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quarta-feira, 26 de março de 2014

DIA INTERNACIONAL DO TEATRO - 27 DE MARÇO


     Do ponto de vista histórico e com os elementos que conhecemos na atualidade, poderíamos dizer que o teatro surgiu na Antiga Grécia, embora pesquisas recentes venham demonstrar que muito antes, os egípcios, os indianos e os chineses já o praticavam. Portanto, não se pode negar que a cultura oriental é muito sedimentada, mas embora o Oriente realizasse teatro antes dos gregos, essa prática acontecia primitivamente em forma de rituais religiosos.
     Percebe-se, porém que a Grécia Antiga herdou esses rituais, entretanto não podemos negar que foi justamente nesse país que os primitivos rituais foram, ao longo dos anos se transformando, tomando novas formas como festividades e atividades culturais até determinar os cultos teatrais como forma de representação e arte, à qual conhecemos hoje.
     O teatro, do qual falo na atualidade na atualidade, originou-se basicamente de três festividades: a) dos mistérios de Delos; b) da louvação às divindades Quintelanas – Elêusis, Demótes e Proserpina; e c) do culto a Dionísio. Sendo que esta última versão é a mais provável, segundo estudos históricos e antropológicos já realizados.
     Sabe-se que uma vez ao ano, justamente por ocasião das vindimas, prestava-se homenagem ao Deus Dionísio; Deus da uva e do vinho; da embriaguez e da fertilidade. Geralmente nesses cultos sacrificava-se um animal, mais praticamente um bode que, por sua vez, significa TRAGOS em grego, de onde surge etimologicamente a palavra Tragédia.
     Comumente, ao som da música de flautas, as bacantes dançavam em honra ao Deus Dionísio, juntando-se aos Sátiros, também dançarinos, que vestidos a caráter imitavam bodes, cujos animais, para a cultura grega da época significavam os companheiros do Deus. Depois de algumas horas, já embriagados, entregavam-se com entusiasmo a esse frenesi, esse culto, a esse verdadeiro espetáculo. Nessas condições, o teatro tem notadamente origem religiosa e campestre.
     Com o passar do tempo, o próximo passo foi a organização de procissões, que se tornaram muito mais religiosas do que profanas. Essas procissões tinham caráter comum, onde todos os celebrantes se juntavam tendo à frente jovens que cantavam um hino improvisado, chamado “ditirambo”, e assim giravam em torno do altar do Deus, agradecendo pela colheita da uva e pelo sexo que significava a fertilidade da vida. E foi exatamente desse coro, do contraste entre o espírito Dionisíaco e Apolíneo que nasceram a Tragédia e a Comédia. A tragédia tinha como principais características o terror e a piedade que despertava no público. Era constituída de cinco atos e voltava-se para o resgate da mitologia grega, com seus deuses, heróis e feitos. A comédia era dividida em duas partes com um intervalo. Tratava dos homens comuns e de sua vida cotidiana.
     Em seguida o coro separou-se do recitador, nesse momento crucial da história do teatro havia nascido o primeiro ator. Contudo, na procissão já se podia constatar três artes: o canto, a dança e a atuação. Nesse caso, à frente vinha o “Corifeu” – de onde surge a palavra Coro – vestido com pele de bode. Consequentemente todo o resto do grupo respondia ao ditirambo, atuando como um verdadeiro balé litúrgico, numa fusão do trágico e do cômico. Essa narrativa cantada era sempre feita em terceira pessoa. Em 534 a.C. Théspis, um corifeu que participava da festa, representou pela primeira vez Dionísio, transformando essa narrativa em primeira pessoa e dando origem à platéia.
     E assim constituiu-se a Tragédia: o ator e o coro se respondem cantando, em seguida o ator fala e o coro canta e posteriormente o ator dialoga com o Corifeu, representante do coro. Vale salientar que nesse momento embrionário da Tragédia não havia atos nem intervalos, sendo a mesma, composta de partes dialogadas e partes faladas.
     Poderíamos fazer aqui uma relação como o Círio de Nazaré, quando todos os anos, numa determinada época, o povo se reúne para louvar a sua Santa (Deusa) Virgem de Nazaré. Neste caso, com características próprias de uma cultura contemporânea de início do século XXI. É interessante saber que apesar da distância cronológica, momentos semelhantes existem entre essas duas manifestações religiosas, como por exemplo, o vigário assumindo o lugar do Corifeu, que quando fala uma estrofe de uma oração automaticamente o povo responde, representando nessa ocasião, o coro.
      Os três grandes trágicos foram: Ésquilo, Sófocles e Eurípedes. Théspis foi o criador do teatro ambulante, o qual se conhece hoje como teatro mambembe. Infelizmente todos os seus textos se perderam. Também foi ele quem inventou as máscaras para teatro. Representava seus papéis trágicos inicialmente pintando o rosto com matéria prima da época, depois cobrindo o rosto com folhas de árvores; em seguida introduziu o uso de verdadeiras máscaras.
     Chegou um momento em que o Estado tomou para si a responsabilidade e a organização do teatro na Antiga Grécia, quando instituiu concursos entre os poetas dramáticos (mais conhecidos atualmente como dramaturgos), em consequência o povo imediatamente acolheu essa forma artística, que se tornou milenar no momento atual da história da humanidade.
     Tendo como ponto de partida a contribuição do teatro em nível artístico, psicológico e social para o homem durante toda sua história e considerando a necessidade vital da humanidade em relação às atividades teatrais que persistem incondicionais até nossos dias, foi que em 1961, o Instituto Internacional de Teatro da UNESCO, órgão das Nações Unidas voltado a educação, ciência e cultura, resolveram criar uma data dedicada às atividades culturais ligadas à representação durante o seu IX Congresso Mundial, em Viena, Áustria. Portanto, em função da inauguração do Teatro das Nações, em Paris, França, em 27 de março de 1961, tem sido celebrado o Dia Internacional do Teatro. A data de 27 de março assinala também a inauguração das temporadas internacionais no referido teatro. Na ocasião a ONU passou a enviar mensagem sobre a importância do teatro aos seus países membros.




