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segunda-feira, 16 de junho de 2025

SEGREDOS DA MURTA

 


     Aproveitando aqui o ciclo do marabaixo, dança bastante significativa para a cultura amapaense, para enfocar principalmente, o que diz respeito a um símbolo seriamente respeitado e utilizado nesse culto, os segredos da murta. Por sua vez, a dança do marabaixo ultrapassa questões: antropológicas, sociológicas, étnicas e culturais. Tornou-se a mais autêntica manifestação cultural do Amapá. Observando que em novembro de 2018, recebeu o título de patrimônio imaterial do Brasil, pelo Instituto do Patrimônio Artístico e Histórico Nacional - IPHAN. De outra parte, há uma questão de tamanha importância, que se trata da murta, a planta sagrada do marabaixo, que entre outras coisas, serve para envolver os mastros das bandeiras em devoção ao Divino Espírito Santo e à Santíssima Trindade.

     Na mitologia grega, a murta era consagrada a Afrodite, já em Roma, era Vênus quem recebia o título de Múrcia, denominação que a relacionava com a referida planta. Os gregos adornavam as noivas com grinaldas confeccionadas com murta. A madeira da murta, a mirra, era usada para incensar cerimônias religiosas tanto na época de Cristo, como também na Grécia antiga. Portanto, a murta tem seus vestígios em vários rituais da antiguidade, por exemplo, o culto às Deusas Deméter e Perséfone, na antiga Grécia, iniciava com uma procissão que partia de Atenas para Elêusis, na qual, os mystai, que eram os iniciados, caminhavam com um buquê de murta nas mãos, como se seguissem os passos das Deusas. A murta também era símbolo fundamental em várias cerimônias à Dioniso, Deus da uva, do vinho, da fertilidade e das festividades.

     A murta simboliza o amor, pureza, proteção, renovação, paz, juventude e beleza. Deriva do hebraico Hadassad, chegando à versão portuguesa, Hadassa, e significa mirto ou murta na nossa língua mater. No antigo testamento na Bíblia, Hadassa, que era judia, mudou seu nome para Ester, para esconder sua identidade e casar com o Rei persa Assuero/Xerxes. Hadassa também está relacionada com estrela, em função da forma da flor. Com o nome científico de Myrtus communis, pertence a um gênero botânico com mais de uma espécie de plantas com flores, que fazem da família das myrtaceae, sendo nativas do sudoeste da Europa e do Norte da África.

      Também é conhecida em várias outras denominações como: hadassad, murta, mirta, marta, múrcia e mirto, sendo esta última relacionada à Vênus e ao matrimônio. Com várias propriedades, suas folhas possuem ação expectorante, antisséptica, sendo usadas para o tratamento da sinusite, tosse e bronquite entre outras enfermidades. Suas folhas também possuem compostos ativos, os quais, possuem propriedades anti-inflamatórias e antimicrobianas, dermatológicos e até mesmo como auxiliar no combate ao envelhecimento. A planta em si, pode ultrapassar os 100 anos de idade. Além do Livro de Ester, na Bíblia, a murta é citada em várias passagens, como no livro de Zacarias, onde simboliza a restauração e a bênção divina, e ainda, no Livro de Neemias, relacionada à celebração da Festa dos Tabernáculos. Esses fatores, reforçam uma visão de renovação espiritual e proteção divina, sentimentos que também se refletem na atual dança do Marabaixo, no Amapá. 

 

segunda-feira, 9 de junho de 2025

OPORÃ

 

                               

         Sexta-feira, dia 30 de maio, no Departamento de Letras e Artes da Universidade Federal do Amapá, aconteceu a inauguração da escultura tridimensional, “Oporã”, cujo artista, J. Márcio, já é personalidade deveras conhecida na cidade de Macapá, tendo em vista que o mesmo, assinou a obra que se encontra na Praça Povos do Meio do Mundo, um espaço público dedicado aos povos originários do Amapá. J. Márcio também é autor da obra “Mulheres do Igarapé”, cujas esculturas localizam-se na Praça Jaci Barata Jucá, e eternizam a história das lavadeiras do Igarapé das Mulheres, no atual bairro Perpétuo Socorro.

     A placa da obra Oporã, foi descerrada às 17:00 horas, com depoimento do próprio artista, como também de vários professores. A referida obra, inaugura um momento peculiar na história do Curso de Artes Visuais, do Departamento de Letras e Artes, como também da própria UNIFAP. J. Márcio é egresso do Curso de Artes Visuais, desenhista, artista visual, pintor, artista plástico, cartunista, caricaturista e professor de artes visuais do Centro Profissional em Artes Visuais Cândido Portinari. Em 2011, publiquei minha terceira obra infantil, intitulada “A Ovelha Malhada”, cujas ilustrações foram de J. Márcio. Naquela época, ele já era licenciado em Artes Visuais e já demonstrava o que tinha de melhor na sua arte para oferecer à comunidade amapaense.

     Em tupi-guarani, “Oporã, ” significa bonito ou belo, sendo uma palavra muito usada no português do Brasil, assim como “oporã, “porã” também é usada para indicar beleza, por exemplo, o nome “Ponta Porã, ” significa ponta bonita, em tupi-guarani. Esta produção do escultor J. Márcio, volta suas lentes para as questões contemporâneas, revelando uma quebra de paradigmas no que concerne ao processo da inclusão social, tema tão necessário a ser abordado na atualidade.

     A obra em si, já se revelou como o totem institucional do Departamento de Letras e Artes da UNIFAP, determinando a indicação física e estética do próprio departamento. Oporã, de J. Márcio, assemelha-se a um pequeno obelisco, com relevos e sulcos que parecem rios, os quais, testemunham a monumental bacia amazônica, com seus furos, suas matas e suas infinitas ilhas, ensejando uma osmose nesse entrelaçar de amor eterno entre as águas fluviais e o continente. Nessa obra, J. Márcio conseguiu criar uma composição harmônica, a partir de materiais completamente distintos, por um lado, o concreto armado, e por outro, materiais metálicos e derivados do ferro, gerando uma leveza unificada na composição da obra.

     A constituição da imagem nos passa ainda, um caboclo remando seu barco sobre águas revoltas, mas com bastante domínio e equilíbrio, como se fosse fácil dominar um pequeno barco frente a fúria da pororoca. De outra forma, também lembra a barca sagrada dos deuses egípcios Ísis e Osíris, ícone crucial que representava o transporte dos deuses e a ligação entre o céu e a terra. Nos remete similarmente, à deusa grega Ártemis, deusa da caça, da vida selvagem, da lua, do parto e protetora das mulheres, à qual, com sua virilidade, vivia armada com seu arco e flecha para atacar o instável e impetuoso inimigo.  O evento contou com a presença do Prof. Dr. Marcos Paulo Torres Pereira (Diretor do DEPLA); Prof. Dr. Joaquim Cesar da Veiga (Coordenador do Curso de Artes Visuais); Prof. Dr. Rostan Martins (Coordenador Artístico) e o autor da obra J. Márcio. 

segunda-feira, 2 de junho de 2025

TEATRO DO MUNICÍPIO

 


 

     Há 30 anos que venho clamando por um teatro de bolso na cidade de Macapá, sobre esse tema, já escrevi vários artigos ao longo dessas três décadas. Em breve teremos mais um espaço teatral na cidade, desta vez o Teatro Municipal de Macapá, o qual está sendo concluído e está situado na convergência da Avenida FAB e Rua Cândido Mendes, no centro da cidade. Este edifício teatral possui 358 lugares.  

     Na realidade, uma das hipóteses para um novo impulso no teatro em Macapá gira em torno de, por um lado, a construção de um pequeno teatro, e por outro, uma política cultural de administração desse espaço, que propicie o acesso aos mais diversificados grupos que trabalham com artes cênicas em nossa cidade. Uma política cultural que motive também a criação de novos grupos de teatro, principalmente nas escolas da rede municipal de ensino, visto que é principalmente na escola que surge o novo cidadão.

     Tais encaminhamentos viriam a dar cara nova às artes cênicas em nosso município, cativando os jovens, criando uma nova mentalidade e contribuindo para o desenvolvimento sócio cultural de nossa sociedade. Sem esquecer, que os órgãos de cultura em nível federal, estadual e municipal, deveriam contribuir com projetos voltados para o desenvolvimento das artes cênicas como um todo, em nosso Estado.

     Os espaços alternativos que já existem em nossa capital não suprem a necessidade dos nossos grupos de teatro. Por outro lado, apesar de estar inativo, o Teatro das Bacabeiras é um espaço para eventos profissionais ou para grupos, que, como o Língua de Trapo, com seu espetáculo Bar Caboclo, já conquistou um público efetivo, e até hoje é considerado o único espetáculo local que consegue lotar aquele edifício teatral, com capacidade para aproximadamente 710 pessoas sentadas.

