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terça-feira, 22 de agosto de 2023

ATMOSFERA CONTA MARIA FIRMINA

 


     Último dia 11, às 19 horas, estive no salão de eventos do SESC/Araxá para contemplar o espetáculo teatral, proveniente do Maranhão, Maria Firmina dos Reis, Uma Voz Além do Tempo, dentro da programação do SESC/Amazônia das Artes – 2023. Aliás, é bom registrar aqui, e parabenizar este excelente projeto do SESC/Amapá, o qual, faz circular espetáculos teatrais produzidos por artistas da região, nos estados da Amazônia legal brasileira.

     Por outro lado, vale assinalar que há três décadas que a sociedade amapaense espera ansiosa por um pequeno teatro de bolso de 256 lugares, o qual foi prometido e projetado pelo próprio SESC, mas que não saiu do papel. Na falta deste tão precioso espaço, houve tentativas, como exemplo, por iniciativa do Setor de Cultura, que aproveitou uma sala abandonada, e criou o Teatro Porão, que funcionou por um determinado período e que infelizmente foi desativado. É em função disso, que os espetáculos, em geral, continuam sendo apresentados no salão de eventos daquela instituição.

     Voltando ao espetáculo em pauta; é resultado de uma pesquisa do Núcleo Atmosfera de Dança-Teatro, sobre Maria Firmina dos Reis, poetisa, professora e escritora maranhense e, considerada a primeira romancista negra do Brasil, que viveu entre os séculos XIX e XX. A dramaturgia e consequentemente o espetáculo, conta a história dessa professora do interior do Maranhão e nos remete à luta política, do Teatro de Arena de São Paulo, na década de 1960, com seus espetáculos: Arena Conta Zumbi; Arena Conta Tiradentes, entre outros. Acredito que o referido trabalho do Núcleo Atmosfera também poderia ser cognominado de: Atmosfera Conta Maria Firmina.

     Seria interessante! Tendo em vista que a dramaturgia se insere na estética do teatro épico e didático, de Bertold Brecht, já que conta e narra uma história, com seus problemas culturais, suas contradições, suas causas e seus efeitos, que se revela, notadamente, na luta de classes. Em suma, a carpintaria teatral do texto e do espetáculo, utilizando-se do distanciamento brechtiano, leva o espectador a cogitar, raciocinar, pensar e refletir politicamente, a partir da fala da única personagem que é a própria Maria Firmina, que, a todo tempo, põe em questão as mais diversas formas de discriminação que persiste na sociedade contemporânea e brasileira. O monólogo, interpretado por Júlia Martins, não só, faz o público refletir, como também o incentiva a se expressar verbalmente, quando numa das cenas, a plateia repete significativamente, a seguinte frase: negro não é animal para se montar em cima dele. Ícones relevantes da essência do teatro dialético.

     Cenário e iluminação se harmonizam para corroborar plenamente com a dramaturgia e a interpretação. O cenário é composto por quatro praticáveis móveis, circundados de um tipo de tecido bastante parecido com crochê ou rede de dormir e multicoloridos, que juntamente com a iluminação, são realçados a cada momento, refletindo e refratando determinadas cores, dependendo das falas da personagem, com fortes tonalidades. Esses praticáveis, ao passo que, durante o desenvolvimento da peça, permanecem na vertical, realçando estabilidade e determinação, no epílogo são colocados na horizontal, o que demonstra instabilidade e insegurança, significando, por sua vez, o constante sofrimento dos menos favorecidos e discriminados pela sociedade atual.

     Júlia Martins, interpreta Maria Firmina, com direção de Leônidas Portella. A concepção do cenário, é de Marlene Barros e Marcos Ferreira que também assume o figurino juntamente com Desalinho. A confecção do figurino ficou a cargo de Ed Lima Crochê, Marcos Ferreira e João Vinícius. Na iluminação, Renato Guterres; e trilha sonora de Beto Ehongue; e Identidade Visual: Tassila Custodes e Emia Jedudu.

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