O culto a
Dioniso, deus da uva e do vinho, com seu canto ditirâmbico, remonta há mais de
mil anos antes de cristo, nele, havia dança, música, pessoas gritando e
cantando e ingeria-se muito vinho. Acontecia em homenagem às vindimas (período
da colheita da uva). Havia ainda o
corifeu, que puxava um refrão, enquanto as pessoas respondiam.
Apesar da
distância cronológica, da tecnologia e do mundo contemporâneo, há muita
semelhança entre o canto ditirâmbico e o marabaixo. Os praticantes do marabaixo
dançam ao som de caixas confeccionadas de madeira; dançam em círculo em torno
dos caixeiros, da mesma forma que as pessoas dançavam em círculo a partir de
determina música no entorno do deus Dioniso; respondem em coro o “ladrão”
tirado pelo cantador, praticamente representando o papel do corifeu (que fazia
o mesmo) no antigo culto grego.
Muitas
vezes esses “ladrões” transforma-se em desafios improvisados, o que nos remete
à Odisseia e propriamente ao cordel, como também aos desafios dos emboladores
de coco. Em sua tese de doutorado, intitulada: “Marabaixo, ladrão, gengibirra e
rádio – Traduções de linguagens de textos culturais”, defendida em 2012, na
Pontífica Universidade Católica de São Paulo, (da qual fui arguidor) Prof. Dr. Rostan
Martins afirma que: “Alguns versos de ladrão contam gozações, reprovações ou
alguns lapsos cometido por uma autoridade ou pessoa da comunidade, reproduzem
cenas hilariantes do cotidiano”. Isso demonstra a versatilidade da dança do
marabaixo.
O improviso
é constante no marabaixo, o que também era muito utilizado no canto
ditirâmbico, e foi exatamente a partir do improviso de Théspis (considerado o
primeiro ator ocidental), quando gritou: “eu sou Dioniso”, que aquele culto
iniciou sua transformação cultural revelando numa outra forma de manifestação
conhecida por teatro.
Acredita-se
que o círculo é uma das formas mais perfeitas, e independente de área
geográfica ou relação temporal/cronológica, sempre aparece em várias latitudes
do planeta e nas mais diversificadas comunidades ancestrais, modernas e
contemporâneas. Na Grécia clássica, o canto ditirâmbico acontecia em círculo; a
ciranda também é em círculo; o coco de roda, o próprio nome já nos sugere sua
forma; a maioria dos passos da quadrilha junina é em círculo; evidentemente,
que o marabaixo também não poderia ficar de fora dessa regra secular.
De uma
forma ou de outra, percebe-se que fatores religiosos também se encontram
inseridos nessas manifestações, em cada latitude como também em cada seu
momento histórico, e que consequentemente, merecem o respeito dos estudiosos,
dos catedráticos, do povo e principalmente da própria comunidade em que essas
manifestações se revelam. O marabaixo representa o símbolo da cultura
amapaense. E foi esta dança que Luiz Gonzaga dançou e gravou: “Eita, seu mano
que bom, ai! Que bom de dançar! Eita seu mano que bom, ai!, que bom é o
Macapá”, referindo-se à dança do marabaixo.
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