Contatos

palhanojp@gmail.com - palhano@unifap.br

segunda-feira, 18 de maio de 2015

O CURSO DE TEATRO DA UNIFAP E A II SEMANA ACADÊMICA



     Em 1994 quando aqui cheguei para realizar prova de concurso público para professor do Magistério Superior, trouxe comigo uma missão: a de implantar o Curso de Licenciatura em Teatro na Universidade Federal do Amapá. Ao longo das últimas três décadas muitos foram os eixos que nortearam a reflexão da formação docente na área do teatro. Porém, atualmente o que centraliza os entendimentos é a qualificação em nível de ensino superior que perpassa pela emergente necessidade de ampliar a discussão acerca das reflexões e possibilidades didáticas e pedagógicas que o espaço acadêmico provoca na contemporaneidade e as circunstâncias e convergências reflexivas, sensorial e estética que abriga a linguagem teatral, sobretudo na promoção e formação dos sujeitos de modo geral.
     Para o curso de Teatro da UNIFAP alinhei três eixos para propor a elaboração do Plano Político Pedagógico: primeiro: compreensão do espaço de formação como produtor de saberes em vista a articulação entre investigadores da ciência educativa, estética e teatral; segundo: aspectos históricos e culturais do espaço do teatro nas sociedades; e terceiro: interesse com as demandas contemporâneas, enfoques midiáticos e tecnológicos que a teatralidade cênica intervém a partir de sua concepção epistemológica.
     Em busca de efetiva articulação busquei nas percepções de formação e produção teatral um redimensionamento amplo, entremeadas pela cognição, processos científicos de experimentação, sobretudo balizados por um sentido e sentimento estético em perspectivas plurais da construção de conhecimentos/saberes. Esperando que assim os espaços da universidade e os momentos articulados desse espaço/tempo possam desterritorializar modos de aprender e modos de ensinar aceitando momentos entre o pensar e o realizar.
     Assim, elaborar atitudes participativas, ouvindo o clamor da comunidade amapaense que há muito tempo esperava um curso dessa competência é de todo modo perceber e compreender aqueles que escolheram a licenciatura em teatro como futuros professores intelectuais, contínuos pesquisadores e produtores de cultura.
     É com este entendimento: filosóficos, conceitual, sobretudo de um sentimento humanístico que a organização desses eixos norteou o projeto. Por outro lado, atende a complexidade que a sociedade contemporânea vive, onde exige e requer outros trânsitos para se perceber, entender, aprender, ensinar e fazer teatro no espaço da formação docente. Aqui faço, uma ressalva acerca desses trânsitos, assumindo novos desafios conceituais, atentando para que o ensino superior de teatro seja desvinculado das ideias de aprendizagens e ensino como mera transmissão de conhecimento.
     Escolher, persistir e seguir tais concepções é acolher desafios que não paralisam o pensar, nem a ação acadêmica, ao contrário, ganham força e dinamizam o processo de (re) pensar as licenciaturas, consolidando a qualidade da formação de professores em teatro. Contudo, e continuamente deverei rever metas e estabelecer tanto quanto forem necessárias; ideias e percepções que mesmo na provisoriedade ajudem a construir outras aprendizagens.
     O Curso de teatro da UNIFAP foi aprovado pelo Conselho Superior em 12 de novembro de 2013. A primeira turma iniciou em março de 2014. Neste ano realizamos a I Semana Acadêmica do Curso de Teatro; o I Seminário Científico em Artes Cênicas, lançamentos de Livros, Ciclos de Palestras entre outros eventos. Atualmente estamos com duas turmas. Próximo concurso público para professor, teremos sete vagas para o curso de teatro. Estão sendo encaminhados e estudados a construção de dois teatros; um em estilo italiano e outro de arena.
     Estamos promovendo no período de 18 a 22 do mês em curso, a II Semana Acadêmica do Curso de Teatro com vasta programação: no dia 18 às 09h, palestra, “O Setor de Cultura do SESC”, com Genário Dunas; às 10:30 apresentação do espetáculo “Os Magníficos” com a Companhia Sem Teto; no dia 19 acontecerá a mesa redonda Perspectivas do Ensino do Teatro no Amapá com participação de convidados da SEED, SEMED, SECULT, FUMCULT e Rede Particular de Ensino; dia 20 a programação continuará às 9h com Workshop  “Contação de História”, com o ator e contador de histórias Joca Monteiro; dia 21: Palestra “Amadeu Lobato e a Formação de Atores no Amapá”, com o diretor de teatro Amadeu Lobato;  em seguida a palestra “O Reggae, origem e vertentes” com o Dj Duffnaldo; dia 22; Palestra com o diretor Paulo Alfaia sobre “A Experiência do Grupo Desclassificáveis; em seguida a apresentação do espetáculo “Cabaré, Anjos em Crise.com”.

     O II Encontro Acadêmico do Curso de Teatro será aberto a alunos de graduação e à comunidade em geral com direito a certificado. Este evento é uma realização do Curso de Teatro com apoio do Grupo de Pesquisa em Artes Cênicas/UNIFAP e do Núcleo Amazônico de Estudos das Artes Cênicas/NACE/UNIFAP. A comissão organizadora é composta pelo Prof. Dr. Romualdo Palhano e pelos acadêmicos: Aninha Martins, Larissa Macedo, Carla Thais, Jayne Alves e Jhou Santos. 

