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terça-feira, 26 de dezembro de 2023

UM FELIZ NATAL

 

 

          Apesar de tudo que vem acontecendo no mundo e, principalmente nas guerras que nunca chegam a um fim, como no caso da guerra entre Rússia e Ucrânia, como também, entre Israel e o Hamas, é fato que há uma necessidade maior de termos que olhar sempre para o futuro. De qualquer forma, agradecermos pelos que ainda estão conosco, desbravando essa saga do caminhar e do enfrentar as vicissitudes da vida. Não é hora de desanimar! Estamos no final de mais um ano, que foi difícil para todos nós. Mas chegou o momento de refletirmos sobre tudo isso. Claro...! Também precisamos comemorar e, cada um a seu modo, abraçando seus familiares e amigos. 

     O maior desejo de todas as pessoas, é saber da conquista de seus objetivos, de seus desejos, de sua vida. O Natal nos traz muita alegria a cada final de ano. É um ótimo momento de reflexão sobre um pequeno espaço de tempo que passou, ou seja, pelo qual nós passamos com vida, ilesos. Esse tempo refere-se ao espaço de praticamente 365 dias consecutivos, ou seja, um ano.

         Sem esquecer as modificações que aconteceram interiormente em nós mesmos. Às vezes algum problema de saúde, questões profissionais e tantos momentos difíceis que passamos. Mas, também foi um tempo em que nos trouxe muitas alegrias.  Alegria de ter lançado livros, alegria de ver o filho ser aprovado na escola, alegria de estar vivendo momentos felizes com quem se ama, entre outras sensações de alívio que necessitamos.

     O Natal é uma festa comemorada em todo o mundo; quantos de nós está falando a mesma língua? FELIZ NATAL, FELIZ NAVIDADE, JOYEUX NÖEL, MERRY CHRISTMAS, são alguns dos recados mais difundidos neste natal em todo o mundo. E assim vamos nos confraternizando, cada país do seu modo, cada povo de acordo com suas crenças e suas culturas, apesar deste momento de tanta guerra.

     Natal significa nascimento, nascimento de Jesus que tanto batalhou para a igualdade do povo do seu tempo e da atualidade. Verdadeiro revolucionário de sua época. E hoje, e sempre comemoramos em função deste símbolo de ser humano.

     Todo natal nos traz esperanças de um mundo melhor, de alegria, de união entre os povos. Refletimos sempre para o bem da humanidade. Como é bonito todos juntos com suas famílias, revendo uns aos outros, pessoas que há tempo não mais havíamos visto, tudo isto faz parte do semblante natalino.

     Tempos atrás ficávamos felizes ao receber um cartão de natal pelos correios, mas, hoje os meios tecnológicos como as redes sociais em muito contribuem para uma aproximação das pessoas, mas, ainda deixa um vazio em relação à vida presencial quando você toca e abraça seu amigo ou amiga de tempos antanho. É a vida...! É a vida...! É a vida...! Desejo a todos que conheço e aos que não tive a oportunidade ainda de conhecer, tudo de bom neste natal, muita saúde, paz e que tenhas conquistado seus objetivos neste ano que está terminando. Para todos UM FELIZ NATAL.

 

                                                                                                    

 

segunda-feira, 18 de dezembro de 2023

ETIMOLOGIA E TEATRO

 

 

     O teatro surgiu na Grécia antiga há quase três mil anos. Durante toda a história do homem há uma relação intrínseca entre a vida e a arte. Relacionaremos em seguida algumas palavras ligadas ao teatro e suas principais origens.

     A palavra TEATRO vem do Latim theatrum, do Grego theatron, que significava literalmente “lugar para olhar”, de theasthai, “olhar”, mais tron, sufixo que denota “lugar”. O sentido de “lugar onde transcorre a ação” se aplicou também aos feitos militares, daí o nome “teatro de operações” para uma área onde há luta armada.

     ANFITEATRO também vem do Latim amphiteatrum, do Grego amphiteatron, que significa “local de espetáculos duplo, com espectadores dispostos de ambos os lados do palco”, de amphí-, “dos dois lados”, mais theatron, local de onde se vê. Inicialmente os teatros possuíam assentos apenas no lado voltado para o palco, seguindo a arquitetura do teatro grego. É ainda o caso da maioria ou todos os nossos teatros atuais. Os atuais estádios de futebol são hoje os nossos verdadeiros anfiteatros.

     O termo COMÉDIA vem do Grego komoidia, “espetáculo divertido, comédia”, de komodios, “cantor em festas”, de komos, “festa, farra”, mais oidos, “poeta, cantor”.  Este termo passou por uma fase em que era usado para designar “poema narrativo”, o que é a razão de o livro de Dante Alighieri, “A Divina Comédia”, ter esse nome.  

     TRAGÉDIA deriva do Grego tragoidia, que significa “peça ou poema com final infeliz”. Aparentemente deriva de tragos, “bode”, mais oidea, “canção”. Ao pé da letra poderíamos dizer “a canção dos bodes”, e isso viria do drama satírico, onde os atores se vestiam de sátiros, com suas pernas cabeludas e chifres de bode. 

     Da mesma forma, DRAMA também deriva do Grego drama, “peça, ação, feito” (especialmente relativo a algum grande feito, fosse positivo ou negativo), vem de drao, “fazer, realizar, representar, lutar”.

     PLATEIA – ao que tudo indica, deriva do Grego platea, que significa “largo e plano”. Inicialmente designava o lugar onde ficavam os músicos e se estendeu depois, em prédios diferentes dos teatros gregos, à parte onde tomam assento os espectadores.

    PALCO – do Italiano palco, “estrado, tablado”, do Lombardo palko, “trave, viga”. Seu sentido se estendeu depois ao de “tablado sustentado por vigas” e mais tarde a “estrado ou palco designado para apresentações artísticas”.

     CENA – do Latim scaena, “palco, cena”, do Grego skena, de mesmo significado, originalmente “tenda, cabana”, relacionado a skia, “sombra”, pela noção de “algo que protege contra o sol”.

     Para quem trabalha na área do teatro conhece bem os termos acima, o mais interessante é entender a origem dessas palavras, para a partir daí, entender o porquê do uso corrente e atual das mesmas, pelos profissionais da área teatral.

 

segunda-feira, 11 de dezembro de 2023

TEATRO FILOSÓFICO

 


                     

     Aristóteles considerava que era a ação e não o caráter, o ingrediente básico do drama, e que o caráter está subordinado às ações. Um dos princípios mais famosos da Poética, se refere à purificação das emoções através da piedade e do terror. Aristóteles deu nome de “peripeteia”, (peripécia), à intromissão de um acontecimento repentino que afeta a vida do herói e conduz a ação numa nova direção. O que é complementado com a “anagnorisis” ou cena de reconhecimento, como se fosse o encontro inesperado de amigos e inimigos.

     Aristóteles teve a vantagem de estudar o teatro logicamente, no entanto não conseguiu realizar tal façanha em nível sociológico. Em sua obra não fez menção aos problemas sociais ou morais que foram tratados pelos poetas gregos. Por outro lado, percebe-se que Aristóteles é a bíblia da técnica dramática.

     Já Hegel desenvolveu um método dialético que concebe a lógica como uma série de movimentos em forma de teses, antíteses e sínteses: a tese é a tendência original, o estado de equilíbrio; a antítese é a tendência oposta ou perturbação do equilíbrio e a síntese é a proposição unificadora que inaugura um novo estado de equilíbrio.

     A contradição, disse Hegel, é a força que move as coisas e não há nada que não esteja se transformando, que não ocupe uma posição intermediária entre ser e não ser. Hegel substituiu o método estático de investigação, pelo dinâmico. Enquanto Hegel acreditava num universo racional, Schopenhauer considerou a vontade emocional e instintiva como base para suas reflexões.

     Portanto, para que haja representação se faz necessário a contradição, e é por isso que o drama e a tragédia revelam o protagonista e o antagonista, não fosse isso, a ação não se desenrolaria. A psicologia shakespeariana foi uma clara ruptura com a Idade Média, e expressava diretamente as responsabilidades e relações que caracterizariam o novo sistema econômico. Sendo assim, ele retira de cena o deus que descia nas máquinas gregas, e nas suas tragédias, quem tem que resolver os problemas terrestres são os próprios homens, mesmo que tenha que resolva de uma forma trágica, como se dá em Romeu e Julieta.

