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terça-feira, 27 de junho de 2023

FESTAS JUNINAS

 

 

     Em função das comemorações das Festas Juninas, este final de semana tem sido muito movimentado no nordeste brasileiro e, principalmente nas cidades de Campina Grande na Paraíba, e Caruaru em Pernambuco. Infelizmente apenas essas duas cidades se projetam em nível de Brasil, a primeira com seu Maior São João do Mundo, e a segunda como a Capital do Forró. Claro que essas cidades vendem turisticamente as festas juninas, mas é importante entender que há uma infinidade de outras pequenas cidades que também produzem suas festas de São João, com muito orgulho e muito mais próximo do matuto e do forró de pé de serra.

     Se isto acontece em relação à cultura nordestina, de fato, também ocorre em relação ao norte do Brasil. A maior procissão religiosa com grande concentração de pessoas, acontece no Círio de Nazaré, em Belém do Pará. Festividade totalmente turística, tendo em vista que milhares de pessoas se dirigem ao Pará para participar da mesma. Mas o nortista sabe que há uma imensidão de pequenas cidades espalhadas pela região que também realizam procissões em homenagem à referida santa. Portanto, nosso país conhece, por um lado, os festejos juninos e, por outro, os festejos à Virgem de Nazaré.

     Mesmo sendo na atualidade uma dança popular, é bom lembrar que a quadrilha que era muito difundida na França, foi inicialmente dançada na corte francesa. Em seguida, no campo entre os agricultores e seus familiares. Com a descoberta do novo mundo, os costumes e a cultura europeia vieram juntos. Foi assim que se consagrou as quadrilhas mais antigas que traziam muitas palavras francesas e que foram ao longo do tempo sendo aportuguesadas aqui no Brasil.

       Alavantú, vem do francês “en avant tous” (todos para a frente); changê de damas e changê de cavalheiros, vem do verbo “changer” que significa trocar, neste caso, trocar de damas e trocar de cavalheiros. Anarriê, também é do francês “en arrière” (todos para trás); e Otrefuá, do francês “autre fois”  que significa outra vez.

     O que não havia na quadrilha francesa e que foi adaptado pelo povo brasileiro, foi a encenação do casamento matuto, neste caso a quadrilha gira em torno desse casamento matuto na roça, em que o noivo é obrigado a casar pelo pai da noiva, que com uma espingarda apontada para a cabeça dele, o obriga definitivamente a aceitar o casamento.

     O prenúncio das festas de junho tem início no dia 19 de março, dia de São José, esse é um dia de fundamental importância para o nordestino, porque marcar o dia da cultura e plantação do milho, visto que, praticamente, com mais três meses estarão prontos para a colheita, dias antes do São João. As festas juninas são comemoradas no dia 13, em homenagem a São Pedro, santo casamenteiro, quando na véspera se comemora o dia dos namorados; o dia de São João, 24, é o dia mais comemorado, tradicionalmente há fogueiras, queima de fogos e impera a comida derivada do milho, inclusive porque é período de colheita. Dia 29 comemora-se o São Pedro que também é muito lembrado nas pequenas cidades do interior. Este ciclo só vai se encerrar em 26 de julho, dia de Santa Ana. Nesse período, não se toca outra música a não ser o forró. Enfim, o São João tem o mesmo significado para o nordestino, da mesma forma que o Círio de Nazaré para o amapaense.

 

 

 

 

terça-feira, 20 de junho de 2023

ZEUS NÍSIO

 

 

     Do ponto de vista religioso e mitológico, como Dioniso era seu filho bastardo, para escondê-lo da fúria de Hera, Zeus o levou para o Vale do Nisa e, na ocasião, o entregou às ninfas para que o criassem. Ele pede para que a criança seja criada em sigilo e com roupas femininas, sendo assim, foi criado como mulher, para confundir Hera. As ninfas Asterias, Híades, filhas de Atlas e irmãs de Hías, foram as responsáveis para cuidar da criança. Elas representam as estrelas que orientam as navegações. Dioniso têm sua geração pari passu, no homem e na mulher, visto que passou seis meses no ventre de Sêmele e três, na coxa de Zeus. Criado envolto a esses dois mundos: o mundo dos homens e das mulheres, por muitos, ele foi considerado um hermafrodita. Desta feita, o bebê cresceria e se tornaria conhecido como Dioniso, deus do vinho, da fertilidade e do êxtase. 

