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segunda-feira, 29 de novembro de 2021

AS EXPRESSÕES

 


     Inicialmente gostaria de começar este debate, refletindo sobre as expressões humanas. Sabemos que todo ser humano possui capacidade de se expressar. Todos possuem e fazem uso, da expressão gestual, verbal, visual, musical e escrita. No entanto, como se deu esse processo? Quais dessas expressões surgiram em primeiro lugar? Ou será que todas apareceram paralelamente? Charles Darwin, disse que a música era anterior à fala. Herbert Spencer, contemporâneo de Charles Darwin, afirmava que não; dizia que a fala havia surgido primeiro. Jean Jacques Rousseau, (filósofo Suíço) afirmava que tanto a fala quanto a música surgiram concomitantemente.

     Apesar do que se pensa em relação a este assunto, é certo que na atualidade, ao observarmos o desenvolvimento de uma criança, percebe-se claramente que a criança recém-nascida utiliza principalmente os gestos e o som, relacionado ao choro. Possivelmente, o homem histórico também tenha passado por esse mesmo processo. Entretanto, eu diria que esse processo deve ter acontecido da seguinte forma: em primeiro lugar os gestos, tendo em vista que isso fica claro ao observarmos a atitude de um bebê; em segundo lugar, a emissão de sons onomatopaicos; em terceiro lugar vem a fala e depois, a escrita propriamente dita.

     A expressão gestual e corporal, ligados à gesticulação foi a primeira forma de expressão. É a primeira relação que a criança tem com sua mãe e com o espaço que a rodeia. Ela passa a responder com gestos, mãos e pés, como também a partir dos sons, com o choro. relacionada à comunicação através do corpo; gestos, dança – e da representação cênica – pantomima, mímica (Artes Cênicas). Acredita-se que a gesticulação foi a primeira forma de expressão e comunicação. Ao que tudo indica, a linguagem dos sinais surgiu antes da linguagem dos sons. Neste caso, o gesto pode ter sido o primeiro elemento da troca de ideias e de compreensão entre dois seres humanos. Essa é conhecida como a fase dos símbolos e sinais.

     Com seu desenvolvimento, essa fase, será sucedida pela Idade da Fala e da Linguagem. Com o aparecimento da forma falada, os gestos foram ficando em segundo plano. A criança passa a se relacionar com sua própria mãe a partir dos sons. Geralmente, quando ela emite o choro, é porque claramente está querendo dizer algo, ou solicitar algo. Portanto, quando quer alguma coisa começa a chorar, fator relacionado à comunicação a partir de ruídos, onomatopeias, e depois a fala propriamente dita.

     Então, desde novinha a criança segue utilizando-se paralelamente, dos gestos e sons, para poder se comunicar com sua mãe. Em seu livro, História Geral do Teatro, Bandeira Duarte afirma que: “O sânscrito conservou, através dos tempos, uma harmonia de sons, uma variedade de articulações, uma riqueza eufônica, que atendem, melhor do que qualquer outra língua, ao movimento natural dos órgãos da voz.

quinta-feira, 25 de novembro de 2021

ODE A ZAIDE SOLEDADE

 


     Professora Zaide era uma pessoa simples, inteligente, compreensiva, batalhadora e que deu grande contribuição à arte e à cultura do Amapá. Entre tantos afazeres, professora Zaide também caminhou pelo teatro. Desde o ano de 1952, que Zaide passou a contribuir com as artes cênicas no Amapá. Como professora, sempre motivava seus alunos com suas aulas de teatro e com a montagem de pequenos dramas, principalmente relativo às datas comemorativas do calendário escolar.

     Em função de ter nascido numa família muito religiosa, professora Zaide viveu seus primeiros momentos no teatro quando representava “As Pastorinhas” na Igreja que pertencia à Paróquia de São José de Queluche em Belém do Pará, quando lá residia. Dramatização que se repetia todos os anos na época do Natal e do dia de Reis. Mesmo no início de sua carreira, a atriz Zaide adolescente de 14 anos sofreu alguns percalços, como ele mesma me contou numa entrevista, em agosto de 2011. Disse-me ela: “- Como eu era muito danada foram pedir para minha avó se eu podia aparecer na peça “As Pastorinhas”, então a Vovó disse que não tinha problema porque era na igreja. Daí, ela foi se informar com o padre qual papel eu iria fazer. Sabe qual era? O satanás. Então Vovó disse: - Deus me livre, não, ela já é muito sapeca. O Padre tentou ajudar dizendo: - Não, minha senhora, não tem problema não, só é uma representação na peça. Foi tanta conversa, até que convenceram a Vovó e eu fui ser o satanás da peça.”

