Uma das primeiras máquinas criadas e
utilizadas no teatro grego foi a conhecida como “ekkyklema”, basicamente,
“máquina que roda”. Era um mecanismo que surgia por uma das portas do fundo,
avançava até a frente do palco e mostrava abertamente, aos olhos do público,
uma nova cena. Também era denominada de “exostra”, derivada de um verbo grego
que significa “empurrar para fora”, e era exatamente o que a máquina fazia,
empurrava a cena para fora, e cada vez para mais perto do público.
Em seguida surgiu a “mechane”,
literalmente “máquina de voar”; dizem que foi um dos mais importantes
mecanismos de ilusão do teatro clássico grego; ela facilitava a descida e a
ascensão dos deuses e heróis, além de o fazerem poder pairar no ar. Também era
conhecida por “aiorema”, que significa máquina elevatória, e ainda, “geranos”,
o mesmo que guindaste. Possivelmente, essas máquinas tenham sido as precursoras
do atual urdimento, que facilitam a realização de cenas semelhantes, nos
teatros modernos. Em sua História Geral do Teatro, o estudioso Bandeira Duarte,
explica que esta máquina: “Consistia em um tronco munido de cabrestante com
cabos terminados em gancho, deslizando por uma roldana fixada na ponta do
tronco. O corpo do aparelho, segundo tudo indica, devia ficar escondido atrás
da “skene” e para tornar os cabos invisíveis, pintavam-nos de preto ou de
cinzento”.
Levando-se em consideração que este
recurso não foi utilizado por Ésquilo, e que, o único caso na dramaturgia de
Sófocles, em relação ao uso desse dispositivo foi apenas e tão somente na peça
“Filoctetes”, acredita-se que a “mechane” foi inventada, exclusivamente, para
atender as peças de Eurípedes, tendo em vista que mais de setenta por cento das
montagens desse autor, têm seu desfecho com a interferência e aparição de um
“deus ex machina”, ou seja, um deus que desce na máquina. Nenhum outro poeta
apoiou-se tanto no “deus ex machina”, do que Eurípedes. Consequentemente, há
indícios de que essa “mechane” surgiu pela primeira vez, no espetáculo
“Medéia”, em 431 a.C., já que não há nenhuma indicação da utilização desse
equipamento em textos anteriores, a não ser, o caso isolado de Sófocles em seu
“Filoctetes”.
Em relação a esse assunto, se faz
necessário esclarecer que Eurípedes também é conhecido como “o filósofo do
teatro”. Ele tinha dúvidas e já desacreditava da religião politeísta grega
tradicional. Em sua obra, a religião se tornou exclusivamente objeto de
crítica, e ainda como processo direcional de desenvolvimento da fábula. Faz
jus, esclarecer aqui, que o objetivo da utilização da “mechane”, na
apresentação de “Filoctetes”, por Sófocles, como religioso e temente que ele
era, aos deuses gregos, voltava-se de maneira específica, para a piedade e
devoção em relação àquelas divindades. Por conseguinte, esta atitude difere
plenamente, do que pretendia Eurípedes, que se tornou um crítico irredutível
das divindades politeístas.
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