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domingo, 18 de julho de 2021

O TEATRO PRIMITIVO

 

 

     O teatro e as diversas formas de representação são tão antigos quanto a própria humanidade. Os primeiros momentos da arte dramática se revelam tanto dentro da caverna como fora dela. Um dos primeiros momentos de representação do homem foi ainda no período primitivo. Fora da caverna, ao abater o animal para satisfazer suas necessidades como alimentação, ele utilizava os ossos para confeccionar armas, como também, usava sua pele para servir de vestimenta e proteção em relação à natureza.

     Não só isso, ele usava seu pensamento e sua tecnologia para atrair outros animais. Recurso criado pelo próprio homem, o que o diferenciou dos demais bichos. Vejamos: a primeira forma de representar foi exatamente quando o homem primitivo se vestiu com o couro do animal abatido, e se fez de animal para atrair outros da mesma espécie. Por exemplo, ele matava um bisão, tratava a pele e na próxima caçada se vestia com a mesma, como se fosse outro animal, para chegar o mais próximo possível, para poder abater com mais facilidade sua próxima presa. Nesse momento, ele se apoia no mimetismo e na representação.

     Aqui está a grande mágica do teatro, a capacidade de se apresentar aos outros sem revelar seu segredo pessoal e sua identidade. E é assim, que o homem moderno se apresenta na sociedade contemporânea. Geralmente, um professor representa ser professor apenas no seu ambiente de trabalho, em casa é pai, avô; já na roda de amigos, é amigo, e assim por diante. Outro momento interessante em relação ao teatro primitivo pode-se encontrar exatamente nos momentos de socialização dentro das cavernas.

     Desde os tempos mais remotos, a divisão do trabalho das pessoas que viviam em grupo, acontecera da mesma forma que ainda acontece na atualidade. Vamos aqui imaginar a vida de um grupo primitivo: no princípio, o papel do homem era caçar e trazer o alimento para casa, e isso era fundamental para a sobrevivência daquele grupo social. Por outro lado, as mulheres ficavam com o papel de organizar e suprir as necessidades dentro das cavernas e dos arredores.

     O papel da mulher era o de cuidar dos anciãos e das crianças, à noite havia a necessidade de acender o fogo, e na ocasião, ao caminhar dentro da caverna, os primitivos deram conta da sombra, e foi exatamente em função disso que as mulheres, para animar seus filhos, começaram a inventar o teatro de dedos e mãos, projetando sombras nas paredes da própria caverna, para brincar com seus filhos. O teatro de sombras surgiu também nesse período, antes mesmo do teatro de bonecos, que manifesta-se em função das sombras, ou seja, o teatro de sombras está para o teatro de bonecos, como o teatro de bonecos também está para o teatro de sombras.

 

domingo, 4 de julho de 2021

DESAFIO EM ESTUDAR NOSSO TEATRO

 


     Praticamente, há vinte e sete anos, aqui não se falava em estudos científicos sobre o teatro do Amapá, aliás, nada havia além de memórias e saudosismos sobre o passado desse tão pujante teatro. Até aquele momento, eram dados que vinham sendo repassados apenas em função, da tradição oral. Quando assumi minhas atividades profissionais na UNIFAP, em janeiro de 1995, cheguei às terras tucujus com dois propósitos fundamentais: estudar o teatro do Amapá, e implantar o Curso de Licenciatura em Teatro.

     Reconheço que me tornei o pioneiro em relação a estudos, pesquisas, análises, escrita e publicação sobre obras que registrassem algo sobre o tema proposto. Além de, “Teatro de Bonecos: uma alternativa para o Ensino Fundamental na Amazônia”, publicado em 2001, o que marcou majestosamente essa fase, foi quando lancei a obra “Artes Cênicas no Amapá: Teoria, Textos e Palcos”, no ano de 2011. Tenho previsto para o segundo semestre deste ano de 2021, o primeiro volume de “História do Teatro do Amapá: do Século XVIII à Década de 1940”, e para 2022, o segundo volume intitulado: “História do Teatro do Amapá: da Década de 1950 aos Dias Atuais”.