     Efetivamente, professora Zaide Soledade Santos Silva deu continuidade às suas aventuras no teatro desde 1952, passando pelas décadas de 1960, 1970, 1980 e 1990. Notadamente, chegou ao século XXI, firme e forte em plena atividade artística, até sua despedida do plano terrestre. Aos dezesseis anos chegou a Macapá. Sua última participação como atriz se deu, especificamente na novela “Mãe do Rio” produzida pela TV Tucujú – SBT quando foi ao ar no ano de 2006. Durante essas décadas, exerceu várias funções como diretora, atriz, sonoplasta, além de motivar de forma incondicional a nova geração. Maria Borges que contracenou várias vezes com a Professora Zaide nas décadas de 1960 e 1970 era outra atriz muito famosa na época.

     Rizalva Amaral e Honorinha Banhos, foram as grandes incentivadoras para que Zaide continuasse na área das artes, e Zaide obteve dessas duas professoras, o dom de representar. Foi Doninha Banhos, uma das principais incentivadoras da arte de representar para a professora Zaide, visto que também era sua avó. Zaide nos conta que: “A vovó sempre me levava para representar “pastorinhas” e dramatizar pequenos textos lá na sede do Trem, que além do clube propriamente dito lá também funcionava como teatro e cinema.”

     Professora Zaide ministrou aulas em vários municípios do Estado contribuindo com a formação de muitas de nossas crianças. Fez curso de teatro infantil na antiga Escola de Comédia Guanabara quando, na ocasião representou uma bruxa. Participou de curso oferecido pela FUNARTE. Fez parte da Associação do Professores Primários do Amapá – APPA; estudou no IETA e ainda no Núcleo de Ensino de Macapá – NEM que na época pertencia à UFPA, onde obteve seu diploma de graduação. Onde era o antigo NEM, hoje funciona a Universidade Federal do Amapá.

 

segunda-feira, 22 de novembro de 2021

DEUS EX MACHINA

 

                                                  

     Uma das primeiras máquinas criadas e utilizadas no teatro grego foi a conhecida como “ekkyklema”, basicamente, “máquina que roda”. Era um mecanismo que surgia por uma das portas do fundo, avançava até a frente do palco e mostrava abertamente, aos olhos do público, uma nova cena. Também era denominada de “exostra”, derivada de um verbo grego que significa “empurrar para fora”, e era exatamente o que a máquina fazia, empurrava a cena para fora, e cada vez para mais perto do público.

     Em seguida surgiu a “mechane”, literalmente “máquina de voar”; dizem que foi um dos mais importantes mecanismos de ilusão do teatro clássico grego; ela facilitava a descida e a ascensão dos deuses e heróis, além de o fazerem poder pairar no ar. Também era conhecida por “aiorema”, que significa máquina elevatória, e ainda, “geranos”, o mesmo que guindaste. Possivelmente, essas máquinas tenham sido as precursoras do atual urdimento, que facilitam a realização de cenas semelhantes, nos teatros modernos. Em sua História Geral do Teatro, o estudioso Bandeira Duarte, explica que esta máquina: “Consistia em um tronco munido de cabrestante com cabos terminados em gancho, deslizando por uma roldana fixada na ponta do tronco. O corpo do aparelho, segundo tudo indica, devia ficar escondido atrás da “skene” e para tornar os cabos invisíveis, pintavam-nos de preto ou de cinzento”.

     Levando-se em consideração que este recurso não foi utilizado por Ésquilo, e que, o único caso na dramaturgia de Sófocles, em relação ao uso desse dispositivo foi apenas e tão somente na peça “Filoctetes”, acredita-se que a “mechane” foi inventada, exclusivamente, para atender as peças de Eurípedes, tendo em vista que mais de setenta por cento das montagens desse autor, têm seu desfecho com a interferência e aparição de um “deus ex machina”, ou seja, um deus que desce na máquina. Nenhum outro poeta apoiou-se tanto no “deus ex machina”, do que Eurípedes. Consequentemente, há indícios de que essa “mechane” surgiu pela primeira vez, no espetáculo “Medéia”, em 431 a.C., já que não há nenhuma indicação da utilização desse equipamento em textos anteriores, a não ser, o caso isolado de Sófocles em seu “Filoctetes”.

     Em relação a esse assunto, se faz necessário esclarecer que Eurípedes também é conhecido como “o filósofo do teatro”. Ele tinha dúvidas e já desacreditava da religião politeísta grega tradicional. Em sua obra, a religião se tornou exclusivamente objeto de crítica, e ainda como processo direcional de desenvolvimento da fábula. Faz jus, esclarecer aqui, que o objetivo da utilização da “mechane”, na apresentação de “Filoctetes”, por Sófocles, como religioso e temente que ele era, aos deuses gregos, voltava-se de maneira específica, para a piedade e devoção em relação àquelas divindades. Por conseguinte, esta atitude difere plenamente, do que pretendia Eurípedes, que se tornou um crítico irredutível das divindades politeístas.