     Um exemplo efetivo a essas questões resume-se na utilização do porão do Teatro das Bacabeiras, quando vários grupos já fizeram uso daquele espaço, como foi o caso do espetáculo Esperando Godot, nos primeiros anos do século XXI, com montagem da Companhia Supernova. Ao se falar em teatro de pequeno porte, é importante registrar que, pelo seu espaço ser consideravelmente menor, diminui em muito as despesas em geral, como: limpeza e material de limpeza, com pessoal qualificado para administrar o edifício, com ar condicionado e iluminação, tendo em vista que com apenas uma lâmpada, um grupo pode ensaiar seus números e preparar seu espetáculo, o que muito reduz os custos financeiros e a manutenção do referido prédio, em si. De outra forma, com quatro centrais de ar resolve-se a temperatura na plateia, neste caso, com metade do público basta ligar apenas duas centrais, espaço lotado, passa a funcionar as quatro centrais. Além disso, faz aglomerar ainda mais o público presente, dando um ar de participação mais ativa ao espetáculo.  

     É evidente que com o passar do tempo, administradores e agentes públicos, percebam essa necessidade de engrandecimento de nossa cultura. Portanto, observa-se que na atualidade, há uma luz no fim do túnel, e os artistas e a cultura, esperam com muita ansiedade a inauguração do Teatro do Município de Macapá. Que seja bem-vinda esta notícia, e que realmente seja concretizada pela Prefeitura Municipal de Macapá. Evoé! Que Dioniso nos permita a breve inauguração desse novo e tão esperado edifício teatral!

 

 

 

 

 

domingo, 25 de maio de 2025

AINDA ESTOU AQUI

 


     Todos já ouviram falar sobre o filme que tem como título este artigo. Ainda Estou Aqui, é um filme de 2024, dirigido por Walter Salles, tendo como protagonista Fernanda Torres, no papel de Eunice Paiva e, Selton Mello como Rubens Paiva. A referida obra foi baseada na autobiografia homônima de 2015, escrita e publicada por Marcelo Rubens Paiva, como pode-se observar, o enredo revela a história da família Paiva, com enfoque no Marcelo Rubens Paiva e Eunice Paiva, sua esposa. Ainda Estou Aqui, foi lançado em novembro de 2024. Em razão do filme enfocar questões relacionadas à ditadura militar, que se deu entre o período de 1964 a 1985, do século XX, evidenciando as mais diversas consequências de desagregação do núcleo familiar, sofreu um boicote da direita brasileira. Apesar disso, virou um sucesso de bilheteria, e já alcançou um público de mais de seis milhões de espectadores.

     Foi distribuído no mercado internacional com o título I’m Still Here e, em março deste ano, fez história quando conquistou o prêmio de melhor filme internacional no Oscar, nos Estados Unidos. Consequentemente, em vários países da Europa e do mundo, o filme foi automaticamente traduzido para que o globo conhecesse um pouco dessa fase obscura que aconteceu no Brasil no século XX. Embora a mídia nacional e internacional tenha tido colocado em tela, tal acontecimento, à vista disso, e possivelmente pelo fato de ter conquistado o Oscar, é notório que grande parte da população se sensibilizou em assistir ao referido filme. Destarte, decido trazer à tona, semelhantes acontecimentos artísticos de décadas passadas, que, pelo fato de não terem tido o regozijo de galgar um Oscar, e de não terem sido largamente divulgados pela mídia, não lograram o êxito do filme em tela. Direcionarei meu olhar para dois trabalhos cinematográficos, de tamanha importância e que devem ser citados neste debate. 

     Em primeiro caso, citarei o filme Cabra Marcado para Morrer, de 1984, dirigido por Eduardo Coutinho. É um filme documentário brasileiro, que também mostra os estragos de um governo autocrático frente às Ligas Camponesas, que eram órgãos representativos dos agricultores brasileiros. Por sua vez, este filme também é uma narrativa semidocumental, sobre a vida do agricultor João Pedro Teixeira, um líder camponês da Paraíba, assassinado no ano de 1962 e, principalmente da viúva, Elizabeth Teixeira, que participou efetivamente das gravações. O enredo mostra a vida dos camponeses sendo expulsos da terra pelos coronéis e donos de usinas. O filme estava sendo produzido pelos Centros Populares de Cultura da União Nacional de Estudantes. Em função do golpe militar, as filmagens foram interrompidas em 1964. Desde esse período, a viúva, Elizabeth Teixeira, separada de seus filhos, vivera na clandestinidade. O referido filme também galgou alguns prêmios como, por exemplo, o de melhor documentário, no VI Festival do Cinema Latino-americano, em Havana-Cuba.

     O segundo caso, trata-se do filme, A Hora da Estrela, de 1985, sendo este, um drama, dirigido por Suzana Amaral. Aqui, o roteiro foi uma adaptação do romance homônimo de Clarice Lispector. O papel principal, (Macabéa), foi assumido pela atriz paraibana Marcélia Cartaxo, e num Festival de Cinema de Berlim, ainda em 1985, ela tornou-se a primeira atriz brasileira a ganhar o troféu, Uso de Prata. Após treze anos, em 1998, foi que Fernanda Montenegro galgou o Urso de Prata, no mesmo Festival, com o filme Central do Brasil. Hoje, quando se remete ao prêmio Urso de Prata, a população logo se lembra de Fernanda Montenegro. É preciso estarmos atentos para as informações que nos são dirigidas.

 

terça-feira, 20 de maio de 2025

Teatro na Sala de Aula

 


     Quando se fala em teatro, a grande maioria das pessoas, pensa logo em ator, atrizes, cinema e novelas de televisão. O teatro não se resume apenas a esses fatores, em tempos passados foi o principal lugar para a educação das crianças, dos jovens e dos adultos, e é por isso que ele está na escola. Com o teatro se aprende a desenvolver-se a si próprio, no teatro você vai realizar um auto trabalho, tendo em vista que vai reaprender a andar, olhar, falar, gesticular, melhorar a dicção, saber falar em público, deixar de ser introspectivo para ser expansivo.    

     Em relação ao teatro na sala de aula, observamos que vários filósofos em diversas épocas da história, destacaram a importância do ensino das artes na sala de aula através do jogo de expressão. Para Montaine, “jogos de criança não são esportes e deveriam ser sua mais séria ocupação”. Leibniz, apoiava o teatro na sala de aula com a condição que fosse instrutivo”. Para Rousseau, cujo pensamento influenciou profundamente as teorias de Fröebel, Pestalozzi, Montessori e Dewey, a primeira fase da educação da criança deveria ser quase inteiramente baseada em jogos.

     O teatro na escola, é aquele realizado no âmbito da escola e dependendo do objetivo do professor, pode ser levado de escola para escola. Portanto, não se faz necessário levar um grupo de alunos para representar uma peça num palco de teatro, visto que isto implica uma série de variáveis. Tendo como ponto de partida a faixa etária, e sabendo-se que boa parte dos nossos alunos é leiga no que diz respeito à arte de representar, temos que levar em consideração que, para a apresentação de algum trabalho no palco propriamente dito, é necessário conhecer algumas técnicas como: domínio de espaço; dicção e tom de voz compatível com o espaço interno do teatro; ritmo; preparação física e mental; domínio da maquilagem; conhecer sobre dramaturgia; iluminação; sonoplastia; expressão corporal, entre outras técnicas com as quais nos deparamos ao encenar um espetáculo.

     Ao levar para o palco de um teatro um grupo que não domina tais técnicas, ao invés de motivar o referido grupo para esta arte, o professor com sua atitude infantil e irresponsável poderá desmotivar seus alunos, visto que triplica a responsabilidade expondo tal grupo à crítica teatral em geral. De outra parte, ao levar seus alunos para outras escolas, o professor estará orientando melhor seus afazeres, em função de que a mensagem será bem recebida por partes dos outros colegas que, por sua vez, possuem um nível de conhecimento que se iguala aos iniciantes atores. São diversos os temas para dramatização: histórias tradicionais; mitos; fatos acontecidos na comunidade, entre outros. Finalizamos afirmando que o teatro na educação é muito amplo, sendo realizado em qualquer lugar, na sala de aula, na escola, numa associação de bairro, numa rua, numa casa, no hall da biblioteca, num tablado, auditório e até mesmo no próprio edifício teatral.      

terça-feira, 13 de maio de 2025

À Minha Mãe

 


     Hoje, segundo domingo do mês de maio é comemorado o dia das mães, dia de muita importância para as famílias como um todo; momento em que a população brasileira homenageia as mães. Também é um período muito significativo para as transações comerciais, em função da grande procura de presentes para as homenageadas. É um domingo muito especial, para quem tem a oportunidade de estar pessoalmente com sua querida mamãe.  