     O que muito me conforta na atualidade, é saber que essa preocupação em pesquisar o nosso teatro, e que foi iniciado por mim, lá no ano de 1995, ao longo dos anos vem se solidificando, primeiro nas obras que publiquei, segundo em função da orientação de vários trabalhos de conclusão de curso sobre teatro, e em terceiro lugar, principalmente em função da implantação do Curso de Licenciatura em Teatro, e o surgimento dessa nova geração de pesquisadores, que estão emergindo com o intuito de se dedicarem também à pesquisa do teatro amapaense. 

     Além das minhas próprias pesquisas, às quais, venho dando continuidade, o primeiro passo que foi dado foi o da professora Mestra Juliana Souto Lemos, quando em 2017, defendeu sua Dissertação de Mestrado, no Programa de Pós-Graduação em Artes, da Universidade Federal de Minas Gerais, intitulada “A Dramaturgia Escrita por Mulheres em Macapá-AP, 1996 a 2016”, quando na ocasião fui arguidor.

     Esta última semana de junho foi especial no sentido em que participei da qualificação do doutorando Bruno Sérvulo da Silva Matos, no Programa de Pós-graduação em Artes da UFPA, sendo que o mesmo, vem pesquisando sobre a forma de entender as especificidades do teatro no Estado do Amapá, os artistas, as produções teatrais, etc. Outra qualificação deste mesmo programa, foi a do doutorando Frederico de Carvalho Ferreira, da qual, também participei com arguidor, que vem realizando estudos sobre memórias, contextos sociais e políticos do fazer teatral, no Território Federal do Amapá, tendo como foco a política cultural janarista e o Cineteatro Territorial. Para o bem da arte e principalmente do teatro amapaense, o que se observa é que, gradativamente, começa a se configurar uma condensada bibliografia sobre o teatro do Amapá, que futuramente terá seu lugar nas bibliotecas do nosso Estado, como também em bibliotecas dos centros de pesquisa em teatro do Brasil.

DRAMATURGIA E ENCENAÇÃO

 


     Na arte dramática as palavras deixam de ser signos arbitrários para converterem-se em signos maturados de objetos arbitrários. Cada letra é um signo e ao juntarmos esses signos, deveremos seguir alguns códigos e regras juntando-as e formando as palavras que por sua vez são relacionadas a determinados objetos ou sensações.

     Aqui se pode encontrar a grande diferença entre dramaturgia e encenação. Se por um lado, a dramaturgia refere-se à literatura propriamente dita, por outro, a encenação por sua vez, está estritamente ligada ao movimento e à ação. Portanto, estamos enfocando aqui duas obras completamente distintas. A dramaturgia é literatura; a encenação é ação, é movimento, é teatro.

     Na poesia dramática, o mais importante está nos gestos, ou seja, no movimento e na ação, como também nas palavras criadas para explicar esses gestos. O drama é a representação de uma ação concluída e não o começo de uma ação, como acontece com a poesia lírica. Se há signos linguísticos para a literatura, também há signos para a encenação de uma peça teatral, obviamente.

     O drama exige unicamente a unidade de ação; a unidade de tempo e de lugar. Paralelamente, o ator tem que saber e entender essas três dimensões. Quem sou eu? O que estou fazendo? E em qual momento histórico me encontro e em qual espaço geográfico estou realizando determinada ação?

     A arte é a imitação da realidade, e cada obra de arte alcança seu autêntico espaço estritamente por meio do seu conteúdo e de sua estrutura visível, que se insere no seu ritmo intrínseco evocado por dominantes espaciais e temporais.

     Quando um ator se apresenta diante de um público ou fala diretamente (como no teatro dialético) esses recursos estilísticos não só modificam o espaço, mas toda a relação do significante com o significado. Certamente, que hoje se faz muito mais esforço para alcançar a relativa autonomia do teatro contemporâneo, sua funcionalidade e sua praticidade. Já não mais parece ser como um fragmento ilusório de vida, casualmente presenciado pelos espectadores.

