Em primeiro lugar nos deteremos em enfocar
a arte, que é algo desinteressada do espírito e apresenta independência
relativa com relação às necessidades. A criação de uma obra está relacionada ao
trabalho, mas contraditoriamente a obra enquanto tal se opõe ao trabalho. Ela
também é alheia à lógica do consumo, embora tenha se tornado uma mercadoria na
era contemporânea.
Vivemos para criar e a obra impõe-se à
vida como o fim. Coloca a vida em estado de obediência e desembaraça a vida e a
morte. A obra nos faz ter acesso ao mundo instaurando diálogos entre as
gerações desaparecidas, os vivos e as gerações futuras. É a obra que nos faz
ter acesso ao mundo e nos desembaraça a vida e a morte. A obra converte o tempo
em espaço e separa o construir do destruir.
Desde que o mundo é mundo e após ser
estabelecida nele, a obra tem vocação para nele permanecer e se ordena em torno
da ideia de movimento. Em se tratando de questões psicológicas a obra nunca é
trabalho forçado, mas, por outro lado, em questão de seriedade a obra em nada
perde para o trabalho. É em função da obra que o homem imortaliza, encara e
conhece sua mortalidade.
Isto porque o trabalho na obra soa leve,
ele justifica o mais nobre orgulho embriagando assim o seu criador. A obra faz
a realidade crescer e tem a capacidade de estabelecer um diálogo além do tempo,
com outros homens de outras sociedades. Enfim, toda obra é trabalho, mas nem
todo trabalho é obra.
Diferente da obra, o trabalho é ligado à
subsistência e parece nunca experimentar uma humanidade realizada visto que
como tem de trabalhar, o homem é menos livre e menos feliz do que o animal. O
trabalho é transição, não é comunicação, nele o homem consome e é consumido. O
trabalho se autodestrói ao exigir do trabalhador um gasto de energia para
produzir objetos para o consumo.
No trabalho o homem trabalha para
sobreviver, para reproduzir-se e esgota-se na reprodução de uma vida
perpetuamente agonizante. Na realidade, ninguém aproveita definitivamente o
trabalho, nem os que desfrutam de seus produtos, nem se matam para produzi-los.
Todo trabalho é alienado e está condenado a não ter fim. Hércules é tudo menos
trabalhador, visto que seus trabalhos não representam necessidades, porém
prodígio. Ao contrário de Hércules o homem trabalha para viver, sujeitando-se à
lógica do consumo e subordinando-se à vida.
O trabalho esgota-se na produção de
objetos e nos obceca não nos permitindo habitar o mundo. Ele é o espaço
convertido em tempo, sempre tem de ser refeito, constrói e destrói, organiza-se
a partir do consumo, obceca e mecaniza o ser humano. Enfim, o animal humano é
nitidamente caracterizado, como espécie e na sua origem, pela pulsão de
produzir um excedente.
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