     Minha mãe tem uma longa história de vida; como meus avós eram agricultores, foi criada em terras alheias e sítios inóspitos, nas cercanias da cidade de João Pessoa-PB, mas, apesar disso, conseguiu concluir o ensino primário. Mesmo com sua vida pacata, gostava de estudar e dava muito valor ao conhecimento. Só deixou a zona rural, depois que casou e foi morar numa pequenina cidade com o nome de Cabedelo, na Paraíba.

     Enquanto seu esposo trabalhava na Rede Ferroviária Federal, ela se limitou aos quatro recantos da casa, e por um longo período de tempo, se dedicou especificamente, às responsabilidades das atividades domésticas, preparando a comida e cuidando dos filhos: sete no total. Quando começou a surgir momentos difíceis e crises na economia doméstica, resolveu, de certa forma, se desvencilhar de tudo isso, e passou a costurar. Era exímia costureira.

     A partir deste trabalho, ajudou nas despesas domésticas, e, direta e indiretamente, a todos de casa. Tinha vários clientes, na vizinhança e de outros recantos da cidade. O mais interessante, era que morávamos defronte a um grande espaço aberto, que se tornou o local onde se armavam os circos que chegavam à pacata cidade. Resultado: os artistas desses circos, também contratavam minha mãe, como costureira. Enquanto o circo estivesse na cidade, ela criava, costurava, modificava, fazia de tudo, para aproveitar e reaproveitar todos os figurinos daqueles artistas mambembes. Lembrando que esses circos eram armados literalmente defronte da nossa casa.

     Esse momento foi fundamental para minha vida: porquê? Porque, todas as vezes que ela entregava uma roupa pronta, ao pessoal do circo, por um lado, eles a pagavam em moeda corrente do país, e por outro, também a presenteava com alguns ingressos para ter acesso aos espetáculos do próprio circo. E ela recebia ingressos para adultos e para crianças. Esses fatos, interferiram beneficamente em minha vida, tendo em vista que, todos os finais de semana, passava a assistir aos espetáculos matinées dos circos, quando sempre terminavam com uma dramatização clássica, como “chapeuzinho vermelho”; “Cinderela”, “Branca de Neve e os Sete Anões”, entre outras histórias infantis. Daí, me vem toda a relação que tenho com o teatro, com a educação, com minha profissão como professor de teatro; como também, com a arte em geral.

     Hoje, no seu dia, aproveito, parabenizando-a e celebrando não só este dia das mães, como também seu aniversário de noventa e cinco anos, que comemorará no próximo dia 25 deste mês. Mesmo sendo agricultora, nunca deixou de me incentivar aos estudos, e isto foi de fundamental importância para o meu desenvolvimento profissional. Sempre dizia que o estudo era o melhor caminho para o pobre, e para quem gostaria de conseguir ser gente, um dia na vida. À minha mãe, Hilda Palhano, agradeço de todo meu coração, tudo o quanto ela me incentivou para que eu pudesse conquistar meus sonhos e organizar minha vida, como cidadão. A vida que tenho hoje e o profissional que sou, agradeço à minha mãe. Felicidades pelo seu dia e, parabéns pelos seus noventa e cinco anos. Parabéns a todas as mães do Amapá e do Brasil.

 

 

segunda-feira, 5 de maio de 2025

MISTÉRIOS DE ELÊUSIS

 


     Elêusis é uma localidade da Grécia que fica cerca de 23 quilômetros de Atenas, onde se celebravam os ritos de iniciação ao culto das deusas agrícolas, Deméter e sua filha Perséfone, (Ceres e Proserpina para os romanos). Os Mistérios de Elêusis giram em torno do mais famoso ritual religioso secreto da Grécia antiga, realizado entre os séculos 6 a.C. e 4 d.C., eram cerimônias de iniciação e apresentavam vários ritos, que teriam que ser seguidos exclusivamente pelos novos participantes, os quais, tinham a obrigação de guardar os segredos dessas iniciações.

     Segundo a lenda, Perséfone, filha de Deméter, enquanto colhia flores no vale do Nisa, foi raptada por Hades, rei do tártaro. Na mitologia grega, tártaro é a personificação do mundo inferior, ou seja, o mundo dos mortos. A partir dessa situação inesperada, e com grande tristeza em ter perdido sua filha, Deméter, que era a Deusa da agricultura, resolveu deixar de cuidar das plantações. Consequentemente começou a escassez de todo o tipo de cereal e alimento, fazendo com que a população começasse a passar fome. Zeus, que havia permitido seu irmão Hades, roubar Perséfone, resolveu reparar seu erro, decidindo que a mesma deveria voltar à terra por um período de seis meses para poder visitar sua mãe, sendo assim, os outros seis meses passaria com seu esposo, Hades.

     Os Mistérios de Elêusis giravam especificamente, em volta desse psicodrama. Destarte, o período de seis meses que Perséfone passava no Olimpo, simbolizavam a primavera e o verão, período em que favorece a agricultura, e os seis meses que passava com Hades, representavam o outono e o inverno, temporada em que o solo ficava infecundo. Esses rituais se dividiam em dois: os grandes e os pequenos mistérios. Enquanto os Grandes Mistérios eram realizados no equinócio da primavera, aproximadamente no dia 21 de março, os Pequenos Mistérios sucediam no equinócio de outono, por volta de 23 de setembro.

     As festividades começavam com uma procissão que partia de Atenas, no período matutino, em direção a Elêusis. Havia nesse cortejo, um espaço dedicado a Dioniso, quando os mystai (candidatos a iniciados), tomavam uma bebida alucinógena, feita especialmente para a cerimônia, onde na ocasião, eles carregavam uma estátua do Deus Dioniso, dando viva ao Deus do vinho. Ciceona, era uma bebida fermentada, psicoativa; dizem, ser uma bebida favorita dos camponeses gregos. Esses mistérios sempre eram comemorados no início da primavera, que significava o retorno de Perséfone, e assim, ela trazia sementes novas e o renascer de toda vida vegetal, ou seja, o ressurgir das plantas, a colheita e a vida na terra.  Lançar novas sementes que brotam novos frutos, significa no mito, uma espécie de morte e ressureição. Presumivelmente, pessoas idôneas e grandes personalidades importantes da sociedade grega, foram iniciados nos Mistérios de Elêusis, como: Aristóteles, Cícero, Pitágoras, Aristófanes, Plutarco, Platão, Alcebíades, Sócrates, Demóstenes e Sófocles, entre outros. 

 

segunda-feira, 28 de abril de 2025

MANIA DIVINA

 


     Ouvindo “Amante Latino” de Rabito, com versão de Antônio Carlos e interpretada por Sidney Magal, música que galgou estrondoso sucesso no ano de 1977, e que depois foi transformada em filme no ano de 1979, comecei a estudar a referida letra e, consequentemente, a fazer algumas reflexões em relação à mensagem que a mesma poderia enviar ao público em geral. De acordo com o seu conhecimento, cada indivíduo fará sua própria leitura de uma referida música, ou de qualquer imagem que o rodeia. Já dizia Einstein: “Tudo aquilo que o homem ignora, não existe para ele. Por isso, o universo de cada um, se resume ao tamanho do seu saber”. A propósito, quando jovem de 16 anos, eu também vivi essa época e em muito ouvia e curtia os sucessos de Sidney Magal. Observemos a seguir, uma parte da letra da música Amante Latino: sou como você já sabe, amante latino/Eu gosto das mulheres da noite e do vinho/Levo a vida sorrindo e sempre cantando/Eu não esquento a cabeça e nem vivo chorando/E assim nos amaremos até sair o sol/E encontrarás comigo o fogo do amor.

     Várias leituras poderiam ser feitas em função desta letra, mas, na minha concepção, tenho o olhar voltado para uma grande festa, ou seja, um bacanal que tem sua relação com Dioniso, antigo deus grego. Salientando que esse trecho da música, se torna um refrão que sempre será repetido ao longo do tempo da gravação. A partir do artista que criou o personagem chamado Sidney Magal, a música em si, era muito mais dirigida às mulheres do que aos homens, portanto, ele invoca todas as mulheres para passar juntos, uma noite regada ao vinho, da mesma forma como faz o deus Dioniso na peça As Bacantes, quando convoca todas as mulheres tebanas para participarem do seu culto durante a noite nas altas montanhas gregas, festividades estas, que tinham por base o vinho. E isso fica explícito quando o autor afirma: eu gosto das mulheres, da noite e do vinho.  

