No teatro grego antigo havia a organização
de procissões, que se tornaram muito mais religiosas do que profanas. Essas
procissões tinham caráter comum, onde todos os celebrantes se juntavam tendo à
frente jovens que cantavam um hino improvisado, chamado “ditirambo”, e assim
giravam em torno do altar do deus, agradecendo pela colheita da uva e pelo sexo
que significava a fertilidade da vida. E foi exatamente desse coro, do
contraste entre o espírito Dionisíaco e Apolíneo que nasceram a Tragédia e a
Comédia. A tragédia tinha como principais características o terror e a piedade
que despertava no público. Era constituída de cinco atos e voltava-se para o
resgate da mitologia grega, com seus deuses, heróis e feitos. A comédia era
dividida em duas partes com um intervalo. Tratava dos homens comuns e de sua
vida cotidiana.
Em seguida o coro separou-se do recitador,
nesse momento crucial da história do teatro havia nascido o primeiro ator.
Contudo, na procissão já se podia constatar três artes: o canto, a dança e a
atuação. Nesse caso, à frente vinha o “Corifeu” – de onde surge a palavra Coro
– vestido com pele de bode. Consequentemente todo o resto do grupo respondia ao
ditirambo, atuando como um verdadeiro balé litúrgico, numa fusão do trágico e
do cômico. Essa narrativa cantada era sempre feita em terceira pessoa.
E assim constituiu-se a Tragédia: o ator e
o coro se respondem cantando, em seguida o ator fala e o coro canta e
posteriormente o ator dialoga com o Corifeu, representante do coro. Vale
salientar que nesse momento embrionário da Tragédia não havia atos nem
intervalos, sendo a mesma, composta de partes dialogadas e partes faladas.
Como muitas festividades que se conhece de
povos antigos e contemporâneos, o Círio de Nazaré se insere nesse rol em que
seu significado faz parte de uma comunidade que se debruça a louvar seu Deus.
Neste caso, a Virgem de Nazaré. E passa a agradecer as lutas, conquistas e
promessas alcançadas ao longo do tempo que se passou. Inclusive, e
principalmente à vida. Agradecemos principalmente por estarmos vivos. E
semelhantemente acontece no Círio de Nazaré, quando todos os anos, numa
determinada época, o povo se reúne para louvar a sua Santa (Deusa) Virgem de
Nazaré. É interessante saber que apesar da distância cronológica, momentos
semelhantes existem entre essas duas manifestações religiosas, como por
exemplo, o vigário assumindo o lugar do Corifeu, que, quando fala uma estrofe
de uma oração, automaticamente o povo responde, representando nessa ocasião, o
coro.
Manifestações como estas, denota a
declaração antropológica de que pertencemos àquele ou a este grupo ou
comunidade. É nessa grande homenagem à nossa Senhora de Nazaré que uma multidão
vai às ruas para agradecer à Santa ou para lhe ofertar promessas, muitas vezes
em troca do sonho de galgar uma casa própria. E é nessa relação de fé e de
caridade, que muitas vezes esses sonhos se realizam. Nesse caso, cria-se um elo
muito forte, denso e emotivo em relação à imagem da Santa Virgem de Nazaré, que
traz não só paz, mas que também serve como terapia e cura para muita gente. Com
os atropelos da sociedade contemporânea que, na ânsia de enriquecer de qualquer
forma, impõe cotidianamente na cabeça das pessoas a necessidade do consumo
desenfreado. E esse não é o caminho. Portanto, apelar para a Virgem de Nazaré é
uma boa causa e faz bem à saúde e à alma.
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