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segunda-feira, 12 de junho de 2023

PRIMEIRAS PRATAS

 

 

     Por uma necessidade vital, mas, sem ter ainda, a consciência da reciclagem e da proteção da natureza, visto que na década de 1970 nem se pensava ainda nessa questão do meio ambiente, eu e meu irmão saíamos pelas ruas da cidade, com a perspectiva de coletar materiais como: vidro, cobre, alumínio, ossos de animais, garrafas de refrigerante e garrafas grandes, entre outros materiais, para vendermos em determinados pontos da cidade, com o intuito de gerar renda. Da mesma forma que naquela época, esses materiais continuam tendo seu valor comercial até os dias de hoje. Mas, diferentemente daquele período, hoje, fios de cobre são roubados durante o dia, às vistas da população, para serem comercializados por meliantes. 

     Nessa época, havia em vários locais da cidade de Itabaiana, na Paraíba, comerciantes que compravam essas matérias primas para revendê-las aos famosos caminhões que, uma vez por mês, sempre passavam com o objetivo de recolher todo tipo de matéria reciclável, para levá-los para a indústria de reciclagem, principalmente na cidade do Recife. Entre tantos outros, na entrada da Rua do cochila, defronte à linha do trem, situava-se um desses famosos compradores e receptores desses materiais tão preciosos. Era conhecido como Seu Pedro do Carvão. Sim...! Porque, além de comprar tudo que era reutilizável, ele também vendia carvão vegetal. Seu barracão era coberto de grandes sacos de carvão, que vendia para a população local.

     Seu Pedro do Carvão era muito conhecido na cidade, tinha características sui generis. Todo o tempo estava totalmente preto, em função do pó de carvão que dominava sua cabana, e que ele sempre manuseava com todo zelo. Era uma simbiose, quando se adentrava no recinto, Seu Pedro do Carvão se confundia com sua própria mercadoria, e era difícil identificá-lo, em função do próprio mineral que ele mesmo comercializava cotidianamente. Além do carvão vegetal, que era o seu carro-chefe, ele também comprava todo tipo de material reciclável.

     Depois de um longo dia de coleta de materiais como: alumínio, ferro, osso, garrafas de refrigerante, entre outros, e já no final da tarde, eu e meu irmão, saíamos em direção à Cabana do Seu Pedro do Carvão, chegando lá, o primeiro passo era pesar separadamente cada grupo de recicláveis, em seguida, Seu Pedro, nos pagava, e eu juntamente com meu irmão e alguns colegas nos dirigíamos à bodega mais próxima pra fazer um delicioso lanche.

     Tudo o que se imaginar em relação à busca de um suporte financeiro, eu vivenciei desde meus tempos remotos de criança. Com apenas oito anos de idade, morando no interior da Paraíba, o meu maior objetivo era angariar algum dinheiro para comprar bolo de saia acompanhado de uma garrafa de um refrigerante famoso, feito de caju, conhecido por cajuvita, na pequena bodega do memorável Seu Hilário. Aliás, o que mais havia nas prateleiras daquela venda, era cachaça de todos os tipos e qualidades, sendo as mais populares: Pitú e Caranguejo, que servia para atender as centenas de dependes do álcool que havia na cidade. Felizmente, por muito tempo da minha vida, fiquei só no refrigerante, sendo que na atualidade, deixei de ser adepto do mesmo. Mas, foi mesmo com a coleta de materiais recicláveis que consegui minhas primeiras pratas.

    

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