     O culto ao deus Dioniso, acontecia sempre à noite em montanhas e florestas, com muito vinho, junto aos seus seguidores que eram as bacantes ou mênades, como também pelos sátiros que eram os protetores das florestas. Tal assunto, está presente em várias tragédias gregas. Era festividade de muitos delírios, alegria e bebida. Este trecho da letra: levo a vida sorrindo e sempre cantando/Eu não esquento a cabeça e não vivo chorando, denota o sentimento dionisíaco, de um estado de delírio e liberdade, visto que nesses bacanais a relação sexual era liberada e realizada ao ar livre, culminando com o êxtase dos ritos, nessa mania divina. Eram momentos de orgia, que revelam a ideia de dualidade onde a sanidade e a loucura são opostos que caminham juntos.

     A última frase da música: e assim nos amaremos até sair o sol/E encontrarás comigo o fogo do amor, vai de encontro à necessidade das bacantes em participar desses cultos, frente à repressão grega contra o sexo feminino, uma espécie de buscar nos cultos a Dioniso o que a própria sociedade grega não as oferecia, um verdadeiro bálsamo, visto que amar até o nascer do sol, era um dos principais objetivos do culto dionisíaco. Naquele rito, certamente, todos encontrariam o fogo do amor, que significava uma fuga às rígidas regras daquela sociedade do quinto século Antes de Cristo.

segunda-feira, 21 de abril de 2025

TEATRO DOS JESUÍTAS

 


     As atividades com teatro no Brasil têm início com o padre José de Anchieta, o qual, é caracterizado historicamente como símbolo, tendo em vista que na colonização e aculturação dos nativos, os jesuítas utilizaram principalmente o teatro, como forma pedagógica para catequizar os que aqui já habitavam. Embora o padre jesuíta fizesse parte de um sistema que destruía tudo de novo e diferente do pensamento europeu, para prevalecer a ordem a que pertencia, uma questão culturalmente positiva, foi a utilização do teatro nesse período. 

     Como soldado fiel à catequese ele conseguiu seus objetivos, encenando peças simples, com versos tupis de fácil compreensão, conquistando assim, os indígenas. Nesses autos, Anchieta aproveita a tendência natural dos silvícolas para a representação, música e dança. Em sua dramaturgia ele renomeava as personagens de acordo com sua ideologia religiosa, por exemplo, ao diabo ele determinava o nome de tribos inimigas. De qualquer forma, ele era bem objetivo nas suas ações, embora em suas representações, se utilizasse de linguagens simples para os povos da época, por outro lado, quando se comunicava com Portugal, escrevia com melhor vocabulário aumentando o nível da escrita.

     No século XVII, a política brasileira era omissa e com vários problemas. Nesse período também começaram a surgir crises internas na Companhia de Jesus. Preocupado com a educação dos índios com ideologia religiosa, o Marquês de Pombal expulsou os jesuítas do Brasil, o que fez com que padre Anchieta retornasse a Portugal. Embora discutível, essa ação religiosa com os índios, a verdade é que o teatro foi um forte instrumento para a catequização dos primeiros moradores dessas terras. A premissa dos jesuítas era de que: um exemplo vale mais do que um discurso. Ainda no século XVII, Manoel Botelho, um baiano de cultura europeizada, se destaca por fazer um teatro profano com leve desenvolvimento popular.

     Já no século XVIII, surge Antônio José da Silva ou Antônio José, o Judeu, que foi para Portugal aos oito anos de idade e adquiriu formação portuguesa, ele destacou-se como um bom autor, a ponto de suas peças serem aceitas em outros países. Alguns de seus textos: “Europa do Século XVIII”, “Dom Quixote”, e “As Guerras do Alecrim e da Manjerona”. Nesse período, começou a se desenvolver as Casas de Óperas. Em seus escritos sobre teatro, padre Ventura, desenvolveu alguns trabalhos juntos aos mulatos.

     Em função das questões políticas, se por um lado ele teve que expulsar os jesuítas do Brasil, por outro lado, Marquês de Pombal, demonstrou grande interesse com a produção teatral da época, e se tornou um grande animador, visto que considerava a representação como um veículo de formação do povo. Ele iniciou o reconhecimento dos artistas de teatro, e criou algumas normas para reger atores e atrizes e profissionais da área, quando criou a norma de que: “o ator não pode ser preso a caminho do teatro”, por outro lado, no mesmo documento também constava que: “se o ator não comparecer ao teatro para se apresentar para o público será preso”.

segunda-feira, 14 de abril de 2025

UMA CRUZ PARA JESUS

 

 

     Neste domingo de ramos inicia-se a Semana Santa. E no final desta semana teremos a apresentação do espetáculo Uma Cruz Para Jesus. Com uma vida dedicada ao teatro do Amapá, o ator e diretor de teatro Amadeu Lobato merece meus cumprimentos e minhas felicitações, em função de sua persistência e dedicação exclusiva à sua tradicional montagem do espetáculo “Uma Cruz para Jesus”, que neste ano de 2025, está completando seus 46 anos em cartaz. É bom lembrar que, no Brasil, são poucos os grupos de teatro que permanecem tanto tempo em cartaz, como exemplo, José Pimentel que passou mais de 40 anos representando a Paixão de Cristo, em Nova Jerusalém, Pernambuco.

     A primeira apresentação que aconteceu no ano de 1979, teve apoio da Igreja Católica, e consequentemente, nesses quarenta e cinco anos à frente, como diretor da Companhia Teatro de Arena, Amadeu Lobato transformou seu trabalho num espetáculo ontológico e clássico do Amapá. Uma peça em que não se paga ingresso, onde o acesso é livre para o público em geral, sem discriminação de cor, etnia, religião e classe social. Todos podem assistir ao referido espetáculo, e para isso, basta se dirigir na sexta-feira santa, ao teatro ao ar livre que existe na lateral norte da Fortaleza de São José de Macapá, no centro da cidade. 

      Para aqueles que acompanham essa trajetória, basta imaginar que são 46 anos de resistência em relação ao fazer teatral nas terras tucujus. Amadeu Lobato é nosso grande Mestre do teatro amapaense e transformou seu espetáculo numa considerável escola de teatro ao ar livre, visto que significativa parte dos artistas do Amapá, pela primeira vez, subiram ao palco, nesta escola. Também não é para menos, sua peça coloca em cena, todos os anos, mais de cem atores e atrizes, concentrados num espetáculo de um pouco mais de uma hora, na área externa da Fortaleza.

     Mas o que muito me chama atenção é a falta de apoio dos órgãos públicos e até mesmo dos empresários para um melhor apoio para o desenvolvimento do referido espetáculo. Em Oeiras, cidade do interior e antiga capital do Piauí, também há um grupo que encena a Paixão de Cristo, e diferentemente do Amapá, o espetáculo de Oeiras, todos os anos é transmitido ao vivo para todo o Estado do Piauí. Em muito me admira que, com vários canais de televisão aqui no Amapá, e durante todo esse tempo, nunca, nenhum deles se propôs a fazer uma transmissão ao vivo para o Estado do Amapá, da peça Uma Cruz para Jesus, essa produção local que merece esse olhar.

     Em outras capitais de Estados como Paraíba, Pernambuco e Rio Grande do Norte, para esse tipo de espetáculo há editais específicos com apoio financeiro, em que todos os profissionais da área ganham uma bolsa durante sua participação de montagem e apresentação do mesmo, do figurante ao ator principal que geralmente é um ator conhecido nacionalmente e que é contratado pelo Estado para representar o papel de Cristo, durante as apresentações da Semana Santa. Que Uma Cruz para Jesus alcance mais uma vez o sucesso que merece. 

domingo, 6 de abril de 2025

CINETEATRO / ESCOLA BARÃO

 


     Encontra-se em vários blogs e páginas na internet a afirmação de que a Escola Barão do Rio Branco foi construída antes do Cineteatro Territorial, inclusive enfoca-se que o Cineteatro Territorial fica aos fundos da Escola Barão. Na verdade, o Cineteatro Territorial foi construído e inaugurado em 22 de julho de 1944, enquanto que a inauguração da Escola Barão do Rio Branco ocorreu em 13 de setembro de 1946, ou seja, após dois anos e dois meses em relação ao Cineteatro.              

   Ao observar a foto aqui postada, que se encontra no site: http://porta-retrato-ap.blogspot.com.br, percebe-se em primeiro plano, o registro da construção da Escola Barão do Rio Branco. De fato, ela nos revela, não só isso, mas, muito mais do que se percebe à primeira vista. Em último plano, ao lado esquerdo, localiza-se o prédio do Cineteatro Territorial que já estava ali, em plena atividade, e que fora inaugurado em julho de 1944. Esta foto e este fato provam que o Cineteatro foi inaugurado antes da Escola Barão do Rio Branco. Tendo sido o Cineteatro, inaugurado em 22 de julho de 1944, e a Escola Barão, em 13 de setembro de 1946, sendo que, consequentemente, foi esta instituição de ensino quem, determinantemente, ofuscou o prédio do Cineteatro Territorial. Transportando para a atualidade cotidiana, a ideia de que o Cineteatro fica nos fundos da Escola Barão.

