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segunda-feira, 22 de novembro de 2021

DEUS EX MACHINA

 

                                                  

     Uma das primeiras máquinas criadas e utilizadas no teatro grego foi a conhecida como “ekkyklema”, basicamente, “máquina que roda”. Era um mecanismo que surgia por uma das portas do fundo, avançava até a frente do palco e mostrava abertamente, aos olhos do público, uma nova cena. Também era denominada de “exostra”, derivada de um verbo grego que significa “empurrar para fora”, e era exatamente o que a máquina fazia, empurrava a cena para fora, e cada vez para mais perto do público.

     Em seguida surgiu a “mechane”, literalmente “máquina de voar”; dizem que foi um dos mais importantes mecanismos de ilusão do teatro clássico grego; ela facilitava a descida e a ascensão dos deuses e heróis, além de o fazerem poder pairar no ar. Também era conhecida por “aiorema”, que significa máquina elevatória, e ainda, “geranos”, o mesmo que guindaste. Possivelmente, essas máquinas tenham sido as precursoras do atual urdimento, que facilitam a realização de cenas semelhantes, nos teatros modernos. Em sua História Geral do Teatro, o estudioso Bandeira Duarte, explica que esta máquina: “Consistia em um tronco munido de cabrestante com cabos terminados em gancho, deslizando por uma roldana fixada na ponta do tronco. O corpo do aparelho, segundo tudo indica, devia ficar escondido atrás da “skene” e para tornar os cabos invisíveis, pintavam-nos de preto ou de cinzento”.

     Levando-se em consideração que este recurso não foi utilizado por Ésquilo, e que, o único caso na dramaturgia de Sófocles, em relação ao uso desse dispositivo foi apenas e tão somente na peça “Filoctetes”, acredita-se que a “mechane” foi inventada, exclusivamente, para atender as peças de Eurípedes, tendo em vista que mais de setenta por cento das montagens desse autor, têm seu desfecho com a interferência e aparição de um “deus ex machina”, ou seja, um deus que desce na máquina. Nenhum outro poeta apoiou-se tanto no “deus ex machina”, do que Eurípedes. Consequentemente, há indícios de que essa “mechane” surgiu pela primeira vez, no espetáculo “Medéia”, em 431 a.C., já que não há nenhuma indicação da utilização desse equipamento em textos anteriores, a não ser, o caso isolado de Sófocles em seu “Filoctetes”.

     Em relação a esse assunto, se faz necessário esclarecer que Eurípedes também é conhecido como “o filósofo do teatro”. Ele tinha dúvidas e já desacreditava da religião politeísta grega tradicional. Em sua obra, a religião se tornou exclusivamente objeto de crítica, e ainda como processo direcional de desenvolvimento da fábula. Faz jus, esclarecer aqui, que o objetivo da utilização da “mechane”, na apresentação de “Filoctetes”, por Sófocles, como religioso e temente que ele era, aos deuses gregos, voltava-se de maneira específica, para a piedade e devoção em relação àquelas divindades. Por conseguinte, esta atitude difere plenamente, do que pretendia Eurípedes, que se tornou um crítico irredutível das divindades politeístas.

 

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