Quando se fala da Grécia, muita gente cita
o Período Clássico. Primeiro houve o período Pré-Homérico; sendo o segundo,
Período Homérico; o terceiro, o Período Arcaico e após, o Período Clássico. O
Período Clássico, se concentrou entre os séculos V e IV a.C. Apesar de ter sido
um período bastante conturbado em relação aos conflitos armados internos. Nesse
pequeno período de duzentos anos, isto não invalidou que a civilização grega
conquistasse seu apogeu, quando ascendeu em várias áreas como: pintura em
vasos, escultura, arquitetura, filosofia, matemática, geometria, astronomia,
política e na constituição do regime democrático, o que, consequentemente fez
surgir a arte teatral. Com destaque para Péricles, que aprimorou a democracia
ateniense, como também para Pisístrato, que instituiu os festivais e os
concursos entre os poetas trágicos. Por sua vez, o Período Clássico foi
sucedido pelo Período Helenístico.
E foi exatamente no Período Clássico, quando
as guerras, cavaleiros e heróis deixaram de existir, e quando a sociedade grega
implantou a democracia, fator primordial para que pudesse existir o teatro. A
grande questão que diverge da Grécia e de países antigos, em relação ao
surgimento do teatro, é que enquanto que na China, Índia e Egito havia grandes
impérios, onde a primeira e última lei era a voz do Imperador, foi uma época em
que, por milênios, o povo não podia ter opinião própria. Já na Grécia, com a
democracia, o povo conquistou espaço para poder divergir; dar sua opinião e
contribuir ativamente com o desenvolvimento do Estado democrático.
Imagine-se uma festa tradicional num
desses impérios? Por acaso, se alguém interviesse com alguma opinião diferente,
automaticamente, a partir da flecha de algum arqueiro, o rei poderia decretar a
morte daquele que infringisse a lei convencional imposta. Por outro lado, essas
manifestações meramente lúdicas, precisavam de alguma coisa fundamental para
chegar ao nível dramático, que era o conflito, ou uma maior complexidade
dramática.
Outra questão, é que essas representações
religiosas não respeitavam as três unidades clássicas, espaço, tempo e lugar.
Já na Grécia Clássica, em meio às comemorações tradicionais em honra ao deus
Dioniso, enquanto as pessoas, seguindo a fala do Corifeu, em coro, davam viva
ao deus, lembrando que esse diálogo acontecia em terceira pessoa; um cidadão
muito destemido, chamado Téspis, interveio nesse debate. Ele entra
repentinamente nesse diálogo e grita em primeira pessoa: - Eu sou Dioniso!
Frente a essas relações interpessoais, nesse culto de louvação ao deus, entre
músicas e danças, nesse momento glorioso da sociedade grega, Téspis cria de uma
só vez, o personagem, o teatro e a dramaturgia.
Aqui, podemos fazer a seguinte indagação:
porque ao longo dos anos, os ritos dramáticos religiosos desses povos que
antecederam os gregos, durante centenas de anos, não conseguiram avançar, se
hibridizar, se reconstruir e se transformar em novas manifestações culturais?
Como se pode perceber, a grande maioria desses povos antigos era regida por
impérios, cujos imperadores representavam, pari passu, a justiça e os
deuses aqui na terra. Cada imperador era onipotente e onipresente e impunham
suas leis que eram absolutas e indestrutíveis. Mas na Grécia foi diferente e
esse diferente fez surgir o teatro que hoje é secular.
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