     Para analisar o método do artista, o crítico deve possuir um método, um sistema de ideias. Sendo assim, as tragédias de Corneille e Racine estavam baseadas na filosofia social da aristocracia. As obras desses dois autores, é a dramatização do absolutismo, período do reinado de Luís XIV. Aqui se pode observar que o drama teve seu valor social, deve tratar de gente cuja posição social na vida e cujas atitudes sejam compreensíveis para o público. De toda forma, as leis dessa técnica são psicológicas e só podem ser compreendidas penetrando na mente do dramaturgo.

 

 

 

segunda-feira, 4 de dezembro de 2023

Teatro e Modernismo

 


     O teatro de entretenimento chegou ao seu auge com grande número de casas de espetáculos como: teatro, cafés-concerto, circos, entre outros. Eram tipo de apresentações que ofereciam muita descontração para o público presente, além de poderem beber e comer à vontade. Era época de intensa movimentação de espetáculos e públicos que vinham ver as meninas cantando e dançando com muito brilho e felicidade. As revistas de ano, vaudevilles, operetas e mágicas atraíam muita gente às casas de espetáculos.

     Ao longo desse período, a revista de ano vai se modificando; se transforma na revista carnavalesca, que foi perdendo seu enredo de retrospectiva, desembocando num espetáculo com quadros estanques. Um dos fatores em que começa a acender a luz do pré-modernismo é o surgimento do empresário teatral Paschoal Segreto. Antes dele, a grande maioria dos empresários também atuavam nos espetáculos de suas próprias companhias. Esse novo tipo de empresário começou a ter um olhar diferente em relação às produções de seu elenco. Ele apenas produzia, não se envolvia diretamente com o espetáculo.

     A partir do início do século XIX, o teatro brasileiro concentrou-se mais praticamente na cidade do Rio de Janeiro. Distante das propostas de vanguarda, o teatro vinha se preocupando muito mais em atender a massa com um produto comercial e que gerasse dinheiro. Enquanto o teatro estava tentando imitar o cinema, nascia o palhaço Piolim, que foi considerado como artista que representava a autêntica arte brasileira, em função da sua facilidade de improvisação.

     O Rei da Vela, escrita em 1933 e publicada em 1937, é uma das principais peças do modernismo. Nela, Oswald de Andrade revela a exploração capitalista, mostrando as transações bancárias como meio de enriquecimento fácil, e a dependência do país em relação às grandes potências do mundo moderno. Mário de Andrade, um dos idealizadores da Semana de Arte Moderna, em muito contribuiu para o desenvolvimento do teatro, numa perspectiva de esquecimento do passado, e a busca de um mundo moderno. Ele se dedicou a escrever sobre a mudança da arte antiga para uma arte moderna.

     De qualquer forma, infelizmente o teatro não foi tão representativo no período da Semana de Arte Moderna de 1922, fato que aconteceu mais especificamente com as artes visuais. O maior representante do Teatro Moderno viria a acontecer, sem dúvidas, basicamente, no ano de 1943, com a montagem da peça Vestido de Noiva, de Nelson Rodrigues.

     Vestido de Noiva, foi montada pelo grupo Os Comediantes e teve sua estreia em 28 de dezembro de 1943, que aconteceu no Teatro Municipal do Rio de Janeiro, com texto do então desconhecido Nelson Rodrigues, tendo cenários de Santa Rosa e direção de Ziembinski. Assim, pode-se ter como ponto de partida que o elenco de Os Comediantes, como também o autor, Nelson Rodrigues, o diretor, Ziembinski e o Cenógrafo Santa Rosa, estavam com decisões certas e no lugar certo. Não é à toa que, Vestido de Noiva é reconhecida como o marco fundamental do teatro moderno brasileiro.

segunda-feira, 27 de novembro de 2023

FILOSOFIA E ESTÉTICA

 

 

     Atualmente lecionando a disciplina Estética Teatral no Curso de Licenciatura em Teatro da Universidade Federal do Amapá. Curso do qual sou o mentor, me veio à mente esclarece um pouco sobre o referido tema. E gostaríamos de enfocar alguns filósofos que contribuíram imensamente para o pensamento sobre a estética.

     Pitágoras se apoiava no formalismo tendo o número, a medida e a perfeição geométrica, como ponto de partida. De qualquer forma, Platão também se apoia em Pitágoras em relação ao ser e a estética, indo de encontro à forma moral. Platão não escreveu uma estética propriamente dita, mas, sua metafísica inteira pode ser considerada uma estética. Para ele, o belo é autônomo tanto em sua essência como em seu fim. O belo e o bem se identificam. Para Platão, a realidade não é senão uma cópia perfeita e o importante é que se devem conhecer suas ideias.

     Sócrates tem como ponto de partida o princípio utilitário das coisas. Para ele, tudo o que é belo, é conveniente e útil. Nesse caso, o belo deve ser útil. Até as coisas feias podem ser belas, desde que sejam úteis. Sócrates orienta o belo em função da perfeição. Enquanto Platão tem por base as ideias, Sócrates se apoia na realidade e afirma que o princípio da utilidade domina todas as artes reguladas juridicamente.

     Já Aristipo pensa que o belo deve ser o que é bom. Para os gregos a beleza natural estava muito acima da beleza artística. Hesíodo tinha o conceito de belo centrado na mulher, para ele, a beleza encontrava-se na mulher, no mar e na água. A beleza, antes de tudo era atributo da mulher e do mar. Homero tinha como fonte de beleza a natureza, com uma tendência para o perfeito. A perfeição encontrava-se no belo, o que era belo era perfeito.

     Entre os poetas líricos encontramos três escolas: a primeira são os Líricos eróticos. Para eles, o belo parece identificar-se com o justo e a beleza moral ocupa seu lugar ao lado da beleza corporal. Em relação ao ideal humano, a beleza estava na mulher jovem e encantadora, ou seja, a beleza estava na juventude. Já os Líricos, encontravam a beleza na paisagem e entendiam que a natureza se espiritualiza e se humaniza ao mesmo tempo. E os heroicos enxergavam a beleza e o ideal humano exclusivamente nos heróis.

     Também vamos encontrar nos trágicos gregos algo relativo à beleza. Em suas tragédias, Ésquilo enfoca o homem como débil e submetido às suas necessidades; Sófocles introduz um sentimento novo que é a grandeza do homem, ou seja, o problema trágico do belo se associa ao problema moral. Os primeiros gregos sentiam um ardente amor pela vida e os trágicos, em troca, veem a beleza da morte na renúncia em sacrifício pela vida.

     Aristóteles, por sua vez, reflete que a ideia não tem existência em si e é abstrata para todos nós, e o mais importante é a realidade. Para ele, todas as artes são imitação. Ele vê o belo separado do bem, sendo que o bem aponta para algum fim e o belo é este final. Extrai sua teoria dos trágicos gregos, principalmente Sófocles. Em relação à tragédia grega afirma que o terror e o medo são de natureza egoísta e a piedade é altruísta. A beleza não é outra coisa, senão a perfeição da essência. Entende-se que Platão e Aristóteles, dedicaram sua atenção primordialmente para a política.    

     Na verdade, a tragédia grega é um triunfo sobre o trágico e se compõe de dois elementos: a) o trágico propriamente dito, retrato da perdição humana, e b) o espírito de justiça, de equilíbrio e de medida. E foi baseado nisso que Aristóteles escreveu sua Arte Poética. A tragédia é a luta contra o destino.

 

terça-feira, 21 de novembro de 2023

IGARAPÉ DAS MULHERES

 


     Local místico, centro das atenções de uma comunidade; local de encontro, de alegria, de conversas e de trabalho cotidiano. Recanto preferido onde a criançada fazia e inventava seus próprios brinquedos e brincadeiras. Lugar versátil: piscina, rio, mar, praia, verdadeiro e principal ponto de lazer da comunidade local. Observo que nos tempos idos, o igarapé das mulheres, não significava apenas o que era...! mas, metaforicamente, também se assemelhava a um grande shopping a céu aberto. Ponto e porto de chegada e saída de mercadorias, movimento intenso de barcos, o que ainda acontece na atualidade. O igarapé das mulheres mais parece um centro geológico dotado de magnetismo, tendo em vista que tudo se vê atraído por aquele lugar. Barcos, pessoas, mercadorias, crianças, homens e mulheres. Entretanto, parece-me que a mágica e o intensivo magnetismo existente naquele recanto, atraía mesmo as mulheres lavadeiras de roupa.

