas uma dessas modalidades. Em seu livro “História da Arte Educação”, Ana Mae Barbosa afirma que “lutas foram travadas no Brasil desde o século XIX, por positivistas e liberais, para tornar a arte disciplina obrigatória”, o que veio realmente acontecer a partir do ano de 1996, com a Lei de Diretrizes e Bases da Educação, nº 9394/96.

TEATRO DE BOLSO II

 


     Iniciarei este artigo, com esta simples pergunta. Quais as vantagens de um Teatro de Bolso? Tenho falado muito sobre este assunto, inclusive no último artigo, sobre construção ou adaptação de um Teatro de Bolso para a cidade de Macapá. Então, vou relatar e esclarecer aqui sobre o que penso em relação ao tema proposto. Vejamos: de um lado, temos o grande edifício teatral, este é um tipo de casa de espetáculos que existe pelo menos um, na grande maioria das nossas capitais. Sem dúvida, é de fundamental importância que haja nas grandes cidades brasileiras, um grande edifício teatral.

     A questão é que nem sempre essas casas de espetáculos, atendem por completo a necessidade dos artistas e de pequenos grupos de teatro de determinada localidade. Teatros que giram em torno dos 500 lugares ou mais, e que são geralmente, os quais, os administradores das cidades e estados preferem construí-los, são teatros que apresentam a necessidade de um orçamento diário muito alto, como também, um grande grupo de funcionários, para sua manutenção e de suas atividades cotidianas. Em função disso, se torna especifica e naturalmente, em um espaço onde poucos grupos amadores conseguem pagar uma pauta, restando apenas, como espaço para artistas e grupos profissionais, seja de teatro, dança, música ou outro qualquer espetáculo do gênero.

     Tudo o que se imaginar em relação à manutenção de uma grande casa de espetáculos, se torna muito oneroso, materiais de limpeza, iluminação, salário dos funcionários, energia, água e esgoto, pintura, manutenção do maquinário da caixa cênica, cortinas, aparelhagem de som, manutenção da área externa que faz parte do conjunto arquitetônico, tudo tem que estar funcionando plenamente, para que os espetáculos possam acontecer. E é por isso, que geralmente, os artistas em geral, tem dificuldade de pagar uma pauta, ou seja, o aluguel do teatro, para que seu grupo possa se apresentar naquele palco.

     Por outro lado, num pequeno Teatro de Bolso, tudo isso se torna menos dispendioso. Vamos ter como exemplo aqui, um teatro com apenas 100 lugares, em relação a um grande teatro; em escala, tudo aqui se torna muito menor, e em consequência, se torna uma casa, que apresenta uma manutenção muito mais em conta, relativo ao seu orçamento. Uma sala deste porte, basta quatro centrais de ar, e nem sempre haverá a necessidade de coloca-las todas em funcionamento. Por exemplo, com 50 pessoas na plateia, basta apenas duas centrais funcionando, somente quando a sala estiver lotada é que vai ter a necessidade de ligar as quatro centrais. Tudo isso facilita o melhor uso e economia deste tipo de teatro.

     Observando que, energia, água, gastos com pessoal, tudo será em menor escala, em relação a uma grande casa de espetáculos. Numa necessidade, e para que um grupo passe o dia organizando sua apresentação, basta apenas uma fonte de luz, para que tudo seja bem encaminhado. Portanto, essa grande economia, vai influenciar grandemente no valor da pauta desta pequena casa, abrindo espaço para que uma grande camada de grupos amadores possa ter essa acessibilidade para mostrar seus modestos espetáculos. E com uma política cultural voltada para grupos amadores, com incentivos, este teatro poderia funcionar todos os finais de semana, ininterruptamente, com objetividade de criar seu próprio público.

TEATRO DE BOLSO

 


     Esta é uma luta que há 28 anos venho travando e batalhando para que os artistas de teatro do Amapá, possam ter acesso e melhores oportunidades a um edifício teatral de pequeno porte, para suas apresentações teatrais. Tenho escrito e debatido muito, sobre este assunto. Para grupos amadores que não possuem suporte financeiro para se apresentar em grandes casas como o Teatro das Bacabeiras, se faz necessário a urgente construção ou adaptação de uma casa de pequeno porte, à qual denominamos de Teatro de Bolso.

     Chamamos Teatro de Bolso, pequenos edifícios teatrais com plateia em torno de 80 a 150 lugares. Na realidade, uma das hipóteses para um novo impulso do teatro em Macapá, gira em torno de, por um lado, a construção de pelo menos um teatro de bolso com pelo menos 150 lugares, e por outro, uma política cultural de administração desse pequeno espaço, que propicie o acesso aos mais diversos grupos que trabalham com artes cênicas em nossa cidade. Uma política que motive também, a criação de novos grupos de teatro, principalmente nas escolas da rede estadual e municipal de ensino, visto que é principalmente na escola que surgem os novos cidadãos.

     Tais decisões políticas e culturais, viriam a dar cara nova às artes cênicas em nosso município, cativando os jovens, criando uma nova mentalidade e contribuindo para o desenvolvimento sociocultural de nossa sociedade. Sem esquecer que os órgãos de cultura em nível federal, estadual e municipal, poderiam contribuir com projetos voltados para o desenvolvimento das artes cênicas como um todo.

     Os espaços alternativos que já existem em nossa cidade, infelizmente não suprem a necessidade global, dos grupos de teatro local. Por outro lado, o Teatro das Bacabeiras, é um espaço para eventos profissionais e de grande porte, como também para grupos, como o Língua de Trapo, que, com seu famoso espetáculo “Bar Caboclo”, já está consolidado, visto que conquistou e tem seu próprio público, mesmo que venha inventando e criando adaptações, com a intenção de garantir a efetiva participação desse público.

     Relativo a essa questão, no limiar do século XXI, aproximadamente em 2005, o SECS/AP, ventilou suprir essa premente necessidade, com a perspectiva da construção de um pequeno edifício teatral de 156 lugares, que lamentavelmente, ficou no esquecimento. Nessa época, também se discutia sobre a restauração do prédio do antigo Cineteatro Territorial para transformá-lo num teatro. Hoje em dia, há a intenção de restaurá-lo e transformá-lo no Museu da Imagem e do Som – MIS, o que também seria de grande valia.

     Em relação ao “Sílvio Romero”, que é o Teatro Municipal de Santana, quando estava sendo discutido seu desenho arquitetônico, na época, sugeri que além do grande salão, se construísse no próprio prédio, um pequeno teatro de bolso, com a perspectiva de que pequenos grupos pudessem se apresentar naquela casa de espetáculos, à qual, facilitaria o acesso à maioria dos grupos de teatro daquela cidade, de Macapá e de outros municípios, respectivamente. Lembrando que, por serem pequenas salas de espetáculos, também devem comportar os aparatos indispensáveis de um teatro, como: coxias, caixa de palco, recursos de iluminação, mesa de sonorização, refletores, entre outros.  

segunda-feira, 17 de outubro de 2022

MESTRE E DISCÍPULO

 


     No ano de 1996, Ronne Franklin Carvalho Dias foi meu aluno no Curso de Licenciatura em Educação Artística da Universidade Federal do Amapá. Ele é amapaense, filho de Rubens Gonçalves Dias e Maria da Conceição Carvalho Dias. Desde criança gostava de desenhar. Concluiu o curso artístico na Escola de Artes Cândido Portinari. Seguiu a caminho da universidade, onde realizou o curso de Educação Artística. Em função da conclusão do curso superior, se tornou professor de Artes da rede Estadual de Ensino.

     Vivenciou em sua própria casa, as principais influências na área da arte, tendo em vista que muito apreciava os desenhos que seus irmãos faziam, referentes às tarefas da escola. Quando estudante do ensino fundamental e médio, para seus colegas de classe, passou a ser o mestre do desenho. Trabalhos de desenho do corpo humano ou de mapas geográficos, eram tarefas dedicadas ao “artista Ronne”, como era conhecido por seus companheiros de classe.

