Contatos

palhanojp@gmail.com - palhano@unifap.br

terça-feira, 30 de agosto de 2022

PROGRESSO DO CENÁRIO

 


     No teatro de Dionísio a pista de danças era maior que a de qualquer outro teatro: um círculo completo de 24 metros e nela não existiam cenários. À medida que surgiram os autores trágicos esse modelo foi se complementando. Construindo máquinas para obter efeitos românticos, já com esboço de cenário, ao fundo; aproveitando as cores das vestes e fazendo salientar a beleza das massas no ritmo das danças, Ésquilo deu um passo à frente no arcabouço geral do drama grego. Para Anna Mantovani: “a cenografia existe desde que existe o espetáculo teatral na Grécia Antiga, mas em cada época teve um significado diferente, dependendo da proposta do espetáculo teatral”.

     Sófocles aparece, no mundo da técnica como o criador do terceiro ator. Muitos autores dão também a Sófocles a primazia na criação da pintura cênica. Eurípedes modificou o princípio e o fim da Tragédia, mas a mise-en-scène permaneceu a mesma. O cenário da Antiguidade era fixo, tinha poucos elementos e servia de ornamentação para a cena.

     No cenário clássico grego, havia três portas, as duas laterais serviam para a entrada dos atores coadjuvantes, e a porta central era em especial para a entrada e saída dos personagens principais. Deus ex-machina é uma expressão que significa, o deus que desce pela máquina, e surgiu praticamente, a partir dos textos e espetáculos montados pelo tragediógrafo Eurípedes.

     Em Roma, a cena apresentava uma ordem de colunas superpostas e de arcos, através dos quais se viam os cenários. Havia três tipos de cenários: para a Tragédia as laterais apareciam com edifícios ao fundo, comumente era um palácio ou um templo. Para a Comédia o cenário era ruas e praças públicas, enquanto que para as composições Satíricas resumiam-se em cavernas, bosques, montanhas, em suma, uma paisagem.

          Na Idade Média usavam-se dois tipos de cenários: a carreta onde se mostravam aos espectadores os vários lugares da ação: e o da cena simultânea, na qual se viam os diversos lugares da ação, simultaneamente. Esses cenários terminavam pelas suas extremidades em duas torres: uma representando o paraíso e a outra o inferno. O espetáculo nesse período foi apresentado primeiro nas igrejas e posteriormente nas praças.

     O Renascimento na Itália trouxe os cenários construídos em três dimensões. Mas o grande teórico da construção teatral nessa época foi Serlio que construiu um teatro dividido em duas partes: plateia e cena. É no Renascimento que começa a surgir um novo cidadão. É o homem saindo da Idade Média e entrando na Idade Moderna. Toda Europa passou por uma grande renovação política e social. 

     O teatro que era feito nas igrejas e praças, passa também a acontecer dentro dos palácios e castelos. Os Aristocratas constroem suas próprias salas de espetáculos. E paralelamente entre os palácios, castelos e as ruas, começam a aparecer as primeiras casas de espetáculos daquele tempo.

   

terça-feira, 23 de agosto de 2022

NELSON E SUA OBRA

 


     Tendo como ponto de partida sua profissão de jornalista, Nelson Rodrigues, caminhou para a área da arte, e transformou-se em diretor de teatro e dramaturgo. Sua obra foi de fundamental importância para o teatro brasileiro, em função da denúncia social e moral em relação à alta sociedade carioca, tema que tanto ele se preocupou e divulgou em suas peças. Entre seus textos, vamos dar ênfase neste momento em dois: Álbum de Família, e Vestido de Noiva.

     O texto “Álbum de Família” revela a história de dois primos que se casam e passam a se preocupar exclusivamente com a família e com a educação dos filhos. É uma família que, aos amigos e à sociedade, se mostra tranquila e que tudo ocorre bem. O que não é verdade, sendo que a realidade é outra completamente diferente. Enfrentando um inevitável complexo de Édipo, o filho mais velho enlouquece de desejo pela própria mãe.