     O desenho arquitetônico original do prédio do Cine Teatro, tem sua entrada principal para o oriente, em direção à atual Rua Candido Mendes; e os fundos para o ocidente, em direção à atual Rua São José. Estudando mais profundamente, percebe-se que a referida foto nos revela o momento da edificação da Escola Barão do Rio Branco entre 1945 e 1946.  Aqui, observa-se o momento exato da anexação do edifício do Cineteatro Territorial, àquela instituição de ensino. Nesta ocasião, já fazia aproximadamente, dois anos que o prédio do Cineteatro havia sido inaugurado, (julho de 1944). Em função desse fato, só se observa andaime de madeira, no edifício da Escola, que a partir de uma linha perpendicular cria um ângulo reto nas paredes do Cineteatro. O edifício do Cineteatro apresenta-se concluído, intacto e em plena atividade, como pode-se observar, segundo a foto.

     Possivelmente, e de acordo com a necessidade dos gestores, resolveram isolar o frontispício daquela casa de espetáculos, consequentemente, abrindo acesso lateral, momento em que a anexaram definitivamente à escola. Este fato se concretizou principalmente a partir do ano de 1961 quando o prédio do Cineteatro foi desativado por José Francisco de Moura Cavalcante, então governador, inimigo político de Janary Nunes. Na atualidade, o edifício do Cineteatro Territorial foi restaurado, e possui uma entrada alternativa, pela Rua São José.

segunda-feira, 31 de março de 2025

Teatro e Resistência

 


     O teatro que vinha sendo realizado no Brasil até o ano de 1964 do século XX, passa a enfrentar uma das piores crises de sua história em todos os níveis, juntamente com toda a população do país. A arte teatral, especificamente, é esmagada como um todo: artistas são presos, massacrados, torturados e exilados, em função da ordem, do progresso e do respeito ao sistema que se instalara exatamente a partir de 31 de março. Como se não bastasse, teatros são incendiados e artistas acusados de participarem de guerrilhas.

     Tudo começou quando o prédio da UNE – União Nacional de Estudantes, foi incendiado precisamente no dia 1º de abril daquele ano, destruindo por completo o auditório, que estava sendo transformado, naquela época, numa moderna sala de espetáculos. Portanto, o que seria o futuro teatro, ficou resumido a um monte de escombros. Nas suas chamas morria também o CPC – Centro Popular de Cultura, que foi imediatamente colocado, como a própria UNE, fora da lei.

     Em 1965, Dias Gomes, com a peça O Berço do Herói, teve a honra de ser censurado pelo próprio Governador do então, Estado da Guanabara, Sr. Carlos Lacerda, poucas horas antes da estreia. No início de junho, o Diretor Geral do Departamento da Polícia Federal, General Riograndino Kruel, mandava tirar de cartaz, Opinião e Liberdade Liberdade. A classe teatral reagiu, artistas e intelectuais redigiram telegrama de protesto, enviado ao Presidente Castelo Branco. E a resposta foi imediata. O Presidente telefonou à atriz Tônia Carrero, negando ter determinado medidas restritivas à liberdade de expressão, prometendo apurar as interdições das duas peças. No mesmo dia, Riograndino Kruel desmentia a proibição de Opinião e Liberdade Liberdade.

     Os jovens responsáveis pela revolução da linguagem cênica que tomaria corpo a partir de 1966, sentiram-se inconformados e impotentes diante do sistema repressivo que controlava cada vez mais radicalmente a vida do país, riscando do mapa qualquer noção de consulta popular. Com influências da revolução cultural que se preparava praticamente em todo o Ocidente, os espetáculos que iam surgindo a partir de então, já apresentavam algumas reformulações, por exemplo: o palco italiano, virtual espaço único e imutável há três séculos, é parcialmente abandonado em favor de vários tipos de espaços livres como: rua, arena, praças, entres outros, onde atores e público coexistiam sem fronteiras físicas. Por outro lado, em agosto de 1966, agentes do DOPS invadiam o Teatro Jovem, no Rio de Janeiro, impedindo a realização de um debate sobre a obra de Bertold Brecht, ao qual, aliás, estavam incumbidos de prendê-lo. Receberam a explicação de que o Sr. Brecht havia morrido há 10 anos.

     A somatória dos fatos ocorridos em 1966, fez com que os artistas e intelectuais deixassem de lado a caneta e a máquina de escrever. E foi assim, que trezentas pessoas abriram o ano de 1967 num ato público na ABI – Associação Brasileira de Imprensa, no lançamento da “Semana de Protesto à Censura”. Já os jornais do dia 23 de outubro deste mesmo ano, traziam declaração do General Façanha, então Diretor do Departamento de Polícia Federal, chamando Tônia Carrero de Vagabunda.

 

domingo, 23 de março de 2025

DIA DO TEATRO

 

DIA DO TEATRO

 

     Próxima quinta-feira, 27 de março, será comemorado o dia internacional do teatro. Em relação a isso, resolvi trazer à tona, esse tema tão importante para nossa cultura. Todos sabem que o teatro é uma arte exclusivamente coletiva, visto que é resultado da união de várias artes, como: dança, música, canto, fala, movimento, literatura, artes visuais, arquitetura, circo, mímica, pantomima, cinema, entre outras. Todavia, na manifestação teatral, encontramos várias formas de expressão: expressão gestual; expressão verbal; expressão visual; expressão musical e expressão escrita. Mas há uma inquietação essencial, no que diz respeito aos principais elementos que constituíram a base fundamental do teatro grego.

     Em relação a essa questão, fica claro que esse alicerce remoto gira em torno de duas artes distintas: a música e a dança; como também poderia ter sido a fala, levando-se em consideração a atitude de Téspis, quando, pela primeira vez, falou no Culto a Dioniso, em primeira pessoa, a seguinte frase: “- Eu sou Dioniso”. Além de ser considerado o primeiro ator, com esse gesto e esse ato, ele também é considerado como o impulsionador da literatura ocidental. No entanto, há muitas controvérsias...!  Enquanto alguns autores defendem a dança, como princípio fundamental da origem do teatro, outros defendem a música. Sabe-se que muitos povos primitivos já praticavam a dança em suas manifestações comemorativas e religiosas, em seu livro “O Teatro Grego”, António Freire afirma que: “As primeiras sociedades primitivas acreditavam que a dança imitativa influenciava os fatos necessários à sobrevivência através de poderes sobrenaturais, por isso alguns historiadores assinalam a origem do teatro a partir desse ritual. ”

     Etimologicamente o termo teatro deriva do latim theatrum e do grego theatron, que dá ao vocábulo o sentido de miradouro, praticamente, lugar de onde se vê, lugar para olhar, de theasthai, “olhar”, mais – tron, sufixo que denota “lugar”. Entendendo-se dessa maneira, que o sentido primitivo da palavra “teatro”, estava relacionado estritamente com a ideia da visão, lugar de contemplação. Esse verbete, que significava o prédio onde são realizados espetáculos, posteriormente, se tornou mais amplo e a ter maior alcance, com vários sentidos conotativos, designando peças, produção, preparação de uma peça teatral em geral, edifício, entre outros.

     Sem embargo, esse teatro do qual conhecemos na atualidade, originou-se basicamente de três festividades gregas, às quais, apresentavam características especificas com seus cultos e seus mistérios: a) dos mistérios de Delos; b) dos mistérios de Elêusis; e c) dos mistérios do culto ao deus Dioniso. Tanto em Delos quanto em Elêusis, sempre havia comemorações e festividades dedicadas a Dioniso. Todavia, acredita-se que, segundo estudos históricos e antropológicos já realizados, o culto ao deus Dioniso, é a mais provável hipótese e o principal vetor do surgimento do teatro. 

     Em função dessas atividades teatrais persistirem até nossos dias, foi que em 1961, o Instituto Internacional do Teatro da UNESCO, órgão das Nações Unidas, voltado para a educação, ciência e cultura, resolveu criar uma data dedicada às atividades culturais ligadas à representação, durante o seu IX Congresso Mundial, em Viena, Áustria. Portanto, em função da inauguração do Teatro das Nações, em Paris, França, em 27 de março de 1962, tem sido celebrado o Dia Internacional do Teatro. A data 27 de março, assinala também a inauguração das temporadas internacionais no referido teatro.

