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segunda-feira, 27 de junho de 2022

CINETEATRO NO ESPAÇO URBANO

 


     Com a segunda inauguração, que aconteceu no ano de 1948, o Cineteatro Territorial foi dotado de aparelhagem técnica de última geração, tanto para teatro, como também máquinas de projeção de cinema falado. Os projetores de cinema Zeiss Ikon de 35 milímetros foram adquiridos na Alemanha e instalados no Cineteatro Territorial. Outros projetores de 16 milímetros, Paillard e Léo, também foram adquiridos para atenderem a necessidade dos outros três municípios, Mazagão, Amapá e Oiapoque.

     A essas alturas, na capital, já havia infraestrutura suficiente para atender os artistas, tanto em relação ao possante edifício teatral, como também demais visitantes, visto que, em 1948, havia nesse perímetro urbano: o próprio Cineteatro Territorial, reinaugurado em 1948 (cultura); o Hotel Macapá, de 07 de setembro de 1945, que depois, passou a ser denominado de Novo Hotel (acomodação); a casa do Governador de 1945 (administração); Rádio Difusora de Macapá, de 23 de julho de 1946 (comunicação); Escola Barão do Rio Branco (educação); e Praça Barão do Rio Branco (esporte e lazer), que seria inaugurada em primeiro de janeiro de 1950.

     E foi a partir desse novo contexto urbano que, com sua política cultural, o Governador Janary Gentil Nunes alcançou êxito em se tratando de trazer para o Território vários artistas reconhecidos nacionalmente. Atores e atrizes famosos como: Procópio Ferreira e Bibi Ferreira, Luiz Gonzaga, Dalva de Oliveira e Trio Iraquitam, entre outros, esses artistas estiveram em Macapá e se apresentaram no Cineteatro Territorial. Nessa época, também foi trazido para Macapá pelo Governo do Estado, a famosa peça “As Mãos de Eurídice” de Pedro Bloch com o ator Rodolfo Mayer, que era considerado um dos monstros sagrados do teatro brasileiro daquela época. O monólogo “As Mãos de Eurídice”, fez grande sucesso no Brasil e no exterior.

           Em janeiro de 1950, no Cineteatro Territorial em Macapá, acontecia a apresentação de Lucy Silva e suas amiguinhas, que eram crianças artistas amapaenses, como se pode observar na terceira página do Jornal Amapá, Ano 5, número 252, de 7 de janeiro de 1950: “Com um programa de variedades, onde se observa o desenvolvimento artístico da criança amapaense, a troupe recebeu bastantes aplausos, podendo-se dizer que, tomando-se em consideração a idade dos pequenos artistas, o espetáculo foi bom”.

     A equipe de Lucy e suas amiguinhas, se apresentou no Cineteatro do Trem Esporte Clube, que também era um espaço teatral da cidade de Macapá, o que podemos confirmar de acordo com o Jornal Amapá, Ano 5, número 253, de 14 de janeiro de 1950, na coluna “Diversões”: “Teve a população do bairro da Fortaleza, domingo último, oportunidade de assistir ao espetáculo de Lucy Silva e suas amiguinhas, que se exibiram no Cine-teatro Trem, na sede do Trem Esporte Clube. 

segunda-feira, 20 de junho de 2022

SÃO JOÃO DO CARNEIRINHO

 

 

     Próxima quinta-feira 23, é véspera de São João e sexta-feira 24, dia de São João, mas como sempre, todas as festas se comemoram na véspera. Este ano, no Nordeste, a tendência é que tenhamos várias festividades com a presença de pessoas, mas segundo a Organização Mundial de Saúde, ainda há que ter muita precaução. Como se percebe, em alguns Estados da federação, há ligeiro aumento de outras variantes da covid-19, alguns, inclusive voltando a obrigação de uso de máscaras em locais fechados.

     Em relação a esse período de muitas comemorações, perguntamos: festas joaninas ou juninas? Joanina deriva de João e é em homenagem a ele que assim se fala: festas joaninas. Junina deriva do mês de junho, visto que acontece nesse período do ano. É a principal festividade e a mais comemorada no nordeste brasileiro. Os pagãos comemoravam essa data em função do solstício de inverno, no hemisfério sul e solstício de verão no hemisfério norte. Como a Europa situa-se no hemisfério norte, e praticamente a maior parte do ano perdura o frio, os pagãos comemoravam a chegada do “Deus Sol Invictus”, ou seja, o sol invencível que chegava abrindo o verão para abrilhantar e esquentar aquele espaço geográfico.