     Época remota, em que as mulheres eram totalmente atraídas para aquele espaço sentimental, para lavarem suas roupas e de suas famílias, nas águas daquele inefável igarapé. Berço de uma cultura, área de encontro social, sítio arqueológico, ponto de encontro e de comunicação entre as comunidades ribeirinhas. Apesar de não haver mais mulheres lavando roupas, hoje o igarapé das mulheres continua firme como ponto de chegada e partida daqueles que permanecem perpetuando o ciclo de sua relação com o rio, a água e os ribeirinhos da grandiosa Amazônia. Todo lugar, toda cidade, vivencia seus momentos de ascensão e decadência. Embora, na atualidade, praticamente, o local seja impróprio para banho, de certa forma, continua a servir como porto fluvial, onde pequenos barcos mercantes o utilizam, num vai e vem permanente.

     Esse meigo olhar que exige cuidados ambientais e de preservação, ao longo de décadas, não foi tão bem visto como deveria ter sido, pelos administradores e pela sociedade em geral. Mas, a arte nos salva dessa falha, dessa hamartia. Ela vem e eleva aquele lugar no seu mais sublime grau de grandiosidade estética. E a manutenção da fidelidade e beleza artística, clássica, literária e lírica vamos encontrar nos versos da música “Igarapé das Mulheres” do cantor e compositor Osmar Júnior. Em seus versos, significantes e significados, ao mesmo tempo, estão inseridos e latentes, revelando como num soneto musical, pequenos textos, contextos e pretextos que nos levam definitivamente, a compreender o jeito de ser tucujú. Ele inicia seus versos afirmando, como um verdadeiro filósofo, que o tempo leva tudo, o tempo leva a vida, o que nos remete ao célebre sábio grego Heráclito de Éfeso.

     Utilizando-se de figuras de linguagem, como metáfora e comparação, Osmar Júnior descreve aventuras, em meio às suas alegrias, dúvidas e tristezas, ao enfrentar as vicissitudes da vida, com seu olhar pretérito de criança, para um futuro-mais-que-perfeito...! E continua seu texto revelando pontos extremos e pensamentos opostos, quando relaciona sua alegria ao boiar nas águas, enquanto as margaridas lavadeiras lavavam a dor, assim, fica claro que nessa passagem, satisfação e descontentamento caminham juntos. Em seu texto, quase lamento, o compositor permanece na dúvida existencial, de crescer e se tornar adulto, enfrentar o medo do mundo, com sua esperança perdida. Nesse hiato, seu refúgio para seguir em frente e criar coragem de retirar as pedras do meio do caminho, foi encontrado ao refletir sobre a difícil vida e destemida coragem das mulheres lavadeiras, margaridas, severinas, joanas e marias; enfim...! buscou persistência e resiliência nas despretensiosas deusas do igarapé das mulheres.

 

segunda-feira, 13 de novembro de 2023

CURSO DE TEATRO - 10 ANOS

 

                                                                      

 

     Hoje é um dia muito significativo, tanto para mim, como para os profissionais da área das artes cênicas do Amapá, tendo em vista que há 10 anos, exatamente no dia 12 de novembro de 2013, depois de dois projetos que eu já havia encaminhado à administração da UNIFAP, (um, em 1996 e outro em 2001), o Conselho Superior da Universidade Federal do Amapá, aprovou o terceiro Projeto Político Pedagógico da criação do Curso de Licenciatura em Teatro, tudo isso depois de duas décadas de lutas permanentes. Já em dezembro do mesmo ano, assumi a Coordenação do referido curso. Iniciei apenas com a cara e a coragem. E fui em busca, de espaço físico para a Coordenação, que se instalou em dois pequenos ambientes cedidos pelo Curso de Licenciatura em Artes Visuais. Determinou-se também a sala de aula para receber a primeira turma.

     Na ânsia de ver o curso criado, e para juntarmos nossas forças, resolvi convidar para uma reunião, o Presidente do Conselho Estadual de Cultura do Amapá, quando na ocasião, expressei a necessidade da participação da classe artística neste processo. Em seguida nos reunimos com a classe e ficou definido a realização de um cortejo que sairia do Marco Zero, com destino à sala do Conselho Superior da UNIFAP. Expressei também, a necessidade de que cada grupo de teatro deveria redigir um documento em apoio à criação do Curso de Teatro. No dia da aprovação a classe entregou um calhamaço de papel ao Presidente do Conselho. E, assim, as pessoas de teatro, invadiram o Conselho Superior, juntando-se a essa luta para a implantação do curso. Desta forma, pressionando o Conselho para a aprovação imediata do primeiro Curso Superior de Teatro do Amapá.

     Após a aprovação, pelo Conselho Superior da UNIFAP, da criação do curso de teatro, a classe saiu em grande passeata pelas ruas da instituição, festejando, celebrando a Dioniso, como um verdadeiro canto ditirâmbico. Foi de grande importância essa participação da classe artística e teatral, na luta pela implantação do Curso de Teatro, que nesses dez anos, colocou no mercado de trabalho, profissionais competentes para desenvolveram suas funções na sociedade amapaense. No Curso de Licenciatura em Teatro o(a) aluno(a) desenvolve a prática de lecionar aulas de teatro, como também, interpretar, vivenciando a experiência do fazer teatral, aprofundando-se nas especificidades de sua escolha. A base deste curso está alicerçada nesta formação e complementada pelos fundamentos sócio-político-pedagógico que norteiam a formação pedagógica dos cursos de Licenciatura.

     Foram sete anos ininterruptos, os quais, trabalhei diuturnamente, iniciando-se em 2010, com a retomada, análise e atualização dos dois projetos anteriores. Em seguida, o acompanhamento do processo por todas as instâncias da instituição, sempre respondendo e esclarecendo as dúvidas do relator do referido processo. Após a aprovação, tudo começou do zero; em 19 de dezembro foi publicada minha portaria como Coordenador. Enfaticamente, parti para a organização física da Coordenação do Curso e a preparação para receber a primeira turma, que iniciou no dia 09 de abril de 2014. Esta primeira fase do Curso de Teatro, foi um ciclo que se fechou, primeiro com a contratação de 7 professores em dezembro de 2015, e em seguida, quando em abril do ano de 2017, entreguei definitivamente, a coordenação do curso à nova geração de professores, completando assim, 7 anos  de trabalhos ininterruptos, para que o curso tomasse novo impulso, o que aconteceu com a chegada dos novos professores.

segunda-feira, 6 de novembro de 2023

EXPOFEIRA, ARTE E MÍDIA

 

 

     Depois de quase uma década de esquecimento, e desaparecida por esse longo período, como num passo de mágica, reaparece a 52ª Expofeira do Amapá, com o subtítulo desenvolvimento, cultura e sustentabilidade. Este evento teve início na década de 1940, no Governo Janary Gentil Nunes, quando ainda era Território Federal. Nesta última versão da Feira, pelo que já se percebeu, as atividades artísticas se deram a partir de uma programação extensamente diversificada, distribuídas em 10 palcos que foram espalhados pelo Parque de Exposição de Fazendinha. Ávido e com tanta saudade do referido evento, o público amapaense, não perdeu por esperar, e teve uma participação efetiva, deixando a Expofeira superlotada, praticamente em todos os dez dias das festividades.

     O que se percebeu na prática, foi que a classe artística amapaense foi abraçada e convocada a participar diretamente da Expofeira, o que é digno de se tirar o chapéu, por um lado, para os organizadores do evento, e por outro, para os artistas do Amapá. No entanto, artistas brasileiros conhecidos no território nacional, principalmente da área da música também se apresentaram para abrilhantar e animar o público, no principal e maior palco instalado na Feira de Exposição de Fazendinha. Ficou claro que grande quantidade de artistas do Amapá, teve a oportunidade de abrilhantar com seus respectivos trabalhos artísticos, na Expofeira de Fazendinha. Nada mais justo do que isto, levando-se em consideração que aqui no Amapá há muitos artistas se dedicando à arte em geral; basta um olhar dos gestores da cultura para que isto aconteça em sua plenitude.

     A Expofeira, a arte e a mídia, são necessidades da sociedade amapaense. Não obstante, apesar dos nossos artistas estarem e viverem neste rincão, percebo que infelizmente, não houve, por parte da mídia televisiva, um projeto publicitário que desse popularidade aos artistas locais; faltou um projeto midiático incisivo nesta área. Digo isto, tendo em vista que durante os 10 dias da 52ª Expofeira, acompanhei os jornais televisivos, e, em sua grande maioria, a tendência foi dar publicidade principalmente aos artistas de renome nacional, os quais, se apresentavam exclusivamente no maior palco do evento, na Arena Amazonas. De qualquer forma, sobre os artistas amapaenses, houve divulgação na mídia digital, principalmente em blogs e páginas diversas encontradas nas redes sociais, como também em sites oficiais.      

