Todos sabem, conhecem, ou ouviram falar de
sereias. Além dos contos contados por minha mãe, também assisti filmes com
sereias, mas a primeira vez que me dei conta mesmo, desses seres mitológicos,
foi ao ler a Odisseia de Homero. Acontece que após ter vencido a longa guerra
de Tróia, Ulisses está de retorno à sua pátria Ítaca, mas, seguindo sua rota, a
ilha das sereias era ponto de passagem obrigatório para Ulisses. Esse trajeto
era muito temido por todos os marinheiros que por ali passavam. As sereias que
ali habitavam, emitiam um canto tão exuberante que atraia e levava à morte
todos os marinheiros que por ali navegavam. E isso causava sérios problemas
para os navegantes da região.
Para evitar a sua morte e de seus
companheiros, Ulisses criou uma estratégia, à qual, antes ninguém havia
realizado. Ele ordenou que todos os seus marinheiros tapassem os ouvidos com
cera de abelha, mas antes disso, também solicitou que o amarrassem no mastro do
navio para que ele mesmo, Ulisses, pudesse apreciar o poderoso canto das
sereias sem ser encantado, atingido e consequentemente morto. Desta forma,
amarrado, não cairia na armadilha de se jogar na água para ir de encontro
àquelas divas.
Como eu era bobo! Eu pensava que sereias
só existiam nos mares!? Desde a leitura da Odisseia, que jamais pensei algum
dia encontrar alguma sereia encantadora como aquelas do best-seller. Para quem
não sabe, as sereias possuem um canto encantador. Dizem que elas também poderão
ser encontradas nos rios. Disso eu tive dúvida, até o momento que conheci esse gigantesco
rio que passa majestosamente, defronte a cidade de Macapá. Há quem possa dizer
que tudo isso é imaginação minha. Se aqui na Amazônia existe o boto cor de
rosa, a enguia elétrica, a cobra Sofia, porque não existiria as sereias?
Imaginação ou não, tenho certeza de que as
sereias existem. Talvez não como as da minha mente, ou mesmo as do cinema, e
ainda as do livro de Homero, porque hoje, posso dizer assim: - Eu já conheço
sereias reais! E é exatamente isso, eu mesmo as defino como sereias reais,
embora não pertençam à nenhuma família real, da política ou da história, e eu
vos dou esse título honorífico de sereias reais. E nesses dois tempos
distantes, imaginação e realidade, busco encontrar essa harmonia e compasso no
canto das sereias do Amapá.
Gostaria de afirmar que, quando eu ouço o
canto das sereias do Amapá, eu paro imediatamente, para ouvi-las, aliás, tudo
para, em função de seus timbres, ritmos, cadência e compasso. E nesse espaço de
tempo, me envolvo deliberadamente, na divisão das mínimas, colcheias, fusas e
semifusas. E nesse passo e compasso, ouço o timbre de ouro de cada uma delas. É
nessa hora que me reconheço em Ulisses, com uma vontade imensa de mergulhar no
rio Amazonas e me deixar levar pelo encanto do canto das sereias do Amapá:
Oneide e Patrícia Bastos.
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