     De toda forma, o culto ao Sol invicto continuou a ser base do paganismo oficial até a adesão do império romano ao cristianismo. Antes da sua conversão, até o imperador Constantino I, tinha o Sol Invicto como a sua cunhagem oficial. Quando aconteceu a ascensão do cristianismo, ficou decidido que a referida data seria para comemorar o santo “São João”. Com isso, a cultura europeia e de suas colônias, foi se adaptando gradativamente, como é o caso no novo mundo e do nordeste do Brasil.

     Mesmo sendo, na atualidade uma dança popular, é bom lembrar que a quadrilha que era muito difundida na França, foi inicialmente dançada na corte francesa. Em seguida, no campo entre os agricultores e seus familiares. Com a descoberta do novo mundo, os costumes e a cultura europeia vieram juntos. Foi assim que se consagrou as quadrilhas mais antigas que traziam muitas palavras francesas e que foram ao longo do tempo sendo aportuguesadas aqui no Brasil.

       Alavantú, vem do francês “en avant tous” (todos para a frente); changê de damas e changê de cavalheiros, vem do verbo “changer” que significa trocar, neste caso, trocar de damas e trocar de cavalheiros. Anarriê, também é do francês “en arrière” (todos para trás); e Otrefuá, do francês “autre fois”, que significa outra vez.

     O que não havia na quadrilha francesa e que foi adaptado pelo povo brasileiro, foi a encenação do casamento matuto, neste caso a quadrilha gira em torno desse casamento matuto na roça, em que o noivo é obrigado a casar, sob ordens do pai da noiva, que com uma espingarda apontada para a cabeça dele, o obriga definitivamente a aceitar o casamento.

     O prenúncio das festas juninas, têm início no dia 19 de março, com homenagem a São José, já nesse período se acende fogueiras e soltam fogos, mas são comemoradas com mais frequência a partir do dia 13 de junho, em homenagem a São Pedro (santo casamenteiro),  quando na véspera se comemora o dia dos namorados; o dia de São João, 24, é o dia mais comemorado, tradicionalmente há fogueiras, queima de fogos e impera a comida derivada do milho, inclusive porque é período de colheita. Dia 29 comemora-se o São Pedro que também é muito lembrado nas pequenas cidades do interior. Nesse período, não se toca outra música a não ser o forró. Enfim, o São João tem o mesmo significado para o nordestino, da mesma forma que o Círio de Nazaré para o amapaense.

 

 

 

terça-feira, 14 de junho de 2022

MEU CARO GIBRAN

 


    Sou um frequentador assíduo da Biblioteca Pública Profa. Elcy Lacerda, por várias questões: para ler, para pesquisar, para conversas literárias com os servidores daquela casa, degustando o famoso cafezinho, que por lá, sabem fazer de primeira. Também já fiz vários lançamentos de livros, com total apoio daquela instituição. Lá, conheci o poeta Paulo Tarso, Profa. Socorro Oliveira, como também meu grande amigo e artista plástico, Gibran Santana. Infelizmente não houve tempo de que ele pudesse ilustrar um dos meus livros, mas, sua irmã, Neuracy Santana, me fez as ilustrações da obra infantil “A China é Aqui”. 

     Gibran Santana era uma pessoa eclética, visto que ele, se envolvia com várias áreas de conhecimento. Além de artista plástico, promovia vários eventos, era ligado à música, criava adereços e adornava carros alegóricos no carnaval amapaense, professor de pintura, diretor da Escola Candido Portinari, de 1997 a 2002; como radialista, mantinha um programa na RDM. Participou, com seus quadros, onde fez exposição em vários países do Caribe.

     Sempre estava à disposição de todos que quisessem conhecer a Biblioteca Pública, e principalmente seus projetos, a sala em que trabalhava, etc. Geralmente, ficava numa pequena sala no primeiro andar, com vários livros e ornamentos da cultura negra. Lá, também havia um estranho instrumento de bronze, de onde ele sempre tirava alguns tons. Dizia que era um instrumento indiano.

       Sempre compartilhava comigo, seus projetos artísticos de composição de seus futuros quadros, e gostava muito de pintar a região amazônica, seu mundo, seu lugar. Realizou um ótimo trabalho e deixou sua marca na Guiana Francesa, em Caiena. Tinha muita preocupação em pesquisar, discutir arte, para manter sua estética e a poética de seus quadros. Era um artista que não se limitava apenas à sua arte, mas também debatia política, economia, sociedade, cultura e artes plásticas.