     Foi um artista plástico que, observando os desenhos do Ronne, o motivou para ingressar na Escola de Artes Cândido Portinari. Ao ouvir a conversa daquele artista plástico com seu filho, Dona Santa, sua genitora, não contou conversa, e o matriculou na referida e reconhecida escola de artes. Ronne se instalou naquela escola entre o período de 1989 a 1995.

     E para aprofundar ainda mais seus estudos, na área das artes plásticas, em 1996, Ronne ingressou no Curso de Educação Artística da UNIFAP. Como artista, em 2000, recebeu menção honrosa no Terceiro Salão do SESC/Amapá. Frente às dificuldades de sobreviver preferencialmente da arte, resolveu paralelamente, ser professor e artista. Sua primeira individual foi realizada, ainda quando estudante da UNIFAP.

     Além de meu ex-aluno e ex-bolsista de projeto de extensão em seu período de acadêmico na UNIFAP, me vejo como seu mestre e o tenho como discípulo. Ronne Franklin seguiu seu caminho...! De estudante ávido em busca de um futuro tranquilo, se prostrou diante da profissão acadêmica, quando resolveu seguir a profissão de professor. Grandemente, sua busca, foi meteórica, concluiu o Curso de Educação Artística na UNIFAP, realizou Curso de Mestrado na Universidade Federal de Goiás, concluiu seu Curso de Doutorado, e na atualidade é professor Doutor do Instituto Federal de Ensino de Macapá.  

     Entendo, que o verdadeiro mestre é aquele que ensina os caminhos, e faz com que seu discípulo crie e siga seus próprios passos, e não aquele que busca com que seu discípulo repita seus ensinamentos, pelo resto da vida. O verdadeiro mestre, também não deve temer ou ficar com inveja, em relação às conquistas e vitórias de seus discípulos, mas sim, motivá-los a seguir em frente com seus próprios pensamentos, atitudes, ações, suas próprias filosofias e ideologias. E é com alegria e satisfação que observo de longe, o crescimento e a evolução deste meu excelso discípulo, o que gera em mim, um imenso feedback que me provoca excessiva força e coragem para continuar lutando pela educação neste país.   

segunda-feira, 10 de outubro de 2022

EURÍPEDES

 


     Iniciamos com Ésquilo e Sófocles, e agora, para concluir essa trilogia sobre os mais respeitados trágicos gregos do século V a.C., concluiremos com breve enfoque sobre Eurípedes, cronologicamente, o terceiro e último trágico. As tragédias de Eurípedes significam, precisa e essencialmente a humanização dos temas, diminuindo a força dos deuses num profundo desprezo por eles. Foi consideravelmente o primeiro poeta trágico a preocupar-se de maneira mais precisa, com a força da alma.

     Eurípedes nasceu em 480 a.C., em Salamina e morreu em 406 a.C. Foi sucessivamente, atleta profissional, pintor, orador e filósofo. Começando a escrever aos dezoito anos, conquistou prêmios com suas tragédias, já aos quarenta anos de idade. Escreveu aproximadamente sessenta peças, tendo sido vitorioso cinco vezes em vida, e uma, após sua morte. Era mal visto pelos gregos em função de ser ateu. Conta-se que foi o primeiro cidadão grego a possuir uma biblioteca particular. Era filho de um taverneiro com uma verdureira. Foi discípulo de Anaxágoras e condiscípulo de Sócrates.

      Podemos classifica-lo como poeta da decadência, ou seja, do declínio da tragédia, o que não significa que suas obras sejam inferiores aos dois outros trágicos que o precederam. Causou muita celeuma entre os gregos que, por várias vezes obrigaram suas peças a sair de cena, tendo como motivo, principalmente em relação ao fato de os deuses terem sido substituídos por homens.

     Eurípedes reduziu o prólogo a um discurso no qual eram explicados os acontecimentos que antecedem a ação; o êxodo foi substituído pela aparição sobrenatural de um deus que precipitava o desenlace. Desenvolveu cuidadosamente a incerteza e a surpresa. Outra sua característica é a grandeza das suas mulheres, em contraste com o seu misoginismo na vida real. As mulheres, sobretudo, em seu teatro, são incomparáveis.

     Pela primeira vez o amor entrou no teatro e o sentimentalismo se apossou da cena. Por outro lado, Eurípedes explorou os vários estados da alma do ser humano. Não sendo mais o homem um ser uniforme.

     Algumas peças de Eurípedes que chegaram até nossos dias: “Hécuba”; “Hipólito”; “As Fenícias”; “Orestes”; “Alceste”; “Medéia”; “As Troianas”; “Hércules Furioso”; “Electra”; “Ifigênia em Áulide”; “Ifigênia em Táuride”; “Helena”; “Io”; “Andrômeda”; “As Suplicantes”; “As Bacantes”; “Os Heráclidas”; “Reso”, e o drama satírico “O Ciclope”.

     Com o advento do Império Romano, a obra de Eurípedes exerceu grande influência no teatro ocidental. O dramaturgo deixou tipos que são conhecidos ainda hoje, como: as aias, os fantasmas, as mulheres abnegadas e os vilões.   

sexta-feira, 7 de outubro de 2022

SÓFOCLES

 

     Após ter escrito sobre Ésquilo, que faz parte dos três trágicos gregos mais conhecidos, agora trago à tona, Sófocles, e próxima semana, encerrarei esta trilogia com Ésquilo. Esses foram os três principais trágicos, gregos, ou dramaturgos como pode-se defini-los na atualidade.

     Sófocles nasceu em Colono. Em função de sua beleza física, aos quinze anos conduziu o coro de adolescentes na louvação pela vitória de Salamina. O primeiro concurso do qual participou foi em 469, a.C., na ocasião, competiu e ganhou de Ésquilo. Com o sucesso de Antígona, foi nomeado estrategista e com Péricles, lutou na expedição de Santos.

     Escreveu aproximadamente cem peças e foi vinte vezes vencedor nos concursos de teatro da antiga Grécia. De suas peças, apenas sete chegaram à atualidade. Sete tragédias; obras primas e independentes entre si. Por ordem cronológica temos: Antígona, Electra, As Traquíneas, Édipo Rei, Ájax, Filoctetes, e Édipo em Colono. Faleceu em 406 a.C., tendo introduzido na tragédia as seguintes modificações: inventou o terceiro ator, quebrou a regra da tetralogia e escreveu peças menores em relação ao tempo cênico.

     Vejamos algumas das características das peças de Sófocles: em Antígona apreciamos a luta da autoridade contra os sentimentos; Édipo Rei, trata-se da mais importante tragédia que o mundo antigo nos legou, mostra a relação psicológica do homem em sociedade, suas conquistas, seus egoísmos, sua ascensão e decadência. Pela primeira vez no teatro explora-se a curiosidade que nos conduz a uma revelação brutal, como no caso de Édipo, que por ironia do destino, mata seu próprio pai e casa com sua própria mãe. Ájax é das últimas criações de Sófocles, uma peça de fim de carreira, onde o dramaturgo revela uma volta à simplicidade. Filoctetes é ainda mais simples, a peça enfoca o patético que há numa relação e o enriquecimento do jogo de sentimentos.

     Édipo em Colono, é uma peça, não das melhores de Sófocles, em relação à verossimilhança e apresenta um certo desprezo integral ao tempo e ao espaço, mas em compensação é um canto lírico da mais alta beleza. As Traquíneas, resume-se num jogo do ciúme e do mal e por fim, Electra, que juntamente com Antígona e Édipo Rei, é uma das peças mais importantes de Sófocles.