     Em Nisa, seu principal educador foi Sileno, conhecido como o “pai dos sátiros”. Quando sóbrio, revelava-se um notável filósofo, porém, vivia ébrio em sua maior parte do tempo. Lá, Dioniso aprendeu a tocar flauta; além de ter conhecido a videira, também se dedicou à ciência que estuda os mecanismos de conservação e produção do vinho. Como o nome Zeus também podia ser escrito Dios, logo, o nome do filho de Zeus passou a ser conhecido como o Zeus de Nisa, o Zeus Nísio, ou apenas Dios, mais Niso, igual a Dioniso. Nisa era uma montanha da Beócia, localizada na região central da Grécia, onde Dioniso foi criado. Lá também havia os Campos Elísios, ou seja, o paraíso grego. Em função de sua enigmática saga, Dioniso se tornou o único Deus do Olimpo, filho de uma mortal. Como se pode observar, Dioniso conheceu várias faces de mundos. Conheceu o mundo dos homens porque foi gerado na coxa de Zeus, e conheceu o mundo das mulheres porque, para escapar de Hera, foi enviado para ser criado como mulher, no meio das mulheres, no vale do Nisa.

     Sendo sempre perseguido, a ira de Hera o fez enlouquecer, transformando-o num bacchos, ou seja, alguém “sem razão.” À vista disso, possivelmente Roma se apossou desse termo e passou a denominar seu Deus do vinho. Baco deriva do grego Bákxos ou Bakkhos, que significa “comer”, e simboliza o fogo que consome e deglute os sacrifícios durante o culto. Sem razão, sem rumo e sem destino, Dioniso passou a ser cigano andarilho, perambulando por vários países como Egito, Síria, Ásia Menor, entre outros. 

       Mas, foi na Frígia que a Deusa Cibele, o purificou e o curou, iniciando-o nos seus mistérios. Na cidade de Tebas, conseguiu introduzir as bacanais. Fato que está amplamente divulgado no texto dramático “As Bacantes”, de Eurípedes. Nas suas aventuras, com seus bacanais, Dioniso, sempre deixava as mulheres enlouquecidas, como ocorreu em Tebas e Argos. Esses cultos, com seus mistérios orgiásticos e orgásticos, se propalaram em várias latitudes até chegar ao Império Romano, que o recebeu com a denominação de Baco.

    

segunda-feira, 12 de junho de 2023

PRIMEIRAS PRATAS

 

 

     Por uma necessidade vital, mas, sem ter ainda, a consciência da reciclagem e da proteção da natureza, visto que na década de 1970 nem se pensava ainda nessa questão do meio ambiente, eu e meu irmão saíamos pelas ruas da cidade, com a perspectiva de coletar materiais como: vidro, cobre, alumínio, ossos de animais, garrafas de refrigerante e garrafas grandes, entre outros materiais, para vendermos em determinados pontos da cidade, com o intuito de gerar renda. Da mesma forma que naquela época, esses materiais continuam tendo seu valor comercial até os dias de hoje. Mas, diferentemente daquele período, hoje, fios de cobre são roubados durante o dia, às vistas da população, para serem comercializados por meliantes. 

     Nessa época, havia em vários locais da cidade de Itabaiana, na Paraíba, comerciantes que compravam essas matérias primas para revendê-las aos famosos caminhões que, uma vez por mês, sempre passavam com o objetivo de recolher todo tipo de matéria reciclável, para levá-los para a indústria de reciclagem, principalmente na cidade do Recife. Entre tantos outros, na entrada da Rua do cochila, defronte à linha do trem, situava-se um desses famosos compradores e receptores desses materiais tão preciosos. Era conhecido como Seu Pedro do Carvão. Sim...! Porque, além de comprar tudo que era reutilizável, ele também vendia carvão vegetal. Seu barracão era coberto de grandes sacos de carvão, que vendia para a população local.

     Seu Pedro do Carvão era muito conhecido na cidade, tinha características sui generis. Todo o tempo estava totalmente preto, em função do pó de carvão que dominava sua cabana, e que ele sempre manuseava com todo zelo. Era uma simbiose, quando se adentrava no recinto, Seu Pedro do Carvão se confundia com sua própria mercadoria, e era difícil identificá-lo, em função do próprio mineral que ele mesmo comercializava cotidianamente. Além do carvão vegetal, que era o seu carro-chefe, ele também comprava todo tipo de material reciclável.

     Depois de um longo dia de coleta de materiais como: alumínio, ferro, osso, garrafas de refrigerante, entre outros, e já no final da tarde, eu e meu irmão, saíamos em direção à Cabana do Seu Pedro do Carvão, chegando lá, o primeiro passo era pesar separadamente cada grupo de recicláveis, em seguida, Seu Pedro, nos pagava, e eu juntamente com meu irmão e alguns colegas nos dirigíamos à bodega mais próxima pra fazer um delicioso lanche.

