Contatos

palhanojp@gmail.com - palhano@unifap.br

domingo, 10 de setembro de 2023

RESISTÊNCIA E TEATRO

 


     O teatro que vinha sendo realizado no Brasil até o ano de 1964, do século passado, passa a enfrentar uma das piores crises de sua história, juntamente com toda a população do país. Especificamente, a arte teatral é esmagada em todas as suas instâncias: artistas são presos, massacrados, torturados e exilados, em função da ordem, do progresso e do respeito ao sistema que se instalara a partir de 31 de março daquele ano. Na ocasião, teatros foram incendiados e artistas acusados de participarem de guerrilhas.

     Tudo começou quando o prédio da União Nacional de Estudantes -UNE, foi incendiado já no dia 1º de abril, destruindo um auditório que estava sendo transformado naquela época, numa moderna sala de espetáculos. O que seria o futuro teatro, ficou resumido a um monte de escombros. Nas suas chamas morria também o Centro Popular de Cultura - CPC, que foi imediatamente colocado, como a própria UNE, fora da lei.             Em 1965, Dias Gomes, com “O Berço do Herói”, teve a honra de ser censurado pelo próprio governador do então, Estado da Guanabara, Sr. Carlos Lacerda, poucas horas antes da estreia. No início de junho, o diretor-geral do Departamento de Polícia Federal, General Riograndino Kruel, mandava tirar de cartaz “Opinião” e “Liberdade, Liberdade”.

     A classe teatral reagiu, artistas e intelectuais redigiram telegrama de protesto, enviado ao Presidente Castelo Branco. A resposta foi imediata. O Presidente telefonou à atriz Tônia Carrero negando ter determinado medidas restritivas à liberdade de expressão, prometendo apurar as interdições das duas peças. No mesmo dia, Riograndino Kruel desmentia a proibição de “Opinião” e “Liberdade, Liberdade”.  

     Os jovens responsáveis pela evolução da linguagem cênica que tomaria corpo a partir de 1966, sentiram-se inconformados e impotentes diante do sistema repressivo que controlava cada vez mais radicalmente a vida do país, riscando do mapa qualquer noção de consulta popular. Com influências da revolução cultural que se preparava, praticamente em todo o Ocidente, os espetáculos que iam surgindo a partir de então, já apresentavam algumas reformulações, por exemplo: o palco italiano, virtual espaço único e imutável há três séculos, é parcialmente abandonado em favor de vários tipos de espaços livres como: rua, arena, praças, associações, etc., em que atores e públicos coexistiam sem fronteiras físicas.

     Por outro lado, em agosto de 1966, agentes do DOPS invadiam o “Teatro Jovem”, no Rio de Janeiro, impedindo a realização de um debate sobre a obra de Berthold Brecht, ao qual, aliás, estavam incumbidos de prendê-lo. Receberam a explicação de que o Sr. Brecht estava morto há dez anos. A somatória dos fatos ocorridos em 1966, fez com que os artistas e intelectuais deixassem de lado a caneta e a máquina de escrever. Foi assim que trezentas pessoas abriram o ano de 1967, num ato público na Associação Brasileira de Imprensa – ABI, no lançamento da “Semana de Protesto à Censura”. Já os jornais do dia 23 de outubro deste mesmo ano, traziam declaração do General Façanha, então diretor do departamento de polícia federal, chamando Tônia Carrero de “Vagabunda”. Apesar de tudo, o teatro resiste até hoje.

Nenhum comentário:

Postar um comentário