     Sófocles escreveu a trilogia constituída por três peças: Edipo Rei – 430 a.C., Édipo em Colono – 401 a.C., e Antígona – 441 a.C. Mesmo tendo sido escritas em períodos diferentes, essa trilogia não deve ser analisada separadamente; vejamos sua relação em rápidas linhas: Édipo Rei, apresenta o erro fatal e a total mudança do destino do ser humano; Édipo em Colono, mostra Édipo cego, miserável, banido de Tebas e exilado em Colono, lugarejo próximo a Atenas; Antígona, descumpre as leis e vela seu irmão morto. Em sua extensa obra, Sófocles nos ensina que há uma ordem cósmica, na qual deve inserir-se a ordem social.

ÉSQUILO

 

     Ésquilo nasceu em Elêusis, em 525 a.C., era filho de Eufórion, pertencente a uma família de nobres. Foi herói em Maratona, Salamina e Platéia, tendo competido pela primeira vez, em 490 a.C., contra Pratinas e Quérilus, saindo derrotado. Vivia na Sicília, só aparecendo para os concursos, como também representava como ator. Foi preso por ser acusado de revelar os mistérios eulesianos. Faleceu em Gala, na Sicília em 456 a.C. Seu epitáfio diz: “Aqui repousa Ésquilo, filho de Eufórion, ateniense. Se quiserdes saber se foi valente perguntai ao bosque sagrado de Maratona e ao Medo de longa Cabeleira”, e nenhuma referência aos seus títulos de poeta.

     Ésquilo escreveu sessenta tragédias e cinco dramas satíricos, tendo sido vencedor dos concursos de tragédias por treze vezes. De sua obra, algumas peças chegaram aos nossos dias, como: “As Suplicantes”; “Os Sete Contra Tebas”; “Os Persas”; “Prometeu Acorrentado”, e sua única trilogia existente, “Agamenon, As Coéforas e as Eumênides”.

     Ésquilo criou o segundo ator, deu papel preponderante ao diálogo, diminuiu a importância do coro, e de cinquenta, o reduziu para quinze coristas. A única exceção  a esta última regra pode ser verificada em “As Suplicantes”, tragédia composta praticamente só de coros.

     Faz jus lembrar que com o segundo ator, nasce aquilo que é a base de toda arte dramática: a ação, pois já não se limita a se referir a algo, mas a verdadeiramente atuar. Além de ter dado importância à palavra, também produziu outras inovações para efeitos cênicos como: cenários, altares, tumbas, rochas e pórticos de palácios. Refez também as máscaras, estereotipando os sentimentos. Sobrelevou os coturnos, variou as cores dos trajes, deu destaque à coreografia e estabeleceu a regra de não haver morto em cena.

     Eis algumas das características das tragédias de Ésquilo: “As Suplicantes”; acredita-se que essa tragédia é a segunda peça de uma trilogia, sendo que as outras foram praticamente extraviadas. Suas marcas são a predominância lírica e a ausência de mortes. Em “Os Persas”, o que se destaca, sobretudo, nessa tragédia é a sublimidade do diálogo ao lado do aparecimento do silêncio, isto é, do ator mudo, transformando o diálogo do ator num monólogo, enquanto o outro tinha a possibilidade de trocar de roupa e de máscara. Em “A Orestíade”, é a maior obra legada pela antiguidade. Uma trilogia completa com exposição, desenvolvimento e catástrofe no final.

     Ésquilo é o verdadeiro criador da tragédia, à qual deu dimensões literárias e sociais. O estilo dele é vigoroso e as suas tragédias elevam o ânimo a um mundo superior. Religioso que era, em sua obra, os deuses tinham total participação e geralmente definiam e resolviam o final dos espetáculos.

terça-feira, 20 de setembro de 2022

TEATRO E AUDITÓRIO

 


     Tendo como ponto de partida de que o Teatro das Bacabeiras, deve ser considerado como um edifício profissional, hoje em dia, o melhor caminho para os que trabalham com artes cênicas em nosso Estado é buscar espaços alternativos, os quais, encontramos em alguns locais da cidade. Entre os espaços alternativos para representações teatrais em nossa cidade temos: Auditório do SES/Araxá; Teatro Leonor França, do SESI; vários palcos que encontram-se em nossas escolas de ensino fundamental e médio; Fortaleza de São José de Macapá; Centro de Convenções Azevedo Picanço;  Museu Sacaca; Auditório Multiuso da UNIFAP; Teatro do Céu das Artes, entre outros.

          A Fortaleza de São José de Macapá é um espaço que marca a cidade como referência de sua colonização portuguesa. Um dos espetáculos que vem sendo apresentado por mais de quatro décadas naquele espaço, é “Uma Cruz para Jesus”, cujo diretor é o ator Amadeu Lobato. É um espaço teatral, que, como cartão postal e prédio turístico, deveria manter algum tipo de representação teatral ligada à tema sobre a luta de Cabralzinho e a história do Amapá, com o objetivo de, a partir do teatro, mostrar soldados com figurinos de época, com tochas, e fazer parte da programação diária daquele monumento.

               Outro espaço que também já presenciou várias apresentações foi o Centro Cultural do Estado do Amapá, inaugurado na década de 1990, por força da Lei Estadual nº 0212. Tempo depois, tornou-se Centro de Convenções João Batista de Azevedo Picanço e ainda Teatro Experimental em 2002. Quando inaugurado, este prédio era conhecido como Centro Cívico de Macapá. Ainda continua em atividades; é um espaço considerável para os grupos de teatro do Amapá.

     É bom lembrar, que na maioria dos casos, esses espaços não são mais que auditórios. Para podermos compreender mais profundamente esta relação, observaremos aqui, as principais diferenças entre Auditório e Teatro:

                              AUDITÓRIO                                     TEATRO

*Discurso (narração)                                * Ação (drao/drama)

*Oradores (falam)                                    *Atores (representam)

*Auditores (ouvem)                                 *Espectadores (observam)

*Ouve-se o que se diz                              *Observa-se o que se faz

*Local para narração de um discurso   *Local para representação de uma peça

*Os discursos para o auditório              *A ação para o teatro é o vetor principal

São os vetores principais da narração.    do espetáculo

*A ação para o auditório não é mais     *Os discursos para o teatro não são mais

que os acessórios do discurso.                que os acessórios da ação.

 

     Dessa forma, pode-se observar que se faz necessário saber que todo teatro pode ser auditório, mas nem todo auditório pode ser teatro.

   

sexta-feira, 16 de setembro de 2022

EU E EXUPÉRY

 


    A motivação para minha dedicação ao estudo deve-se ao meu pai e minha mãe. Eles, que eram filhos de agricultores, com muita dificuldade, lograram concluir a 4ª série do antigo ensino primário lá pelo ano de 1945. Por ironia do destino, mesmo ano em que finalizou a 2ª Guerra Mundial. Nessa época, poucos conseguiam chegar até esse patamar nos estudos. Meu pai era ferroviário e trabalhava na Rede Ferroviária Federal Sociedade Anônima, e minha mãe era doméstica, mas, por outro lado, era exímia costureira.

     Filhos de agricultores e residindo na zona rural, os dois atuaram como professores na terra onde moravam. Ele estudou na Vila de Gramame (que na época era zona rural da cidade de João Pessoa – PB), e ela no lugarejo Monsenhor Magno, conhecido popularmente como Mussumago, também zona rural da capital da Paraíba. O grande desejo de minha mãe era ter filhos professores, fato que se concretizou a partir da década de 1980, do século passado.

     Nasci por mãos de parteira, numa simples casa, na cidade de Nova Cruz – Rio Grande do Norte. Meu lar situava-se no centro da rua com vistas para uma imensa área livre, local exclusivo onde se armava circos. Tendo como ponto de referência a minha residência, quando eu olhava para a esquerda, via a majestosa imagem do Colégio Nossa Senhora do Carmo, onde estudei parte do ensino fundamental. Ao girar meus olhos, 180 graus, encontrava em primeiro plano, uma quadra de futebol de salão e em segundo plano uma imensa caixa d’água, à qual, pertencia à Rede Ferroviária.