     Havia 10 palcos com diversificados espetáculos e shows, porém, todas as noites, os jornais televisivos da cidade de Macapá, enfocavam pura e simplesmente o artista conhecido pela mídia nacional, em detrimento do artista local. Dessa forma, induzia o público para que o mesmo se motivasse a olhar apenas para apresentações desses famosos artistas. Além do palco principal havia o Mini Teatro Caboclo, o Palco da Rainha e Diversidade, o Circo do Meio do Mundo, entre outros. Sem pensar que o artista local, está aqui, é da gente, da terrinha, evidencia muita facilidade para que o repórter possa fazer uma ou outra entrevista. Ademais, havia espetáculos e shows para todas as idades e classes sociais. Entretanto no antepenúltimo dia, uma sexta-feira, para não passar em branco, ainda cheguei a assistir num dos jornais televisivos, uma entrevista com o artista plástico Jeriel Luz, artista amapaense, que foi meu aluno do Curso de Artes Visuais. Ainda bem! E viva nossos artistas, verdadeiros guerreiros da arte.

 

segunda-feira, 30 de outubro de 2023

VIVA O SERVIDOR PÚBLICO

 


     Ontem foi o dia do Servidor Público, é uma data que foi criada na Era Vargas.  O serviço público começou a ser regulamentado e foi posto em funcionamento por meio do decreto-lei nº 1.713, de 28 de outubro de 1939. Em seguida o Presidente Getúlio Vargas decidiu criar uma data para comemorar o dia do funcionalismo público, e foi assim que surgiu o dia do Servidor Público. A criação dessa data foi determinada pelo decreto-lei nº 5.936, em 28 de outubro de 1943. Em artigo único, seu texto determina que: “O dia 28 de outubro será consagrado, em todo o País, ao “Servidor Público”. Interessante é que esta data, apesar de sua importância, não é considerada um feriado nacional, porém é tida como ponto facultativo, quando a União, os estados e municípios todos os anos, sempre a comemoram.  

     Em muitos casos, quem está fora do serviço público, não entende como ele funciona. Por outro lado, geralmente há um olhar diferente em relação ao serviço público, no que diz respeito, de como o servidor deve exercer suas funções. Em várias repartições públicas percebe-se aqueles mais dedicados que outros, visto que cada um traz dentro de suas perspectivas de vida, seus sonhos e seus ideais. Com 38 anos de serviço público dá para perceber esse pensamento, quando da entrada de novos servidores, que trazem um perspectivas deturpadas do seu métier na amplitude pública. Em sua grande maioria, novos servidores públicos vêm com o pensamento de tirar proveito do serviço público, ideia que não combina com os preceitos e com as leis destinadas voltadas para esse tipo de serviço.

     Ao pensar em se candidatar à um concurso público, o futuro servidor, precisa se inteirar de que ninguém faz o que quer e o que pensa nessa área profissional, visto que há regimentos, códigos de ética, resoluções, leis superiores, entre outros tantos documentos que regem este setor, os quais, consequentemente determinam o compromisso, os deveres e direitos dos funcionários públicos. Ou seja, há uma infinidade de leis que regem a vida profissional daquela pessoa que deveria servir e respeitar o público em geral. Se por um lado, em função de sua total dedicação às suas atividades laborais, o servidor pode receber uma Portaria de Elogio, por outro, em função de realizar algo, como por exemplo, macular o nome da instituição, ele também poderá responder a um Processo Administrativo Disciplinar, receber uma Portaria de Advertência e, até ser demitido da instituição pública.

     A própria sociedade em geral, parece que a todo custo, observa o serviço público como algo que não funciona, como uma grande máquina desgastada. Isto não deve ser generalizado, visto que muitas áreas do serviço público no Brasil, já demonstraram resultados excelentes para a população. E, muitas vezes, o setor que mais sofre com essas Fake News, é a própria Universidade e a educação em geral. A educação precisa ser vista como um dos pilares da sociedade, visto que um país sem cientistas é um país sem progresso. Os países mais ricos fomentam e investem pesado em pesquisa, em busca de um futuro melhor, e que também gere renda para o próprio país. É certo que as instituições públicas, sejam elas em nível federal, estadual ou municipal, e inclusive, o servidor público, fazem parte deste grande suporte para o crescimento da sociedade brasileira. Viva o Servidor Público.

domingo, 22 de outubro de 2023

O DITIRAMBO E O MARABAIXO

 


     O culto a Dioniso, deus da uva e do vinho, com seu canto ditirâmbico, remonta há mais de mil anos antes de cristo, nele, havia dança, música, pessoas gritando e cantando e ingeria-se muito vinho. Acontecia em homenagem às vindimas (período da colheita da uva).  Havia ainda o corifeu, que puxava um refrão, enquanto as pessoas respondiam.

     Apesar da distância cronológica, da tecnologia e do mundo contemporâneo, há muita semelhança entre o canto ditirâmbico e o marabaixo. Os praticantes do marabaixo dançam ao som de caixas confeccionadas de madeira; dançam em círculo em torno dos caixeiros, da mesma forma que as pessoas dançavam em círculo a partir de determina música no entorno do deus Dioniso; respondem em coro o “ladrão” tirado pelo cantador, praticamente representando o papel do corifeu (que fazia o mesmo) no antigo culto grego.

     Muitas vezes esses “ladrões” transforma-se em desafios improvisados, o que nos remete à Odisseia e propriamente ao cordel, como também aos desafios dos emboladores de coco. Em sua tese de doutorado, intitulada: “Marabaixo, ladrão, gengibirra e rádio – Traduções de linguagens de textos culturais”, defendida em 2012, na Pontífica Universidade Católica de São Paulo, (da qual fui arguidor) Prof. Dr. Rostan Martins afirma que: “Alguns versos de ladrão contam gozações, reprovações ou alguns lapsos cometido por uma autoridade ou pessoa da comunidade, reproduzem cenas hilariantes do cotidiano”. Isso demonstra a versatilidade da dança do marabaixo.

     O improviso é constante no marabaixo, o que também era muito utilizado no canto ditirâmbico, e foi exatamente a partir do improviso de Théspis (considerado o primeiro ator ocidental), quando gritou: “eu sou Dioniso”, que aquele culto iniciou sua transformação cultural revelando numa outra forma de manifestação conhecida por teatro.

     Acredita-se que o círculo é uma das formas mais perfeitas, e independente de área geográfica ou relação temporal/cronológica, sempre aparece em várias latitudes do planeta e nas mais diversificadas comunidades ancestrais, modernas e contemporâneas. Na Grécia clássica, o canto ditirâmbico acontecia em círculo; a ciranda também é em círculo; o coco de roda, o próprio nome já nos sugere sua forma; a maioria dos passos da quadrilha junina é em círculo; evidentemente, que o marabaixo também não poderia ficar de fora dessa regra secular. 

     De uma forma ou de outra, percebe-se que fatores religiosos também se encontram inseridos nessas manifestações, em cada latitude como também em cada seu momento histórico, e que consequentemente, merecem o respeito dos estudiosos, dos catedráticos, do povo e principalmente da própria comunidade em que essas manifestações se revelam. O marabaixo representa o símbolo da cultura amapaense. E foi esta dança que Luiz Gonzaga dançou e gravou: “Eita, seu mano que bom, ai! Que bom de dançar! Eita seu mano que bom, ai!, que bom é o Macapá”, referindo-se à dança do marabaixo.

domingo, 15 de outubro de 2023

ORGULHO DE SER PROFESSOR

 


     Comecei a lecionar por uma necessidade econômica; o ano era 1982, já estava cursando a graduação em Artes na Universidade Federal da Paraíba. Eu acabara de sair de um emprego de escriturário na famosa transportadora Dom Vital. Foi o momento em que tive que morar na casa universitária masculina, como também, sair em busca de uma escola para ministrar aulas de Educação Artística. Passei dois anos lecionando no Instituto Sólon de Lucena, na cidade de João Pessoa. Apesar de não ter tido garantido meus direitos trabalhistas, foi um momento de muita dedicação e aprendizagem.