     Tudo o que se imaginar em relação à busca de um suporte financeiro, eu vivenciei desde meus tempos remotos de criança. Com apenas oito anos de idade, morando no interior da Paraíba, o meu maior objetivo era angariar algum dinheiro para comprar bolo de saia acompanhado de uma garrafa de um refrigerante famoso, feito de caju, conhecido por cajuvita, na pequena bodega do memorável Seu Hilário. Aliás, o que mais havia nas prateleiras daquela venda, era cachaça de todos os tipos e qualidades, sendo as mais populares: Pitú e Caranguejo, que servia para atender as centenas de dependes do álcool que havia na cidade. Felizmente, por muito tempo da minha vida, fiquei só no refrigerante, sendo que na atualidade, deixei de ser adepto do mesmo. Mas, foi mesmo com a coleta de materiais recicláveis que consegui minhas primeiras pratas.

    

segunda-feira, 5 de junho de 2023

UNIVERSIDADE EQUATORIAL

 

                                                                                                                                       

     Conheci Fernando Canto lá pelos idos anos de 1994, do século XX, quando eu assumi uma cadeira de professor no Núcleo Pedagógico Integrado da UFPA. Nosso primeiro contato foi exatamente a partir da cultura, visto que eu havia dirigido com alunos do NPI/UFPA, o espetáculo de revista, Para Esse Barco não Pará, e fizemos uma temporada na Praça Presidente Vargas, no Núcleo de Cultura da UFPA, instalado naquele famoso jardim. Foi nesse encantador espaço que tive minhas primeiras impressões em relação ao Fernando Canto. Como conhecedor, desbravador e eclético, ele exercia no mínimo duas funções naquela casa de ensino, por um lado, técnico, e por outro, professor da disciplina de sociologia.

     Ainda em 1994, resolvi me submeter a concurso para a Universidade Federal do Amapá. Com resultado positivo, e perante a necessidade de finalizar meus diários, tive que solicitar exoneração da UFPA, no finalzinho do ano. Já no dia 2 de janeiro de 1995 tomei posse na UNIFAP, casa à qual, permaneço até os dias atuais. E foi neste mesmo ano que certo dia, encontrei Fernando Canto, já como servidor da UNIFAP. Lhe perguntei: - Ué! Mas...! Você é irmão daquele rapaz que trabalha na UFPA?  Ele me respondeu: - Sou eu mesmo, agora estou aqui como funcionário da UNIFAP. Fiquei espantado por tê-lo visto por aqui, e podermos então, compartilhar a partir daquele momento, numa instituição que passaríamos longos anos.

     Com o passar dessas três décadas venho acompanhando toda a dedicação laboriosa de Fernando, para com nossa UNIFAP e para com o estado do Amapá. Estivemos, pari passu, compartilhando os mesmos sentimentos em relação à nossa querida UNIFAP. Naquela época, nossa universidade era embrionária e continha apenas nove cursos de graduação, com espaços físicos que eram mínimos, mas por outro lado, como ressalva muito bem, o Fernando professor com olhar de poeta: - em suas paredes e seus pavilhões outrora cintilantes, decorados pelo material escuro tanto tempo cobiçado... referindo-se às paredes que eram revestidas de pedras de manganês, e que que representavam a grande riqueza econômica do Amapá.  Era uma época, na qual, docentes e técnicos se irmanavam com orgulho, fixando um olhar no futuro, com o grande objetivo de um dia entregarmos para as próximas gerações, uma grande universidade, como a conhecemos na atualidade.  

     E é nessa hora, nesse ano de 2023, quando nosso tão propalado Fernando Canto, doutor, poeta, professor, cronista, músico, escritor, compositor, instrumentista, presidente da Academia Amapaense de Letras e, grande divulgador da cultura amapaense, em função de seu pedido de aposentadoria, despede-se de suas atividades da Universidade Federal do Amapá, com cabeça erguida e plenamente consciente de sua missão cumprida em nossa instituição de ensino superior. Não só isso...!! este ciclo glorioso, ele fecha com chave de ouro, com a publicação de seu livro intitulado: Universidade Equatorial: uma aventura acadêmica, e que acrescenta humildemente no seu subtítulo, como: uma prestação de contas poética do Servidor Público Federal. Aproveito aqui, e tiro o chapéu para o amigo Fernando, e é por isso que eu sempre digo: Fernando está aqui, ali e acolá... FERNANDO está em todo CANTO.