     Foi nessa pacata cidade que os adultos me incentivaram para os estudos e para desbravar a ciência. Mesmo antes de começar minha relação com as letras, e citando aqui Paulo Freire, eu já trazia uma leitura do mundo concreto, a partir do visual, sonoro e gestual. Ao mesmo tempo em que comecei a ler o mundo em que vivia, também o escrevia sem me dar conta, chegando a realizar tal façanha, a partir dos simples desenhos que rabiscava no papel.    

     Na década de 1960, do século XX, em Nova Cruz, cidade do interior do Rio Grande do Norte, onde nasci, lembro-me muito bem das campanhas políticas da época. Um dos candidatos, costumeiramente, colocava um anão em cima do carro de som, para, entre outros fatores, chamar a atenção dos eleitores. Apesar de não ter ainda, a noção do que significava uma campanha política, aquelas cenas me fascinavam.

     Essas passagens, porém, na minha mente de criança, ficavam gravadas e no dia seguinte, iam direto para o papel, através de desenhos, com a ajuda de tocos de lápis, onde colocava, sem esquecer, os mínimos detalhes da cena antes presenciada. O mais impressionante ainda, é que eu não me contentava, e fazia questão que todo mundo observasse os meus desenhos. Ao contrário do que enfoca Exupéry, no meu desenho, as pessoas grandes sabiam e entendiam, o que era aquilo rabiscado no papel, entretanto não davam muita importância

quarta-feira, 7 de setembro de 2022

MITOS ICÔNICOS

 


     Embora haja registros do santuário de Gobekli Tepe, que data de doze mil anos antes de Cristo, e que apresenta vestígios de uma antiga escrita e cultura. Ainda se considera a Suméria, que data de seis mil anos a.c., como uma das mais antigas civilizações que se tem registro e conhecimento na atualidade. Há uma gama de registros que relatam a cultura suméria e sempre acontece uma descoberta nova em função das escavações arqueológicas. Todos os outros povos como: os babilônios, persas, egípcios, turcos, gregos e romanos, entre outros, beberam na fonte da cultura dos sumérios. Para se ter ideia, a tragédia “Édipo Rei”, do Grego Sófocles, em que Édipo tem o destino de matar o próprio pai e casar com sua mãe, tem fortes vestígios, em mitos sumérios, como o de Ninrode, Semíramis e Tamuz.

     Os sumérios acreditam que, Semírames, teve seu filho Tamuz, e era considerada virgem e rainha do céu. Este mito passou pelos acádios babilônios e assírios como a deusa Isthar. O mito mais famoso de Inana/Isthar é sua história e descida ao mundo dos mortos.  Este mito também se reverberou na Grécia com os mistérios de Elêusis, quando da dramatização de Deméter e Perséfone. Esta última, também desceu ao mundo dos mortos. De certo, essa mitologia passou pela cultura da anatólia, Ásia menor e chegou até o Egito, com sua personificação na deusa Ísis.

     Por sua vez, Ísis era considerada no Egito, como deusa rainha do Céu, teve seu filho Hórus e continuou virgem. Há uma breve relação entre o mito sumério de Semírames e o de Ísis no Egito: Ninrode, casou-se com Semírames, e dessa união nasceu Tamuz (deus semita). Adorado como o deus sol, ele construiu a torre de Babel. Ninrode foi morto por “Sem”, seu tio avô, que era filho de Noé, após sua morte, “Sem” o esquartejou, separando seus pedaços por vários recantos do reino de Uruk. Por sua vez, Semírames localizou e juntou todos os pedaços do seu amado, com exceção do falo. Após esses acontecimentos, Semírames engravidou dos raios do deus Sol Baal, ocasião em que nasceu Tamuz. Semírames foi venerada como a deusa da lua, rainha do céu e mãe de deus. Em outras culturas ela passou a ser cultuada com outras denominações: Cibele, na Ásia Menor; Ishtar para os semitas, babilônios, fenícios, assírios e acádios; Astarte para os cananeus, Ísis, no Egito; Ártemis, na Grécia e Vênus em Roma.  

     Provavelmente, o Egito, tenha copiado esse mito, quando na ocasião, Set mata Osíris e o esquarteja, também separando os pedaços e distribuindo por várias partes do reino do Egito. Da mesma forma, Ísis junta todos os pedaços de Osíris, menos o falo. Após a morte de Osíris, Ísis transformou-se numa pomba, pousou sobre o corpo de Osíris e assim, engravidou, ocasião em que nasceu Hórus. Esses mitos nos remetem à semelhanças nessas várias culturas, enquanto que na Suméria temos a trindade, Ninrod, Semírames e Tamuz; no Egito temos Ísis, Osíris e Hórus.

terça-feira, 30 de agosto de 2022

PROGRESSO DO CENÁRIO

 


     No teatro de Dionísio a pista de danças era maior que a de qualquer outro teatro: um círculo completo de 24 metros e nela não existiam cenários. À medida que surgiram os autores trágicos esse modelo foi se complementando. Construindo máquinas para obter efeitos românticos, já com esboço de cenário, ao fundo; aproveitando as cores das vestes e fazendo salientar a beleza das massas no ritmo das danças, Ésquilo deu um passo à frente no arcabouço geral do drama grego. Para Anna Mantovani: “a cenografia existe desde que existe o espetáculo teatral na Grécia Antiga, mas em cada época teve um significado diferente, dependendo da proposta do espetáculo teatral”.

     Sófocles aparece, no mundo da técnica como o criador do terceiro ator. Muitos autores dão também a Sófocles a primazia na criação da pintura cênica. Eurípedes modificou o princípio e o fim da Tragédia, mas a mise-en-scène permaneceu a mesma. O cenário da Antiguidade era fixo, tinha poucos elementos e servia de ornamentação para a cena.

     No cenário clássico grego, havia três portas, as duas laterais serviam para a entrada dos atores coadjuvantes, e a porta central era em especial para a entrada e saída dos personagens principais. Deus ex-machina é uma expressão que significa, o deus que desce pela máquina, e surgiu praticamente, a partir dos textos e espetáculos montados pelo tragediógrafo Eurípedes.

     Em Roma, a cena apresentava uma ordem de colunas superpostas e de arcos, através dos quais se viam os cenários. Havia três tipos de cenários: para a Tragédia as laterais apareciam com edifícios ao fundo, comumente era um palácio ou um templo. Para a Comédia o cenário era ruas e praças públicas, enquanto que para as composições Satíricas resumiam-se em cavernas, bosques, montanhas, em suma, uma paisagem.

          Na Idade Média usavam-se dois tipos de cenários: a carreta onde se mostravam aos espectadores os vários lugares da ação: e o da cena simultânea, na qual se viam os diversos lugares da ação, simultaneamente. Esses cenários terminavam pelas suas extremidades em duas torres: uma representando o paraíso e a outra o inferno. O espetáculo nesse período foi apresentado primeiro nas igrejas e posteriormente nas praças.

     O Renascimento na Itália trouxe os cenários construídos em três dimensões. Mas o grande teórico da construção teatral nessa época foi Serlio que construiu um teatro dividido em duas partes: plateia e cena. É no Renascimento que começa a surgir um novo cidadão. É o homem saindo da Idade Média e entrando na Idade Moderna. Toda Europa passou por uma grande renovação política e social. 

     O teatro que era feito nas igrejas e praças, passa também a acontecer dentro dos palácios e castelos. Os Aristocratas constroem suas próprias salas de espetáculos. E paralelamente entre os palácios, castelos e as ruas, começam a aparecer as primeiras casas de espetáculos daquele tempo.

   

terça-feira, 23 de agosto de 2022

NELSON E SUA OBRA

 


     Tendo como ponto de partida sua profissão de jornalista, Nelson Rodrigues, caminhou para a área da arte, e transformou-se em diretor de teatro e dramaturgo. Sua obra foi de fundamental importância para o teatro brasileiro, em função da denúncia social e moral em relação à alta sociedade carioca, tema que tanto ele se preocupou e divulgou em suas peças. Entre seus textos, vamos dar ênfase neste momento em dois: Álbum de Família, e Vestido de Noiva.

