Último dia 11, às 19 horas, estive no salão
de eventos do SESC/Araxá para contemplar o espetáculo teatral, proveniente do
Maranhão, Maria Firmina dos Reis, Uma Voz Além do Tempo, dentro da
programação do SESC/Amazônia das Artes – 2023. Aliás, é bom registrar aqui, e
parabenizar este excelente projeto do SESC/Amapá, o qual, faz circular
espetáculos teatrais produzidos por artistas da região, nos estados da Amazônia
legal brasileira.
Por outro lado, vale assinalar que há três
décadas que a sociedade amapaense espera ansiosa por um pequeno teatro de bolso
de 256 lugares, o qual foi prometido e projetado pelo próprio SESC, mas que não
saiu do papel. Na falta deste tão precioso espaço, houve tentativas, como
exemplo, por iniciativa do Setor de Cultura, que aproveitou uma sala
abandonada, e criou o Teatro Porão, que funcionou por um determinado período e
que infelizmente foi desativado. É em função disso, que os espetáculos, em
geral, continuam sendo apresentados no salão de eventos daquela instituição.
Voltando ao espetáculo em pauta; é
resultado de uma pesquisa do Núcleo Atmosfera de Dança-Teatro, sobre Maria
Firmina dos Reis, poetisa, professora e escritora maranhense e, considerada a
primeira romancista negra do Brasil, que viveu entre os séculos XIX e XX. A
dramaturgia e consequentemente o espetáculo, conta a história dessa professora
do interior do Maranhão e nos remete à luta política, do Teatro de Arena de São
Paulo, na década de 1960, com seus espetáculos: Arena Conta Zumbi; Arena
Conta Tiradentes, entre outros. Acredito que o referido trabalho do
Núcleo Atmosfera também poderia ser cognominado de: Atmosfera Conta Maria
Firmina.
Seria interessante! Tendo em vista que a
dramaturgia se insere na estética do teatro épico e didático, de Bertold
Brecht, já que conta e narra uma história, com seus problemas culturais, suas
contradições, suas causas e seus efeitos, que se revela, notadamente, na luta
de classes. Em suma, a carpintaria teatral do texto e do espetáculo,
utilizando-se do distanciamento brechtiano, leva o espectador a cogitar,
raciocinar, pensar e refletir politicamente, a partir da fala da única
personagem que é a própria Maria Firmina, que, a todo tempo, põe em questão as
mais diversas formas de discriminação que persiste na sociedade contemporânea e
brasileira. O monólogo, interpretado por Júlia Martins, não só, faz o público
refletir, como também o incentiva a se expressar verbalmente, quando numa das
cenas, a plateia repete significativamente, a seguinte frase: negro não é
animal para se montar em cima dele. Ícones relevantes da essência do
teatro dialético.
Cenário e iluminação se harmonizam para
corroborar plenamente com a dramaturgia e a interpretação. O cenário é composto
por quatro praticáveis móveis, circundados de um tipo de tecido bastante
parecido com crochê ou rede de dormir e multicoloridos, que juntamente com a
iluminação, são realçados a cada momento, refletindo e refratando determinadas
cores, dependendo das falas da personagem, com fortes tonalidades. Esses
praticáveis, ao passo que, durante o desenvolvimento da peça, permanecem na
vertical, realçando estabilidade e determinação, no epílogo são colocados na
horizontal, o que demonstra instabilidade e insegurança, significando, por sua
vez, o constante sofrimento dos menos favorecidos e discriminados pela
sociedade atual.
Júlia Martins, interpreta Maria Firmina,
com direção de Leônidas Portella. A concepção do cenário, é de Marlene Barros e
Marcos Ferreira que também assume o figurino juntamente com Desalinho. A
confecção do figurino ficou a cargo de Ed Lima Crochê, Marcos Ferreira e João
Vinícius. Na iluminação, Renato Guterres; e trilha sonora de Beto Ehongue; e
Identidade Visual: Tassila Custodes e Emia Jedudu.
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