     Em 1984, já numa escola melhor, pela primeira vez, tive minha carteira assinada como professor de artes, ao trabalhar no Colégio João Paulo II, também um estabelecimento da rede privada. Depois que tive oportunidade de me dedicar aos afazeres da universidade, eu precisava pagar meu vale transporte como também as bandejas no restaurante universitário. Tendo iniciado em 1980, e, levando-se em consideração o atraso que houve no desenvolvimento do meu curso de graduação, só tive condições de finalizá-lo no período de cinco anos. Neste caso, o ano de 1985, foi o grande momento da conclusão do curso e da minha colação de grau. E assim, conclui o Curso de Licenciatura em Educação Artística, com habilitação em Artes Cênicas.

     Como professor, os primeiros seis anos do início da minha carreira, vivenciei na escola da rede privada de ensino. Por isso, trabalhei como professor na rede particular, de 1982 a 1988. Muito me dediquei para estudar para concursos públicos na minha área, assim sendo, em 1986, fui aprovado em segundo lugar num concurso para professor da Prefeitura Municipal de João Pessoa, sendo que, tomei posse em dezembro de 1987. Ainda neste finalzinho do ano tive a honra de ser selecionado para cursar o Mestrado em Serviço Social, ainda na UFPB. De outra parte, me inscrevi em outro concurso público, desta vez, do Governo do Estado da Paraíba, o qual, também fui aprovado em segundo lugar. 

     Naquele período da minha vida, entre o final do ano de 1987, e início de 1988, realmente, eu tive um Feliz Natal e um Próspero Ano Novo, tendo em vista que, em função das minhas conquistas, tive que deixar o ensino privado e passar para o ensino público,  assumindo aulas na rede municipal e rede estadual de ensino, além de ingressar como aluno efetivo do Curso de Mestrado em Serviço Social. Nessa época, minha vida deu um giro de 360º, e, pensando no meu futuro, tive que dar conta de todos esses afazeres.

      Em 1993, me submeti a mais um concurso para trabalhar no Núcleo Pedagógico Integrado – NPI, da Universidade Federal do Pará. Portanto, outro momento semelhante também veio a acontecer no ano de 1994, quando noutro giro de 360º, fui aprovado em primeiro lugar, sendo que desta vez, assumi minha vaga na UFPA, em fevereiro de 1994. Foi o momento de deixar a velha Paraíba e me instalar em Belém do Pará. Não satisfeito com minha estada no Pará, resolvi me submeter a mais um concurso, desta vez, em setembro de 1993, na recém-fundada Universidade Federal do Amapá (à qual se tornou minha casa preferida), quando também obtive o primeiro lugar. Instituição onde permaneço há quase 30 anos, sendo que, o mais significante de todo o meu trabalho, aqui no Estado do Amapá, foi a implantação do Curso de Licenciatura em Teatro. Por tudo isso, tenho orgulho de ser professor.

domingo, 8 de outubro de 2023

VIVA O CÍRIO

 


     No teatro grego antigo havia a organização de procissões, que se tornaram muito mais religiosas do que profanas. Essas procissões tinham caráter comum, onde todos os celebrantes se juntavam tendo à frente jovens que cantavam um hino improvisado, chamado “ditirambo”, e assim giravam em torno do altar do deus, agradecendo pela colheita da uva e pelo sexo que significava a fertilidade da vida. E foi exatamente desse coro, do contraste entre o espírito Dionisíaco e Apolíneo que nasceram a Tragédia e a Comédia. A tragédia tinha como principais características o terror e a piedade que despertava no público. Era constituída de cinco atos e voltava-se para o resgate da mitologia grega, com seus deuses, heróis e feitos. A comédia era dividida em duas partes com um intervalo. Tratava dos homens comuns e de sua vida cotidiana.

     Em seguida o coro separou-se do recitador, nesse momento crucial da história do teatro havia nascido o primeiro ator. Contudo, na procissão já se podia constatar três artes: o canto, a dança e a atuação. Nesse caso, à frente vinha o “Corifeu” – de onde surge a palavra Coro – vestido com pele de bode. Consequentemente todo o resto do grupo respondia ao ditirambo, atuando como um verdadeiro balé litúrgico, numa fusão do trágico e do cômico. Essa narrativa cantada era sempre feita em terceira pessoa.

     E assim constituiu-se a Tragédia: o ator e o coro se respondem cantando, em seguida o ator fala e o coro canta e posteriormente o ator dialoga com o Corifeu, representante do coro. Vale salientar que nesse momento embrionário da Tragédia não havia atos nem intervalos, sendo a mesma, composta de partes dialogadas e partes faladas.

     Como muitas festividades que se conhece de povos antigos e contemporâneos, o Círio de Nazaré se insere nesse rol em que seu significado faz parte de uma comunidade que se debruça a louvar seu Deus. Neste caso, a Virgem de Nazaré. E passa a agradecer as lutas, conquistas e promessas alcançadas ao longo do tempo que se passou. Inclusive, e principalmente à vida. Agradecemos principalmente por estarmos vivos. E semelhantemente acontece no Círio de Nazaré, quando todos os anos, numa determinada época, o povo se reúne para louvar a sua Santa (Deusa) Virgem de Nazaré. É interessante saber que apesar da distância cronológica, momentos semelhantes existem entre essas duas manifestações religiosas, como por exemplo, o vigário assumindo o lugar do Corifeu, que, quando fala uma estrofe de uma oração, automaticamente o povo responde, representando nessa ocasião, o coro.

      Manifestações como estas, denota a declaração antropológica de que pertencemos àquele ou a este grupo ou comunidade. É nessa grande homenagem à nossa Senhora de Nazaré que uma multidão vai às ruas para agradecer à Santa ou para lhe ofertar promessas, muitas vezes em troca do sonho de galgar uma casa própria. E é nessa relação de fé e de caridade, que muitas vezes esses sonhos se realizam. Nesse caso, cria-se um elo muito forte, denso e emotivo em relação à imagem da Santa Virgem de Nazaré, que traz não só paz, mas que também serve como terapia e cura para muita gente. Com os atropelos da sociedade contemporânea que, na ânsia de enriquecer de qualquer forma, impõe cotidianamente na cabeça das pessoas a necessidade do consumo desenfreado. E esse não é o caminho. Portanto, apelar para a Virgem de Nazaré é uma boa causa e faz bem à saúde e à alma.   

 

 

segunda-feira, 2 de outubro de 2023

BRIOSA GUARDA TERRITORIAL

 


          No último dia 21 de setembro do ano em curso, participei como contemplador do lançamento da obra intitulada “Memória da Briosa Guarda Territorial do Amapá”, notável e importante livro assinado pelos seguintes autores: Profa. Dra. Verônica Xavier Luna; Profa. Dra. Elke Daniela Rocha Nunes e discente, Bruno Markus dos Santos de Sá, que foi fruto de emenda parlamentar do Deputado Federal Camilo Capiberibe. O lançamento aconteceu com o auditório lotado de pessoas, que de uma forma ou de outra, possuíam relações com a guarda territorial. O referido evento aconteceu no Quartel da Polícia Militar do Amapá, situado na Rua Jovino Dinoá. Com a presença de várias autoridades, banda de música da Polícia Militar e populares, o evento foi muito prestigiado, principalmente por resgatar os antepassados dos órgãos de segurança do nosso Estado. Além de fazer um resgate histórico, a obra traz memórias biográficas de 86 guardas que pertenciam àquela corporação. Vale ressaltar que, fazendo parte dessa programação, já no dia 20, houve exposição de grande parte de materiais e bens pertencentes à Guarda Territorial, que aconteceu no Centro de Arqueologia da UNIFAP, o qual, teve grande receptividade do público presente.

     A referida publicação foi prefaciada pelo ilustre Prof. Dr. Marcelino da Costa Alves Junior, que está literalmente ligado ao tema, visto que seu saudoso pai, Marcelino da Costa Alves, mais conhecido como Inspetor Marcelino, também fazia parte da Briosa Guarda Territorial. Sobre o mérito da documentação e resgate da Guarda Territorial, em seu prefácio, Prof. Dr. Marcelino nos esclarece que: “Reverenciar a Guarda Territorial do Amapá implica necessariamente revisitar o contexto histórico de sua criação e permanência até a década de 70 do passado século. Suas atividades pioneiras remontam aos trabalhos de limpeza e restauração da velha e abandonada Fortaleza de São José de Macapá nos tempos de Janary Gentil Nunes, na década de 40 do século anterior. Suscitar a importância da Guarda Territorial para a história do Amapá significa também alçar uma gama patrimonial de cunho oficial e popular. O mais importante deles é a “tombada” Fortaleza de São José de Macapá, que por algum tempo, serviu de abrigo à Guarda Territorial no contexto da criação do Território Federal do Amapá.”