 

 

segunda-feira, 17 de março de 2025

VARINHA DE CONDÃO

 


     Desde muito tempo, magos e mágicos sempre se apoiaram numa vara, da mesma forma que se utiliza o maestro para direcionar sua orquestra sinfônica. Num tempo passado, professores só entravam em sala de aula com o apoio de uma vara. Na atualidade, o Papa se apresenta com um cajado sagrado. Na antiga Grécia a vara se transformou num símbolo da autoridade do juiz. Nessa época, o juiz era eleito pelo povo e devia trazê-la consigo sempre que andava pela Vila ou Cidade. Para cada juiz era determinada uma vara de cores diferentes: o Juiz de fora (vara branca); Juiz ordinário (vara vermelha) e assim por diante.

     Segundo a mitologia, a primeira Varinha Mágica pertencia ao deus Mercúrio, neste caso teria sido um presente do deus Apolo. Era toda confeccionada em ouro. Chamava-se “Caduceu”. Com o apoio dessa varinha, Mercúrio passou a possuir poderes mágicos. Esse deus era um mago e resolveu transformar sua varinha de ouro numa varinha de madeira. De toda forma, a primeira vara que revelou muito destaque apareceu na Odisseia de Homero. A Feiticeira Circe a usava para transformar homens em animais. Possivelmente, a varinha de condão teve origem na varinha de Mercúrio, como também na maga Circe, visto que demonstrava seus poderes a partir da varinha que empunha em suas mãos. Asclépio na Grécia e Esculápio em Roma, também usavam varas para curar enfermos.

     A palavra condão é um substantivo masculino, e significa atributo especial ou poder sobrenatural, que pode exercer influência negativa ou positiva sobre outra pessoa.          Condão deriva do latim condonare, de com, igual a “junto”, mais donare, “dar, ofertar, presentear”. Possui um atributo especial ou poder sobrenatural que pode exercer influência negativa ou positiva de cunho provavelmente mágica. Pode ser de madeira, marfim, ouro ou cristal.  A Varinha de Condão foi muito difundida a partir da Idade Média com o aparecimento das fadas. Claro, surgiu nas mãos das fadas boas e más, tanto para fazer o bem como o mal.

     Muito difundida na Idade Média, a varinha de condão se tornou bastante conhecida nos dias atuais, principalmente a partir dos contos de fadas. “Cinderela”, “Branca de Neve”, “A Bela Adormecida”, entre outros, são alguns dos clássicos infantis que se utilizam desse objeto de cena para ilustrar o enredo dessas clássicas estórias. Muitos contos de fadas como os citados, contam com a presença de fadas ou bruxas que usam varinhas mágicas. Na atualidade, podemos ver a varinha em As Crônicas de Nárnia. Também a encontramos no mundo de fantasia de Harry Potter. Comumente, as varinhas mágicas sempre aparecem em obras de ficção. Afinal, toda fada madrinha deve usar uma varinha com uma estrela mágica na ponta, e isso é o que importa.

 

 

domingo, 9 de março de 2025

PRIMEIRA FEMINISTA BRASILEIRA

 

 

     Dionísia Gonçalves Pinto, conhecida como Nísia Floresta Brasileira Augusta, ou mais especificamente como Nísia Floresta, foi escritora, poetisa e fundou a primeira escola voltada para a educação feminista no Brasil. Nasceu no Rio Grande do Norte, em 12 de outubro de 1810, na antiga cidade de Papary, que hoje leva o seu nome, e faleceu no dia 24 de abril de 1885, na cidade de Rouen, França. Como mulher de sua época, foi protagonista nas letras, no jornalismo e nos movimentos sociais. Ela viveu em diferentes estados da federação, e é considerada a primeira feminista brasileira.

     Nísia Floresta escreveu aproximadamente quatorze obras e defendeu os direitos das mulheres, dos índios e dos escravos, como também fez parte das campanhas abolicionista e republicana. Ela influenciou as mulheres de sua época, principalmente após a fundação do “Colégio Augusto”, que se situava na Rua Direita, 163, no Rio de Janeiro. A referida escola passou a ensinar gramática, escrita e leitura do português, francês e italiano, ciências sociais e naturais, matemática, música e dança, especificamente às meninas moças daquela época.

      Em 18 de fevereiro de 1852, o pequeno povoado desmembrou-se de São José de Mipibu, tornando-se município, denominado de Vila Imperial de Papary. Em função do reconhecimento da escritora ilustre, tanto em território brasileiro como também no exterior, em 1948, a antiga cidade litorânea de Papary, no Estado do Rio Grande do Norte, em sua homenagem, adotou seu nome e passou a se chamar cidade de Nísia Floresta, embora jamais a estação de trem tenha alterado o antigo nome.

     Segundo o município, seu pseudônimo, Nísia Floresta, remete-nos ao final do seu nome Dionísia; e Floresta, origina-se do lugar em que ela nasceu, que se chamava Sítio Floresta. Por outro lado, trarei algumas reflexões em relação ao seu nome artístico, relacionando-o aqui, com o mito do deus do teatro. Em função da ira de Hera, Dionísio foi levado para ser criado no Vale do Nisa. Como o nome Zeus também podia ser escrito Dios, logo, o nome do filho de Zeus passou a ser conhecido como o Zeus de Nisa, o Zeus Nísio, ou apenas Dios, mais Nisio, igual a Dionísio. Nisa era uma montanha da Beócia, localizada na região central da Grécia, onde Dionísio foi criado. Lá também havia os Campos Elísios, ou seja, o paraíso grego.     

     Como a escritora em tela, se chamava Dionísia e era uma pessoa culta, letrada e erudita, talvez ela não tivesse apenas se ligado ao final do seu nome, Nísia, ou mesmo ao Sítio Floresta, lugar em que ela nasceu, para criar seu nome artístico, Nísia Floresta. Acredito que, por ser uma pessoa instruída, ela tinha pleno conhecimento da mitologia grega e consequentemente, do deus do vinho, Dionísio, como ainda, do Vale do Nisa, que também era uma Floresta. Lembrando que Dionísia é feminino de Dionísio. Nesse caso, podemos culminar com a seguinte conclusão: Nísia de Dionísia, e Floresta, do Sítio Floresta; como também poderia ser, Nísia do Vale de Nisa, onde viveu Dionísio, e ainda, Floresta, da qual, se compõe o próprio espaço geográfico do Vale do Nisa. Nísia Floresta é considerada a primeira feminista brasileira.

 

 

segunda-feira, 3 de março de 2025

CARNAVAL

 


     As festividades do carnaval que conhecemos como se nos apresenta na atualidade, possuem vestígios antiquíssimos. Vamos encontrar algumas dessas evidências, em civilizações remotas, como na Suméria, Pérsia e principalmente nos antigos países Egito e Grécia. Esses povos cultuavam vários deuses e entre eles, sempre havia aquele deus da fertilidade, do sexo, da colheita, de momentos de bebidas intensas, de embriaguez, como também de liberação com perspectivas lascivas e de luxúrias.

     Entre os vários deuses, no panteão egípcio havia a deusa Bastet que era representada com o corpo humano, mas, com a cabeça de uma gata. Ela era considerada a protetora do lar, da vida doméstica, da fertilidade, do parto, dos segredos femininos e dos gatos. Os cultos em sua homenagem coincidiam com a colheita e a fabricação do vinho, momento em que havia alto consumo dessa bebida. Favorecia e motivava a euforia e o estado de embriaguez. Também era considerada a deusa da alegria, música, dança e do amor. Essas manifestações sempre aconteciam como um verdadeiro carnaval, visto que tudo era liberado nesses cultos.

     Na Grécia vamos nos deparar com o deus Dioniso, que também era deus da fertilidade, da colheita, do vinho, dos bacanais, e seus festivais eram intensos naquele país. O Objetivo do culto Dionisíaco era fazer com que a intensidade da paixão emergisse ao máximo. Dioniso era cultuado com ditirambos; canções cheias de momentos de livre expressão e plenas de paixão. Era uma divindade ligada ao campo. No início, essas festividades revolucionárias, revelavam uma espécie de transgressão em relação à sociedade grega da época.

     Tudo tinha início com imensas procissões, que partiam de determinados lugares até o Santuário do deus. Essas festividades se concentravam em três dias e transgrediam o cotidiano da sociedade grega. Semelhante ao carnaval da atualidade, sempre havia confronto em relação à transgressão dos valores sociais, como por exemplo: os homens se vestiam de mulheres, o pobre se vestia de rico, as prostitutas fingiam ser donzelas, tudo isso regado a muito vinho, dança e gritos de viva a Dioniso. Era uma festa que durava três dias, regada de muito vinho, admitindo-se que as relações sexuais ao ar livre, fossem absolutamente permitidas e consideradas habituais. Também havia barcos que eram lançados ao mar em homenagem à deusa Ísis. Essa era uma das manifestações mais importantes do culto a Ísis, na época greco-romana. A Ploiafésia acontecia geralmente, duas vezes ao ano, mas, a mais concorrida acontecia no dia 5 de março, tendo em vista que era a mais original, e realizava-se no mesmo período onde havia melhores condições climáticas para a navegação.

