Contatos

palhanojp@gmail.com - palhano@unifap.br

segunda-feira, 21 de julho de 2025

SACERDOTISA DA PESQUISA

 

   

    Na minha tenra juventude, eu fazia parte do grupo de jovens da igreja católica, aliás, vivência que me trouxe muito conhecimento teológico como também, minha relação como o divino, além de sinceras e grandes amizades. Cada paróquia tem seu padre ou sacerdote. Naquele período, o padre responsável pela paróquia do lugar chamava-se Padre Antônio Kemps, originário da Europa. Ele veio da Bélgica para uma pequena cidade do interior da Paraíba, com uma grande missão: coordenar a paroquia da cidade. Como um verdadeiro sacerdote, viveu o restante da sua vida naquela pequena cidade, cumprindo o seu dever como religioso e desempenhando suas funções religiosas e rituais sagrados em prol daquela comunidade.

     A palavra sacerdote deriva do latim “sacerdos, dotis”, sendo uma combinação de sacer – de sagrado, e dotis – dote, dom. Significa, aquele que oferece coisas sagradas, como também, está relacionado à função de realizar rituais e oferendas sagradas. Simplificando: são aquelas pessoas que em toda sua vida, se dedicam a um objetivo comum, uma missão, ou algo desse gênero. Com certeza, ao longo do tempo esse termo evoluiu designando várias situações, sendo usado na atualidade sobre quaisquer circunstâncias. Se alguém se dedica diuturnamente em determinada atividade, pode-se dizer, ele é um verdadeiro sacerdote. Isto significa dizer que, dependendo da sua dedicação e empenho em relação ao que você realiza durante sua vida, este fazer também pode ser reconhecido como um sacerdócio.

     E é em função de dedicações como as citadas acima, que venho aqui fazer minha homenagem à arqueóloga e pesquisadora Niède Guidon, a quem defino como sacerdotisa da pesquisa. Ela era professora da Universidade de São Paulo, e em 1963 soube da primeira notícia das pinturas que existiam no sul do Piauí, quando gerenciava uma exposição no Museu Paulista da USP, no qual, ela trabalhava naquele momento. Infelizmente ela não teve a oportunidade de conhecer a região piauiense, tendo em vista que, em função do golpe militar, teve que se exilar na França. Depois de passar vários anos fora do Brasil, somente em 1973, que ela, de férias, conseguiu fazer sua primeira visita a São Raimundo Nonato. Porém, ela criou a Missão Arqueológica Franco-Brasileira, e com apoio do governo francês, em 1978, começou suas primeiras escavações.

     Já em 1979, conseguiu criar o Parque Nacional da Serra da Capivara, abrangendo uma área protegida pela UNESCO. Foi diretora-presidente da Fundação Museu do Homem Americano, também sediado em São Raimundo Nonato. Tornou-se famosa no mundo, com sua tese científica de que o homem se instalou na América do Sul, vindo provavelmente de barco, da África, há mais de trinta e dois mil anos. Como se pode observar, em função de uma vida dedicada às suas pesquisas arqueológicas naquela região, a sacerdotisa Niède Guidon foi a principal responsável pela preservação, desenvolvimento e progresso de São Raimundo Nonato, no Piauí. Deixando esse grande legado, e esse exemplo de sacerdotisa da arqueologia, faleceu em 4 de junho de 2025.  

Nenhum comentário:

Postar um comentário