Quando criança vivi entre a cidade e o
campo, na primeira, por uma necessidade de trabalho do meu pai, no campo, em
meus momentos de férias. Morei em duas cidades de dois Estados da Federação,
Nova Cruz – Rio Grande do Norte, e Itabaiana – Paraíba. Dessas duas cidades
sempre tive como ponto de partida, o inesquecível sítio do meu avô, para onde
sempre viajava quando de férias da escola, com meus pais, irmãos ou primos. O
Sitio Engenho Velho está situado nas proximidades de Gramame, na cidade de João
Pessoa. Vale ressaltar que na atualidade, este sítio está se transformando em
bairro, visto que a capital cresceu até seus braços.
A cidade me ensinou coisas importantíssimas
em minha vida, mas o que deixou saudades, foram minhas viagens de férias para o
campo. Lembro-me quando muito criança, viajava de trem com máquinas à vapor,
mais conhecidas como Maria Fumaça. Naquelas viagens, parecia que eu estava
entrando numa máquina do tempo. À medida que ia me aproximando do sítio, tudo
ia se transformando em meus olhos e diante de mim.
No Sítio Engenho Velho, eu tinha meus
avós, tios, tias, primos, primas, árvores, frutos, pássaros, cachorros,
cavalos, galinhas, animais diversos, casas de palha, rio, lagoa, cacimba, tudo
o que uma criança necessitava para criar seu mundo de sonhos e fantasias. E eu
ficava encantado com tudo isso. Pensava comigo mesmo, que tudo aquilo nunca
iria se acabar. Mas, ninguém pode tomar banho duas vezes na mesma água do rio,
já dizia o filósofo grego Heráclito de Éfeso.
Ao raiar o dia, tomava leite quentinho que
saía das tetas de uma vaca, direto para uma caneca que eu, a guardava desde a
noite anterior. Entre os mais variados animais que meus tios criavam, eu ficava
pasmo e não conseguia entender a astúcia indecifrável de uma vaca. O que ela
tinha de especial? Simplesmente, mamava em suas próprias tetas.
Não há como somar as vezes que eu subia
nos pés de manga e, ali mesmo, no mais alto dos galhos, as devorava como um
pequeno animal silvestre, isso sem contar as horas dedicadas no alto dos
cajueiros. Ah! Jaca era o que não faltava na casa de minha tia, era preciso
caminhar um pouco, mas valia a pena o sacrifício. Sempre me deliciava com água
de coco verde, que era abundante naquele sítio.
Delicioso era tomar banho, ao ar livre nas
cacimbas do lugar, aqueles banhos mágicos com águas trazidas do leito da terra,
isso me remete, na atualidade, às líricas poesias de Zé da Luz. Foram muitos os
banhos nas águas do rio Gramame, quando o mesmo não era poluído. Sempre
observava o quão era natural e tranquilo aquele rio... Andar de canoa com meus
primos! Era uma grande aventura, igual à das histórias em quadrinhos dos gibis
da época.
Acompanhava meus tios no cotidiano, e
nunca deixei de apreciar as plantações de feijão, quiabo, batata doce, mamão,
macaxeira, entre outras. Era nas plantações onde eu conhecia o caminho das
formigas. Feito na lenha e em panela de barro, com ingredientes que se
cultivava nas imediações como, maxixe, pimenta do reino, tomate, couve, etc.,
ninguém fazia um almoço igual ao da minha avó, que tinha um gosto especial com
sabor de terra.