quinta-feira, 20 de março de 2014

O TEATRO NA POLÍTICA



     É da natureza do homem ser exímio imitador. Na Idade da Pedra, antes de usar as cavernas como proteção o homem precisou expulsar os animais que ali moravam. Por outro lado, quando conseguia abater esses animais, ele aproveitava o corpo do mesmo como alimento, mas não era só isso... Começou a imaginar a probabilidade de utilizar o couro como vestimenta e ainda a se vestir, como se fosse um animal para se aproximar do mesmo para poder abatê-lo com sucesso.
     O humor e o imitador estão presentes em todos os tempos e em todas as épocas da história da humanidade. O homem imita por natureza, não fosse isso não aprenderia a falar sua própria língua. Uma criança nascida na Inglaterra fala o inglês porque ouve os mais velhos falarem a referida língua, o mesmo acontece num país de língua espanhola ou portuguesa como no caso, o Brasil.
     Entre todas as atitudes do homem o teatro está sempre presente, principalmente no período de eleição quando candidatos procuram representar o que não são na realidade, ou seja, vislumbram com a criação de seus personagens, conquistar os eleitores, o que quer dizer ganhar o pleito e ser eleito definitivamente. Para isso, mesmo empiricamente se utilizam de artefatos que são frequentes no teatro.
     Drama, tragédia, sátira e comédia são os gêneros que mais se sobressaem quando os futuros representantes do povo aproveitam seus parcos segundos no programa eleitoral gratuito na televisão. Este é o principal momento de entrar em cena. As emoções são variadas para ganhar a simpatia e empatia dos eleitores. Choro, ao se lembrar de sua devotada professora ou até mesmo de deglutir uma sopa; alegria, ao falar das insignificantes atitudes e projetos elaborados como gestor; tristeza, ao contar sobre a perda de uma pessoa querida da sociedade, mesmo que seja da oposição.
     Enquanto uns conseguem se explicitar com mais robustez e originalidade devido à sua vivência no cotidiano, outros se enrijecem e muito mal leem seus programas, fixando os olhos diante das câmeras. Nenhum outro movimento é percebido, parece até ser um castigo ele está ali para falar principalmente do que não sabe.

