O teatro que vinha sendo realizado no
Brasil até o ano de 1964, do século passado, passa a enfrentar uma das piores
crises de sua história, juntamente com toda a população do país.
Especificamente, a arte teatral é esmagada em todas as suas instâncias:
artistas são presos, massacrados, torturados e exilados, em função da ordem, do
progresso e do respeito ao sistema que se instalara a partir de 31 de março
daquele ano. Na ocasião, teatros foram incendiados e artistas acusados de
participarem de guerrilhas.
Tudo começou quando o prédio da União
Nacional de Estudantes -UNE, foi incendiado já no dia 1º de abril, destruindo
um auditório que estava sendo transformado naquela época, numa moderna sala de
espetáculos. O que seria o futuro teatro, ficou resumido a um monte de
escombros. Nas suas chamas morria também o Centro Popular de Cultura - CPC, que
foi imediatamente colocado, como a própria UNE, fora da lei. Em 1965, Dias Gomes, com “O Berço
do Herói”, teve a honra de ser censurado pelo próprio governador do então,
Estado da Guanabara, Sr. Carlos Lacerda, poucas horas antes da estreia. No
início de junho, o diretor-geral do Departamento de Polícia Federal, General
Riograndino Kruel, mandava tirar de cartaz “Opinião” e “Liberdade, Liberdade”.
A classe teatral reagiu, artistas e
intelectuais redigiram telegrama de protesto, enviado ao Presidente Castelo
Branco. A resposta foi imediata. O Presidente telefonou à atriz Tônia Carrero
negando ter determinado medidas restritivas à liberdade de expressão, prometendo
apurar as interdições das duas peças. No mesmo dia, Riograndino Kruel desmentia
a proibição de “Opinião” e “Liberdade, Liberdade”.
Os jovens responsáveis pela evolução da
linguagem cênica que tomaria corpo a partir de 1966, sentiram-se inconformados
e impotentes diante do sistema repressivo que controlava cada vez mais
radicalmente a vida do país, riscando do mapa qualquer noção de consulta
popular. Com influências da revolução cultural que se preparava, praticamente
em todo o Ocidente, os espetáculos que iam surgindo a partir de então, já
apresentavam algumas reformulações, por exemplo: o palco italiano, virtual
espaço único e imutável há três séculos, é parcialmente abandonado em favor de
vários tipos de espaços livres como: rua, arena, praças, associações, etc., em
que atores e públicos coexistiam sem fronteiras físicas.
Por outro lado, em agosto de 1966, agentes
do DOPS invadiam o “Teatro Jovem”, no Rio de Janeiro, impedindo a realização de
um debate sobre a obra de Berthold Brecht, ao qual, aliás, estavam incumbidos
de prendê-lo. Receberam a explicação de que o Sr. Brecht estava morto há dez
anos. A somatória dos fatos ocorridos em 1966, fez com que os artistas e
intelectuais deixassem de lado a caneta e a máquina de escrever. Foi assim que
trezentas pessoas abriram o ano de 1967, num ato público na Associação Brasileira
de Imprensa – ABI, no lançamento da “Semana de Protesto à Censura”. Já os
jornais do dia 23 de outubro deste mesmo ano, traziam declaração do General
Façanha, então diretor do departamento de polícia federal, chamando Tônia
Carrero de “Vagabunda”. Apesar de tudo, o teatro resiste até hoje.
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