     E a perfeição técnica não é mais um padrão de qualidade artística, e sim pura e simplesmente o resultado da habilidade profissional em um terreno artístico determinado. Penso, porém, que as obras de arte plenamente originais são aquelas que conservam certo grau de excelência e atributos individuais dos artistas. No caso, a originalidade poderia ser equivalente a uma individualidade excepcionalmente criativa.

 

DÊ VIVA A SÃO JOÃO

 

 

     No último dia 24 (quinta-feira), deveria ter sido festejado o dia de São João, mas, em detrimento de mais de quinhentas mil pessoas mortas pela covid-19, e ainda a proibição de se acender fogueiras, mais uma vez fomos impedidos de festejar e honrar tão venerado santo. Festas joaninas ou juninas? Joanina deriva de João e é em homenagem a ele que assim se fala: festas joaninas. Junina deriva do mês de junho, visto que acontece nesse período do ano. É a principal festividade e a mais comemorada no nordeste brasileiro. O certo é que ainda estamos em tempo de pandemia do coronavírus, e essa situação de saúde pública, nos obriga a ficar em casa. A única saída para quem desejou prestigiar essas festividades foi a de assistir as variadas lives de músicos e forrozeiros.

     Os pagãos comemoravam essa data em função do solstício de inverno, no hemisfério sul e solstício de verão no hemisfério norte. Como a Europa situa-se no hemisfério norte, e praticamente a maior parte do ano perdura o frio, os pagãos comemoravam a chegada do “Deus Sol Invictus”, ou seja, o sol invencível que chegava abrindo o verão para abrilhantar e esquentar aquele espaço geográfico.

     De toda forma, o culto ao Sol invicto continuou a ser base do paganismo oficial até a adesão do império romano ao cristianismo. Antes da sua conversão, até o imperador Constantino I, tinha o Sol Invicto como a sua cunhagem oficial. Quando aconteceu a ascensão do cristianismo, ficou decidido que a referida data seria para comemorar o santo “São João”. Com isso, a cultura europeia e de suas colônias, foi se adaptando gradativamente, como é o caso no novo mundo e do nordeste do Brasil.

     Mesmo sendo na atualidade uma dança popular, é bom lembrar que a quadrilha que era muito difundida na França, foi inicialmente dançada na corte francesa. Em seguida, no campo entre os agricultores e seus familiares. Com a descoberta do novo mundo, os costumes e a cultura europeia vieram juntos. Foi assim que se consagrou as quadrilhas mais antigas que traziam muitas palavras francesas e que foram ao longo do tempo sendo aportuguesadas aqui no Brasil.

       Alavantú, vem do francês “en avant tous” (todos para a frente); changê de damas e changê de cavalheiros, vem do verbo “changer” que significa trocar, neste caso, trocar de damas e trocar de cavalheiros. Anarriê, também é do francês “en arrière” (todos para trás); e Otrefuá, do francês “autre fois”  que significa outra vez.

     O que não havia na quadrilha francesa e que foi adaptado pelo povo brasileiro, foi a encenação do casamento matuto, neste caso a quadrilha gira em torno desse casamento matuto na roça, em que o noivo é obrigado a casar pelo pai da noiva, que com uma espingarda apontada para a cabeça dele, o obriga definitivamente a aceitar o casamento.

     As festas juninas são comemoradas no dia 13, em homenagem a São Pedro, quando na véspera se comemora o dia dos namorados; o dia de São João, 24, é o dia mais comemorado, tradicionalmente há fogueiras, queima de fogos e impera a comida derivada do milho, inclusive porque é período de colheita. Dia 29 comemora-se o São Pedro que também é muito lembrado nas pequenas cidades do interior. Nesse período, não se toca outra música a não ser o forró. Enfim, o São João tem o mesmo significado para o nordestino, da mesma forma que o Círio de Nazaré para o amapaense.