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terça-feira, 28 de agosto de 2018

COMPLEXO DA PRAÇA BARÃO: o point da cidade na década de 1950



     A implantação do Território Federal do Amapá na década de 1940 redimensionou as questões geográficas, políticas, econômicas e culturais de uma das áreas mais setentrionais do Brasil. Em se tratando de questões culturais, isto se dará mais propriamente no final da década de 1940, com a inauguração e implantação de vários setores da cultura como, por exemplo: a inauguração do Cine Teatro Territorial em 22 de julho de 1944; inauguração da Rádio Difusora de Macapá em 23 de julho de 1946; inauguração da Escola Barão do Rio Branco (primeira escola em alvenaria de Macapá), em 13 de setembro de 1946, onde começa a surgir dramatizações de peças por alunos, com apoio de professores. Inauguração do Novo Hotel em 13 de setembro de 1945, e a inauguração da Praça Barão do Rio Branco em 1º de janeiro de 1950.
     Em relação à inauguração da referida praça, o Comandante Cordeiro da Graça dá suas impressões com o artigo “Acreditando no Futuro do Brasil”, o qual consta no livro, “Confiança no Amapá: Impressões sobre o Territótrio”, de Janary Gentil Nunes, que foi publicado em 2012 em sua 2ª edição. No referido artigo, ele relata sobre aquela bela praça de esportes: “Assisti ao ato inaugural da praça “Barão do Rio Branco”. É uma praça pública bonita, larga, onde a juventude tem todos os esportes. Não seria possível desejar coisa melhor nem mais eficiente”.
     Tais fatores foram preponderantes para o desenvolvimento da cultura, da arte, das artes cênicas e especificamente do teatro. Portanto, é em função dessas ações cronológicas e sequenciais do governo Janary Nunes, que se percebe, que por um lado, fez crescer demasiadamente a cultura no Amapá e por outro, fez criar nos jovens um sentimento muito estreito em relação à arte. E é em função desses fatores que, na década de 1950 a produção cultural em relação à montagem de peças teatrais começa a surgir timidamente no âmbito do Ex-Território.
     Nesses termos, Nunes Pereira quando se refere às ações do governo Janary Nunes, em seu artigo “Opinião de Estudiosos: Evolução de um Território”, também publicado na obra “Confiança no Amapá: Impressões sobre o Territótrio”, afirma que: No campo cultural, por exemplo, ele não só atrai artistas e homens de ciência para que influam diretamente na formação da mentalidade do povo, porém procura amparar as tradições, os costumes que são típicos daquele povo, que constituem o seu patrimônio folclórico.
     Foi com a inauguração de vários prédios, tendo sido o primeiro o Cine Teatro Territorial (1944), seguido de: Novo Hotel (1945); Rádio Difusora de Macapá (1946); Escola Barão do Rio Branco (1946); Praça Barão do Rio Branco, (1950), que se consolidou um espaço urbano com vistas de progresso e futuro. A partir do ano de 1950, com a inauguração da Praça Barão do Rio Branco, aquele espaço passou a ter grande importância para a comunidade local, visto que ali se concentrava a cultura, representada pelo Cine Teatro; a comunicação (Rádio Difusora); a educação (Escola Barão); e o lazer (Praça Barão). Foi este espaço urbano que se transformou no principal point da cidade de Macapá entre as décadas de 1940/1950.



