Na minha tenra juventude, eu fazia parte do
grupo de jovens da igreja católica, aliás, vivência que me trouxe muito
conhecimento teológico como também, minha relação como o divino, além de sinceras
e grandes amizades. Cada paróquia tem seu padre ou sacerdote. Naquele período,
o padre responsável pela paróquia do lugar chamava-se Padre Antônio Kemps,
originário da Europa. Ele veio da Bélgica para uma pequena cidade do interior
da Paraíba, com uma grande missão: coordenar a paroquia da cidade. Como um
verdadeiro sacerdote, viveu o restante da sua vida naquela pequena cidade,
cumprindo o seu dever como religioso e desempenhando suas funções religiosas e
rituais sagrados em prol daquela comunidade.
A palavra sacerdote deriva do latim “sacerdos, dotis”, sendo uma combinação
de sacer – de sagrado, e dotis – dote, dom. Significa, aquele que
oferece coisas sagradas, como também, está relacionado à função de realizar
rituais e oferendas sagradas. Simplificando: são aquelas pessoas que em toda
sua vida, se dedicam a um objetivo comum, uma missão, ou algo desse gênero. Com
certeza, ao longo do tempo esse termo evoluiu designando várias situações,
sendo usado na atualidade sobre quaisquer circunstâncias. Se alguém se dedica
diuturnamente em determinada atividade, pode-se dizer, ele é um verdadeiro
sacerdote. Isto significa dizer que, dependendo da sua dedicação e empenho em
relação ao que você realiza durante sua vida, este fazer também pode ser
reconhecido como um sacerdócio.
E é em função de dedicações como as
citadas acima, que venho aqui fazer minha homenagem à arqueóloga e pesquisadora
Niède Guidon, a quem defino como sacerdotisa da pesquisa. Ela era professora da
Universidade de São Paulo, e em 1963 soube da primeira notícia das pinturas que
existiam no sul do Piauí, quando gerenciava uma exposição no Museu Paulista da
USP, no qual, ela trabalhava naquele momento. Infelizmente ela não teve a oportunidade
de conhecer a região piauiense, tendo em vista que, em função do golpe militar,
teve que se exilar na França. Depois de passar vários anos fora do Brasil,
somente em 1973, que ela, de férias, conseguiu fazer sua primeira visita a São
Raimundo Nonato. Porém, ela criou a Missão Arqueológica Franco-Brasileira, e
com apoio do governo francês, em 1978, começou suas primeiras escavações.
Já em 1979, conseguiu criar o Parque
Nacional da Serra da Capivara, abrangendo uma área protegida pela UNESCO. Foi
diretora-presidente da Fundação Museu do Homem Americano, também sediado em São
Raimundo Nonato. Tornou-se famosa no mundo, com sua tese científica de que o
homem se instalou na América do Sul, vindo provavelmente de barco, da África,
há mais de trinta e dois mil anos. Como se pode observar, em função de uma vida
dedicada às suas pesquisas arqueológicas naquela região, a sacerdotisa Niède
Guidon foi a principal responsável pela preservação, desenvolvimento e
progresso de São Raimundo Nonato, no Piauí. Deixando esse grande legado, e esse
exemplo de sacerdotisa da arqueologia, faleceu em 4 de junho de 2025.
Nenhum comentário:
Postar um comentário