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segunda-feira, 14 de julho de 2025

CAVALO E CAVALEIRA

 


     A música Crina Negra apresenta uma poesia muito sugestiva, a mesma, foi composta por Robertinho do Recife, em homenagem e dedicada à cantora Amelinha, que entre as décadas de 1970 e 1980, era muito famosa e flertada pelos que a rodeavam. Infelizmente, por algum motivo, Amelinha não conseguiu gravar a referida canção. A composição ficou por mais de uma década em banho-maria, quando em 1992, foi gravada pela Banda Patrulha, nas vozes dos intérpretes e vocalistas Leco Maia e Cátia Guima. A referida música já está com 33 anos, mas sempre é sucesso absoluto no período junino.

     Embora, perante os olhos do observador, a arte pareça algo simples e fácil de realizar, aos olhos do artista não é tão corriqueiro assim. Essa questão é fato, principalmente em função da compreensão do leigo sobre a produção artística. Quem assiste a um espetáculo de dança, que apresenta bastante leveza na coreografia dos dançarinos, não imagina, o trabalho, a persistência, o esforço e a dedicação desses artistas que estão entre a arte e o desporto. Da mesma forma, num espetáculo teatral, numa apresentação musical, num vernissage, ou seja, em qualquer área da arte.

     A questão é que, em qualquer área da arte, todo artista realiza um esforço fenomenal, para que sua obra pareça ser natural aos olhos do público, mas, não é bem assim...! Na verdade, são dias e meses de preparação para que o trabalho esteja totalmente pronto para o dia da estreia. Além disso, a arte apresenta um leque amplo de juízo de valor, onde qualquer um terá sua opinião própria perante os valores estéticos que presencia, levando-se em consideração de que o leigo, na maioria dos casos, vai em busca de diversão e entretenimento.

     Outra questão é que, cada obra de arte apresenta sua peculiaridade, sendo que, muitas vezes, o público em geral não consegue discernir o que está implícito na mesma. Portanto, como exemplo, faremos uma rápida análise da letra da música Crina Negra. Iniciaremos pela primeira estrofe, que diz: Meu cavalo é forte, faz mil léguas sem cansar/Na batida dum chicote/No galope a beira-mar/Meu cavalo alazão saiu no clarão da lua/Meu famoso garanhão, cavalgando toda nua. Como se percebe, a letra começa a relatar um sugestivo passeio de uma cavaleira nua, montada no seu alazão. Em seguida, a próxima estrofe descreve o seguinte: Eu sou cavaleira, sou mulher guerreira/Em cima do crina negra, me dá uma tremedeira/Uma suadeira que me faz arrepiar/Uma louca gemedeira, ui-ui-ui ai-ai-ai-ai. Esta estrofe, complementa a primeira, no sentido de propor uma ambiguidade conotativa na relação íntima da cavaleira com o seu cavalo, principalmente com a sensação de suadeira e tremedeira, juntamente com as onomatopeias, ui-ui-ui, ai-ai-ai-ai, alucinadamente ecoadas pela cavaleira.

     Em suma, é uma letra que, metaforicamente, além de assinalar uma possível relação amorosa, ou mesmo uma vivência de prazer e êxtase entre cavaleira e seu cavalo, por outro lado, também reconhece e caracteriza certas habilidades e conquistas por parte do gênero feminino ao longo da história social, como: força e liberdade, conquista do voto, emprego, espaço na política, empoderamento e sensualidade de uma mulher guerreira. É uma música que apresenta uma fusão entre o espírito selvagem da relação da mulher com a natureza, como tanto pregava Dioniso, o deus grego da arte e da liberdade.

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