     Este resgate histórico da Guarda Territorial do Amapá, é resultado de uma profunda pesquisa realizada, que tem à frente a Professora Doutora Verônica Xavier Luna, que também é diretora do Centro de Memória, Documentação Histórica e Arquivo – CEMEDHARQ. Este Centro de Memória tem origem nas atividades de um grupo de pesquisa em memória e arquivo, do curso de História da Universidade Federal do Amapá – UNIFAP. Segundo sua idealizadora e Coordenadora, Prof. Dra. Verônica Luna, “após uma série de articulações e conversas, em 2017, o Centro surge vinculado à Reitoria da UNIFAP”. Portanto, o CEMEDHARQ possui organização autônoma e orçamento próprio, mas, depende de financiamento externo para subsidiar suas pesquisas. Notadamente, revela-se num Centro de Pesquisa que tem como finalidade a gestão, a guarda e a conservação de documentação física (escrita), oral (memórias) e acervos pessoais, entre outros tipos de registros, de acordo com a necessidade de cada pesquisa que venha a ser realizada. 

   

segunda-feira, 25 de setembro de 2023

ESPAÇO CÊNICO

 


     Desde o espaço cênico esférico primitivamente criado pelos gregos para realizarem seus jogos dramáticos e teatrais, em homenagem ao deus Dioniso, ocasião em que não havia nem palco nem plateia, em sua evolução histórica e cenográfica, o teatro passou por diversas transformações. Tanto no âmbito da estrutura do espetáculo como também no que diz respeito à estrutura do edifício teatral. Essas mudanças foram constantes e dialeticamente significativas, tendo em vista as necessidades políticas de cada sociedade em seu período histórico.

     Uma dessas primeiras mudanças, aconteceu ainda na Grécia Clássica, paralelamente à trajetória da própria estrutura cênica. Nesse período primitivo, o teatro grego passou a ser construído entre montanhas, com capacidade para aproximadamente entre cinco e quatorze mil pessoas. Nesse ínterim, o espaço cênico passou de circular para semicircular, cujo cenário era fixo. Fato é que o homem não havia ainda conquistado o domínio do arco, o que vem acontecer já no império romano, proporcionando revolução na arquitetura, sendo um dos maiores exemplos desse período, o Coliseu de Roma, que é símbolo da cultura pagã. Com a ascensão do cristianismo, esse templo passou a ser esquecido.

     Certamente, o teatro romano apresentava uma estrutura semelhante ao da Grécia, mas passou a ser construído sem a necessidade de utilizar montanhas como apoio, porquê? A primeira questão é que a maioria dos teatros foi construída um tanto quanto afastado das cidades, outra questão é que o teatro que se fazia na Grécia Antiga, exigia que os atores ficassem de frente para o público, em função disso, construiu-se um espaço cênico semicircular com os locais de entrada e saída dos personagens.

     Já o modelo de teatro que se fazia na Roma Antiga, não exigia diretamente essa frontalidade com o público, sendo que lá, a arquitetura teatral passou a ser construída em forma circular de onde possibilitava que o público pudesse assistir ao espetáculo de qualquer lugar da arena, e em função disso, surge o anfiteatro, que significa dois lados (ver dos dois lados).  Esse fenômeno se deu em função da nova concepção do espetáculo romano que se resumia em lutas de gladiadores, lutas de homens contra animais, e que não havia a necessidade desses performers estarem totalmente de frente para o público, neste caso, o cenário também era fixo. Este fato acontece atualmente nos estádios de futebol, cujos jogadores, não precisam estarem totalmente de frente para as torcidas. 

     Salienta-se que foi em Roma que ocorreu a primeira possibilidade de se cobrir esse espaço com uma imensa lona. É a partir daí que surge o circo romano. Podemos considerar os jogadores de futebol da atualidade, como verdadeiros gladiadores contemporâneos, cujo coliseu é representado pelo campo de futebol, e o público são as torcidas organizadas. Como os gladiadores antigos, também são vendidos, de possuírem um cotidiano regrado, com exercícios diários, alimentação orientada por profissionais da área, além de precisarem lutar com a bola em campo para ganhar o jogo, sem contar que, quando, vez por outra, a rivalidade é tão grande que jogares de dois times entram em luta corporal, como verdadeiros gladiadores.

terça-feira, 19 de setembro de 2023

INSTALAÇÃO EM MACAPÁ

 


     Logo após a minha posse como professor na Universidade Federal do Amapá, inicialmente me instalei num hotel que ficava na Coaracy Nunes, no bairro central. Passei a procurar algum lugar para morar definitivamente em Macapá, mas não havia perspectivas, principalmente porque não existia prédios para alugar e muito menos algum apartamento para poder financiá-lo. Era um período em que a cidade era praticamente horizontal, sendo que o maior prédio da cidade, parece-me, era a caixa d’água da Santos Dumont, ali no bairro do buritizal, e a grande maioria das moradias eram de madeira. Havia apenas um condomínio de apartamentos na Rua Professor Tostes, acredito que seja o mais antigo condomínio de Macapá.

     Minha passagem pelo hotel foi exatamente de 30 dias, visto que eu comprei um pequeno rádio na zona de livre comércio, que na época estava no auge, e passei a ouvir alguns programas e principalmente o “compra e vendas”, que tinha um excelente locutor chamado Jorge Guimarães. Programa muito divertido e que, realmente, funcionava como um classificado sonoro. Foi a partir desse programa que consegui um pequeno recinto na Rua Clodóvio Coelho, no Buritizal, paralela à Rua 13 de setembro, onde passei todo o ano de 1995. Uma das músicas que tocava bastante durante a programação radiofônica, chamava-se “A Novidade” de Gilberto Gil, à qual, ficou gravada na minha mente, e sempre que a ouço, lembro-me daquele período, visto que aquela canção, marca, de forma nostálgica, minha chegada à Macapá.

     Na década de 1990, em sua maioria, as moradias da cidade, eram completamente de madeira. As avenidas eram de mão dupla. Nas ruas Hildemar Maia e Santos Dumont, era difícil ver um prédio de alvenaria. Hoje cada uma tem um fluxo contínuo em relação ao trânsito. Paralela à Clodóvio Coelho, na Rua Primeiro de Maio, funcionava a Feira do Agricultor. Na verdade, todas as mercadorias eram dispostas ali, na rua mesmo. Período que a paróquia do Buritizal ficava de frente para a Hildemar Maia. Quando a Hildemar Maia se tornou mão única, a Igreja nova foi inaugurada na Primeiro de Maio. Na década de 1990, o comércio ainda era muito tímido na Av. 13 de Setembro. Esta avenida cresceu muito ao longo dos anos, com bancos, restaurantes, e lojas as mais diversas. Com seu desenvolvimento, a feira do agricultor passou a ser na Claudomiro de Moraes. Atualmente a Av. 13 de setembro é mão única.

     Na Clodóvio Coelho, morei durante todo o ano de 1995, lá, fiz muitos amigos, os quais, preservo até os dias de hoje. Durante o percurso do ano de 1995, adquiri um terreno no Bairro da Embrapa, com a intenção de me situar mais próximo das minhas atividades profissionais na UNIFAP. Foi lá, que construí uma casa mista, com 30% de alvenaria e 75% de madeira. Toda em madeira de lei, acapu e pau-mulato. Naquela época, era muito comum o trânsito de madeira e o movimento no canal das pedrinhas, como também em outros canais da cidade de Macapá, visto que ainda não havia a preocupação com o meio ambiente. Após esses trinta anos, e, em função das leis de proteção ao meio ambiente, o sentido agora é o oposto, hoje Macapá tem mais prédios de alvenaria e pouquíssimos de madeira. E assim, segue a vida...!

domingo, 10 de setembro de 2023

RESISTÊNCIA E TEATRO

 


     O teatro que vinha sendo realizado no Brasil até o ano de 1964, do século passado, passa a enfrentar uma das piores crises de sua história, juntamente com toda a população do país. Especificamente, a arte teatral é esmagada em todas as suas instâncias: artistas são presos, massacrados, torturados e exilados, em função da ordem, do progresso e do respeito ao sistema que se instalara a partir de 31 de março daquele ano. Na ocasião, teatros foram incendiados e artistas acusados de participarem de guerrilhas.

