O que dizer quando a relação do professor
com o aluno se tornar amizade? Neste caso, com certeza haverá uma reciprocidade
de conhecimentos, que traz uma amplitude que foge completamente do ensino
formal, e que muitas vezes é benéfico para o conhecimento recíproco e para o
futuro profissional. Sem dúvidas, há uma fase da vida, em que muitos alunos e
alunas se espelham em seus professores, o que é normal, sobretudo na fase da
adolescência. Aqui, com certeza o professor precisa estar preparado
profissionalmente para enfrentar essas flechadas tentadoras do cupido. Há quarenta
e um anos como professor, em várias situações, também tive que passar por
momentos semelhantes.
Em relação a tudo isso, gostaria de dizer
que ultimamente, encontrei no fundo do baú, uma carta do ano de 1987, de uma
ex-aluna da sexta série, que, em sua declaração, se dizia profundamente apaixonada
pelo seu professor. Vejam, que bela declaração:
“Meu querido professor, agora a pouco
deixei a classe, sai de fininho, vendo-o apanhar os livros da mesa, para sair.
Quis aproximar-me e oferecer-lhe a minha companhia, mas faltou-me coragem. De
que me adiantaria ficar ao seu lado, desajeitada e tímida, sem pronunciar
qualquer palavra? É que a sua presença me fascina tanto, que não me é possível
ser eu mesma, quando estou diante de você. Seria a diferença de idade entre
nós? Seria a diferença de cultura? Não, meu lindo professor, não pode ser,
porque o senhor é jovem, afinal de contas, e eu já não sou uma criança! Não...!
porque conheço outros homens cultos, com os quais posso falar naturalmente, sem
qualquer inibição.
Simplesmente por se tratar de você, porque
o amo e vejo-o como um astro em minha constelação de Órion: bem alto, muito
brilhante, longe do meu olhar, mas perto do meu coração, iluminado e maravilhado.
E, como sou tímida, procurei a forma mais rápida de acabar com esta angústia de
querer estar sempre perto de você, sem me atrever; querer sempre dizer-lhe
alguma coisa, sem saber por onde começar e resolvi, finalmente, escrever-lhe
esta carta que encerra a mais sentimental das declarações de uma singela virgem
moça: a sua primeira declaração de amor.
Ansiosamente, deposito-a a seus pés como
um ramalhete de flores aos pés de uma celebridade, de um astro, e não peço, em
troca deste amor que perdoe o gesto apaixonado de uma jovem moça que o ama. I love you, professor. Não me deixe...! - por
favor! porque eu o amo e quero te amar. Não me diga não...! por favor! João Pessoa, outubro de 1987. Desesperadamente,
Alana da Silva.”
Claro que aqui, o nome de minha ex-aluna é
fictício. Naquela época, fiquei muito lisonjeado, a entendi! mas não
correspondi. Parabenizo-a pelo bom português de uma jovem de apenas 12 anos, e
pelo incisivo uso da ênclise. Guardei a carta até os dias atuais, quando a
lembrança me invadiu de forma nostálgica, equivalente àquela desenfreada paixão
platônica de minha ex-aluna, que foi sentimentalmente flechada por um estúpido
cupido.
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