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domingo, 8 de outubro de 2023

VIVA O CÍRIO

 


     No teatro grego antigo havia a organização de procissões, que se tornaram muito mais religiosas do que profanas. Essas procissões tinham caráter comum, onde todos os celebrantes se juntavam tendo à frente jovens que cantavam um hino improvisado, chamado “ditirambo”, e assim giravam em torno do altar do deus, agradecendo pela colheita da uva e pelo sexo que significava a fertilidade da vida. E foi exatamente desse coro, do contraste entre o espírito Dionisíaco e Apolíneo que nasceram a Tragédia e a Comédia. A tragédia tinha como principais características o terror e a piedade que despertava no público. Era constituída de cinco atos e voltava-se para o resgate da mitologia grega, com seus deuses, heróis e feitos. A comédia era dividida em duas partes com um intervalo. Tratava dos homens comuns e de sua vida cotidiana.

     Em seguida o coro separou-se do recitador, nesse momento crucial da história do teatro havia nascido o primeiro ator. Contudo, na procissão já se podia constatar três artes: o canto, a dança e a atuação. Nesse caso, à frente vinha o “Corifeu” – de onde surge a palavra Coro – vestido com pele de bode. Consequentemente todo o resto do grupo respondia ao ditirambo, atuando como um verdadeiro balé litúrgico, numa fusão do trágico e do cômico. Essa narrativa cantada era sempre feita em terceira pessoa.

     E assim constituiu-se a Tragédia: o ator e o coro se respondem cantando, em seguida o ator fala e o coro canta e posteriormente o ator dialoga com o Corifeu, representante do coro. Vale salientar que nesse momento embrionário da Tragédia não havia atos nem intervalos, sendo a mesma, composta de partes dialogadas e partes faladas.

     Como muitas festividades que se conhece de povos antigos e contemporâneos, o Círio de Nazaré se insere nesse rol em que seu significado faz parte de uma comunidade que se debruça a louvar seu Deus. Neste caso, a Virgem de Nazaré. E passa a agradecer as lutas, conquistas e promessas alcançadas ao longo do tempo que se passou. Inclusive, e principalmente à vida. Agradecemos principalmente por estarmos vivos. E semelhantemente acontece no Círio de Nazaré, quando todos os anos, numa determinada época, o povo se reúne para louvar a sua Santa (Deusa) Virgem de Nazaré. É interessante saber que apesar da distância cronológica, momentos semelhantes existem entre essas duas manifestações religiosas, como por exemplo, o vigário assumindo o lugar do Corifeu, que, quando fala uma estrofe de uma oração, automaticamente o povo responde, representando nessa ocasião, o coro.

      Manifestações como estas, denota a declaração antropológica de que pertencemos àquele ou a este grupo ou comunidade. É nessa grande homenagem à nossa Senhora de Nazaré que uma multidão vai às ruas para agradecer à Santa ou para lhe ofertar promessas, muitas vezes em troca do sonho de galgar uma casa própria. E é nessa relação de fé e de caridade, que muitas vezes esses sonhos se realizam. Nesse caso, cria-se um elo muito forte, denso e emotivo em relação à imagem da Santa Virgem de Nazaré, que traz não só paz, mas que também serve como terapia e cura para muita gente. Com os atropelos da sociedade contemporânea que, na ânsia de enriquecer de qualquer forma, impõe cotidianamente na cabeça das pessoas a necessidade do consumo desenfreado. E esse não é o caminho. Portanto, apelar para a Virgem de Nazaré é uma boa causa e faz bem à saúde e à alma.   

 

 

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