     Por sua vez, outro filho volta para casa porque não é capaz de dar amor à sua esposa, seu desejo também pertence em exclusividade à sua mãe. Continuando esses raros problemas de família, o filho mais novo foi para o seminário e lá se mutilou retirando seu órgão sexual. Por outro lado, o pai desvirgina todas as moças da redondeza, pensando na filha. Nelson Rodrigues, com sua obra, enfrentou vários problemas, como dramaturgo. É uma peça que coloca no palco, todas as adversidades e veracidades dos valores da sociedade carioca: a máscara da moralidade da família.

     O outro texto, “Vestido de Noiva”, foi ao palco pela primeira vez, no ano de 1943, o espetáculo causou certo desassossego, principalmente na área crítica, visto que Nelson, criou ações simultâneas em três planos diferentes: o plano da realidade, o plano da alucinação e o plano da memória. A peça em si, também se desenrola e três atos, e não é completamente cronológica, a não ser no plano da realidade. O enredo gira dm torno da degradação do estado de saúde da personagem Alaíde.

     Para entender esta peça, é necessário “a priori” conhecer seus personagens, entre eles: Alaíde, que é a protagonista, ela, casada com um homem importante da sociedade, foi atropelada no início da peça, e a tensão dramática se desenvolve a partir de sua morte. Há ainda, a mulher de véu (Lúcia) que é irmã de Alaíde. Madame Clessi também é outro personagem de muita importância no texto, era uma antiga prostituta de luxo, que foi assassinada por um jovem amante.

     Definitivamente, Nelson Rodrigues deixou suas marcas no teatro do nosso país, tanto é que “Vestido de Noiva” é considerada o marco inicial do teatro moderno brasileiro. No palco, Nelson, coloca em jogo, os valores familiares, valores conjugais, incestos, relação edípica e amorosa entre filhos e mães, questões religiosas relacionados à moral católica, que é resultado da europeização dos costumes, legado que foi trazido para a colônia, pelos descobridores. Nelson Rodrigues foi um dramaturgo do conflito, teve a coragem de denunciar problemas psicológicos e familiares.

quarta-feira, 17 de agosto de 2022

DIA DOS PAIS

 


          Na vida, no ciclo vital, há coisas que não se explicam, apenas se vivenciam. Só isso! O conselho é bom, explica, dirige, indica, dar uma luz, mas, em muitos casos, é imprescindível a experiência (in loco), para podermos entender o sentido da vida. E é assim que a juventude entende. Para ela, muitos dos conselhos dado pelos mais velhos, são tradicionais, ultrapassados e fora de época. Quando não se houve conselhos, um dia aquele jovem irá vivenciar determinadas situações que ele jamais imaginaria que poderia acontecer consigo mesmo. 

     Certa vez, em meio ao meu curso de doutorado, estive em Macapá para dar continuidade à minha pesquisa, era um momento de muito trabalho, mas, muitos dos meus amigos, não me viam como um pesquisador, mas sim, como um simples turista. Para eles, naquele momento, eu estava apenas passeando e turistando nas terras tucujus. A única resposta que eu podia dar, era: - Quando você estiver realizando um doutorado, você jamais vai fazer essa correlação entre um doutorando e um turista.

     Em cada estágio, a vida nos presenteia, com momentos específicos, e é importante respeitarmos cada fase do ciclo vital. Na juventude, não há lugar para determinadas coisas, visto que o jovem pensa definitivamente no presente, não há passado, e poucos pensam no seu próprio futuro. Leva-se em consideração o momento, o viver e curtir a vida. Embora muitos pais não percebam, é em função disso que começa a surgir entre pai e filhos, o conflito de gerações. O pai pensa que o filho não sabe enfrentar a vida, e o filho vê o pai como uma pessoa tradicional e retrógrada.      

