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domingo, 25 de abril de 2021

QUIMERA E SOMBRAS DE ROSA RENTE

 

 

     Todo sonho que se sonha, um dia poderá se tornar realidade. Toda ideia que se imagina, também poderá, no futuro, ser concretizada. Para isso, basta ser persistente, batalhador, paciente, objetivo, determinado, além de ser firme em suas atitudes. Embora pareçam significar simplicidade, essas palavras: sonho e ideia, são extremamente perigosas e plenas de conotações. A arte é um canal aberto para a desconstrução e construção, um devir, um espaço para a vanguarda; tem o poder de transformar e modificar tudo o que existe. Ela é sem dúvida, um caminho para a revolução, e por isso se torna num alvo de ataque, principalmente, das classes dominantes. Por incrível que pareça, este é o mais desafiador objetivo do artista, daquele que produz arte em geral.

     A cidade de Macapá está repleta de artistas com seus trabalhos reconhecidos pela sociedade. Temos uma variedade de produtores culturais de alto quilate. Portanto, gostaria de frisar aqui neste artigo, a diretora, produtora e artista Rosa Rente, que se enquadra claramente nas características dos substantivos e adjetivos que constam no primeiro parágrafo.  Mulher determinada e persistente no que projeta e realiza, Rosa Rente, vem desde algum tempo, se dedicando plenamente à arte e à sociedade amapaense com denso trabalho na área da arte, como também no movimento político organizado, em defesa do fazer teatral e da cultura, em nossa cidade.          

     Toda a população mundial e consequentemente todo artista teve que se adaptar à nova versão da vida cotidiana, imposta em função da pandemia do coronavírus. Há mais de um ano que todos os shows e espetáculos vêm sendo apresentados de forma online. E é nesse patamar que Rosa Rente, vem agora com inovação nesse novo trabalho com seu teatro de sombras, intitulado “Marabaixo de Macapá”. O teatro de sombras é uma das formas mais antigas de fazer teatro e tem origem nas cavernas, tendo em vista que enquanto os homens saíam para caçar, as mulheres ficavam em casa para cuidar das crianças e dos idosos. Assim, a partir da luz da fogueira instalada, as mães passaram a projetar com as próprias mãos, várias sombras nas paredes para entreter seus filhos.

     A companhia Quimera que produz o espetáculo “Marabaixo de Macapá”, reflete e refrata os sonhos e as ideias realizadas concretamente pela atriz Rosa Rente, que vem, há mais de duas décadas, a partir de suas pesquisas artísticas, crescendo longitudinalmente e aprofundando seu labor, para trazer momentos de entretenimento ao público amapaense. “Marabaixo de Macapá” é um espetáculo que tem por base o teatro de sombras. Conta o Marabaixo de Macapá de forma lúdica, porém, com muita responsabilidade e respeito com uma das maiores expressões da nossa cultura. Reforça o diálogo da arte de representar frente às manifestações tradicionais populares do Estado do Amapá. Em seu espetáculo, específico para ser assistido online, Rosa Rente, une num só tempo e espaço, duas linguagens distintas, como o teatro de sombras e a arte do cinema/vídeo, e nesse dispositivo para troca de informação, cria uma delicada harmonia sem menosprezar essa ambiguidade híbrida. Viva a fábula, a utopia, os sonhos e a fantasia. Viva a quimera, aspiração e sombras de Rosa Rente.

domingo, 18 de abril de 2021

ARTISTAS E PANDEMIA

 

 

     Há mais de um ano que estamos enfrentando a pandemia do coronavírus, e é sabido que todos os setores da sociedade tanto no Brasil como no mundo, indiscriminadamente, vêm sofrendo os dissabores dessa avalanche endêmica. As empresas fecharam suas portas, as pessoas ficaram desempregadas, as escolas deixaram de dar aulas presencial para aulas online, os hospitais e os cemitérios entraram em colapso, entre outros setores da sociedade. Isso me fez lembrar a famosa música do cantor e compositor Raul Seixas, quando ele sugeria numa de suas músicas da década de 1970, sobre uma possível paralisação da sociedade, relatada na frase “o dia em que a terra parou”.

     Sinceramente...!!! Depois da pandemia da febre espanhola, que aconteceu aproximadamente a partir do ano de 1918, do século XX, e que criou uma devastação significativa da população que havia, principalmente na Europa, nenhuma outra crise sanitária havia acontecido nesses últimos 100 anos, tão feroz quanto a pandemia da covid-19. Claro, que outros problemas semelhantes aconteceram, como a gripe influenza, a epidemia da aids, entre outras, mas essa pandemia do coronavírus superou a todas.

     Entre tantos outros, gostaria de destacar aqui, um dos setores que em muito se viu encurralado e praticamente sem saída, em função da crise sanitária que vivemos hoje. A arte e seus artistas. O homem, em grupo ou em sociedade, sente a necessidade da arte, que em muitas vezes se transforma num bálsamo de motivação de energia para que o indivíduo tenha menos dificuldade para enfrentar as vicissitudes de vida. Este setor vem sofrendo muito, considerando que toda atividade artística foi proibida, em função do distanciamento social.

