A música Crina Negra apresenta uma poesia muito
sugestiva, a mesma, foi composta por Robertinho do Recife, em homenagem e
dedicada à cantora Amelinha, que entre as décadas de 1970 e 1980, era muito
famosa e flertada pelos que a rodeavam. Infelizmente, por algum motivo,
Amelinha não conseguiu gravar a referida canção. A composição ficou por mais de
uma década em banho-maria, quando em 1992, foi gravada pela Banda Patrulha, nas
vozes dos intérpretes e vocalistas Leco Maia e Cátia Guima. A referida música
já está com 33 anos, mas sempre é sucesso absoluto no período junino.
Embora, perante os olhos do observador, a
arte pareça algo simples e fácil de realizar, aos olhos do artista não é tão
corriqueiro assim. Essa questão é fato, principalmente em função da compreensão
do leigo sobre a produção artística. Quem assiste a um espetáculo de dança, que
apresenta bastante leveza na coreografia dos dançarinos, não imagina, o
trabalho, a persistência, o esforço e a dedicação desses artistas que estão
entre a arte e o desporto. Da mesma forma, num espetáculo teatral, numa
apresentação musical, num vernissage, ou seja, em qualquer área da arte.
A questão é que, em qualquer área da arte,
todo artista realiza um esforço fenomenal, para que sua obra pareça ser natural
aos olhos do público, mas, não é bem assim...! Na verdade, são dias e meses de
preparação para que o trabalho esteja totalmente pronto para o dia da estreia.
Além disso, a arte apresenta um leque amplo de juízo de valor, onde qualquer um
terá sua opinião própria perante os valores estéticos que presencia, levando-se
em consideração de que o leigo, na maioria dos casos, vai em busca de diversão
e entretenimento.
Outra questão é que, cada obra de arte
apresenta sua peculiaridade, sendo que, muitas vezes, o público em geral não
consegue discernir o que está implícito na mesma. Portanto, como exemplo,
faremos uma rápida análise da letra da música Crina Negra. Iniciaremos pela primeira estrofe, que diz: Meu cavalo é forte, faz mil léguas sem
cansar/Na batida dum chicote/No galope a beira-mar/Meu cavalo alazão saiu no
clarão da lua/Meu famoso garanhão, cavalgando toda nua. Como se percebe, a
letra começa a relatar um sugestivo passeio de uma cavaleira nua, montada no
seu alazão. Em seguida, a próxima estrofe descreve o seguinte: Eu sou cavaleira, sou mulher guerreira/Em
cima do crina negra, me dá uma
tremedeira/Uma suadeira que me faz arrepiar/Uma louca gemedeira, ui-ui-ui
ai-ai-ai-ai. Esta estrofe, complementa a primeira, no sentido de propor uma
ambiguidade conotativa na relação íntima da cavaleira com o seu cavalo,
principalmente com a sensação de suadeira e tremedeira, juntamente com as
onomatopeias, ui-ui-ui, ai-ai-ai-ai, alucinadamente ecoadas pela cavaleira.
Em suma, é uma letra que, metaforicamente,
além de assinalar uma possível relação amorosa, ou mesmo uma vivência de prazer
e êxtase entre cavaleira e seu cavalo, por outro lado, também reconhece e
caracteriza certas habilidades e conquistas por parte do gênero feminino ao
longo da história social, como: força e liberdade, conquista do voto, emprego,
espaço na política, empoderamento e sensualidade de uma mulher guerreira. É uma
música que apresenta uma fusão entre o espírito selvagem da relação da mulher
com a natureza, como tanto pregava Dioniso, o deus grego da arte e da liberdade.
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