     Quando jovem, eu também jamais pensava em ser pai. Mas, há o momento em que se começa a namorar, noivar e depois, casar. Durante todo esse período da vida, alguns questionamentos em relação a esse tema (ter filhos ou não), e isso começa a surgir, principalmente em relação à mulher. Quando meu primogênito nasceu, confesso que ainda não expressava a vontade de ser pai, mas por dentro, meu coração já estava muito ansioso para gerar ter um filho em meus braços.

     Se tornar pai, não é tão simples como se pensa, além da responsabilidade, em todos os sentidos, seu caminhar muda completamente, sua vida se transforma, você começa a aprender com seu próprio filho. Não só isso, muda-se toda estrutura familiar, você se torna pai, sua companheira se torna mãe, seus irmãos se tornam tios e tias, e seus pais se tornam avós. É uma quebra de paradigmas muito grande, que vai refletir em toda a família. Alguns de seus melhores amigos da juventude se tornam padrinhos, compadres e comadres, e terminam se agregando à família.

     Como pai, é importante acompanhar todos os passos de seu filho, estar sempre presente em todos os momentos, compartilhar dúvidas, ensinar, aprender, vivenciar as curiosidades, principalmente na fase infantil. Nas fases da adolescência é natural que o jovem comece a procurar sua turma de amigos e se distanciar um pouco dos pais. Todo esse acompanhamento na família contribuirá para que o adulto tenha vida própria. Todo pai precisa entender que seu filho, não é sua propriedade particular, visto que ele é outra pessoa, terá sua própria personalidade, crescerá, e no futuro terá sua vida própria. Há um ditado chinês que diz o seguinte: primeiramente ensinamos nossos filhos a andar, depois, a voar alto. Concordo plenamente.

terça-feira, 9 de agosto de 2022

ARTE E SUBMUNDO SOCIAL

 


          É ledo engano para quem pensa que o teatro é apenas entretenimento. Ao longo da história, essa arte vem dando sua contribuição em todos os níveis sociais. Além de entretenimento o teatro também informa, educa, contribui nas decisões políticas e sociais, a partir de seus espetáculos políticos que denunciam os problemas da sociedade e do seu meio.

     Entre tantos dramaturgos e encenadores que se dedicaram ao teatro político, podemos enfocar que já na década de 1940 Samuel Beckett fazia isso. Ele retratou questões políticas e psicológicas em sua famosa peça “Esperando Godot”, que reconhecida como um ícone do teatro do absurdo. Aqui ele denuncia o absurdo da condição humana, revelando o trágico da existência. Mostra a angústia crescente do homem em relação ao mundo em que vive.

     Sua obra surge no pós-guerra, nesse contexto do final da Segunda Guerra Mundial. A partir dos personagens Didi e Gogo, ele mostra o homem isolado, perdido, e foca preocupação num simples par de sapato que está muito apertado. Não há espaço geográfico definido. Os personagens estão literalmente no meio de um caminho deserto e sem ninguém, sem nenhuma referência. A única perspectiva é a esperança de encontrar Godot, que também nunca chega.

    O brasileiro Plínio Marcos, um dos dramaturgos mais perseguidos na ditadura militar, em sua obra também faz denúncias sociais. Um de seus textos mais contundentes é conhecido como, “Dois Perdidos Numa Noite Suja”, que também gira em torno de apenas dois personagens, Tonho e Paco. Nesta peça o referido autor denuncia o submundo da periferia do rio de janeiro e tem como fundamento em seus escritos, a inquietação, a perplexidade e os limites do ser humano, no confrontamento da busca de uma vida mais digna, no mundo social capitalista. 

     Não só questões sociais e psicológicas, mas questões tradicionais, morais, familiares, e questões étnicas também são fontes de inspiração para dramaturgos, com o sentido de denunciarem tais atrocidades. Neste caso, citaremos outro brasileiro que em toda sua obra denuncia principalmente as questões morais e psicológicas, que podemos encontrar no texto “Vestido de Noiva”, de Nélson Rodrigues. Este espetáculo, foi reconhecido como o ponto de partida do teatro moderno brasileiro. Aqui, ele enfoca vários problemas contidos no cotidiano da sociedade carioca. Enfoca, questões de incestos, homicídio em famílias ricas, entre outros assuntos.