     O texto “Álbum de Família” revela a história de dois primos que se casam e passam a se preocupar exclusivamente com a família e com a educação dos filhos. É uma família que, aos amigos e à sociedade, se mostra tranquila e que tudo ocorre bem. O que não é verdade, sendo que a realidade é outra completamente diferente. Enfrentando um inevitável complexo de Édipo, o filho mais velho enlouquece de desejo pela própria mãe.

     Por sua vez, outro filho volta para casa porque não é capaz de dar amor à sua esposa, seu desejo também pertence em exclusividade à sua mãe. Continuando esses raros problemas de família, o filho mais novo foi para o seminário e lá se mutilou retirando seu órgão sexual. Por outro lado, o pai desvirgina todas as moças da redondeza, pensando na filha. Nelson Rodrigues, com sua obra, enfrentou vários problemas, como dramaturgo. É uma peça que coloca no palco, todas as adversidades e veracidades dos valores da sociedade carioca: a máscara da moralidade da família.

     O outro texto, “Vestido de Noiva”, foi ao palco pela primeira vez, no ano de 1943, o espetáculo causou certo desassossego, principalmente na área crítica, visto que Nelson, criou ações simultâneas em três planos diferentes: o plano da realidade, o plano da alucinação e o plano da memória. A peça em si, também se desenrola e três atos, e não é completamente cronológica, a não ser no plano da realidade. O enredo gira dm torno da degradação do estado de saúde da personagem Alaíde.

     Para entender esta peça, é necessário “a priori” conhecer seus personagens, entre eles: Alaíde, que é a protagonista, ela, casada com um homem importante da sociedade, foi atropelada no início da peça, e a tensão dramática se desenvolve a partir de sua morte. Há ainda, a mulher de véu (Lúcia) que é irmã de Alaíde. Madame Clessi também é outro personagem de muita importância no texto, era uma antiga prostituta de luxo, que foi assassinada por um jovem amante.

     Definitivamente, Nelson Rodrigues deixou suas marcas no teatro do nosso país, tanto é que “Vestido de Noiva” é considerada o marco inicial do teatro moderno brasileiro. No palco, Nelson, coloca em jogo, os valores familiares, valores conjugais, incestos, relação edípica e amorosa entre filhos e mães, questões religiosas relacionados à moral católica, que é resultado da europeização dos costumes, legado que foi trazido para a colônia, pelos descobridores. Nelson Rodrigues foi um dramaturgo do conflito, teve a coragem de denunciar problemas psicológicos e familiares.

quarta-feira, 17 de agosto de 2022

DIA DOS PAIS

 


          Na vida, no ciclo vital, há coisas que não se explicam, apenas se vivenciam. Só isso! O conselho é bom, explica, dirige, indica, dar uma luz, mas, em muitos casos, é imprescindível a experiência (in loco), para podermos entender o sentido da vida. E é assim que a juventude entende. Para ela, muitos dos conselhos dado pelos mais velhos, são tradicionais, ultrapassados e fora de época. Quando não se houve conselhos, um dia aquele jovem irá vivenciar determinadas situações que ele jamais imaginaria que poderia acontecer consigo mesmo. 

     Certa vez, em meio ao meu curso de doutorado, estive em Macapá para dar continuidade à minha pesquisa, era um momento de muito trabalho, mas, muitos dos meus amigos, não me viam como um pesquisador, mas sim, como um simples turista. Para eles, naquele momento, eu estava apenas passeando e turistando nas terras tucujus. A única resposta que eu podia dar, era: - Quando você estiver realizando um doutorado, você jamais vai fazer essa correlação entre um doutorando e um turista.

     Em cada estágio, a vida nos presenteia, com momentos específicos, e é importante respeitarmos cada fase do ciclo vital. Na juventude, não há lugar para determinadas coisas, visto que o jovem pensa definitivamente no presente, não há passado, e poucos pensam no seu próprio futuro. Leva-se em consideração o momento, o viver e curtir a vida. Embora muitos pais não percebam, é em função disso que começa a surgir entre pai e filhos, o conflito de gerações. O pai pensa que o filho não sabe enfrentar a vida, e o filho vê o pai como uma pessoa tradicional e retrógrada.      

     Quando jovem, eu também jamais pensava em ser pai. Mas, há o momento em que se começa a namorar, noivar e depois, casar. Durante todo esse período da vida, alguns questionamentos em relação a esse tema (ter filhos ou não), e isso começa a surgir, principalmente em relação à mulher. Quando meu primogênito nasceu, confesso que ainda não expressava a vontade de ser pai, mas por dentro, meu coração já estava muito ansioso para gerar ter um filho em meus braços.

     Se tornar pai, não é tão simples como se pensa, além da responsabilidade, em todos os sentidos, seu caminhar muda completamente, sua vida se transforma, você começa a aprender com seu próprio filho. Não só isso, muda-se toda estrutura familiar, você se torna pai, sua companheira se torna mãe, seus irmãos se tornam tios e tias, e seus pais se tornam avós. É uma quebra de paradigmas muito grande, que vai refletir em toda a família. Alguns de seus melhores amigos da juventude se tornam padrinhos, compadres e comadres, e terminam se agregando à família.

     Como pai, é importante acompanhar todos os passos de seu filho, estar sempre presente em todos os momentos, compartilhar dúvidas, ensinar, aprender, vivenciar as curiosidades, principalmente na fase infantil. Nas fases da adolescência é natural que o jovem comece a procurar sua turma de amigos e se distanciar um pouco dos pais. Todo esse acompanhamento na família contribuirá para que o adulto tenha vida própria. Todo pai precisa entender que seu filho, não é sua propriedade particular, visto que ele é outra pessoa, terá sua própria personalidade, crescerá, e no futuro terá sua vida própria. Há um ditado chinês que diz o seguinte: primeiramente ensinamos nossos filhos a andar, depois, a voar alto. Concordo plenamente.

terça-feira, 9 de agosto de 2022

ARTE E SUBMUNDO SOCIAL

 


          É ledo engano para quem pensa que o teatro é apenas entretenimento. Ao longo da história, essa arte vem dando sua contribuição em todos os níveis sociais. Além de entretenimento o teatro também informa, educa, contribui nas decisões políticas e sociais, a partir de seus espetáculos políticos que denunciam os problemas da sociedade e do seu meio.

     Entre tantos dramaturgos e encenadores que se dedicaram ao teatro político, podemos enfocar que já na década de 1940 Samuel Beckett fazia isso. Ele retratou questões políticas e psicológicas em sua famosa peça “Esperando Godot”, que reconhecida como um ícone do teatro do absurdo. Aqui ele denuncia o absurdo da condição humana, revelando o trágico da existência. Mostra a angústia crescente do homem em relação ao mundo em que vive.

     Sua obra surge no pós-guerra, nesse contexto do final da Segunda Guerra Mundial. A partir dos personagens Didi e Gogo, ele mostra o homem isolado, perdido, e foca preocupação num simples par de sapato que está muito apertado. Não há espaço geográfico definido. Os personagens estão literalmente no meio de um caminho deserto e sem ninguém, sem nenhuma referência. A única perspectiva é a esperança de encontrar Godot, que também nunca chega.

    O brasileiro Plínio Marcos, um dos dramaturgos mais perseguidos na ditadura militar, em sua obra também faz denúncias sociais. Um de seus textos mais contundentes é conhecido como, “Dois Perdidos Numa Noite Suja”, que também gira em torno de apenas dois personagens, Tonho e Paco. Nesta peça o referido autor denuncia o submundo da periferia do rio de janeiro e tem como fundamento em seus escritos, a inquietação, a perplexidade e os limites do ser humano, no confrontamento da busca de uma vida mais digna, no mundo social capitalista. 