     Tudo começou quando o prédio da União Nacional de Estudantes -UNE, foi incendiado já no dia 1º de abril, destruindo um auditório que estava sendo transformado naquela época, numa moderna sala de espetáculos. O que seria o futuro teatro, ficou resumido a um monte de escombros. Nas suas chamas morria também o Centro Popular de Cultura - CPC, que foi imediatamente colocado, como a própria UNE, fora da lei.             Em 1965, Dias Gomes, com “O Berço do Herói”, teve a honra de ser censurado pelo próprio governador do então, Estado da Guanabara, Sr. Carlos Lacerda, poucas horas antes da estreia. No início de junho, o diretor-geral do Departamento de Polícia Federal, General Riograndino Kruel, mandava tirar de cartaz “Opinião” e “Liberdade, Liberdade”.

     A classe teatral reagiu, artistas e intelectuais redigiram telegrama de protesto, enviado ao Presidente Castelo Branco. A resposta foi imediata. O Presidente telefonou à atriz Tônia Carrero negando ter determinado medidas restritivas à liberdade de expressão, prometendo apurar as interdições das duas peças. No mesmo dia, Riograndino Kruel desmentia a proibição de “Opinião” e “Liberdade, Liberdade”.  

     Os jovens responsáveis pela evolução da linguagem cênica que tomaria corpo a partir de 1966, sentiram-se inconformados e impotentes diante do sistema repressivo que controlava cada vez mais radicalmente a vida do país, riscando do mapa qualquer noção de consulta popular. Com influências da revolução cultural que se preparava, praticamente em todo o Ocidente, os espetáculos que iam surgindo a partir de então, já apresentavam algumas reformulações, por exemplo: o palco italiano, virtual espaço único e imutável há três séculos, é parcialmente abandonado em favor de vários tipos de espaços livres como: rua, arena, praças, associações, etc., em que atores e públicos coexistiam sem fronteiras físicas.

     Por outro lado, em agosto de 1966, agentes do DOPS invadiam o “Teatro Jovem”, no Rio de Janeiro, impedindo a realização de um debate sobre a obra de Berthold Brecht, ao qual, aliás, estavam incumbidos de prendê-lo. Receberam a explicação de que o Sr. Brecht estava morto há dez anos. A somatória dos fatos ocorridos em 1966, fez com que os artistas e intelectuais deixassem de lado a caneta e a máquina de escrever. Foi assim que trezentas pessoas abriram o ano de 1967, num ato público na Associação Brasileira de Imprensa – ABI, no lançamento da “Semana de Protesto à Censura”. Já os jornais do dia 23 de outubro deste mesmo ano, traziam declaração do General Façanha, então diretor do departamento de polícia federal, chamando Tônia Carrero de “Vagabunda”. Apesar de tudo, o teatro resiste até hoje.

terça-feira, 5 de setembro de 2023

CAUSA E EFEITO

 


     A Universidade Federal do Amapá é uma das mais novas instituições de ensino superior do país, com apenas 33 anos de fundação. Em relação às demais, realmente é uma instituição muito jovem. Ela só existe por conta do maior conflito armado, que se conhece, que foi a Segunda Guerra mundial.

Mas, qual sua principal origem?

     Desde a década de 1940, a reivindicação de estudantes secundaristas do Amapá, que se refletiu por várias décadas, que, para conquistarem um curso superior, tinham que se deslocar para a cidade de Belém do Pará, e isso gerava grande transtorno tanto para suas famílias quanto para eles próprios.

Sim, mas por que ela tem apenas 33 anos?

     Porque em função desses fatos, e diante deste caso, políticos do Estado do Amapá, em paralelo à luta dos estudantes do lugar, se reuniram e reivindicaram junto ao governo brasileiro, a imediata fundação de uma universidade para o Amapá. Sendo que sua instalação aconteceu no ano de 1990.

Certo, mas isso aconteceu porquê?

     Porque antes da fundação da UNIFAP, no lugar geográfico onde ela funciona nos dias de hoje, já havia o Núcleo de Educação de Macapá, conhecido como antigo NEM, que fazia parte do projeto de extensão e expansão da Universidade Federal do Pará.

Tudo bem, até agora entendi, mas como eles conseguiram tal conquista?

     Principalmente, em função da aprovação da Constituição de 1988, que transformou essas terras, em novo Estado da Federação.

Mas, por que essas terras se transformaram num Estado da Federação?

     Exatamente porque antes de ser um Estado do país, essas terras pertenciam ao Território Federal do Amapá.

Ainda outra pergunta: por que essas terras que pertencem hoje ao Estado do Amapá, antes, faziam parte do Território Federal do Amapá.

     Porque, em função da Segunda Guerra Mundial, para se precaver de invasões estrangeiras, o governo brasileiro determinou que essa faixa de terra seria área de defesa nacional, transformando-a em território federal.

Qual a conclusão disso tudo?

     Por dezenas de anos, essas terras do Amapá faziam parte do Estado do Pará, que por sua vez, sempre as tinha como terras irresolutas, rechaçadas e abandonadas. No auge da Segunda Guerra Mundial, e por força superior do Governo Federal, em 13 de setembro de 1943, foram transformadas em Território Federal. Por outro lado, desde a década de 1940 que estudantes secundaristas amapaenses já lutavam por uma universidade. Contudo, por força da aprovação da Constituição de 1988, essas terras tucujus, passaram a ser um Estado da Nação, período em que já havia o antigo NEM. Todavia, em função da luta de vários políticos do Amapá, no ano de 1990 a UNIFAP foi implantada de fato e de direito.

     Aqui encerro este debate, observando que, de acordo com o parágrafo inicial: conclui-se que a Universidade Federal do Amapá só existe por conta desse grande conflito do século XX, que foi a Segunda Guerra Mundial. Segue meu recado final: esteja sempre atento e não esqueça de perguntar o porquê dos fatos, tudo é causa e efeito.

 

Prof. Dr. Romualdo R. PALHANO.

segunda-feira, 28 de agosto de 2023

DESTINO MACAPÁ - PORTÃO 2

 


     No ano de 1993, me submeti a concurso público na Universidade Federal do Pará. Em fevereiro de 1994 tomei posse e comecei meus afazeres como professor de artes do ensino fundamental e médio, na escola de aplicação, denominada de Núcleo Pedagógico Integrado, mais conhecida como NPI, daquela tão significativa instituição. Era uma escola muto requisitada. A experiência foi muito gratificante na minha vida; em muito aprecio a cidade de Belém do Pará, mas, sou um caboco que não gosta de cidade grande, e, por ser uma cidade de vultuosa, foi difícil me adaptar em Belém. Frente a tudo isso, lá, passei apenas o ano de 1994.

     Interessante é como foi trilhado o caminho para que eu viesse fincar morada nas terras tucujus.  Tudo começou com minha inscrição para participar e apresentar artigo científico no VII Congresso da Federação de Arte Educadores do Brasil – CONFAEB, que aconteceu no mês de julho do ano de 1994, na cidade de Campo Grande, capital de Mato Grosso do Sul. Tudo correu de acordo com o previsto: instalação em hotel, recepção na secretaria do congresso, trabalho de participação nas assembleias políticas; participação em várias apresentações de colegas de outros estados e, enfim, apresentação de trabalho científico, como foco de participação do referido congresso. Foi uma semana muito proveitosa, principalmente nos contatos efetivados.

     Congresso finalizado, inicia-se os protocolos de retorno, feito o check-in, trecho de Campo Grande a São Paulo; até aqui tudo bem, mas, o interessante é que os caminhos para que eu pudesse chegar até Macapá, começaram a acontecer exatamente no voo de São Paulo para Belém. Nessa época, as aeronaves faziam esse trecho, basicamente num período de quatro horas. Um voo bastante longo. Era tempo suficiente para discutirmos determinados assuntos da área da arte educação e da arte. Acontece que terminei entrando numa conversa, onde já estavam alguns professores do Curso de Artes da Universidade Federal do Pará, os quais, eu já os conhecia, como Neder Charone, Edilson, além de mais dois que não me recordo nesse momento. Portanto, havia nesse debate um outro professor que, naquela ocasião, a mim foi apresentado; ele era, o coordenador do Curso de Educação Artística da Universidade Federal do Amapá.  

     Entretanto, já na metade da viagem, enquanto os demais professores da UFPA, foram tirar uma soneca; passei a conversar, trocar ideias e conhecer o, então, coordenador do Curso de Educação Artística da UNIFAP, professor José Alberto Tostes. Naquele momento, fiquei deveras feliz em saber que a Universidade Federal do Amapá, estava recém implantada. Só sei que num determinado momento ele me falava das perspectivas de progresso daquela instituição e de que, ele próprio, havia sido aprovado em concurso que acontecera no ano de 1993. E assim, de forma satisfatória, fui ouvindo calmamente sobre a conquista da implantação da UNIFAP. Não obstante, prof. Tostes começou a me informar de um novo concurso, o qual, em breve seria publicado o edital, que, inclusive havia uma vaga para um profissional na área do teatro, para suprir a necessidade da disciplina com o mesmo nome. 