segunda-feira, 20 de agosto de 2018

TRAGÉDIA DE MIM



     Este é o título que eu daria ao espetáculo “A Mulher do Fim do Mundo” apresentado no último sábado, dia 11/08, pela Associação Cultural Casa Circo, no salão do SESC/Araxá. O trabalho traz uma série de elementos interessantes no que diz respeito, principalmente à concepção estética em relação ao teatro amapaense. Observo que se trata de um espetáculo que apresenta amplo universo de reflexões sobre o ângulo de juízo que gira em torno de questões culturais, sociais, econômicas, políticas, étnicas e psicológicas no que diz respeito à personagem da mulher em sociedade. Todavia, não me refiro aqui a questões de beleza imposta pelos mass media, que possui esse grande poder de definir e impor o que é belo e o que é feio, para determinada população.  
     Acompanho e conheço a trajetória dos artistas que compõem o referido espetáculo, consequentemente, este fato me deixa mais à vontade para escrever estas palavras e ponderar meus pensamentos: Jones Barsou (encenador); há bastante tempo vem se dedicando a personagens geralmente ligados ao circo, é um palhaço nato. Agora, se aventura com mais intensidade como encenador. Mas, este é sem sombra de dúvida, o métier do artista; o eterno construir/desconstruir/construir.
     Ana Caroline é atriz, bailarina, artista circense, formada em psicologia e atualmente é acadêmica do curso de Letras na UNIFAP. Há quatro anos que vem se dedicando às artes cênicas no Amapá. Marcos Sales é performer. Salientando que Jones Barsou e Marcos Sales são acadêmicos e foram meus alunos no Curso de Licenciatura em Teatro da UNIFAP.
     Com espaço de tempo de aproximadamente 40 minutos, o espetáculo é um monólogo com atuação da Ana Caroline, no qual, está implícita uma partitura coreográfica lógica e ilógica, de ações e movimentos sequenciais. Eu diria... Está muito mais para um monólogo corporal, coreográfico e performático do que dramatúrgico, tendo em vista que sua dinâmica e mutabilidade superam a fala da personagem. De preferência, este fato nos remete ao teatro e seu duplo de Antonin Artaud.
     Enfoca tema relacionado exclusivamente ao modo impositivo e imperativo de como as sociedades, em diversas latitudes, têm visto o gênero feminino ao longo dos séculos. Notadamente, a encenação coloca de forma abstrata (a partir de movimentos corporais) essas injunções, que por sua vez, suscitam no espectador reflexões substanciais sobre o papel da mulher na sociedade contemporânea. Em função das vicissitudes da vida, a própria atriz, de forma idiossincrática e telúrica se insere nesta ambiguidade: por um lado, enquanto mulher (cidadã) e por outro, enquanto personagem (artista).
     A encenação também tem influências das ações físicas elaboradas por Stanislavski; pelo trabalho psicofísico do ator, de Grotowski; pela biomecânica de Meyerhold; pelo teatro dialético de Brecht; pela teoria do Teatro Antropológico de Eugênio Barba e ainda pelo método Laban. Percebo que o espetáculo está no caminho certo, mas que o mesmo ainda precisa ser degustado e aprofundado, pelo grupo, em relação ao ritmo e harmonia. Notadamente, isto se processará com o tempo e com as consequentes apresentações para públicos diversos.
     Ao evidenciar questões sociais sobre a mulher, o trabalho da Casa Circo, me evocou a Júlia Pastrana, nascida no México no século XIX. Era negra e possuía pelos grossos e sedosos por todo corpo; sofria de hipertricose. Era conhecida como a mulher macaco. Em função disso, seu marido a usou para apresentá-la em público, como símia. Inacreditavelmente, Theodore Lent, seu esposo, a explorou até mesmo depois de sua morte, quando resolveu mumificar o corpo de Júlia para continuar exibindo e lucrando financeiramente com o corpo mumificado.
     A Mulher do Fim do Mundo é uma montagem da Associação Cultural Casa Circo. Monólogo com Ana Caroline (interpretação), Jones Barsou (encenação e iluminação) e Marcos Sales (operação de som). Na minha concepção, é um espetáculo que faz emergir nova estética de montagem teatral no cenário do teatro amapaense, visto que traz em seu âmago, discussão, pesquisa e debate sobre o tema enfocado, pré-requisitos essenciais para a montagem de um bom espetáculo. Há muitas probabilidades que, daqui para diante, o mesmo seja transformado em referência para o teatro que será produzido no Amapá.
    O grupo foi selecionado para o Amazônia das Artes/SESC, e neste ano de 2018 já se apresentou em dez municípios da região Norte. É o primeiro espetáculo amapaense que conseguiu ser selecionado para um circuito nacional, e no próximo ano estará participando do Projeto Palco Giratório do SESC, quando se apresentará em várias capitais do país.
     Essa perspectiva de avanço teórico, artístico, prático e técnico do teatro amapaense vem de longe, com minha preocupação da implantação de um curso de Teatro no Amapá, o que aconteceu no ano de 2013. O primeiro experimento surgiu ainda com a turma 2014, e durante os últimos quatro anos do curso sempre houve apresentação de experimentos no final dos semestres. Até então, essa produção se limitava às paredes da universidade. Agora em 2018, após esses quatro anos, o grande público passa a conhecer e ver de perto a influência e contribuição do curso de Teatro da UNIFAP para com a cultura do Amapá. Espero ansioso para presenciar a chegada dos nossos egressos como professores das escolas do nosso Estado. Em relação ao espetáculo “A Mulher do Fim do Mundo”, este eu recomendo.