     Não só questões sociais e psicológicas, mas questões tradicionais, morais, familiares, e questões étnicas também são fontes de inspiração para dramaturgos, com o sentido de denunciarem tais atrocidades. Neste caso, citaremos outro brasileiro que em toda sua obra denuncia principalmente as questões morais e psicológicas, que podemos encontrar no texto “Vestido de Noiva”, de Nélson Rodrigues. Este espetáculo, foi reconhecido como o ponto de partida do teatro moderno brasileiro. Aqui, ele enfoca vários problemas contidos no cotidiano da sociedade carioca. Enfoca, questões de incestos, homicídio em famílias ricas, entre outros assuntos.

     Na França, vamos encontrar tais denúncias na área das artes plásticas, a partir da obra de Toulouse Lautrec. Como Plínio Marcos, Toulouse vivenciou vários cabarés de Paris, e como era pintor, se transformou no principal artista, que a partir da pintura de vários cartazes de shows desses cabarés, denunciou o submundo da cidade Luz. Sua obra revelou este submundo, que a moral social de Paris escondia dos seus próprios olhos. O que se pode observar entre esses dramaturgos e artistas é querer contribuir com a própria sociedade, em busca de dias melhores. 

    

segunda-feira, 1 de agosto de 2022

ROMEU E JULIETA

 


     Shakespeare, nasceu em 26 de abril de 1564, e faleceu em 23 de abril de 1616. Poeta e dramaturgo inglês, reconhecido como o maior escritor do idioma inglês e um dos mais influentes dramaturgos do mundo. Apesar da distância temporal, muitas de suas peças continuam sendo estudadas e encenadas em vários países, nos dias de hoje.  

     Portanto, de sua verve, há duas obras mais conhecidas. Quando se fala em Romeu e Julieta, essa famosa história de amor, estamos nos remetendo à dramaturgia de Shakespeare. Por outro lado, quando ouvimos ou pronunciamos a frase: “Ser ou não ser, eis a questão”, (no original inglês: To be or not to be: that’s the question), também estamos citando a obra de Shakespeare, no caso, a peça “Hamlet”.

     As raízes da peça Romeu e Julieta são muito remotas, têm-se notícia de uma antiga história grega do século III, quando, na ocasião, uma mulher recorre a uma poção, à qual, simula a morte para escapar a um segundo casamento. Mas, esse tema, realmente, vai se tornar popular no renascimento. Entretanto, há notícia, da peça, “Il Novellino”, de autoria de Masuccio, do ano de 1476. Em “Ritrovata di Due Nobili Amanti”, de 1530, também revela uma história em que apresenta muita semelhança com a de Romeu e Julieta.

     Durante o Império Romano, quando a mesma dominava o Egito, há uma verídica história de amor, que aconteceu entre Marco Antônio e Cleópatra. Acontece que Marco Antônio (Capitão romano) em suas idas e vindas ao Egito, se apaixonou por Cleópatra, e em função disso, houve um grande e duradouro romance entre eles. Mas, pressionado pela política e para ser leal à Roma, Marco Antônio teria que esquecer, e por fim naquele belo romance, com a obrigação de deixar definitivamente sua amada, Cleópatra.

     Entrementes, em luta, no campo de batalha, Marco Antônio recebe a notícia de que Cleópatra havia se suicidado. Ele caiu numa tristeza profunda, e em função disso, comete suicídio com sua própria espada. No entanto, antes de morrer, pede para ser levado até sua amada Cleópatra, e morre em seus braços. Dessa forma, passando por este difícil momento, e frente a esse grande desespero, Cleópatra também comete suicídio, em seu caso, com a picada de uma cobra venenosa.

     Percebemos, no entanto, que Shakespeare busca em histórias mais antigas à sua época, um apoio para o desenvolvimento de sua tão badalada peça, que é “Romeu e Julieta”, e que vem sendo montada por vários grupos de teatro no mundo. Não só isso, com sua obra, Shakespeare, também quebrou vários paradigmas. Além de retirar os personagens “deuses”, de seus textos, ao mesmo tempo ele traz para o palco Elisabetano, a própria sociedade Elisabetana. A partir dele, não são mais os deuses que irão resolver o problema da trama, como acontecia no teatro grego antigo. Com o renascimento das cidades, os próprios homens passaram a resolver seus problemas aqui na terra. E é por isso que, em “Romeu e Julieta”, nenhum deus desce para resolver tão questionado problema amoroso, mas, são os dois amantes que resolvem por si mesmos, se suicidarem na sua tragédia, como forma de resolverem seus próprios problemas. Foi o que decidiu Shakespeare.

 

 

segunda-feira, 25 de julho de 2022

O ENIGMA DE ÉDIPO

 


     Édipo Rei, é um texto dramatúrgico de um dos mais importantes trágicos gregos da antiguidade. Sófocles, o escreveu e o encenou na Grécia Clássica, ou seja, no século V antes de Cristo. Todos sabem ou já ouviram falar sobre a história de Édipo, ele estava predestinado a matar seu pai e casar com sua própria mãe. A partir de estudos com base nesse texto, Freud conseguiu criar sua tese psicológica de “Complexo de Édipo”, que é o caso do filho que se apaixona pela própria mãe.

     O que não se conhece é onde Sófocles buscou inspiração para a elaboração do referido texto. Foi uma ideia genial, mas com certeza ele deve ter conhecido fatos semelhantes que aconteceram num período muito mais antigo do que aquele momento em que ele vivia na Grécia Clássica de sua época. 

     Há uma lenda de que na antiquíssima Babilônia, vivia um neto de Noé, chamado Cuxe, que se casou com Semíramis, e este casal gerou Ninrode. Esse último, foi um dos primeiros homens mais poderosos da terra. Ninrode era neto de Cam, que por sua vez, era filho de Noé. Em função de seu poder, Ninrode se rebela contra Deus e manda construir a torre de Babel. Com a morte de seu pai, terminou se casando com sua própria mãe, Semíramis.

     A história de Édipo não começa com ele, mas, muito antes. Inicia com Lábdaco, que era filho de Polidoro; Laio se torna filho de Lábdaco; e por fim, nasce Édipo, que é filho de Laio. Quando em sua juventude, enquanto Laio pernoitava no palácio do rei Pélops, envolveu-se numa paixão homossexual com Crisipo, que era filho daquele rei. Todavia Laio raptou Crisipo. Nessas idas e vindas, Crisipo comete suicídio. Irado, o rei Pélops amaldiçoou Laio. Maldição esta, que causaria sua infelicidade como também de seus descendentes.

     Com o apoio dos oráculos, a maldição de Pélops resumia-se na seguinte frase: Laio geraria um filho que mataria o próprio pai (no caso Laio) e casaria com a própria mãe. Em detrimento dessa maldição, Laio que era rei de Tebas e casado com Jocasta, se recusava a dar um filho à sua esposa legítima, com a perspectiva de que a maldição não caísse sobre ele.  Hera, esposa de Zeus (que era a deusa do casamento) concordou, e para punir Laio, enviou a Esfinge que ficou numa montanha próxima à cidade. Todos que por ali passavam se submetiam a perguntas feitas pela Esfinge, e aos que não sabiam responder, portanto, em seguida eram devorados.

     Somente Édipo é que foi vencedor, quando a Esfinge (que tinha busto de mulher e corpo de leão) lhe direcionou a seguinte pergunta: qual o animal que pela manhã anda de quatro, à tarde com duas pernas e à noite com três? E Édipo respondeu: o homem, que, quando novinho engatinha com os pés e mãos; quando adulto anda com duas pernas, e quando velhinho anda com três, porque se apoia numa bengala. Vencida, a Esfinge se jogou da montanha e morreu no precipício. A partir daí, a maldição se aprofundou e Édipo teve seu destino trágico cumprido.

quinta-feira, 21 de julho de 2022

O MOBRAL E O RADIOTEATRO

 


     O Movimento Brasileiro de Alfabetização - MOBRAL, em muito contribuiu para o desenvolvimento do teatro no Estado do Amapá. Além da motivação, trazia para o Cabo Norte muitos cursos e oficinas na área das artes cênicas. Coronel Luiz Ribeiro de Almeida, defensor ferrenho da educação e das artes, era Presidente do MOBRAL e trazia vários professores de outros estados para ministrar cursos e oficinas de teatro, como; impostação de voz, interpretação, direção teatral entre outros cursos. Da mesma forma que tantos outros, Marizete Ramos veio de Belém, como também o diretor Luiz Otávio Barata, para ministrar curso para nossos atores.