     Na França, vamos encontrar tais denúncias na área das artes plásticas, a partir da obra de Toulouse Lautrec. Como Plínio Marcos, Toulouse vivenciou vários cabarés de Paris, e como era pintor, se transformou no principal artista, que a partir da pintura de vários cartazes de shows desses cabarés, denunciou o submundo da cidade Luz. Sua obra revelou este submundo, que a moral social de Paris escondia dos seus próprios olhos. O que se pode observar entre esses dramaturgos e artistas é querer contribuir com a própria sociedade, em busca de dias melhores. 

    

segunda-feira, 1 de agosto de 2022

ROMEU E JULIETA

 


     Shakespeare, nasceu em 26 de abril de 1564, e faleceu em 23 de abril de 1616. Poeta e dramaturgo inglês, reconhecido como o maior escritor do idioma inglês e um dos mais influentes dramaturgos do mundo. Apesar da distância temporal, muitas de suas peças continuam sendo estudadas e encenadas em vários países, nos dias de hoje.  

     Portanto, de sua verve, há duas obras mais conhecidas. Quando se fala em Romeu e Julieta, essa famosa história de amor, estamos nos remetendo à dramaturgia de Shakespeare. Por outro lado, quando ouvimos ou pronunciamos a frase: “Ser ou não ser, eis a questão”, (no original inglês: To be or not to be: that’s the question), também estamos citando a obra de Shakespeare, no caso, a peça “Hamlet”.

     As raízes da peça Romeu e Julieta são muito remotas, têm-se notícia de uma antiga história grega do século III, quando, na ocasião, uma mulher recorre a uma poção, à qual, simula a morte para escapar a um segundo casamento. Mas, esse tema, realmente, vai se tornar popular no renascimento. Entretanto, há notícia, da peça, “Il Novellino”, de autoria de Masuccio, do ano de 1476. Em “Ritrovata di Due Nobili Amanti”, de 1530, também revela uma história em que apresenta muita semelhança com a de Romeu e Julieta.

     Durante o Império Romano, quando a mesma dominava o Egito, há uma verídica história de amor, que aconteceu entre Marco Antônio e Cleópatra. Acontece que Marco Antônio (Capitão romano) em suas idas e vindas ao Egito, se apaixonou por Cleópatra, e em função disso, houve um grande e duradouro romance entre eles. Mas, pressionado pela política e para ser leal à Roma, Marco Antônio teria que esquecer, e por fim naquele belo romance, com a obrigação de deixar definitivamente sua amada, Cleópatra.

     Entrementes, em luta, no campo de batalha, Marco Antônio recebe a notícia de que Cleópatra havia se suicidado. Ele caiu numa tristeza profunda, e em função disso, comete suicídio com sua própria espada. No entanto, antes de morrer, pede para ser levado até sua amada Cleópatra, e morre em seus braços. Dessa forma, passando por este difícil momento, e frente a esse grande desespero, Cleópatra também comete suicídio, em seu caso, com a picada de uma cobra venenosa.

     Percebemos, no entanto, que Shakespeare busca em histórias mais antigas à sua época, um apoio para o desenvolvimento de sua tão badalada peça, que é “Romeu e Julieta”, e que vem sendo montada por vários grupos de teatro no mundo. Não só isso, com sua obra, Shakespeare, também quebrou vários paradigmas. Além de retirar os personagens “deuses”, de seus textos, ao mesmo tempo ele traz para o palco Elisabetano, a própria sociedade Elisabetana. A partir dele, não são mais os deuses que irão resolver o problema da trama, como acontecia no teatro grego antigo. Com o renascimento das cidades, os próprios homens passaram a resolver seus problemas aqui na terra. E é por isso que, em “Romeu e Julieta”, nenhum deus desce para resolver tão questionado problema amoroso, mas, são os dois amantes que resolvem por si mesmos, se suicidarem na sua tragédia, como forma de resolverem seus próprios problemas. Foi o que decidiu Shakespeare.