     Ultimamente havia aberto exposição individual no hall da Prefeitura de Santana, cujo título revelava sua preocupação com a região amazônica, intitulada: “Espécies em Extinção da Amazônia”. Na ocasião, a referida exposição foi apoiada pela Lei Aldir Blanc. Dentro desse belo projeto, o artista também ministrou oficina de pintura em várias escolas do município de Santana.

     Os vários quadros que denunciavam sobre a extinção e tráfico de aves, foram: Arar-canindé; Gavião-real; Garça-branca-grande; Mariposa-imperador; Pirarucu; Arara-azul; Tartaruga-da-Amazônia; Onça-pintada; Papagaio-verdadeiro e Tucano-toco.

     Gibran Santana é um daqueles artistas que, por sua atitude como cidadão, se apoiou nas artes plásticas para demonstrar sua preocupação com a floresta amazônica e com o meio ambiente. Trazia consigo, uma ligação intrínseca e telúrica em relação ao seu “eu”, ao seu lugar, ao seu mundo. Merece ser sempre lembrado em nosso meio. Onde você estiver, grande abraço, meu caro amigo Gibran.

domingo, 5 de junho de 2022

ESTÉTICA DE SHAKESPEARE

 


     No teatro grego aristotélico, principalmente no primeiro gênero teatral, que é a tragédia, desenvolvida na sua mais alta concepção, pelos tragediógrafos, Ésquilo, Sófocles e Eurípedes; nela havia uma intrínseca relação entre o homem e os deuses. Tudo era resolvido no final da encenação, quando os deuses desciam por máquinas montadas no próprio teatro. Surgiam como se fossem dos céus! E o mais interessante...! Toda a trama era resolvida pelos deuses, no desenlace da peça, que desciam dos céus à terra, para resolver os problemas dos homens, dos mortais.

     Esse tipo de teatro, conhecido como teatro dramático e, também como teatro aristotélico, perdurou por vários séculos, mas no renascimento esse caminho tomará novos rumos, principalmente com o surgimento de um novo dramaturgo, desta vez chamado Shakespeare. Um dos principais fatores desse autor é que em suas peças, os deuses ficaram de fora, e os problemas passaram a ser resolvidos pelos próprios homens aqui na terra. 

     Ele também colocou em cena a burguesia elizabetana com seus problemas psicológicos, políticos, econômicos e culturais. É o renascimento das cidades, como também o renascimento do teatro, quando ele se tornou um dos mais importantes dramaturgos da Europa. Isto aconteceu especificamente na Inglaterra. Sob o período Elizabetano, viveu Shakespeare de 1564 a 1616.  A Inglaterra encontrava-se num período de crescimento econômico muito promissor. A rainha Elizabeth havia conquistado a hegemonia da sociedade inglesa, que por sua vez, estava submersa em suas contradições éticas, morais e sociais, dos seus valores burgueses.

     Na pequena cidade de Stratford-on-Avon a 80 quilômetros de Londres, Shakespeare passou boa parte de sua vida, onde estudou vários idiomas. Posteriormente, abandona a família e vai para a cidade grande (no caso, Londres) onde, em poucos dias gasta suas economias nos bares e teatros da cidade. Aliás, esse foi praticamente o grande universo de Shakespeare: Stratford/Londres/Stratford.

     Diante de um teatro (provavelmente o Globe Theatre), durante as apresentações, sem mais poder assisti-las, para sua sobrevivência, passa a guardar e cuidar dos cavalos do público que vinha apreciar aos espetáculos. Acontece que depois de certo período passa a trabalhar nesse mesmo teatro. Inicialmente como tradutor de textos (trabalho que lhe deu suporte significante em sua futura obra, tendo em vista que à medida que fazia as traduções, paralelamente ia compreendendo a carpintaria teatral dos referidos textos).

     Com seu crescente conhecimento, conseguiu uma vaga como ator. Por ironia do destino, nesse mesmo teatro se tornaria famoso ao montar seus próprios textos. No Globe Theatre, as peças de Shakespeare foram encenadas a partir de 1599. Como dramaturgo, foi de encontro a paradigmas como as unidades aristotélicas, criando tragédias que não seguiam as unidades de tempo, lugar e ação. Trouxe para o palco uma nova estética, com questões éticas e morais da sociedade inglesa da época.