terça-feira, 14 de agosto de 2018

CAMINHOS DO TEATRO NA EDUCAÇÃO



     Desde as mais remotas épocas, o teatro sempre esteve presente no processo de educação da criança e do adolescente. A educação grega valorizava o teatro, a música, a dança e a literatura. Platão considerava o jogo fundamental na educação.
     Na antiga Grécia a criança era exercitada, durante seus primeiros anos, em jogos educativos, aptos para encaminhá-la a seu aperfeiçoamento como adulta. Esses jogos respeitavam de antemão, os anseios, desejos e instintos dessas crianças. O menino era admitido, desde pequeno como participante de manifestações religiosas e sociais, desenvolvidas em forma de espetáculo. Aristóteles, como Platão, deu grande destaque ao jogo na educação, considerando-o de máxima importância, pois acreditava que educar era preparar para a vida, proporcionando ao mesmo tempo prazer.
     Para os romanos, o teatro era uma imitação que teria um propósito educacional se pudesse ensinar lições morais. Condenado por um determinado período pela igreja, o teatro na Idade Média, através de representações sacras, mistérios, farsas e moralidades, atraía multidões de espectadores, inclusive as crianças. Carlos Magno, coroado rei do Sacro Império Romano, por volta do século IX, fundou escolas e monastérios por toda a Europa. Nesse ínterim, os trabalhos de Aristóteles foram novamente estudados e o teatro adaptou a filosofia aristotélica à fé católica, dando então, aprovação plena à representação, desde que ela fosse recreação pura.
     No final da Idade Média o ensino do teatro propagou-se pelas escolas da Europa, e consequentemente por cinco séculos, as encenações dos mistérios e moralidades propiciaram às massas sua educação. No Renascimento, surgiram numerosas academias, onde os estudiosos das obras clássicas encenavam peças latinas. Rabelais introduziu o teatro e a dança nas escolas inglesas, o estudo dos clássicos e as atividades artísticas, sobretudo as dramáticas, eram consideradas excelentes recursos para o aprendizado da linguagem.
     Mas somente no século XVI e XVII, com São Felipe Neri e os Jesuítas, a interpretação teatral passa a fazer parte dos planos de estudo na escola, atribuindo-se ao teatro precisa e elevada função educativa. Nos séculos XVI, XVII e XVIII, havia toda uma tradição do teatro na escola, na Europa, através da interpretação de dramas latinos, por alunos de diversos colégios, com o objetivo de sensibilizar os jovens à prática religiosa. Observo aqui, as características em relação à atualidade, pois esta era uma forma completamente diferente do teatro que se faz hoje nas escolas, cujo objetivo é a autoexpressão do aluno.
     Famosos dramaturgos da história do teatro iniciaram suas primeiras obras nas escolas, “Corneille”, por exemplo, passou sete anos no Colégio de Rouen, na França. Ali ele compôs diversas peças em latim e montou vários espetáculos dramáticos.Já “Molière”, estudou no Colégio Clermont. “Voltaire” compôs seus primeiros ensaios dramáticos quando ainda estudava nas escolas. Na Itália do século XIX o teatro educativo foi marcado pela preocupação exclusivamente pedagógica. De 1850 a 1910, grandes personalidades ocuparam-se do teatro para criança, colaborando na obra educativa.
     No Brasil, o teatro na escola teve novo impulso a partir da “Escola Nova”, e no limiar do século XXI a maioria das escolas de todo o mundo dedica espaços em seus currículos, especificamente ao teatro, tendo em vista sua importância para o desenvolvimento da personalidade global da criança e do adolescente.

segunda-feira, 6 de agosto de 2018

O BARRACÃO DA PRELAZIA



     Se por um lado, a década de 1940 foi um período da chegada de muitos circos a Macapá, por outro, há referências principalmente sobre o Barracão da Prelazia que era um local com palco, pertencente à Igreja Católica, para comemorações e apresentações teatrais. Localizava-se na parte oeste da Igreja de São José, mais exatamente no formigueiro. Amiraldo Bezerra em seu livro “A Margem Esquerda do Amazonas”, publicado em 2008 relembra sua participação como ator quando subiu ao palco do Barracão da Prelazia, no referido período. Diz ele: “Tínhamos aula de catecismo, educação esportiva, de teatro como “o cordão do papagaio”, exibido durante muito tempo lá nos palcos do barracão, onde o Noventa e Um fazia o papel de Bôbo da Corte e o Palóca (plebeu) apaixonado pela princesa, ouvia calado quando o bôbo dizia: “a princesa com um príncipe já é muito sofredora, imaginem como rainha com esta bomba voadora”. E aí o Palóca explodia. Buuum!!! (era gordinho)”.
     O texto de “O Cordão do Papagaio” nos revela uma trama entre reis, rainhas, bobos, príncipes e princesas, mas se desconhece sua autoria. Muitas peças foram encenadas no Barracão da Prelazia, popularmente conhecido como Barracão dos Padres. Essas apresentações aconteciam em períodos comemorativos como: época junina, comemorações de final de ano, entre outras datas festivas.  A peça “Dona Baratinha” foi apresentada no referido Barracão. O noventa e um de quem fala BEZERRA era o Expedito Cunha Ferro que fazia teatro no barracão dos padres. Professor Guilherme Jarbas, em entrevista a este colunista em 2011, vivenciou esse período e nos contou que: “Os padres tinham o ano todo de encenação de peças, e era através dessas peças que a igreja conseguia reunir a juventude daquela época. Era uma formação a partir do teatro. Havia uma disputa muito grande por parte daqueles que viviam junto à Prelazia para participar das peças teatrais que lá eram apresentadas.”
     No Barracão da Prelazia também foi encenada a peça “O Cordão do Uirapurú”. Amiraldo Bezerra foi ator e se apresentou nesse palco. Mantém-se nessa década, a persistente presença do sexo feminino, desta vez com a dramaturga Aracy de Mont’Alverne. Embora não tenhamos localizado, ela escreveu várias peças infantis para teatro. No ano de 2017, participei na cidade de Belo Horizonte, como arguidor da Banca de Defesa da Dissertação da professora Juliana Lemos, docente do Curso de Teatro da UNIFAP, na qual, a mesma faz um estudo minucioso sobre as mulheres dramaturgas no Amapá. O Barracão da Prelazia encerrou suas atividades quando da inauguração do Cine Teatro João XXIII que também pertencia à Paróquia de Macapá.