     Infelizmente, na prática, é assim que acontece com a maioria dos candidatos que se inscrevem para participar de um pleito eletivo em nossa sociedade. A democracia muitas vezes se apresenta cheia de contradições, por exemplo, para ser professor de uma universidade hoje, o candidato necessita no mínimo possuir um curso de Mestrado, enquanto que para ser político o que se exige apenas é que o candidato saiba assinar seu nome.  

quarta-feira, 12 de março de 2014

O CARNAVAL DO ESPETÁCULO E O ESPETÁCULO DO CARNAVAL



     A cidade de Macapá convive por bastante tempo com o que poderíamos caracterizar como o binômio do carnaval. Por um lado temos o carnaval do espetáculo que acontece no sambódromo com o desfile das Escolas de Samba. Neste caso, estamos diante de uma manifestação que apesar de ser popular, nem todos participam, visto que há uma milenar divisão entre os que fazem e os que assistem.
     O carnaval do espetáculo resume-se numa minoria se apresentando para uma maioria, o que não foi o caso aqui em nossa cidade, visto que o acesso aos ingressos se tornaram um empecilho para que o povo participasse mais fervorosamente nas arquibancadas do nosso sambódromo. O governo e a liga das escolas de samba têm que pensar num ingresso em que o preço seja mais acessível ao grande público, caso isso não aconteça, sempre vai haver espaços vazios nas arquibancadas.
     Mas, enquanto que por outro lado, enquanto a festa acontece para o rei, seus súditos e a nobreza, no espaço fechado do Castelo Medieval (sambódromo), por outro lado, o povo se torna participante ativo nas ruas da cidade quando acompanham o bloco “A Banda” e ai sim, se tornam verdadeiros saltimbancos e atores da commedia del’arte. No sambódromo acontece o carnaval do espetáculo naquele delimitado espaço.
     Assim é o carnaval de Macapá, por um lado. o desfile das escolas de samba no sambódromo e por outro o bloco “A Banda” que há 49 anos desfila nas ruas de nossa cidade. Quem pode, participa do carnaval do espetáculo, no sambódromo; quem não pode, participa do espetáculo do carnaval, acompanhando “A Banda” nas ruas de Macapá.
Desta forma, todas as camadas sociais tem acesso ao nosso carnaval, só não brinca quem não quer.
     O bloco “A Banda” é do povo e para o povo, indiscriminadamente todos podem participar livremente como lhes convêm, sem distinção, sem privilégios, visto que já estão nesse grande espaço público, a rua. Aqui em Macapá, o último dia dedicado ao Rei Momo a rua é do povo. Na rua não há aquela rigidez no figurino, qualquer roupa serve como ponto de partida para a representação de cada personagem, uma máscara, um lenço, etc.
     Se no sambódromo somos agraciados com o Deus Apolo, que se caracteriza pelo equilíbrio e disciplina, a “Banda” nos remete ao verdadeiro culto dionisíaco (arrebatado, desinibido, natural e espontâneo) onde todos participam freneticamente daquela orgia, daquele bacanal. Ali há espaço para qualquer camada social, basta cortar em tiras qualquer roupa e você já passa a fazer parte do espetáculo.

     Na Ivaldo Veras somos meros espectadores do Carnaval do Espetáculo; na Feliciano Coelho e demais ruas da cidade de Macapá, somos grandes atores em potencial do Espetáculo do Carnaval.