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segunda-feira, 18 de maio de 2020

TEATRO SOB DITADURA


                                        
     Face ao quadro político que se apresenta no Brasil da atualidade, com a luta entre poderes, por outro lado, com a constante ameaça do coronavírus, dizimando milhares de pessoas e ainda a dúvida de que rumo político seguira nosso país é que resolvi relatar um pouco sobre a batalha de artistas de teatro em relação à ditadura militar, para que tenhamos ideia do isto representa para a arte e a cultura em geral.
     A somatória dos fatos ocorridos em 1966 fez com que os artistas e intelectuais deixassem de lado a caneta e a máquina de escrever. Foi assim que 300 pessoas abriram o ano de 1967 num ato público na ABI – Associação Brasileira de Imprensa, no lançamento da “Semana de Protesto à Censura”. Já os jornais do dia 23 de outubro deste mesmo ano trazem declaração do General Façanha, então diretor do Departamento de Polícia Federal, chamando Tônia Carrero de “vagabunda” e segundo o texto “O Teatro e o Poder” de Tânia Pacheco, que se encontra inserido no livro “Anos 70 – Teatro”, o General Façanha teve a impetulância de afirmar que “a classe teatral só tem intelectualóides, pés sujos, desvairados e vagabundas que entendem de tudo, menos de teatro”.
     1968, talvez tenha sido o ano mais trágico de toda a história do teatro brasileiro. A censura assume o papel de protagonista na cena nacional: desencadeia uma guerra aberta e clara contra a criação teatral; torna-se incomodamente presente no cotidiano dos artistas do palco. Neste ano grande quantidade de espetáculos é proibida, sem falar dos textos censurados e dilacerados pela censura. Diante das arbitrariedades dos recentes acontecimentos, a classe teatral reage com indignação. Todos os teatros do Rio de São Paulo declaram-se em greve de protesto por três dias, e os artistas, liderados por personalidades como Cacilda Becker, Glauce Rocha, Tônia Carrero, Ruth Escobar e Walmor Chagas, realizam rumorosas vigílias cívicas nas escadarias dos teatros municipais das duas cidades, durante os quais ocorreram tragicômicos conflitos com a polícia.
     O Teatro “Gil Vicente” em Porto Alegre e o “Opinião” no Rio sofrem atentados à bomba. Flávio Rangel é detido na rua e tem sua cabeça raspada pela polícia. Consequentemente em junho de 1968, artistas revoltados decidem não acatar mais a censura e a partir desta data organizam e escrevem carta de protesto ao General Orlando Geisel, Chefe do Estado Maior das Forças Armadas, contra a prisão do diretor Flávio Rangel, que teve a cabeça raspada anteriormente, no Rio de Janeiro.
     Um espetáculo marcante naquele período foi “Roda Viva” de Chico Buarque, que desencadeou uma tempestade de protestos e de adesões entusiásticas contra a repressão. Em repúdio à censura e às ameaças terroristas contra teatros e elencos, a classe teatral paulista devolve ao jornal “O Estado se São Paulo” os “Sacis” – prêmios por ele distribuídos.

sábado, 9 de maio de 2020

PRIMÓRDIOS DOS CENÁRIOS



    Muitas vezes, quem vai ao teatro assistir a uma peça, não imagina o quanto essa arte é antiga, principalmente no que diz respeito aos cenários. Cenário é todo aparato técnico que complementa a peça, determinando o espaço geográfico (castelo, rua, casa, clube, etc.) onde está acontecendo a cena, que também pode definir uma área interna ou externa. Objetos de cena, são todos os aparatos necessários para complementar a indumentária dos atores e também o cenário. E tudo começa na Grécia antiga.
      As invenções de Ésquilo no que diz respeito aos cenários foram muitas. Ele construiu várias máquinas para obter efeitos românticos e deu um passo à frente no arcabouço do drama grego. É considerado um dos primeiros que se voltou para a pintura cênica. Já Sófocles aparece como criador do terceiro ator e Eurípedes modificou o princípio e o fim da tragédia, permanecendo a mesma mise-en-scène. Diz-se que o pintor Agutarcos desenhou vários cenários para as tragédias de Ésquilo dentro das regras da perspectiva.
     “Pintura de Cena” era o termo empregado pelos Helenistas. Este mesmo termo foi introduzido por Sófocles, mas possivelmente foi utilizado na última trilogia de Ésquilo. O cenário clássico grego era organizado com uma parede de fundo, que também exercia a função de coxia para os atores se vestir. Esta parede geralmente representava a frente de uma casa, com uma grande porta ao centro e duas menores de cada lado. No teatro Grego e Romano sucessivamente, o conceito de cenário era irrelevante, sendo o frontispício da “Skené” a ambientação permanente para todos os textos, consequentemente nesse período o cenário era apenas visto, cujo drama era concebido pela palavra.
          No Renascimento, o arquiteto Bramante, construiu um teatro no qual o telão separava a cena dos degraus dispostos em forma de anfiteatro. Peruzzi iniciou os cenários em perspectiva e Serlio construiu um teatro dividido em duas partes: plateia e cena; também reduziu as construções cênicas, que primeiramente eram muito sólidas, a dois bastidores pintados, enquanto que para o cenário do fundo bastava um só telão.
     Servandoni, pintor e arquiteto, foi um dos principais mestres na renovação técnica cênica no século XVIII. Ao contrário de seus antecessores que se baseavam na perspectiva paralela, dispondo os planos sucessivos sempre em relação à boca de cena, o artista florentino idealizou um novo tipo de cenário baseado nas leis da perspectiva oblíqua, na qual o horizonte imaginário situava-se em vários pontos laterais de dispersão. Ele obteve dessa forma, certa fluidez que se contrapunha às realizações rígidas do Renascimento. Todos os aperfeiçoamentos que vieram posteriormente em relação à técnica de elaboração e confecção de cenários têm como ponto de partida os princípios idealizados por Servandoni.