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segunda-feira, 1 de setembro de 2025

ORFEU E A MULHER DE LÓ

 

     A história deste mito, começa assim: Orfeu era um músico talentoso que desceu ao submundo grego, para resgatar sua esposa Eurídice, que havia morrido. Chegando lá, com o poder de sua música, ele encantou Hades, que era o rei do submundo, e obteve a permissão para levar Eurídice de volta ao mundo dos vivos, mas, Hades lhe determinou duas condições, a primeira, que reflete a situação cultural da mulher grega, a de que Orfeu iria à frente e Eurídice, atrás, seguindo Orfeu. A segunda condição, foi a de que Orfeu não deveria olhar para trás, até que ambos estivessem fora do submundo. Acontece que, na divisa entre o submundo e o mundo, com muitas dúvidas, Orfeu olhou para trás, e, repentinamente, Eurídice desaparece voltando para o submundo, para sempre.

     Outro mito semelhante, se encontra no livro do Gêneses, no capítulo 19, versículos de 1 a 8, é o caso da mulher de Ló. Ele e sua família, foram avisados para fugir de Sodoma antes que ela fosse destruída por Deus, por causa da maldade que lá estava instalada. O anjo falou: Vai, salva tua vida, não olhes para trás e não pares nos arredores! Esconde-te nas montanhas, para que não sejas destruído”... Todos os membros da família foram instruídos, que durante a fuga, não podiam olhar para trás. Mas, a mulher de Ló, desobedeceu e olhou. Em função disso, foi castigada e transformada numa estátua de sal. O que se percebe nessas duas passagens, tanto na religião grega como na religião cristã, é que a moral da história nos diz que não se deve olhar para trás.

    Ambas as histórias conotam as seguintes questões: a importância da confiança e da obediência aos comandos divinos; o olhar para trás, que simboliza o apego ao passado, a dúvida e a desobediência e suas possíveis consequências. A frase “não olhar parar trás”, revela-se como uma metáfora para a necessidade de seguir em frente, deixando o passado para trás. Assim, o ato de olhar para trás é interpretado como um sinal de apego às coisas materiais e à vida passada. Portanto, o mito de Orfeu e Eurídice e a história da mulher de Ló, retratam um tema central: a proibição de olhar para trás, o que significa dizer que em ambas situações, olhar para trás, resulta em trágicas consequências.

     O que está em jogo, nestas passagens é que está implícito uma ideia patriarcal, dominante e misógina de que a mulher não deve olhar para o passado, como também as demais pessoas. E é assim que, muitas vezes, a história inviabiliza determinadas figuras, cria preconceitos e apagamento da memória feminina e muitas vezes, a ausência de grandes personagens da história. Conota ainda, um desprezo pela desobediência do sexo feminino, semelhante ao que aconteceu com Eva, quando comeu do fruto proibido e que também infringiu a lei de Deus. O interessante é que, na construção dessas histórias, sejam religiosas ou culturais, a mulher sempre é apresentada como um problema e não como uma solução, como por exemplo, o caso de Pandora, que abriu uma caixa e deixou todos os males sair para afligir os homens. A questão é que, as afirmações desses mitos contrariam completamente o conhecimento científico, quando temos que estudar o passado, com a intenção de nos fundamentarmos, para entender o presente e o futuro. Os cânones do conhecimento científico nos dizem que o segredo é exatamente esse, aprender com o passado, para seguir preparado para o futuro.

 


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