     Por outro lado, também havia alguns professores aqui no Estado do Amapá que já tinham conhecimento e condições de ministrar oficinas de teatro, como a atriz Creuza Bordalo, Padre Mino e o próprio Coronel Luiz Ribeiro. Alguns grupos mais antigos e que ainda continuam atuando em nosso meio, participaram de várias dessas oficinas, como o  atual “Grupo Língua de Trapo” que vem há mais de 30 anos apresentando a peça “Bar Caboclo; e ainda o Grupo do Amadeu Lobato, com o espetáculo “Uma Cruz para Jesus”; esses grupos surgiram a partir da promoção dessas oficinas que foram promovidas pelo MOBRAL.

     Nesse mesmo período, O SESC/AP, foi outro incentivador de oficinas de teatro, quando o todos os artistas da época tiveram acesso, no aprendizado e apoio oferecido por esse órgão. Se por um lado, havia o MOBRAL e o SESC/AP, por outro lado, as emissoras de rádio em muito contribuíram para o desenvolvimento do nosso teatro, principalmente no que diz respeito à promoção de radionovelas. Além de cederem seu próprio espaço físico para que os grupos pudessem apresentar seus espetáculos.

     É válido afirmar que na década de 1970 do século XX, a cidade de Macapá ainda era muito pacata; e, como em todo o Brasil, televisão era objeto raro, restava à sociedade local se voltar para sua educação e produção cultural. A comunicação era realizada a partir do jornal impresso e em áudio, pelo rádio. Além do teatro escolar e religioso que se fomentava, ainda havia vestígios do radioteatro que era voltado para produção radiofônica de programas e novelas.

     Aqui, a Rádio Difusora de Macapá exerceu papel de grande importância, e uma geração foi se revelando na área do rádio teatro como, por exemplo, a atriz Creuza Bordalo; o ator José Maria de Barros; o ator Clodoaldo Nascimento, Consolação Côrte, entre outros. Nessa época, o rádioteatro tinha grande audiência. Essa turma de radioatores, sem dúvida, influenciou novas gerações que passaram a se dedicar ao teatro em nosso Estado.

 

segunda-feira, 11 de julho de 2022

ESPORTE, RÁDIO E TEATRO

 

 

     O Movimento Brasileiro de Alfabetização - MOBRAL, em muito contribuiu para o desenvolvimento do teatro no Estado do Amapá. Além da motivação, trazia para o Cabo Norte muitos cursos e oficinas na área das artes cênicas. Coronel Luiz Ribeiro de Almeida, defensor ferrenho da educação e das artes, era Presidente do MOBRAL e trazia vários professores de outros estados para ministrar cursos e oficinas de teatro, como; impostação de voz, interpretação, direção teatral entre outros cursos. Da mesma forma que tantos outros, Marizete Ramos veio de Belém, como também o diretor Luiz Otávio Barata, para ministrar curso para nossos atores.

     Por outro lado, também havia alguns professores aqui no Estado do Amapá que já tinham conhecimento e condições de ministrar oficinas de teatro, como a atriz Creuza Bordalo, Padre Mino e o próprio Coronel Luiz Ribeiro. Alguns grupos mais antigos e que ainda continuam atuando em nosso meio, participaram de várias dessas oficinas, como o  atual “Grupo Língua de Trapo” que vem há mais de 30 anos apresentando a peça “Bar Caboclo; e ainda o Grupo do Amadeu Lobato, com o espetáculo “Uma Cruz para Jesus”; esses grupos surgiram a partir da promoção dessas oficinas que foram promovidas pelo MOBRAL.

     Nesse mesmo período, O SESC/AP, foi outro incentivador de oficinas de teatro, quando o todos os artistas da época tiveram acesso, no aprendizado e apoio oferecido por esse órgão. Se por um lado, havia o MOBRAL e o SESC/AP, por outro lado, as emissoras de rádio em muito contribuíram para o desenvolvimento do nosso teatro, principalmente no que diz respeito à promoção de radionovelas. Além de cederem seu próprio espaço físico para que os grupos pudessem apresentar seus espetáculos.

     É válido afirmar que na década de 1970 do século XX, a cidade de Macapá ainda era muito pacata; e, como em todo o Brasil, televisão era objeto raro, restava à sociedade local se voltar para sua educação e produção cultural. A comunicação era realizada a partir do jornal impresso e em áudio, pelo rádio. Além do teatro escolar e religioso que se fomentava, ainda havia vestígios do radioteatro que era voltado para produção radiofônica de programas e novelas.

     Aqui, a Rádio Difusora de Macapá exerceu papel de grande importância, e uma geração foi se revelando na área do rádio teatro como, por exemplo, a atriz Creuza Bordalo; o ator José Maria de Barros; o ator Clodoaldo Nascimento, Consolação Côrte, entre outros. Nessa época, o rádioteatro tinha grande audiência. Essa turma de radioatores, sem dúvida, influenciou novas gerações que passaram a se dedicar ao teatro em nosso Estado.

 

terça-feira, 5 de julho de 2022

QUADRILHA CONTEMPORÂNEA

 


     A dança da quadrilha, sempre foi muito difundida, vivenciada e apresentada, principalmente na época das festas juninas pelo Brasil afora. Portanto, do final do século XX para o início do século XXI, sofreu várias mudanças culturais que gerou mudanças fundamentais, se hibridizando e trazendo influências diversas, no que diz respeito à sua forma e conteúdo.

     A antiga dança da quadrilha, que perdurou basicamente até o início da década de 1990 do século passado, em suas raízes, era completamente diferente das quadrilhas de hoje.  Tem origem na Europa e sua maior influência no Brasil, veio da França. Era uma dança popular que surgiu principalmente no meio rural. Nela, havia uma sequência de passos com várias coreografias, como: a)cumprimento às damas; b)cumprimento aos cavalheiros; c)damas e cavalheiros trocar de lado; d)primeiras marcas ao centro; e)grande passeio; f)trocar de damas; g)trocar de cavalheiros; h)o Túnel; i)caminho da roça; j)olha a cobra; k)é mentira; l)caracol; m)desviar; n)atenção para o serrote; o)coroar damas; p)coroar cavalheiros; q)duas rodas; r)reformar a grande roda; s)despedida, entre outros passos que mudam de acordo com a necessidade da brincadeira. Além de tudo isso, havia a dramatização de um casamento matuto, com base na Commedia dell’Arte.

     Se torna muito difícil, na atualidade, encontrar alguma comunidade ou grupo que organize uma quadrilha nos moldes antigos. Notadamente, esse tipo de quadrilha está em extinção. Com o passar dos anos, nota-se um hibridismo e a consequente influência de várias culturas. Hoje, pode-se perceber nas atuais quadrilhas juninas, vestígios do frevo, da ciranda; do maracatu; nos vestuários, roupas do Cancan francês e grande influências da música caribenha.

     Na dança atual, o casamento, que era parte fundamental da antiga quadrilha junina, hoje, praticamente não tem mais o mesmo significado dramático de antes. Por sua vez, os passos da antiga quadrilha, se transformaram numa sequência de músicas com coreografias modernas, isso nos remete ao primeiro forró que se fundiu com o frevo, a música “Frevo Mulher”, de Zé Ramalho. Esta gravação alcançou grande sucesso depois que Amelinha a interpretou no Maracanãzinho num Festival da MPB em 1980. Já o Cancan, é uma dança francesa que se tornou muito popular na França, na década de 1840, com sua maior expressividade no Moulin Rouge, que ainda hoje está em atividade no bairro de montmartre, em Paris. Sendo que depois foi levada para Londres e Nova Iorque, se tornando uma dança difundida no mundo ocidental.