     Teatros foram fechados, carnaval adiado, e shows cancelados. E como muitas outras atividades do nosso cotidiano, a arte também com seu poder de ordem e desordem, construção e desconstrução, infinitamente, buscou se reconstruir. Migrou, e foi de encontro à rede internacional de computadores, se apossando de suas salas, aplicativos e lives, para poder sobreviver. Enfim, todas as atividades artísticas, hoje, se voltam para apresentarem seus mais diversificados espetáculos e programações nas redes sociais. Aqui, percebe-se a aglutinação da arte, ciência e tecnologia, e é em função dessa união que a sociedade possui, nos dias de hoje, a chance de apreciar a arte como um todo, principalmente a partir de um simples aparelho de telefonia celular.

     Aqui no Amapá, nossos artistas permanecem com seus trabalhos de forma virtual, visto que esta é a única solução nesse momento da pandemia. Se por um lado, muitos artistas se fazem presentes nas redes socias, por outro, se faz necessário que os órgãos de cultura, se voltem para subsidiar essas manifestações artísticas. Há trabalhos importantíssimos, como: o de Amadeu Lobato, autor do espetáculo “Uma Cruz para Jesus’; o trabalho comunitário do Daniel de Rocha e Tina Araújo, com o Teatro Marco Zero, no Perpétuo Socorro; Wenner George (Romário), com o seu Centro de Experimentação Artística e Cultural Encanto dos Alagados, no Muca; o excelente trabalho de Joca Monteiro, na baixada Pará; e ainda a Companhia Cangapé, no Araxá, com Washington Silva, entre outros. Finalizo este artigo, afirmando que nossos artistas precisam de apoio dos órgãos de cultura, para se manterem enquanto cidadãos amapaenses e brasileiros.

domingo, 4 de abril de 2021

UMA CRUZ PARA JESUS - 42 ANOS

 

 

     Com uma vida dedicada ao teatro do Amapá, o ator e diretor de teatro Amadeu Lobato merece meus cumprimentos e minhas felicitações, em função de sua persistência e dedicação exclusiva à sua tradicional montagem do espetáculo “Uma Cruz para Jesus”, que neste ano de 2021, inusitadamente, está completando seus 42 anos em cartaz. É bom lembrar que, no Brasil, são poucos os grupos de teatro que permanecem tanto tempo em cartaz, como exemplo, José Pimentel que passou mais de 40 anos representando a Paixão de Cristo, em Nova Jerusalém, Pernambuco.

     Há quarenta anos à frente, como diretor do seu grupo de teatro, Amadeu Lobato transformou seu trabalho num espetáculo ontológico e clássico do Amapá. Uma peça em que não se paga ingresso, onde o acesso é livre para o público em geral, sem discriminação de cor, etnia, religião e classe social. Todos podem assistir ao referido espetáculo, e para isso, basta se dirigir na sexta-feira santa, ao teatro ao ar livre que existe na lateral norte da Fortaleza de São José de Macapá, no centro da cidade. 

      Para aqueles que acompanham essa trajetória, basta imaginar que são 42 anos de resistência em relação ao fazer teatral nas terras tucujus. Amadeu Lobato é nosso grande Mestre do teatro amapaense e transformou seu espetáculo numa considerável escola de teatro ao ar livre, visto que significativa parte dos artistas do Amapá se iniciaram nesta escola. Também não é pra menos, sua peça coloca em cena, todos os anos, mais de cem atores e atrizes, concentrados num espetáculo de uma pouco mais de uma hora, na área externa da Fortaleza.

     Uma Cruz para Jesus significa a vitalidade e a persistência do teatro amapaense. Hoje não se pode falar desta peça sem citar o nome de Amadeu Lobato. Ao longo de quatro décadas houve um hibridismo entre o criador (Amadeu) e a criatura (que é seu espetáculo).  Por isso, esse trabalho e essa dedicação do Amadeu Lobato, já é referência tanto na sociedade amapaense quanto dentro da academia.

         Nesses últimos 26 anos tenho acompanhado de perto a obra desse avultado Mestre, e foram muitas as vezes que seu trabalho foi montado com garra, coragem e decisão, e o mais importante é que o público sempre esteve lá, literalmente de pé, vendo a ficção e aplaudindo na realidade, os passos de Jesus Cristo Salvador. Amadeu Lobato é um sujeito de fé, com muita determinação, objetivo e metódico, não fosse essas qualidades, seu espetáculo já não mais existiria.

     Seguramente posso citar aqui algumas influências de “Uma Cruz para Jesus” nestes 42 anos de atividades ininterruptas. No entanto, é em função deste espetáculo que se disseminou vários outros grupos que passaram a apresentar seus espetáculos sobre a vida, paixão e morte de cristo. Bairros como: Perpétuo Socorro, Pacoval, Novo Horizonte, entre outros também fazem apresentação sobre a vida de Cristo. Em função de todo esse trabalho, por toda sua contribuição para o teatro do Amapá, Amadeu Lobato merece nosso respeito. Parabéns meu amigo, parabéns por sua resistência e persistência nesses últimos 42 anos de apresentação de “Uma Cruz para Jesus”.  O teatro do Amapá agradece sua dedicação e espírito dionisíaco.