 

domingo, 14 de novembro de 2021

A MULHER QUE CASOU 18 VEZES

 


                                                         

          Os antecedentes que despertaram na Consolação Côrte em se dedicar à arte e especificamente ao teatro, foi o fato de que ela, morava no perímetro entre a Rua Raimundo Álvares da Costa e Rua Cândido Mendes, exatamente no centro do polo cultural do Amapá naquele momento. Pertinho da sua casa, estavam localizados: a Rádio Difusora de Macapá; a Oficina de Rádio da Difusora (estúdio de gravação); a Escola Barão do Rio Branco (da qual era aluna) e o Cineteatro Territorial. Além disso, na sua rua participava de grupos de dança, dançava quadrilha e organizava festas de São João, enfeitava a rua e preparava pequenas esquetes para apresentar juntamente com os amigos em dias festivos.

    Nessa época, a Rádio Difusora mantinha um potente estúdio de gravação que se localizava onde hoje funciona o Super Fácil, defronte à Escola Cândido Portinari. Foi o diretor Cláudio Barradas quem começou a repassar técnicas de voz e dicção para que Consolação pudesse participar das radionovelas da RDM. Nessa emissora, participou do programa “Clube do Gurí” e atuou em radionovelas. Interpretou o papel de Dorinha (menina paralítica) participando com esta personagem, do início ao fim da novela “Os Médicos Também Choram”, de Mário Lago. Salienta-se que essas radionovelas eram apresentadas ao vivo.

       Pelo menos, por 20 anos se dedicou à arte teatral em nosso Estado. Na década de 1960, com apenas 12 anos de idade já estava atuando como atriz na peça “Pluft O Fantasminha”, texto de Maria Clara Machado e direção de Cláudio Barradas. Nesse espetáculo, ela representou “Pluft” (personagem principal) e dividiu a cena com Vera Lúcia Santos (Maribel) e Carlos Nilson da Costa (Tio Gerúndio). O referido espetáculo foi promovido pela União de Estudantes Secundaristas do Amapá – UECSA.  

     Na década de 1970, Maria da Consolação Lins Côrte, tornou-se referência como uma das melhores atrizes de sua época e principalmente do Grupo Telhado. Saiu do Laguinho para brilhar em todos os municípios do Amapá como atriz principal do espetáculo “A Mulher que Casou Dezoito Vezes”.

     Isso aconteceu, em função de que Consolação sempre frequentava a igreja de São Benedito e foi lá que surgiu na década de 1970, o Grupo de Teatro Telhado. Nesse momento, comungou com seus colegas: Lineu Gantuss, Osvaldo Simões, Juvenal Canto, Cláudio Lobato, entre outros, e viajou para vários municípios do Estado do Amapá como atriz principal do espetáculo “A Mulher que Casou Dezoito Vezes”. Marizete Ramos dirigiu a referida peça. Ainda no Grupo Telhado, ela participou da peça “Antônio Meu Santo”. Consolação Côrte: a mulher que casou dezoito vezes.

 

 

sexta-feira, 5 de novembro de 2021

A CALMA DO CARMO

 


     Nas Universidades Federais, a carreira acadêmica inicia como professor auxiliar, depois professor assistente; em seguida, professor adjunto; depois professor associado; culminando com o último grau da carreira que é o professor titular. Para chegar a ser professor titular é preciso o candidato ser doutor e ter produção acadêmica. Há dois caminhos para se chegar lá; através de concurso público ou a partir da carreira acadêmica.

     O candidato terá que encaminhar processo com memorial descritivo e comprovação de toda sua produção acadêmica. Os memoriais têm longa tradição Brasil, constituem-se em documentos que expõem trajetórias de professores universitários para fins de concursos ou de progressões ao longo das suas carreiras. No caso específico das universidades federais e da progressão para a classe de Professor Titular a ampliação do acesso a esse nível da carreira é a resultante de uma greve do movimento docente. Entre as concessões ao Estado e as conquistas da categoria, essa greve garantiu que todos os professores que alcançarem o nível de Professor Associado IV possam pleitear essa ascensão na carreira horizontal.

     Os memoriais são escritos na primeira pessoa do singular, da mesma forma que as cartas, as confissões, os diários e as memórias. Esse gênero de escrita de si, expõe as razões do sujeito na sua parcialidade e subjetividade. Trata-se de um gênero que produz certo grau de desconforto entre os pesquisadores acadêmicos, uma vez que, por razões de ofício, esses aprenderam a escrever na terceira pessoa do singular ou na primeira pessoa do plural, na pretensão de produzir os efeitos de imparcialidade e impessoalidade.