     Outro fenômeno que trouxe muita influência para essa hibridização é que, enquanto por um lado, a antiga quadrilha era ensaiada e apresentada por jovens, quando cada bairro tinha sua própria quadrilha e apresentava apenas dentro dos festejos de cada bairro; fato que mudou completamente quando as prefeituras instituíram os concursos de quadrilhas, durante os festejos juninos; o que acontece na atualidade em vários locais do território brasileiro, e principalmente no nordeste, que tem hoje as duas melhores festividades dessa ordem: o maior São João do Mundo, em Camina Grande, na Paraíba, e o famoso São João de Caruaru, em Pernambuco, considerada a capital do forró.

segunda-feira, 27 de junho de 2022

CINETEATRO NO ESPAÇO URBANO

 


     Com a segunda inauguração, que aconteceu no ano de 1948, o Cineteatro Territorial foi dotado de aparelhagem técnica de última geração, tanto para teatro, como também máquinas de projeção de cinema falado. Os projetores de cinema Zeiss Ikon de 35 milímetros foram adquiridos na Alemanha e instalados no Cineteatro Territorial. Outros projetores de 16 milímetros, Paillard e Léo, também foram adquiridos para atenderem a necessidade dos outros três municípios, Mazagão, Amapá e Oiapoque.

     A essas alturas, na capital, já havia infraestrutura suficiente para atender os artistas, tanto em relação ao possante edifício teatral, como também demais visitantes, visto que, em 1948, havia nesse perímetro urbano: o próprio Cineteatro Territorial, reinaugurado em 1948 (cultura); o Hotel Macapá, de 07 de setembro de 1945, que depois, passou a ser denominado de Novo Hotel (acomodação); a casa do Governador de 1945 (administração); Rádio Difusora de Macapá, de 23 de julho de 1946 (comunicação); Escola Barão do Rio Branco (educação); e Praça Barão do Rio Branco (esporte e lazer), que seria inaugurada em primeiro de janeiro de 1950.

     E foi a partir desse novo contexto urbano que, com sua política cultural, o Governador Janary Gentil Nunes alcançou êxito em se tratando de trazer para o Território vários artistas reconhecidos nacionalmente. Atores e atrizes famosos como: Procópio Ferreira e Bibi Ferreira, Luiz Gonzaga, Dalva de Oliveira e Trio Iraquitam, entre outros, esses artistas estiveram em Macapá e se apresentaram no Cineteatro Territorial. Nessa época, também foi trazido para Macapá pelo Governo do Estado, a famosa peça “As Mãos de Eurídice” de Pedro Bloch com o ator Rodolfo Mayer, que era considerado um dos monstros sagrados do teatro brasileiro daquela época. O monólogo “As Mãos de Eurídice”, fez grande sucesso no Brasil e no exterior.

           Em janeiro de 1950, no Cineteatro Territorial em Macapá, acontecia a apresentação de Lucy Silva e suas amiguinhas, que eram crianças artistas amapaenses, como se pode observar na terceira página do Jornal Amapá, Ano 5, número 252, de 7 de janeiro de 1950: “Com um programa de variedades, onde se observa o desenvolvimento artístico da criança amapaense, a troupe recebeu bastantes aplausos, podendo-se dizer que, tomando-se em consideração a idade dos pequenos artistas, o espetáculo foi bom”.

     A equipe de Lucy e suas amiguinhas, se apresentou no Cineteatro do Trem Esporte Clube, que também era um espaço teatral da cidade de Macapá, o que podemos confirmar de acordo com o Jornal Amapá, Ano 5, número 253, de 14 de janeiro de 1950, na coluna “Diversões”: “Teve a população do bairro da Fortaleza, domingo último, oportunidade de assistir ao espetáculo de Lucy Silva e suas amiguinhas, que se exibiram no Cine-teatro Trem, na sede do Trem Esporte Clube. 

segunda-feira, 20 de junho de 2022

SÃO JOÃO DO CARNEIRINHO

 

 

     Próxima quinta-feira 23, é véspera de São João e sexta-feira 24, dia de São João, mas como sempre, todas as festas se comemoram na véspera. Este ano, no Nordeste, a tendência é que tenhamos várias festividades com a presença de pessoas, mas segundo a Organização Mundial de Saúde, ainda há que ter muita precaução. Como se percebe, em alguns Estados da federação, há ligeiro aumento de outras variantes da covid-19, alguns, inclusive voltando a obrigação de uso de máscaras em locais fechados.

     Em relação a esse período de muitas comemorações, perguntamos: festas joaninas ou juninas? Joanina deriva de João e é em homenagem a ele que assim se fala: festas joaninas. Junina deriva do mês de junho, visto que acontece nesse período do ano. É a principal festividade e a mais comemorada no nordeste brasileiro. Os pagãos comemoravam essa data em função do solstício de inverno, no hemisfério sul e solstício de verão no hemisfério norte. Como a Europa situa-se no hemisfério norte, e praticamente a maior parte do ano perdura o frio, os pagãos comemoravam a chegada do “Deus Sol Invictus”, ou seja, o sol invencível que chegava abrindo o verão para abrilhantar e esquentar aquele espaço geográfico.

     De toda forma, o culto ao Sol invicto continuou a ser base do paganismo oficial até a adesão do império romano ao cristianismo. Antes da sua conversão, até o imperador Constantino I, tinha o Sol Invicto como a sua cunhagem oficial. Quando aconteceu a ascensão do cristianismo, ficou decidido que a referida data seria para comemorar o santo “São João”. Com isso, a cultura europeia e de suas colônias, foi se adaptando gradativamente, como é o caso no novo mundo e do nordeste do Brasil.

     Mesmo sendo, na atualidade uma dança popular, é bom lembrar que a quadrilha que era muito difundida na França, foi inicialmente dançada na corte francesa. Em seguida, no campo entre os agricultores e seus familiares. Com a descoberta do novo mundo, os costumes e a cultura europeia vieram juntos. Foi assim que se consagrou as quadrilhas mais antigas que traziam muitas palavras francesas e que foram ao longo do tempo sendo aportuguesadas aqui no Brasil.

       Alavantú, vem do francês “en avant tous” (todos para a frente); changê de damas e changê de cavalheiros, vem do verbo “changer” que significa trocar, neste caso, trocar de damas e trocar de cavalheiros. Anarriê, também é do francês “en arrière” (todos para trás); e Otrefuá, do francês “autre fois”, que significa outra vez.

     O que não havia na quadrilha francesa e que foi adaptado pelo povo brasileiro, foi a encenação do casamento matuto, neste caso a quadrilha gira em torno desse casamento matuto na roça, em que o noivo é obrigado a casar, sob ordens do pai da noiva, que com uma espingarda apontada para a cabeça dele, o obriga definitivamente a aceitar o casamento.

     O prenúncio das festas juninas, têm início no dia 19 de março, com homenagem a São José, já nesse período se acende fogueiras e soltam fogos, mas são comemoradas com mais frequência a partir do dia 13 de junho, em homenagem a São Pedro (santo casamenteiro),  quando na véspera se comemora o dia dos namorados; o dia de São João, 24, é o dia mais comemorado, tradicionalmente há fogueiras, queima de fogos e impera a comida derivada do milho, inclusive porque é período de colheita. Dia 29 comemora-se o São Pedro que também é muito lembrado nas pequenas cidades do interior. Nesse período, não se toca outra música a não ser o forró. Enfim, o São João tem o mesmo significado para o nordestino, da mesma forma que o Círio de Nazaré para o amapaense.