     Saí dessa conversa decidido em galgar uma vaga naquele pleito. Publicado o edital do concurso, enviei os documentos necessários à inscrição e, muito ansioso, me submeti ao mesmo. As provas aconteceram em setembro. Fui aprovado em primeiro lugar geral daquele certame, visto que eu era o único candidato, que na ocasião, possuía o título de Mestre, acredito que este fato tenha contribuído e muito para galgar esse patamar. O concurso foi homologado em novembro, e, vários colegas de Macapá assumiram naquele mesmo ano; como tive que concluir minhas disciplinas na UFPA, no dia 02 de janeiro de 1995, tomei posse no antigo Departamento de Pessoal da UNIFAP.

terça-feira, 22 de agosto de 2023

ATMOSFERA CONTA MARIA FIRMINA

 


     Último dia 11, às 19 horas, estive no salão de eventos do SESC/Araxá para contemplar o espetáculo teatral, proveniente do Maranhão, Maria Firmina dos Reis, Uma Voz Além do Tempo, dentro da programação do SESC/Amazônia das Artes – 2023. Aliás, é bom registrar aqui, e parabenizar este excelente projeto do SESC/Amapá, o qual, faz circular espetáculos teatrais produzidos por artistas da região, nos estados da Amazônia legal brasileira.

     Por outro lado, vale assinalar que há três décadas que a sociedade amapaense espera ansiosa por um pequeno teatro de bolso de 256 lugares, o qual foi prometido e projetado pelo próprio SESC, mas que não saiu do papel. Na falta deste tão precioso espaço, houve tentativas, como exemplo, por iniciativa do Setor de Cultura, que aproveitou uma sala abandonada, e criou o Teatro Porão, que funcionou por um determinado período e que infelizmente foi desativado. É em função disso, que os espetáculos, em geral, continuam sendo apresentados no salão de eventos daquela instituição.

     Voltando ao espetáculo em pauta; é resultado de uma pesquisa do Núcleo Atmosfera de Dança-Teatro, sobre Maria Firmina dos Reis, poetisa, professora e escritora maranhense e, considerada a primeira romancista negra do Brasil, que viveu entre os séculos XIX e XX. A dramaturgia e consequentemente o espetáculo, conta a história dessa professora do interior do Maranhão e nos remete à luta política, do Teatro de Arena de São Paulo, na década de 1960, com seus espetáculos: Arena Conta Zumbi; Arena Conta Tiradentes, entre outros. Acredito que o referido trabalho do Núcleo Atmosfera também poderia ser cognominado de: Atmosfera Conta Maria Firmina.

     Seria interessante! Tendo em vista que a dramaturgia se insere na estética do teatro épico e didático, de Bertold Brecht, já que conta e narra uma história, com seus problemas culturais, suas contradições, suas causas e seus efeitos, que se revela, notadamente, na luta de classes. Em suma, a carpintaria teatral do texto e do espetáculo, utilizando-se do distanciamento brechtiano, leva o espectador a cogitar, raciocinar, pensar e refletir politicamente, a partir da fala da única personagem que é a própria Maria Firmina, que, a todo tempo, põe em questão as mais diversas formas de discriminação que persiste na sociedade contemporânea e brasileira. O monólogo, interpretado por Júlia Martins, não só, faz o público refletir, como também o incentiva a se expressar verbalmente, quando numa das cenas, a plateia repete significativamente, a seguinte frase: negro não é animal para se montar em cima dele. Ícones relevantes da essência do teatro dialético.

     Cenário e iluminação se harmonizam para corroborar plenamente com a dramaturgia e a interpretação. O cenário é composto por quatro praticáveis móveis, circundados de um tipo de tecido bastante parecido com crochê ou rede de dormir e multicoloridos, que juntamente com a iluminação, são realçados a cada momento, refletindo e refratando determinadas cores, dependendo das falas da personagem, com fortes tonalidades. Esses praticáveis, ao passo que, durante o desenvolvimento da peça, permanecem na vertical, realçando estabilidade e determinação, no epílogo são colocados na horizontal, o que demonstra instabilidade e insegurança, significando, por sua vez, o constante sofrimento dos menos favorecidos e discriminados pela sociedade atual.

     Júlia Martins, interpreta Maria Firmina, com direção de Leônidas Portella. A concepção do cenário, é de Marlene Barros e Marcos Ferreira que também assume o figurino juntamente com Desalinho. A confecção do figurino ficou a cargo de Ed Lima Crochê, Marcos Ferreira e João Vinícius. Na iluminação, Renato Guterres; e trilha sonora de Beto Ehongue; e Identidade Visual: Tassila Custodes e Emia Jedudu.

segunda-feira, 14 de agosto de 2023

PALHAÇO JAMELÃO

 


     Em vários níveis como graduação, a partir do Trabalho de Conclusão de Curso – TCC; Mestrado, tendo como ponto de partida a Dissertação e doutoramento, como é de praxe, com a defesa da Tese, várias pesquisas científicas sobre artes cênicas do Amapá, vem sendo desenvolvidas e crescendo paulatinamente, após a implantação do Curso de Licenciatura em Teatro da UNIFAP, que se deu em 12 de novembro do ano de 2014. Ainda no Curso de Educação Artística e Artes Visuais, passei a orientar alguns trabalhos, como por exemplo um sobre a peça Bar Caboclo e outro sobre as Visualidades Cenográficas do espetáculo Uma Cruz para Jesus.

     Recentemente foi defendido um TCC sobre um famoso palhaço que rondava a cidade de Porto Grande em épocas passadas. Chamava-se Palhaço Jamelão, e era muito conhecido tanto na cidade de Porto Grande como nos arredores. Este trabalho de pesquisa vem contribuir ainda mais com o objetivo de transformar em documentos e deixar esse legado na memória do povo amapaense. Intitulado: História do Teatro Amapaense: Construindo a Memória do Palhaço Jamelão, sob minha orientação, foi realizado pelo acadêmico do Curso de Teatro, Fábio Pereira dos Santos, que também fez teatro e palhaçaria naquela cidade. Este trabalho resgata a importância da arte em locais carentes de atividades artísticas e de lazer, e Porto Grande foi merecedora de ter o seu próprio palhaço. É um resgate importantíssimo para a história da cidade.

     Palhaço Jamelão era um personagem criado por Rudinaldo Coutinho Vasconcelos, natural de Macapá, sendo que seus pais migraram do Pará e se instalaram nesta cidade Tucuju. Em Porto Grande, onde morou a maior parte de sua vida, também era conhecido como “Barriga”, denominação dada por seus parentes e amigos. Esse apelido carinhoso surgiu em função de que Rudinaldo, vivia entre dois extremos, ele tinha a facilidade de engordar, como também de ficar magro. Mas corria o boato de que quando ele estava solteiro sempre ficava magro e quando casava, se tornava gordo. Em suas andanças ele morou em Macapá, Santana e terminou se instalando definitivamente em Porto Grande.

     Fazia turnê por toda a região, até no Cupixi chegou a se apresentar, além de vários garimpos do interior do Estado. Rudinaldo Vasconcelos, marcou o seu tempo na cidade de Porto Grande, e de muitos moradores que o viram representar seu querido palhaço Jamelão. No seu tempo, ele era o principal animador das crianças, dos jovens, dos adultos e dos idosos que presenciaram suas apresentações. Em todos os eventos da cidade ele estava presente, com seu famoso palhaço. Como morou muito tempo nas cercanias do balneário da cidade, ele era tido como o herói guardião do balneário de Porto Grande.

     Em relação às suas características, Palhaço Jamelão usava calça bem apertada, de uma cor e a camisa com cores distintas, sempre muito bem colorido, e se apresentava geralmente com um barrigão, e como todo palhaço, com maquiagem que ampliasse olhos e nariz e boca, que geralmente era vermelha. Para completar seu figurino, usava um sapato com a parte frontal comprida para dar destaque, com uma bola na parte da frente do sapato. Além da minha presença como orientador, participaram da banca avaliativa os seguintes professores: Dr. Frederico de Carvalho Ferreira (Curso de Teatro) e Dra. Silvia Carla Marques Costa, (Curso de Artes Visuais). Que prossigam as pesquisas sobre teatro do Amapá.