     Na contemporaneidade, as festas de carnaval pelo mundo afora, trazem consigo todo esse legado dos grandes festivais, em homenagem à deusa Bastet e Ísis, no Egito, e do culto ao deus Dioniso, na Grécia. Os navios que antes eram montados em carros e carroças em homenagem ao deus Dioniso, como também à deusa Ísis, Isidis Navigium, hoje se transformaram nos grandiosos carros alegóricos das escolas de samba que desfilam na atualidade, em homenagem ao Rei Momo.

domingo, 23 de fevereiro de 2025

PROFESSOR TOSTES

 

 

     A primeira pessoa do Amapá que conheci, foi o professor Tostes. Eu já era professor do Núcleo Integrado da Universidade Federal do Pará. Mesmo que nada estivesse projetado, foi o destino que nos fez conhecer um ao outro. Em 1994, eu exercia minhas funções acadêmicas em Belém do Pará, nesse mesmo ano, Tostes já era professor da Universidade Federal do Amapá, o qual, foi aprovado no primeiro concurso público da nossa instituição de ensino superior. Esse professor Tostes do qual vos falo, não é o antigo prof. Tostes, que montou um grupo de teatro, na década de 1940, e hoje é homenageado com a Rua Professor Tostes, que todos conhecem. O professor Tostes, do qual vos falo, é o Professor José Alberto Tostes, neto do antigo professor Tostes de tempos antanho.

     Professor Tostes iniciou sua carreira acadêmica na Universidade Federal do Amapá, no ano de 1994, no antigo Curso de Educação Artística, depois, Artes Visuais. No ano de 2004, prof. Tostes implantou o Curso de Arquitetura da UNIFAP. Exercendo minhas atividades na Universidade Federal do Pará/UFPA, ainda em 1994, me inscrevi no VII Congresso Nacional da Federação de Arte/Educadores do Brasil - CONFAEB, que aconteceria na cidade de Campo Grande, no Mato Grosso do Sul, no segundo semestre daquele ano. Salientado, que o professor Tostes também participou efetivamente do referido evento. Acontece que, apesar de estarmos durante a semana, naquele mesmo acontecimento, não tivemos a oportunidade de nos conhecer.      

     Após o término daquele encontro; de Campo Grande, meu destino seria Guarulhos, onde iria fazer uma conexão para Belém do Pará. Tudo começou no trecho de Guarulhos para Belém, o qual, teria um tempo de aproximadamente quatro horas de voo. Após o avião estar em velocidade de cruzeiro um grupo de professores da UFPA, da qual eu fazia parte, passou a conversar e discutir, principalmente sobre o congresso de Artes. Interessante, que nessa roda de conversa, havia um professor que não me era habitual, mas ele já era bem conhecido entre os demais; este docente era o prof. Tostes que, naquele momento, era o Coordenador do Curso de Educação Artística da UNIFAP. Aos poucos, em função do cansaço, cada professor foi se entregando ao sono.

     Nesse ínterim, ficamos, eu e o prof. Tostes, travando uma longa conversa. Nesse meio termo, como coordenador do Curso de Artes da UNIFAP, Tostes me revelou que iria ser publicado um edital para concurso público com duas vagas para o curso, do qual ele era o coordenador. Prontamente, decidi que iria me inscrever no referido concurso. Já em setembro daquele ano, eu estava pondo os pés na cidade de Macapá para me submeter a uma vaga para a disciplina “Teatro”, daquele curso de artes. Ao sair o resultado final, tive a surpresa da minha aprovação em primeiro lugar, com uma nota acima de nove, em função de que eu era o único candidato com Mestrado, daquele pleito. Consequentemente, no dia dois de janeiro de 1995, há trinta anos, assumi minha função de professor de terceiro grau na UNIFAP. Desde então, prossigo com essa duradoura e sincera amizade com o prof. Tostes, para quem desejo vida longa.

 

segunda-feira, 17 de fevereiro de 2025

CRISTO NEGRO

 

     

    Reconhecido como artista de primeira linha, na década de 1970, Bi Trindade, afrodescendente, exerceu grande influência no que diz respeito às artes no Amapá, digo, às artes em geral. Sim! Visto que ele era um artista versátil: ator, escritor, poeta, músico, professor, além de ser tradutor de várias composições da Música Popular Amapaense, para o idioma francês. Como tantos outros artistas da década de 1970, o teatro surgiu na vida de Bi Trindade no bairro do Laguinho, principalmente no Grupo Telhado. Também não poderia deixar de ser, foi contemporâneo de Osvaldo Simões, Consolação Corte, Juvenal Canto entre outros jovens da época.

     É considerável afirmar que na década de 1970, com a criação do Grupo Telhado; com a criação do Grupo Pilão e com vários eventos artísticos, como feiras de artes, promovidos por esse grupo de pessoas, Bi Trindade sempre esteve participando dessas atividades artísticas. Foram os jovens do Laguinho que conseguiram transformar o seu bairro no maior centro cultural do Estado do Amapá, naquele momento histórico.

       O Telhado foi um grupo de teatro que em muito contribuiu para a formação de atores do Amapá, visto que o grupo trabalhava observando a arte como um sério métier. Lembra Bi, que o grupo conseguiu assinar convênio com o Movimento Brasileiro de Alfabetização – MOBRAL. Em função do seu trabalho, o grupo conquistou e teve à sua disposição o Cineteatro Territorial, para realizar seus ensaios e suas apresentações.

     Mas, o telhado não só se dedicava à arte pela arte. Como grupo de vanguarda se preocupava tanto com o trabalho artístico, no caso a mise em scène, como em debater com a sociedade local suas angústias, suas emoções e seus problemas políticos e sociais. Bi Trindade participou em espetáculos como: “Antônio, Meu Santo” e “A Mulher que Casou 18 Vezes” e “O Menino do Laguinho”.

     “A Mulher que Casou 18 Vezes” além de ter sido um bonito espetáculo, naquela peça, Bi representou dois personagens e ainda trabalhou na música. Foi uma adaptação de cordel, que deixava o público sempre à vontade porque era de fácil compreensão. Além disso, a peça deixou para ele a experiência de viajar pelos cinco municípios amapaenses que existiam na época: Macapá, Porto Grande, Ferreira Gomes, Calçoene, Amapá e Oiapoque.

     Além do Grupo Telhado, Bi participou de outros grupos de igrejas como São Benedito e Jesus de Nazaré. Em 1977, na igreja São Benedito, o Padre José solicitou que o grupo apresentasse a via sacra ao vivo pelas ruas do bairro laguinho. O trajeto ficou assim determinado: saída da referida igreja, seguindo por ruas do Pacoval; depois, passando em frente à igreja Nossa Senhora Aparecida, em seguida voltando pela rua Eliezer Levy e boêmios do Laguinho, para finalizar com a crucificação de Cristo que acontecia na Igreja São Benedito. Naquela ocasião, qual artista fazia o cristo? Reposta: - Bi Trindade, o primeiro Cristo negro do Amapá.

 

domingo, 9 de fevereiro de 2025

UNIFAP COM 13 TITULARES

 

 

     Para se candidatar a professor titular de uma instituição de ensino superior, o candidato terá que encaminhar processo com memorial descritivo e comprovação de toda sua produção acadêmica. Os memoriais são escritos na primeira pessoa do singular, da mesma forma que as cartas, as confissões, os diários e as memórias. Esse gênero de escrita se expõe às razões do sujeito na sua parcialidade e subjetividade. Trata-se de um gênero, que produz certo grau de desconforto entre os pesquisadores acadêmicos, uma vez que, por razões de ofício, esses aprenderam a escrever na terceira pessoa do singular ou na primeira pessoa do plural, na pretensão de produzir os efeitos de imparcialidade e impessoalidade.

     Cinco anos após sua fundação, isto é, em 1995, a UNIFAP contava apenas com 4 professores Mestres. O primeiro professor Titular da instituição se deu com a chegada do professor Dr. João Renôr Ferreira de Carvalho, oriundo da Universidade Federal do Amazonas – UFAM; em seguida o Prof. Dr. Luís Isamu Barros Kanzaki, se tornou o segundo professor titular da UNIFAP. Vale salientar que há bastante tempo, esses professores já não mais pertencem aos quadros da instituição, e, que que este foi um momento isolado que se deu na década de 1990 do século XX. 