     Nesta última segunda feira, dia 25, eu tive a honra de presidir a banca do professor Carmo Antônio que, naquela ocasião, com brilhante apresentação do seu memorial acadêmico, conseguiu lograr sua qualificação de Professor Titular. A banca de avaliação esteve sob responsabilidade dos seguintes arguidores:  além de minha presença como professor da UNIFAP e como presidente da referida comissão, também tivemos a participação dos professores: Profa. Titular Maria Cristina Vidotte Tárrega, da Universidade Federal de Goiás; Prof. Titular Fernando Antônio de Carvalho Dantas – UFG; e Pedro Sérgio dos Santos, também da UFG.

     O Memorial Acadêmico escrito pelo candidato, se revelou mostrando sua trajetória desde seus primeiros contatos com as letras nas escolas de Goiânia, além de toda sua vida dedicada à UNIFAP. Sua persistência e paciência para conseguir realizar seus cursos de pós-graduação, demonstra sua coragem e força para não desistir de seus objetivos. Durante sua jornada, buscou um local tranquilo, e encontrou esse porto seguro aqui no Amapá. Desde as últimas três décadas que vem dedicando, com paciência e sapiência às terras tucujus, e divide seu precioso tempo, entre suas atividades jurídicas e como professor da UNIFAP. Carmo Antônio é um exemplo de cidadão para nossa sociedade, uma pessoa que nos passa tranquilidade, equilíbrio e serenidade, por isso, o título deste artigo: “A Calma do Carmo”.

segunda-feira, 1 de novembro de 2021

MÚSICA OU DANÇA?

 


     Do ponto de vista histórico e com os elementos que conhecemos na atualidade, pode-se afirmar que o teatro surgiu na Grécia Clássica, embora pesquisas recentes venham demonstrar que muito antes, os egípcios, os indianos e os chineses já o praticavam. Portanto, não se pode negar que a cultura oriental é muito sedimentada, mas embora o oriente praticasse teatro antes dos gregos, essa prática acontecia primitivamente em forma de rituais religiosos.

     Todos sabem que o teatro é uma arte exclusivamente coletiva, visto que é resultado da união de várias artes, como: dança, música, canto, fala, movimento, literatura, artes visuais, arquitetura, circo, mímica, pantomima, cinema, entre outras. Todavia, na manifestação teatral, encontramos várias formas de expressão: expressão gestual; expressão verbal; expressão visual; expressão musical e expressão escrita. Mas há uma questão essencial, no que diz respeito aos principais elementos que constituíram a base fundamental do teatro grego.

     Em relação a essa questão, fica claro que esse alicerce remoto gira em torno de duas artes distintas: a música e a dança; como também poderia ter sido a fala, levando-se em consideração a atitude de Théspis, considerado o primeiro ator, quando, pela primeira vez, falou no Culto a Dioniso, em primeira pessoa, a seguinte frase: “- Eu sou Dioniso”. Além de ser considerado o primeiro ator, com esse gesto e esse ato, ele também é considerado como o impulsionador da literatura ocidental. No entanto, há muitas controvérsias...!  Enquanto alguns autores defendem a dança, como princípio fundamental da origem do teatro, outros defendem a música. Sabe-se que muitos povos primitivos já praticavam a dança em suas manifestações comemorativas e religiosas, em seu livro “O Teatro Grego”, publicado em 1985, o pesquisador português, Antônio Freire afirma que: “As primeiras sociedades primitivas acreditavam que a dança imitativa influenciava os fatos necessários à sobrevivência através de poderes sobrenaturais, por isso alguns historiadores assinalam a origem do teatro a partir desse ritual.

     Por outro lado, essa forma de cultuar os deuses, em círculo, tem relação direta com os astros e o movimento do universo. Tendo como ponto de partida de que todos os movimentos dos astros são circulares, os egípcios, por exemplo, dançavam em círculo em torno do altar. Por outro lado, com influência dos pensamentos do filósofo Schopenhauer, e do músico Richard Wagner, a música transforma-se num pilar fundamental em Nietzsche, que, em seu livro “O Nascimento da Tragédia”, passa a defende-la como o principal vetor do surgimento do teatro. Ele, reconhece que a música é arte propriamente dionisíaca. E vê na tragédia, um substrato musical-dionisíaco. Acredita ainda, que o teatro e especificamente a tragédia, são frutos da relação entre Apolo e Dioniso, observando que, enquanto o apolíneo está ligado ao sonho, o dionisíaco está ligado à ideia da embriaguez. Desta forma, o impulso criador da arte, poderia emergir da imagem do sonho apolíneo, como também do êxtase dionisíaco. Concluindo que a tragédia grega, consequentemente, aflora da relação incipiente, paralela e intrínseca, do princípio ativo entre o mito de Apolo e o mito de Dioniso.