A Companhia Supernova juntamente com o
Grupo Eureca estão apresentando nesse mês de fevereiro, todos os finais de
semana no Teatro Porão do SESC, a peça “Novo Amapá”. O espetáculo é justa homenagem
àqueles que vivenciaram essa grande tragédia no rio Cajari.
O texto proveniente de uma pesquisa
realizada por Joca Monteiro, traz à tona detalhes e fatos importantes sobre
esta viagem que para muitos se tornou, inadvertidamente, sem volta. Tendo por
base notícias de jornais o estudo de Joca Monteiro resultou num texto
informativo e didático, o qual destaca com ênfase momentos cruciais do fato
ocorrido com o barco novo amapá no ano de 1981.
Sem se utilizar de cenas fortes, pesadas,
sinistras, dramáticas e trágicas, com gritarias e desesperos, Jones Barsou,
(que assina a direção), resolveu seguir outro caminho e transformou um texto
funesto numa mise en scène poética e
lírica permitindo assim um espetáculo muito mais suave aos olhos do público.
O cenário simples é composto por painéis
transparentes centrais e laterais que sugerem contrastes entre o claro e o
escuro o que denota certa movimentação dos passageiros em vários momentos da
viagem. Em certas cenas esses painéis parecem sugerir o uso das sombras, o que
não é aproveitado na encenação. Ao fundo há um mastro com escadas de cordas que
são comumente usadas nos barcos que trafegam nos rios da Amazônia.
Projeções de fotografias reais do acidente
com o Novo Amapá complementam o cenário dando um enfoque cinematográfico,
recurso que foi utilizado pela primeira vez por Piscator que em meados do
século XX utilizava imagens e projeções cinematográficas de forma extensiva
para complementar o espetáculo. Junto com Bertold Brecht, Piscator foi um dos
principais fundadores do teatro épico.
Fica claro a necessidade de maior empenho
no que diz respeito à parte musical, inclusive na cena em que a atriz Jéssica
Palmeirim assume o violão como acompanhamento de outro ator que canta seu
lamento. Apesar de ser uma viagem noturna em barco da região amazônica senti
falta da presença de redes, que antes poderiam criar uma composição colorida e
depois do naufrágio, uma composição escura a partir de recursos técnicos
específicos.
É um espetáculo de discussão política que
gera debates sobre a exploração do homem pelo homem tendo o capitalismo como
modelo financeiro. Complementa-se com a direção de arte de Paulo Rocha e produção
de Marina Beckman. É uma boa oportunidade para quem quer saber um pouco sobre o
naufrágio do barco novo amapá. Não percam.