Face ao quadro político que se apresenta
no Brasil da atualidade, com a luta entre poderes, por outro lado, com a
constante ameaça do coronavírus, dizimando milhares de pessoas e ainda a dúvida
de que rumo político seguira nosso país é que resolvi relatar um pouco sobre a
batalha de artistas de teatro em relação à ditadura militar, para que tenhamos
ideia do isto representa para a arte e a cultura em geral.
A somatória dos fatos ocorridos em 1966
fez com que os artistas e intelectuais deixassem de lado a caneta e a máquina
de escrever. Foi assim que 300 pessoas abriram o ano de 1967 num ato público na
ABI – Associação Brasileira de Imprensa, no lançamento da “Semana de Protesto à
Censura”. Já os jornais do dia 23 de outubro deste mesmo ano trazem declaração
do General Façanha, então diretor do Departamento de Polícia Federal, chamando
Tônia Carrero de “vagabunda” e segundo o texto “O Teatro e o Poder” de Tânia
Pacheco, que se encontra inserido no livro “Anos 70 – Teatro”, o General
Façanha teve a impetulância de afirmar que “a classe teatral só tem
intelectualóides, pés sujos, desvairados e vagabundas que entendem de tudo,
menos de teatro”.
1968, talvez tenha sido o ano mais trágico
de toda a história do teatro brasileiro. A censura assume o papel de
protagonista na cena nacional: desencadeia uma guerra aberta e clara contra a
criação teatral; torna-se incomodamente presente no cotidiano dos artistas do
palco. Neste ano grande quantidade de espetáculos é proibida, sem falar dos
textos censurados e dilacerados pela censura. Diante das arbitrariedades dos
recentes acontecimentos, a classe teatral reage com indignação. Todos os
teatros do Rio de São Paulo declaram-se em greve de protesto por três dias, e
os artistas, liderados por personalidades como Cacilda Becker, Glauce Rocha,
Tônia Carrero, Ruth Escobar e Walmor Chagas, realizam rumorosas vigílias
cívicas nas escadarias dos teatros municipais das duas cidades, durante os
quais ocorreram tragicômicos conflitos com a polícia.
O Teatro “Gil Vicente” em Porto Alegre e o
“Opinião” no Rio sofrem atentados à bomba. Flávio Rangel é detido na rua e tem
sua cabeça raspada pela polícia. Consequentemente em junho de 1968, artistas
revoltados decidem não acatar mais a censura e a partir desta data organizam e
escrevem carta de protesto ao General Orlando Geisel, Chefe do Estado Maior das
Forças Armadas, contra a prisão do diretor Flávio Rangel, que teve a cabeça raspada
anteriormente, no Rio de Janeiro.
Um espetáculo marcante naquele período foi
“Roda Viva” de Chico Buarque, que desencadeou uma tempestade de protestos e de
adesões entusiásticas contra a repressão. Em repúdio à censura e às ameaças
terroristas contra teatros e elencos, a classe teatral paulista devolve ao
jornal “O Estado se São Paulo” os “Sacis” – prêmios por ele distribuídos.