domingo, 3 de maio de 2015

DISNEY SILVA - De Artista a Secretário de Cultura


     Disney Furtado da Silva é um caboclo do Norte que tem dedicado sua vida à arte e à cultura do Estado do Amapá. É carnavalesco, produtor cultural, dramaturgo, ator e diretor de teatro. Escreveu entre outros, o famoso texto “Bar Caboclo”, que o transformou em espetáculo muito conhecido dos amapaenses. Seu primeiro contato com as artes cênicas foi em 1978, quando iniciou sua carreira no extinto grupo de teatro do SESC/AP, do qual, participou pelo menos por dois anos seguidos até a extinção do próprio grupo. Nessa época, também participou de oficinas promovidas pelo antigo MOBRAL.
     Cinco anos mais tarde, (em 1983), juntamente com alguns amigos como: Raimundo Conceição, Jackson Amaral, Sol Pelaes, Rechene Amim, Marcio Bacelar, entre outros, fundou o Grupo Língua de Trapo que ainda continua em plena atividade. No referido grupo, participou como ator das seguintes peças: “Repiquete”, de Francisco Carlos; “Paixão de Ajuricaba”, de Márcio Souza, entre outros.
     Intensa é sua contribuição com a cultura, com a arte e principalmente com o teatro no Amapá. Ao longo de sua carreia, além do Língua de Trapo ajudou a fundar outros como, por exemplo, o “Grupo de Teatro da Secretaria de Promoção Social” do governo do Estado, quando participou das encenações de “Pluft O Fantasminha” de Maria Clara Machado e ainda “Beatles e a Revolução Social”.
     Sua experiência na vida prática dedicada ao teatro o ajudou no seu amadurecimento e com este suporte resolveu escrever peças e se tornar também dramaturgo. E é ai que surge seu primeiro texto, o renomado “Bar Caboclo” que foi apresentado pela primeira vez em 1991. Depois do sucesso da montagem desse espetáculo, resolveu definitivamente escrever e encenar seus próprios textos.
     E foram sendo escritos e encenados: “Seu Pinto, Uma Filosofia de Vida”; “No Tempo da Ditadura”; “Pecado”; “Triângulo”; “Os Cabuçús no Bar Caboclo”; “Do Oiapoque para o Brasil, A História Que Ninguém Viu”; “Nazareno, O Revolucionário”; “O Bug do Zé Lixão”, além dos infantis “A Turma da Fanfarra”; “Surpresa de Pompom” e “A Casa Mal Assombrada”.
      Disney Silva é amapaense, servidor público do quadro do Ex-Território Federal do Amapá. Tem formação em Marketing e Comunicação pela Faculdade SEAMA e Administração e Marketing pela FAMAP. Foi Diretor do Teatro das Bacabeiras e Vice Presidente da Confederação Brasileira de Teatro – CBT. É Ex-Presidente da Federação Amapaense de Teatro Amador – FATA. Há mais de 25 anos é carnavalesco e já contribuiu com as seguintes escolas de samba: Maracatu da Favela; Grêmio Recreativo Império de Samba Cidade de Macapá; Unidos do Buritizal; Embaixada de Samba da Cidade de Macapá, campeã no ano de 2007 e Piratas da Batucada, campeã em 2012.      No Amapá, promoveu o I e II Festival de Teatro no Meio do Mundo e o Festival Nacional de Teatro, que aconteceu em 2008.
     Há mais de 40 anos que Disney Silva vem se dedicando ao teatro e à cultura no Amapá. Entre os espetáculos montados pelo Grupo Língua de Trapo poderíamos destacar: “Pecado”; “A Saga de Seu Pinto” e “Bar Caboclo”.  “Pecado” (que esteve em cartaz no ano de 1998) é um texto que focaliza-se especialmente no pecado religioso. No espetáculo, o tema poderia ter sido mais explorado pelo autor. Segue a mesma linha do “Bar Caboclo”, mas consegue conquistar a atenção do público.
     “A Saga de Seu Pinto” (em cartaz em 2007) era um espetáculo de sessenta minutos em que o texto nos remete a problemas conjugais criados, rejeitados e ao mesmo tempo aceitos no subsolo e na escuridão moral da sociedade burguesa contemporânea. É ligeiramente popular em função de sua linguagem clara e elementar. Portanto, encontra-se pleno de mexericos, intrigas e bisbilhotices, e tenta enfocar problemas psicológicos e emocionais de relacionamentos amorosos desgastados pelo tempo.
     Não se pode discutir que seu trabalho mais famoso é o espetáculo “Bar Caboclo” com texto do mesmo nome. Mesmo tendo sido produzido antes, há vinte anos que vem sendo apresentado, inclusive é um dos únicos trabalhos de teatro do Estado que consegue lotar o Teatro das Bacabeiras. O texto foi criado a partir de pesquisas sobre um bar que realmente existiu nas docas da antiga cidade de Macapá. Era um dos mais famosos prostíbulos da década de 1960 e localizava-se na esquina da Avenida Mendonça Junior com a Rua São José.
     Constitui-se de um espetáculo de expressão para nossa sociedade, visto que resgata esse famoso bar que outrora existira em nossa cidade. O texto não enaltece heróis, como é de costume, mas revela a vida de pessoas simples, quietas e discriminadas pela sociedade como pobres, prostitutas, lésbicas, loucas, gays, gigolôs, anciãos, idosos, crianças e negros.

     Um exemplo disso está na própria personagem “Chicona”. Vários desses adjetivos está nesse exemplo típico de mulher negra, anciã, prostituta, gorda e pobre. Apesar de se direcionar ao Bar Caboclo, o texto traz à tona discussões relacionadas às questões sociais e antropológicas referentes à inclusão social. Por isso, o mesmo continua atualizado, visto que esta é uma das questões que tanto se discute nos dias de hoje. Disney Silva é um cara batalhador e dedicado às artes em nosso meio, e foi em função do seu trabalho que passou de Artista a Secretário de Cultura do Estado do Amapá.