quinta-feira, 2 de agosto de 2018

ADEUS! COMPLEXO CULTURAL DO EQUADOR



     O entorno do marco zero do equador se tornou um dos principais pontos de encontro dos amapaenses como também de turistas que visitam nossa querida cidade. Naquele espaço urbano, em meio à linha do equador, o complexo do marco zero concentra três importantes monumentos: o Marco Zero do Equador; o Sambódromo complementando-se com a Cidade do Samba e o Estádio Milton de Souza Corrêa, conhecido popularmente como Estádio Zerão.
     Todos sabem que megaeventos e grandes shows musicais sempre acontecem no entorno do marco zero do equador. No sambódromo acontece um dos maiores eventos da cidade que é o desfile das escolas de samba no período de carnaval; e para que isso aconteça, torna-se prioritário grande movimentação no entorno daquela área urbana; área mais do que necessária para que cada evento, como o desfile das Escolas de Samba, por exemplo, tenha sucesso.
     Além do desfile de escolas de samba, durante os 365 dias do ano acontecem outros tantos eventos como o desfile das quadrilhas juninas entre vários shows de cantores famosos, tanto amapaenses como músicos conhecidos em todo o Brasil. Ademais os encontros religiosos que sempre escolhem aquela área urbana para louvarem ao senhor. Na Rua Ivaldo Veras também existe a Cidade do Samba que, por sua vez, serve como suporte ao Sambódromo em suas atividades culturais.
     O mês de setembro sempre é bastante movimentado com os desfiles dos dias 07 e 13 deste mês, quando aquela área se reveste de desfiles de escolas estaduais e municipais, exército, bombeiros e polícia militar, entre outras agremiações. Tanto no desfile das escolas de samba como no desfile do dia 07 de setembro a parte de trás do Zerão fica repleta de bandas de música das escolas, todas esperando seu momento para entrar em cena. Neste caso, o barulho é imenso na espera de desfilar no sambódromo.
     Lá também está localizado o Marco Zero do Equador, com várias festividades inserindo aqui as principais que são os Equinócios: equinócio da primavera, em março e equinócio de outono, em setembro. Na maioria dos casos, há danças e exposições, o que transforma aquele ambiente num grande local de encontro das pessoas que aqui habitam. Ainda há os solstícios que não são muito divulgados, mas que acontecem em junho e dezembro.
     Junte-se a tudo isso o Estádio Zerão, querido por todos aqueles que são amantes do futebol. Tudo que se relacione ao futebol acontece no Estádio Zerão, que é o único estádio do Brasil onde uma equipe situa-se no hemisfério Norte e a outra no hemisfério Sul. E o que dizer dos circos que sempre chegam à cidade de Macapá, o melhor espaço para se instalar um deles só poderia ser naquele espaço urbano, como sempre acontece.
     Entrementes...  Ali onde passa a linha do Equador, exatamente atrás do Estádio Zerão está sendo construído o Hospital Universitário. Não seja por isso! Sou completamente de acordo com um Hospital Escola para o Amapá. Mas, o que diria eu nesse caso?  Diria que a construção do Hospital Universitário naquela área determina a crescente desativação de todos os prédios do entorno que se volta para a cultura amapaense. Lembre-se que o desfile das Escolas de Samba saiu da FAB exatamente em respeito ao Hospital Geral de Macapá. Que o hospital universitário seja muito bem vindo e um triste adeus ao complexo Cultural do Equador. Tenho dito.