     Tratando-se do século XXI, até meados de 2019 a Universidade Federal do Amapá possuía apenas dois professores titulares; Professora Doutora Julieta Bramorski e Professor Doutor José Carlos Tavares; os quais se submeteram a concurso público; em agosto deste mesmo ano, foi a vez de mais um servidor se tornar Titular, no caso, o Professor Doutor Jadson Porto, que apresentou Memorial Descritivo. No dia 11 de setembro de 2019, me tornei Professor Titular e já no dia 12, a professora Doutora Rosemary Ferreira de Andrade; nós também apresentamos Memorial Descritivo. Em dezembro desse mesmo ano, fui Presidente da Banca da Professora Doutora Simone Garcia Almeida, esta última, resolveu apresentar sua tese intitulada “Água de Barrela”. O que se pode observar, é que nossa instituição encerrou o ano de 2019 com um total de 6 professores titulares.   

     Apesar da pandemia do coronavírus e de todos os problemas que vinha enfrentando o estado do Amapá, no ano de 2020, foi a vez da Professora Doutora Helenilza Ferreira de Albuquerque, que conseguiu galgar ser Professora Titular. Nesse período, todas as bancas foram realizadas online. Nesse mesmo ano fui Presidente da Banca de Avaliação do Prof. Doutor José Alberto Tostes, que apresentou seu Memorial Descritivo e foi aprovado pela Comissão de Avaliação. Isto implica dizer que a UNIFAP encerrou o ano de 2020 com um total de 8 professores Titulares. Já no ano de 2021, também fui presidente da banca de progressão do Prof. Dr. Carmo Antônio de Souza, o qual, se tornou o primeiro professor Titular do Curso de Direito da UNIFAP. Em 2022, mais dois professores tiveram progressão funcional, sendo assim, o Prof. Dr.  Ricardo Ângelo Pereira de Lima, da área de Geografia, também se tornou Prof. Titular, como também, o Prof. Dr. Raimundo Nonato Picanço Souto. E, em 2023, foi a vez do prof. Dr. João Batista Gomes de Oliveira, que tornou primeiro Prof. Titular do Curso de Artes Visuais. No início deste ano de 2025, o Prof. Dr. Alan Cavalcanti da Cunha, também passou a fazer parte do time de titulares, em cerimonial que aconteceu no último dia 13 de janeiro, no auditório do curso de Arquitetura da Universidade Federal do Amapá. Portanto, a UNIFAP, está iniciando este ano com um total de 13 professores nível “E”, reconhecidos como Professores Titulares. T

segunda-feira, 3 de fevereiro de 2025

PARABÉNS MACAPÁ

 


          Cheguei à cidade de Macapá em novembro de 1994 para me submeter a concurso público na Universidade Federal do Amapá. Com a Universidade recém fundada, participei do seu segundo concurso público para professor do magistério superior. Era uma cidade horizontal, com faixa de trezentos mil habitantes e com a maioria de suas casas de madeira. Condição que chamou extremamente minha atenção.    

     Nada conhecia sobre este recanto de Brasil, tudo era novo, eu ainda não tinha nenhuma referência sobre este espaço geográfico. Trabalhava em Belém, no Núcleo Integrado da UFPA, mas desejava ir mais longe. Cheguei aqui com a cara e a coragem de um nordestino desbravador e passei a ser pioneiro em relação aos estudos e pesquisas na área das artes cênicas. Iniciei as primeiras pesquisas científicas sobre o Teatro do Amapá e continuo estudando e pesquisando este mesmo tema.

     Aos poucos, fui enamorando esta pequena cidade, que paulatinamente foi me conquistando com o passar dos anos. Hoje tenho muito orgulho de Macapá. De todo o processo que acompanhei ao ver esta cidade crescer, juntamente com o desenvolvimento da própria Universidade Federal do Amapá, que, há vinte e nove anos, se tornou minha casa, meu ninho, meu aconchego.

     Macapá está de Parabéns nesses seus 267 anos. É verdade que há muito o que se comemorar. Nessas quase três últimas décadas, a cidade cresceu em todos os sentidos: alargamento de avenidas, criação de museus, entre outros fatores. O centro da cidade, por exemplo, ficou completamente revitalizado com a Fortaleza de São José de Macapá, onde todo o espaço urbano do centro da cidade foi se transformando num complexo turístico deveras importante. A recuperação do entorno do canal da Mendonça Júnior, a Rodovia Duca Serra que virou uma grande avenida.

     Muitos espaços que vem sendo construídos e definidos ao longo dos anos, como a grande avenida que transformou a entrada da cidade, de quem vem do interior ou da Guiana Francesa. Tiro o chapéu para esta bela avenida ampla, arborizada, com ciclovias, sinalização e passarelas para pedestres, que envolve vários bairros da zona norte. Espaço urbano que há 30 anos havia apenas uma pequena via e alguns bairros como, Jardim da Felicidade e Boné Azul.

     Macapá foi me envolvendo, aos poucos, e também fui me amalgamando a esta pequena cidade joia da Amazônia. Morar neste lugar é ter o prazer de todos os dias ter a chance de apreciar esta bela paisagem que se encontra de braços abertos para todos, que é o rio Amazonas. Particularmente, este rio me encanta. Sou grato por estar em Macapá e ela estar em mim, por osmose se deu nossa relação, eu e a cidade, a cidade e eu. 

     Macapá é uma cidade tranquila, me sinto bem neste recanto do Brasil. Aqui que me realizei profissionalmente e venho fazendo minha parte. Este ano de 2025, estarei lançando mais uma obra para contribuir com esta cidade e este Estado que me acolheu em seus braços. A obra intitula-se “História do Teatro do Amapá – De 1950 aos Dias Atuais”. Tenho a honra de hoje ser cidadão macapaense. Parabéns Macapá...!!! Parabéns Macapá...!!!

 

 

 

 

segunda-feira, 27 de janeiro de 2025

PÉ-DE-MEIA LICENCIATURA

 

 

     Entre o ensino fundamental e médio, o jovem passa aproximadamente, um período de nove anos consecutivos dedicando-se aos estudos, vivendo essa experiência única na comunidade escolar. Essa prática permanente, em que vivencia, juntamente com seus professores, passa notadamente, a entender a profissão, e, em muitos casos, a conhecer a vida profissional e social de alguns de seus mestres. Frente a tudo isso, muitos alunos passam a entender as dificuldades da profissão, e, em muitos casos a conhecer a vida financeira dos seus professores, ao longo dos anos no seu aprendizado nas escolas, pelas quais, se dedicou durante sua infância e adolescência. Em contato direto com seus professores durante muitos anos, vários estudantes passam a conhecer a desvalorização do profissional da educação, e em consequência, desde cedo, decidem por não optar em ser educador decidindo-se em seguir outras profissões, seja na área técnica ou na área da saúde, o que se encontram no leque das universidades brasileiras.

     Preocupado com tal situação, e a consequente falta de professores nas escolas do nosso país, no início deste ano, o governo federal criou o programa pé-de-meia licenciatura, com objetivo de promover a motivação dos jovens para que eles se debrucem para se tornarem profissionais da educação. O referido programa funcionará da seguinte forma: o estudante receberá uma bolsa de R$ 1.050,00, por mês, durante o período vigente do curso. Sendo que, deste montante, o estudante só poderá sacar um total de R$ 700,00 por mês, e o restante, R$ 350,00, será depositado numa poupança, os quais, só serão liberados quando o acadêmico iniciar sua carreira docente na rede pública, pelo menos até cinco anos após o término do curso. De acordo com o ministério da educação, este programa está voltado para estudantes com alto desempenho no Exame Nacional de Ensino Médio – ENEM.

     É fato que, ao longo dessas últimas quatro décadas, a desvalorização do profissional da educação é claramente perceptível, não só isso, as próprias instituições de ensino, em muitos casos, são totalmente abandonadas, além do que, alguns governantes, passam a reduzir o orçamento anual, que já é deficitário, influenciando na educação, na extensão e principalmente na pesquisa. Fazendo aqui um parâmetro, no ano de 1990, uma bolsa de mestrado era em torno de dez salários mínimos, atualmente é de R$ 2.100,00 reais, não chegando à dois salários mínimos, (1.518.00), isso porque as bolsas de pesquisa foram ultimamente reajustadas. Como que um jovem, vivenciado esses fatos no seu cotidiano escolar, vai encarar uma profissão que não lhes espelha futuros melhores?  

    Como profissional da educação, acredito que é muito bem-vindo todo tipo de programa para a educação do cidadão brasileiro, e para motivação dos jovens para seguirem a carreira acadêmica, por outro lado, não basta apenas criar programas para incentivar jovens a desenharem seu futuro, e seguirem a carreira acadêmica, se faz necessário melhorar os salários dos professores, para que no seu dia a dia, no cotidiano escolar, o jovem tenha maior empatia, que o proporcione a decidir seu futuro por seguir a carreira acadêmica. Parte superior do formulário